Por que usamos prazos nas tarefas?

Uma coisa muito importante e que mudou completamente o jogo para mim foi ter aprendido o conceito de contextos no método GTD.

Se você estiver chegando aqui agora, pode querer saber que GTD é um método de produtividade (“Getting Things Done”) que eu já uso há bastante tempo. Este não é um blog sobre qualquer método exclusivamente mas, por eu usá-lo, é comum citar algumas práticas ao falar sobre determinados assuntos.

(Caso queira saber mais sobre GTD, você pode buscar as centenas de textos aqui no próprio blog ou acessar o hub GTD Brasil).

O que são contextos?

Bem, tem a resposta simples e a resposta completa. A resposta simples é: qualquer lugar que você esteja, ferramenta que esteja usando ou estado mental que te coloque em determinada situação são contextos. Uma lista de mercado, por exemplo, é uma lista de coisas que você só pode fazer (comprar) quando estiver no mercado. O mercado seria um contexto.

A resposta completa é a minha preferida. Porque pensar sobre contextos, para mim, vai além apenas do lugar – apesar de o lugar ser importante. Algumas tarefas realmente dependem de eu estar fisicamente em casa (“lavar a roupa”), fisicamente no meu escritório (“imprimir contrato”) ou fisicamente na rua (“buscar a roupa na lavanderia”).

Mas a grande maioria das “tarefas” assim chamadas dependem de contextos mais sutis que, muitas vezes, não identificamos e, por isso, acabamos procrastinando e/ou acumulando tarefas em listas. Quando isso acontece, o comportamento natural é a gente começar a atribuir prazos para as coisas. “Preciso terminar isso aqui até segunda-feira”. “Ah, isso aqui eu vou colocar como prazo quinta porque senão vou me esquecer de fazer”. Colocar prazo é fácil. A gente aprendeu ainda criança, talvez na escola. Quando alguém em algum momento da nossa vida nos presenteou com uma agenda, a gente aprendeu a se organizar atribuindo datas a todas as coisas.

Mas o que acontece com esses prazos que estipulamos é que, muitas vezes, ficamos viciados na pressão que tais prazos geram. E nem tudo necessariamente tem prazo. Resultado? Aquelas coisas realmente importantes, que não tinham prazo, acabam ficando de lado. E nós voltamos ao estado de trabalhar no que for mais urgente ou nos for demandado. Porque também é mais fácil ser demandado do que ter autonomia sobre o próprio trabalho, não é mesmo?

Para mim, nada mais bonito do que uma agenda livre de compromissos. Porque uma agenda livre de compromissos significa que eu tenho liberdade para olhar as minhas listas de coisas a fazer e escolher aquilo que for mais importante, prioritário ou impactante no momento. E isso depende de estar no contexto adequado. Olha que poético.

Uma vez, para tirar esse vício de só executar ações com prazo (sim, também me vigio constantemente para não cair nessa), eu resolvi tirar TODOS os prazos de TODAS as minhas ações. Mesmo daquelas que tinham prazo real. Por quê? Porque isso me forçou a trabalhar nas minhas listas de acordo com os contextos em que eu me encontrava e, assim, escolher o que era mais prioritário. Não estou necessariamente recomendando que você faça o mesmo teste, mas sim, ele pode funcionar. Porque senão a gente fica viciado em colocar prazo em tudo (até no que não tem prazo) e não se acostuma a executar as coisas de outra maneira.

“Mas qual o problema de trabalhar com prazos?”, você pode me perguntar. Nenhum, contanto que sejam prazos reais, e não uma lista de desejos do que você GOSTARIA que acontecesse em determinado dia (ou até determinado dia). Porque, uma vez que você trabalhe com datas e prazos reais, isso te dá confiança de verdade em tais datas (aquilo TEM QUE ser feito em tal dia ou até tal dia) e também a liberdade de atribuir, momento a momento, o que tem mais prioridade. Porque, opa, século XXI – as prioridades mudam a cada momento. Toda a nossa vida é muito dinâmica para a gente atribuir um prazo hoje a uma tarefa e continuar acreditando que, daqui a três dias, ela continuará sendo mais importante que todo o resto.

Mais uma vez, não se trata de uma prática “8 ou 80”. Ninguém está impondo regras ou dizendo que uma maneira de fazer é mais certo que a outra. Mas eu tento trazer a minha experiência aqui, e o que observo comigo e com as outras pessoas com as quais trabalho diariamente, é que os prazos podem ser traiçoeiros. Descobrir os seus reais contextos na vida, isso sim promove controle e liberdade de criação, que no final das contas é o que todos fazemos quando executamos “tarefas”.