Pular para o conteúdo

A rotina do artista (2020)

Em 2018, escrevi pela primeira vez sobre essa ideia em um post, depois da leitura do livro “Os segredos dos grandes artistas” (super recomendado).

Estou em um momento da minha vida em que revisitar essa ideia pareceu apropriado.

Nós aqui em casa entendemos que o cenário de pandemia não mudou em nada e não mudará enquanto não houver uma vacina. Que, de tempos em tempos, todos os países abrirão um pouco o confinamento e, com o aumento dos casos, fechará novamente. Geralmente isso tem acontecido depois do verão, pois as pessoas saem mais de casa e, por consequência, se infectam com mais facilidade. Imagino que no Brasil deva acontecer o mesmo, pois os casos estão aumentando novamente mesmo antes da chegada dessa estação.

Trabalhando em casa, estou reformulando o meu home-office. Ele é um quarto pequeno, mas ainda assim um espaço que considero um privilégio, em que posso deixar minhas estantes e meus livros, e me “refugiar” quando preciso de concentração ou privacidade. No entanto, por estar em casa, com a minha família, e por ter a consciência de que não vivo em uma bolha, sei que não dá para eu ficar trancada ali dentro trabalhando e ignorar a existência da dinâmica da casa. Preciso desenvolver estratégias.

Uma estratégia que já comentei anteriormente foi sobre a decisão de manter o escritório fora de casa. Eu tinha tomado a decisão de entregar a sala, pois a sala que tínhamos era longe de casa, só dava para ir de carro, e atenderia outro modelo de negócios que, com a pandemia, reconfiguramos. Eu achei que bastaria para mim ter espaço em casa mas, a partir do momento que tomei essa decisão, um certo fenômeno aconteceu: fiquei MUITO desanimada. E olha que sou uma pessoa entusiasmada e positiva de modo geral.

Primeiro, porque eu teria que trazer equipamentos e coisas de trabalho para dentro de casa. Não moramos em uma casa pequena, mas ela também não é espaçosa a ponto de guardarmos essas coisas sem um impacto na nossa rotina. A casa ficaria cheia de equipamentos e materiais de trabalho que são essenciais para o que eu faço, mas que fariam uma “mistura” que eu não queria fazer. Queria que a nossa casa continuasse como nosso espaço familiar.

Além disso, o confinamento passou a me fazer mal. Comecei a ter crises de ansiedade. A recomendação médica foi sair de casa todos os dias, que seja um pouco, para não virar pânico. Por isso, conversando com o meu marido, ambos vimos a importância de eu ter um espaço fora de casa, mas que fosse perto, que desse para ir a pé, de modo que eu já fizesse a caminhada do dia e tivesse também um lugar para trabalhar concentrada, quando necessário.

Sobre a família. A essa altura do campeonato, nosso filho está detestando a quarentena. Não aguenta mais as aulas online, acha um saco não poder ver os avós, sair, passear. Do nosso lado, a preocupação é com a agitação mental que vem do excesso de telinhas. E como proibir, se ele faz aula online e se a única interação social que ele tem é com os amigos através da Internet ou do vídeo-game?

Com tudo isso, ele tem ficado entediado muitas vezes ao longo do dia e me interrompido infinitas vezes mais que o normal. Eu vejo isso com muito carinho porque entendo a falta de maturidade emocional dele como criança, e que afinal de contas eu sou a mãe dele ali em casa, que ele quer ficar junto e interagir. Então sempre trago ele para ficar comigo, mas não dá para fazer nada que demande concentração, pois nem um e-mail consigo ler direito porque ele conversa comigo o tempo todo. Logo, eu percebi que precisaria mudar a minha dinâmica de trabalho.

Revisitando a ideia da rotina dos artistas, meu dia atualmente tem sido composto por esses três grandes blocos:

  • Pela manhã, enquanto o filhote tem aulas, eu faço atividades que demandem mais concentração e sejam mais introspectivas – ou seja, sem contato com ninguém. Pego meu café ou chá e trabalho sozinha, concentrada, com a mente ainda descansada. No intervalo do filhote, também paro, fico um pouco com ele, aproveito pra dar uma geral na cozinha, e aí trabalho mais um pouco antes de parar umas 11h ou 11h30 para o almoço. Preparo a comida, almoço com calma.
  • De tarde, “me abro para o mundo”. Se não estiver chovendo, arrumo minha mochila (que já fica meio pronta em casa) e vou andando até o escritório, onde consigo trabalhar também com foco. Em casa, as coisas ficam bem. Filhote fica jogando vídeo-game, faz lição, meu marido fica com ele de boas. Então eu fico tranquila para trabalhar fora e, no final da tarde, encerro definitivamente meu dia de trabalho, voltando para casa, tomando banho, aquela coisa. Se trabalhei em casa à tarde, eu também encerro fechando o computador quando anoitece e faço a mesma coisa – banho, outra roupa, e pronto.
  • De noite, procuro fazer atividades offline – exceto quando tenho alguma atividade de grupo de pesquisa ou de algum curso que estou fazendo ou ministrando. Aproveito para estudar. Também temos um momento em que fazemos algo todos juntos – um jogo, uma série, uma live de alguém que gostamos, cozinhar juntos, um filme, depende. Os meninos ficam SUPER agitados de noite, que é quando a minha bateria começa a querer acabar, então fico com eles mas sou a primeira a se preparar para dormir. Tenho ido dormir um pouco mais tarde ultimamente, mas isso não tem me feito bem, e quero mudar meu horário de volta. Não para dormir às 20h30, porque em casa ficou complicado nesse momento, mas pelo menos estar na cama antes das 22h. Desse modo, o filhote já está acalmando também, lendo um livro, e meu marido dá o suporte ali que precisar, ou muitas vezes o filhote vai dormir no mesmo horário que eu.

De modo geral, todo trabalho que precise essencialmente da minha cabeça é feito pela manhã. Decisões, análises, escrita, gravações. Trabalhos de rotina, que eu não precise pensar tanto (mas ainda preciso, rsrs), faço pela tarde. Outras gravações, responder e-mails, mensagens, resolver coisas de modo geral, arrumar o espaço, atividades mais práticas mesmo. E, de noite, leituras, estudos, revisões offline, planejamentos no papel, mas tudo de modo leve e tranquilo. Nada corrido ou estressante. São contextos.

Dá pra dar conta de tudo? Claro que não, e nem é o objetivo. O objetivo não é fazer tudo, mas sim dizer NÃO a tudo que não seja essencial, de modo que meu trabalho diário seja focado.

Eu trabalho todos os dias um pouco. Prefiro fazer assim a me matar de trabalhar durante a semana para descansar no final de semana. Mesmo porque, faço coisas aos finais de semana. Então prefiro ter uma rotina leve, fácil e tranquila todos os dias, de modo que, quando eu precisar ou quiser descansar, ou ter um dia de folga, ele pode ser na segunda, na quinta ou no domingo, bastando um planejamento assertivo.

Ainda estou fazendo ajustes. Mas só esse entendimento e soma de:

  • meu nível de energia que oscila ao longo do dia
  • a dinâmica da casa e da família
  • as demandas e a construção do meu próprio trabalho
  • as possibilidades e privilégios da vida que eu tenho hoje
  • a rotina que construí pra mim
  • necessidades das pessoas que se relacionam comigo

É fundamental em qualquer reajuste de rotina. Vou compartilhando com vocês por aqui e também no Instagram. Me segue lá, se quiser. 😉

Thais Godinho

Thais Godinho

Meu nome é Thais Godinho e eu estou aqui para te inspirar a ter uma rotina mais tranquila através da organização pessoal.

8 comentários em “A rotina do artista (2020)”

  1. Que post inspirador, Thais! Me identifiquei muito! Eu também adoro trabalhar, mas tive que modificar minha rotina para não ficar deprimida na quarentena, o que implica valorizar mais momentos de leveza e lazer.

  2. Oi, Thais, tudo bem?
    Muito interessante o post. Mas fiquei curiosa com uma coisa: a rotina de estudos ser à noite, quando sua energia já está mais baixa, não reduz sua atenção ou produtividade? Não faria mais sentido agrupar às tarefas da manhã? Poderia falar mais sobre isso?
    Obrigada!

      1. A noite, mesmo sendo apenas leituras eu não consigo me concentrar, parece que já deu para a minha cabeça… Tenho suspeitado que possa ser algo referente a minha nutrição. Vc tem profissionais dessa área para indicar Thais?! Nutróloga… ou algo assim?

  3. É interessante analisar essas nuances do confinamento. Em determinados momentos nos sentimos melhor; outros nos pedem ajustes ainda mais intencionais. Espero que logo melhore por aí, Thais. Bençãos!

  4. Ao domingos, organizo todas as atividades que tenho na semana, além do meu trabalho onde fico das 7h ás 17h, mas é impressionante como as outras pessoas bagunçam , a mina sonhada rotina organizada. Minha mãe que pede que eu busque seus remédios na farmácia de alto custo que me faz chegar em casa ás 19 h na segunda, na quarta tinha me progamado para ir ao brechó trocar as roupinhas da bebê , e meu namorado resolve ir me buscar no trabalho pq esta com sds, hj ele resolve pegar a bebê e sair sem levar as coisas necessárias para passar o fds, o que com certeza vai me trazer va´rios contratempos … enfim a organização não depende só de mim.

  5. Já te sigo há algum tempo e sou aluna da turma 4. Aqui, em Portugal, estamos no outono e os cuidados com os números crescentes de covid, têm mudado o ritmo diário, às vezes, quase de uma semana para a outra. E gosto muito dessa sua sinceridade em dizer que está reajustando. É o que mais tenho pensado: reajustar… e está tudo bem! Sermos gentis connosco e ir escutando o que faz sentido, num mundo, ainda mais em mudança.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *