Um conto sobre as coisas que guardamos

Em um domingo desses, eu estava na casa da minha avó cuidando de algumas coisas minhas que ainda estavam guardadas por lá. Ela também entrou no clima e começou a mexer no seu armário da bagunça, que fica embaixo da escada, onde ela guarda todo tipo de itens que fizeram parte da sua vida. Mas estão lá, guardados.

Então ela me chamou e perguntou se eu queria algumas toalhas de presente.

Ela tem duas mesas de jantar em casa: uma oval e uma retangular. Mas as toalhas eram redondas e quadradas. Além disso, ela não usa toalhas, porque não gosta de lavá-las – ela busca simplificar nesse sentido. Já me perguntei muitas vezes por que ela guarda essas coisas, mas hoje em dia sou muito mais tolerante, pois cada um sabe o que é melhor para si.

Eu não quis nenhuma toalha. Expliquei para ela que quase não usávamos a mesa de jantar em casa e que estávamos pensando em vendê-la. No entanto, uma passadeira de crochê vermelha feita à mão me chamou a atenção, e resolvi ficar com ela. Se vender a mesa, dou a toalha para a minha sogra – pensei.

Então ela começou a contar que aquela toalha tinha sido feita pela moça que trabalhava com a minha bisavó, pois elas trocavam ideias de pontos de crochê. Me mostrou uma toalha que tinha sido feita pela minha bisavó. Outra, pela minha tataravó. “Essa não dá mais para usar porque antigamente se engomava, mas hoje em dia ninguém mais faz isso”.

Eu olhei para todas aquelas toalhas e comentei, em um suspiro:

“Quantas recordações têm nessas toalhas, né vó?”

E ela: “Pois é. Por isso fico com medo de doar. Vai que a pessoa não dá valor e simplesmente joga fora”.

Então eu respondi: “Mas qual o valor de elas ficarem guardadas dentro do seu armário também? As lembranças não estão no seu coração?”

Ela respondeu que sim e, guardando as toalhas dentro de uma sacola, falou: “Talvez a sua tia queira ficar com elas. Vou deixar separadas”.

Fiquei emocionada. Sabem por quê? A minha avó sempre teve muito apego às suas coisas, o que é reflexo dos tempos difíceis que ela passou quando era criança, na época da segunda guerra e tudo o mais. E agora, eu sinto que ela esteja querendo encaminhar suas coisinhas para melhores mãos, para que tais coisas não sejam jogadas fora quando ela morrer.

No fundo, isso é muito triste. Mas fica a história para pensarmos no sentido que as COISAS têm em nossa vida. Não é simplesmente jogar fora um mundo de lembranças. É difícil, especialmente para as pessoas mais velhas. Precisamos ser mais compreensivos, ir com calma, conversar sobre o que as leva a manter toda sorte de objetos em casa.

Às vezes basta um empurrãozinho.