Oie! Meu nome é Thais e este é o meu blog. Tem duas coisas que você precisa saber antes de ver qualquer texto aqui. 1) Este é um blog pessoal onde eu compartilho a MINHA Vida Organizada. Falo sobre diversos outros assuntos e também divulgo o meu trabalho em diferentes frentes, incluindo o Método Vida Organizada. 2) De 2022 para trás, todos os posts estão com problemas de caracteres que há anos tentamos resolver com os melhores programadores do Brasil e não conseguimos. Optei por manter no ar mas estamos consertando manualmente. São quase 7 mil textos. Sabemos do problema e, por favor, não precisamos receber mensagens e e-mails avisando. Era manter assim ou tirar o blog do ar, e optamos por mantê-lo, já que os textos novos estão consertados. Obrigada pela compreensão!
A organização da metodologia na tese
O desenvolvimento da metodologia na minha tese tem sido uma das partes mais desafiadoras e, ao mesmo tempo, mais gratificantes do meu percurso acadêmico, no sentido de tudo o que tenho aprendido e questionado meus conhecimentos ao longo do percurso. E eu quis compartilhar um pouco desse processo aqui porque, no meu entendimento, tem a ver com organização. Se a metodologia estiver definida, o restante parece fluir melhor.
A metodologia científica é um conjunto de etapas que os cientistas seguem para investigar questões, testar hipóteses e descobrir novos conhecimentos de maneira organizada e confiável. Ela envolve fazer perguntas, pesquisar o que já se sabe, formular uma hipótese (uma ideia do que pode ser verdade), realizar experimentos para testar essa hipótese, observar e registrar os resultados, analisar os dados coletados e, finalmente, chegar a uma conclusão sobre a hipótese inicial. Esse processo ajuda a garantir que as descobertas sejam precisas e possam ser verificadas por outros cientistas.
Eu, como pesquisadora, tenho uma formação que obviamente influencia nas metodologias que prefiro. Desde muito cedo, tenho formação marxista e uso como método científico o materialismo histórico dialético. O materialismo histórico dialético é uma abordagem desenvolvida por Karl Marx e Friedrich Engels que examina a sociedade, a história e a economia através da análise das condições materiais e das relações de produção. Esse método enfatiza a ideia de que as mudanças na sociedade são impulsionadas por conflitos econômicos e sociais entre diferentes classes, e que a história é um processo dinâmico e em constante transformação, resultado das contradições e lutas presentes nas relações sociais e econômicas. Através dessa perspectiva, buscamos entender como as estruturas sociais e econômicas influenciam o comportamento humano e moldam o desenvolvimento histórico.
No entanto, no meu doutorado, eu fui desafiada a conciliar essa minha abordagem com outra metodologia, chamada de individualismo metodológico. Esta metodologia, ao contrário do materialismo histórico dialético, foca nas ações e escolhas individuais como a base para entender fenômenos sociais. Ela parte do princípio de que para compreender os processos sociais complexos, é necessário analisar o comportamento e as decisões dos indivíduos, considerando suas intenções, motivações e os contextos específicos em que se encontram. Assim, enquanto o materialismo histórico dialético enfatiza as forças estruturais e coletivas, o individualismo metodológico nos direciona a olhar para os microfundamentos das interações sociais, buscando explicar as grandes tendências sociais a partir das ações dos indivíduos.
Por quê? Porque estou analisando como um trabalhador budista, que tenha desenvolvido um compromisso com uma mente de compaixão, pode tornar as suas relações de trabalho mais humanizadas. Logo, é uma análise do indivíduo em um meio que, talvez, ele esteja indo “na contramão do mundo”. Minha professora orientadora, por ter orientação weberiana também, me fez esse desafio e eu aceitei. E nossa, como tenho aprendido nesse processo, mas tem sido desafiador. Integrar essas duas abordagens tem ampliado minha visão sobre como as transformações individuais podem influenciar e até desafiar as estruturas sociais estabelecidas, proporcionando uma compreensão mais rica e complexa dos fenômenos que estudo.
Isso é bastante interessante porque, na academia, especialmente nas Ciências Sociais no Brasil, é muito incomum utilizar uma metodologia que não seja a marxista. No exame de qualificação da tese, eu tive que ter isso muito claro na minha mente – o motivo de desenvolver a tese através do individualismo metodológico – para defender essa abordagem, pois de fato acredito que seja uma escolha interessante para a análise que estou fazendo. Enfrentar essa situação exigiu uma preparação cuidadosa e um entendimento profundo das razões pelas quais o individualismo metodológico era adequado para minha pesquisa. Acredito que essa abordagem permite uma análise mais detalhada e pessoal do comportamento do trabalhador budista, destacando como suas ações individuais e seu compromisso com a compaixão podem influenciar e até transformar suas relações de trabalho, mesmo que isso signifique ir contra as normas estabelecidas na sociedade.
O que tenho feito desde que essa decisão foi tomada foi estudar os escritos de Max Weber (um dos principais teóricos associados ao individualismo metodológico) porque eu nunca tinha ido a fundo em seus trabalhos. E isso significou “esvaziar a minha xícara marxista para receber o chá do sr. Max” porque muito do que ele fala é completamente diferente do que eu estava acostumada a pensar realmente através do marxismo. Essa experiência tem sido transformadora, exigindo uma abertura mental para novas perspectivas e uma disposição para questionar e revisar conceitos que antes eu considerava imutáveis.
Com três anos de doutorado, posso dizer com absoluta certeza que estou longe de conhecer todo o trabalho de Weber, mas acredito que tenha realmente compreendido o que ele quis desenvolver, talvez até mais do que muitos colegas marxistas que o odeiam e excluem totalmente seus estudos. Weber é crítico ao Marx em diversos momentos, e isso talvez afaste algumas pessoas. Foi por conta desses estudos que conheci um viés chamado marxismo analítico, que traz pesquisadores que fazem uma análise mais crítica do que Marx propôs, já à luz dos acontecimentos materiais do século XX. Esse contato expandiu enormemente os meus conhecimentos, permitindo-me enxergar o marxismo de forma mais complexa e atualizada. O marxismo analítico integra elementos das críticas weberianas e de outras correntes, proporcionando uma abordagem mais abrangente e sofisticada das questões sociais e econômicas. Essa jornada acadêmica tem sido desafiadora, mas extremamente enriquecedora, ampliando minha capacidade de análise e minha compreensão das diversas nuances presentes nas teorias sociais.
Depois que compreendi e defini a metodologia, o desenvolvimento da tese seguiu uma estrutura bem mais clara e organizada. Desde os objetivos específicos da pesquisa e a formulação de hipóteses com base na literatura existente e nos conceitos teóricos escolhidos, até os métodos de coleta e análise de dados que serão utilizados, sejam qualitativos, quantitativos ou mistos. Era para eu estar finalizando a coleta de dados com entrevistas, questionários ou análises documentais, mas o intercâmbio na Polônia entrou no meio para me dar mais experiência acadêmica e isso será feito na sequência.
Em conclusão, a jornada de desenvolvimento da minha tese tem sido marcada por uma profunda transformação intelectual e metodológica. Ao integrar o materialismo histórico dialético com o individualismo metodológico, expandi minha capacidade de análise, explorando as complexas interações entre as estruturas sociais e as ações individuais. Este processo não apenas desafiou minhas perspectivas pré-existentes, mas também enriqueceu minha pesquisa ao proporcionar uma compreensão mais abrangente e detalhada das relações de trabalho humanizadas a partir de uma perspectiva budista. A experiência de estudar as contribuições de Max Weber e o marxismo analítico ampliou meus horizontes acadêmicos, permitindo uma análise crítica e contemporânea das teorias marxistas. Esta integração metodológica não só fortaleceu a validade e a profundidade da minha pesquisa, mas também destacou a importância de uma abordagem interdisciplinar e aberta no campo das Ciências Sociais.
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Written by Thais Godinho
Autora do Método Vida Organizada, criou este blog em 2006.
13 comments
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Olá
Já sigo o seu trabalho há imenso tempo. Achei muito interessante este blog sobre a tese de doutoramento, a conjugação destas visões para além de desafiadora é altamente interessante como campo para novas pesquisas. Não conheço muito bem esta vertente do marxismo analítico e fiquei entusiasmada para explorar, seria possível indicar-me alguns autores para eu desenvolver estas leituras. E quanto ao individualismo metodológico, poderia igualmente indicar alguns autores para além de Weber.
Obrigada
Posso sim, Elisabete. São dois os autores principais: Prezeworski e Jon Elster.
Olá Thais
Muito obrigada pelas suas indicações. Vou explorar estes autores, até porque a sua abordagem me pareceu bastante pertinente para o que estou a estudar agora – Ciência Politica.
Desejo-lhe sorte, no desenvolvimento deste seu projecto, as suas “partilhas” têm-me ajudado a desenvolver várias áreas de intervenção no trabalho e pessoalmente.
Oi, Thais!
Muito legal ler suas reflexões sobre a metodologia da pesquisa, e principalmente sobre a integração da crítica weberiana à teoria marxista. Estou cursando mestrado em Sociologia, depois de 20 anos de formada em Ciências Sociais, e sinto que o marxismo que estudei não dá conta das questões que me movem – tenho algumas incursões pela Psicologia e pela Psicanálise que também trazem aspectos do indivíduo para a análise. Muito inspirador seu post.
Mais uma vez, agradeço pela sua generosidade em compartilhar.
Que interessante. Obrigada por compartilhar.
Nossa, sensacional!
Nem consigo colocar em palavras o quanto fiquei surpresa e feliz com esse post… Desejo sucesso em sua caminhada, Thaís! Abraço!
Utilizar o individualismo metodológico em uma tese aqui no Brasil, mesmo que mesclado com o barbudo-queridinho das bancas, é quase um suicídio acadêmico, parabenizo-lhe pela audácia!
Que legal ler sobre a sua tese e sobre a metodologia. Acho que os melhores aprendizados de um mestrado e doutorado são mesmo desafiar nossas perspectivas e aprender a ver o mundo e nossas análises com vários outros olhos e prismas.
Oi Thais:
Poderia explicar melhor sua afirmação que “na academia, especialmente nas Ciências Sociais no Brasil, é muito incomum utilizar uma metodologia que não seja a marxista”, não seria incomum utilizar dentro do campo que estuda que é sociologia do trabalho? Acredito ser uma afirmação um pouco generalista.
O post é sobre as minhas percepções.
Adorei! Não conhecia o “individualismo metodológico”. A pesquisa parece muito interessante!
Thais,
Obrigada por este post. Suas reflexões são inspiradoras.
Neste post pude acompanhar com mais profundidade o percurso da construção da metodologia da sua pesquisa e achei bastante relevante! Sou da área das C.Sociais também. Boa pesquisa!!!