Pular para o conteúdo

A percepção da especificidade da minha saúde como mulher

Hoje eu gostaria de compartilhar que estou lendo um excelente livro chamado “Mulheres em ebulição”, que foi escrito por uma médica norte-americana chamada Julie Holland. O livro fala sobre como o mundo atual tende a deixar as mulheres doentes e se sentindo inadequadas, sugestionando que até mesmo os medicamentos que estamos tomando influenciam demais na química do nosso corpo e no nosso dia a dia. Interessantíssima leitura, e minha recomendação para você. Ele me inspirou a escrever este post.

Eu acredito que muitas das coisas que eu acabe percebendo hoje em dia têm a ver com a idade que eu tenho também. Quando eu era mais nova, não me ligava tanto em alguns assuntos. Com o passar do tempo, especialmente a saúde vai entrando em foco. Eu demorei muitos anos, e diria que é algo recente, para entender que, como mulher, eu tenho reações químicas no meu corpo que são diferentes das reações químicas que os homens têm em seus corpos. Isso também me ensinou a ser mais empática com outras mulheres.

A própria questão do ciclo mentrual. A maioria das mulheres não leva seu ciclo tão a sério (até mesmo porque, dependendo de alguns comprimidos anticoncepcionais, o ciclo fica tão desregulado e esquisito que nos desconectamos completamente da maneira como nossos corpos funcionam). O ciclo mentrual, que na verdade é a consequência de um processo hormonal muito maior, influencia enormemente em como nos sentimos no dia a dia. Haverá dias em que nos sentiremos melhores, com maior auto-estima, mais motivadas, e existirão dias em que ficaremos mais sensíveis, “para baixo”, chateadas. O entendimento de que isso é simplesmente normal e não algo “inadequado” para a sociedade é revolucionário, e eu diria que o mercado de trabalho (e as famílias) ainda não estejam completamente esclarecidas sobre isso.

Apenas a observação do meu ciclo e de como me sinto ao longo do mês já mudou bastante a minha vida de maneira geral. Preparo alimentos que ajudam, marco ou não marco determinados tipos de compromissos, agendo cuidados pessoais no salão, um jantar com uma amiga – tudo dependendo da época do mês e de já me conhecer e saber como vou me sentir. Parece exagero, mas não é, e agradeço todos os dias por prestar atençao e ter esse cuidado comigo.

Pensar mais sobre as especificidades de ser mulher me ajudou a entender outros aspectos ligados à minha saúde que são características exclusivamente femininas, mas que eu não tinha levado em consideração antes. De depressão pós-parto até um certo grau de ansiedade cotidiana.

Desenvolver uma visão estrutural da saúde feminina é algo que naturalmente acontece conosco. Pelo fato de termos nascido e crescido em uma sociedade machista, acreditamos que muito do que somos ou vivemos é fruto de “histeria” (termo que, aliás, a doutora desmistifica no livro), e não de reações químicas naturais do nosso corpo, derivadas do simples fato de sermos mulheres.

Um dos principais pontos que a doutora Julie aborda no livro é justamente a quantidade de medicamentos aos quais nos submetemos apenas para “consertar um problema” a curto prazo (que pode de repente nem ser um problema, mas um sintoma ou característica comum), e que esses medicamentos influenciam em diversos outros lados em nosso corpo, mudando muito quem nós somos e tirando a nossa percepção natural do funcionamento do corpo. Por exemplo, uma mulher que tome antidepressivos pode desenvolver apatia por atividades que antes gostava. No que isso ajuda a depressão, de fato?

Ao mesmo tempo, precisamos entender, como mulheres, que nosso corpo é diferente aos 20, aos 40, aos 60, aos 80 e aos 100. ok, talvez a gente já saiba isso. Mas será que a gente sabe como lidar adequadamente com esses ciclos? Esse conhecimento é fundamental para termos perspectiva e nos planejarmos para determinados acontecimentos. Um exemplo bastante simples: se, quando eu engravidei, eu já tivesse uma rotina consistente de atividade física há pelo menos uns dez anos, isso impactaria a minha gestação e a minha recuperação de uma maneira muito diferente de como aconteceu. Imagine então ter certas percepções desde os 20 anos preparando-se para chegar aos 40 de uma forma muito mais preparada e saudável? Isso tem tudo a ver com uma vida organizada.

Recomendo fortemente a leitura para auto-conhecimento, no caso das mulheres, e empatia e compreensão, no caso dos homens. O que sentimos é extremamente normal e, muitas vezes, esse desconhecimento faz com que a gente se sinta chateada e inadequada, sendo que são apenas ciclos normais do nosso corpo. Conhecê-los faz com que nos planejemos melhor e aprendamos a lidar de maneira mais apropriada com os nossos dias, buscando sempre a sensação de bem-estar.

Autor

20 comentários em “A percepção da especificidade da minha saúde como mulher”

  1. Ótimo texto! Como sempre.

    Interessante essa “sacada” sobre o hormonal, sobre os anticoncepcionais… ciclo…
    Hoje utilizo o diu, mas por ter usado o Billings por tanto tempo e conhecer bem meus dias e meu ciclo e suas fases, que quando pus o diu não enlouqueci (a adaptação pode ser bem dificil, e os médicos só falam das coisas boas. As coisas boas lógico que vem, hoje por exemplo, não me vejo sem ele 6 meses após ter colocado, mas os primeiros meses quase detonaram meu casamento). O fato de eu também ter me conhecido como mulher ao levar o Billings por anos fez meu parceiro me conhecer. Então ele sabia que aquela “histeria” como você falou, não era normal pra quem ele conhecia.

    Importante hoje a gente não só ter autoconhecimento psicológico. Mas biológico também. E aí a importância de check ups anuais, como tantas vezes você também já enfatizou.

    Um bj, Thais!

  2. Vou ler! Obrigada, Thais!
    Eu uso diu há 1 ano e meio e desde então uso o aplicativo clue. Ele me ajudou muito a perceber meu ciclo, minhas mudanças e hoje até gosto de menstruar por entender que faz parte do funcionamento adequado do meu corpo.

  3. Muito bom esse enfoque: as reações químicas nos corpos das mulheres são diferentes das dos homens. Simples assim… e realmente, acho que ainda nem mesmo as mulheres entendem isso completamente, que dirá familiares, amigos e etc… Agradeço muito a vc por compartilhar suas experiencias, e por ser tão clara e delicada ao mesmo tempo. Bjs

  4. Olá Thais!
    Esse livro é fantástico, percebemos o quanto ainda não conhecemos nosso corpo e toda influência dos medicamentos em nosso organismo!:*

  5. Olá Thais, muito importante o seu texto! Faço doutorado em diferenças comportamentais e neurológicas entre homens e mulheres e é realmente importante nós entendermos o quanto somos diferentes, também ao longo da nossa vida.
    Parabéns por trazer tantas reflexões sobre autoconhecimento 🖤

  6. Legal abordar a temática aqui Thais! Já ouvi de uma médica que a pílula é a revolução feminina que permitiu a mulher se colocar no mercado de trabalho e por isso eu deveria continuar tomando quando queria parar… Afff. Muito bom ver esse processo de darmos um passo atrás e nos conhecermos melhor, aceitar que nem todos dias seremos altamente produtivas e que tudo bem, porque isso é o natural e nos caracteriza, importante é aprendermos a lidar com esses momentos. Eu já estou no método Billiings faz quase um ano e é bem como a Evelyn comentou, permite autoconhecimento e envolvimento do parceiro nesse processo também, isso é muito bom! Estou achando lindo esse movimento de todas, feliz por ver tb esse tema aqui com vc!

  7. Naiara Araújo de Oliveira

    Olá Thaís,
    Fiquei muito curiosa em ler esse livro, não só por auto-conhecimento, mas por ser profissional de saúde também.
    Acredito que medicamentos estão aí para melhorar e prolongar nossas vidas, mas ultimamente tenho visto uma onda de medicalização de quase tudo. Um exemplo tosco, mas muitas vezes real: vou tomar cafeína para ter disposição para trabalhar ou fazer uma atividade física, mas mais tarde vou tomar um ansiolítico para controlar o estresse que terei na reunião de hoje. Vejo uma tendência muita seria nisso, em que não há aceitação de que os altos e baixos que passamos na vida e indisciplina podem ser resolvidos muitas vezes com outras abordagens. E quando falo disso não estou falando de depressão clínica e TDAH devidamente diagnosticados, que sim devem ser devidamente tratados e acompanhados.
    Bom, é uma discussão longa, mas espero que tenha conseguido explicar a sutileza entre os exemplos.
    Parabéns pelo texto, Thaís! Estou amando ver seu ponto de vista sobre a saúde!

    1. Estava me sentindo meio estranha (sempre me senti, na verdade), e procurei o NAPS da minha cidade. Chegando lá, não tive nenhum diagnóstico claro, a psiquiatra me pediu para fazer terapia, disse que eu era imatura, e me passou 100 mg de antidepressivo e 1mg de antipsicótico (?????)
      Obviamente, fiquei super desestimulada com tamanha “agressividade” no tratamento e nunca mais voltei lá. Remédios são para ajudar, não para aprisionar :/

  8. Puxa, muito massa o tema e o livro.
    Interessante como esse movimento de começar a organizar a vida faz vc perceber tantas outras coisas. Desde q te sigo q venho percebendo essas mudanças em mim q antes não via… Tem meses q estou com toda a energia para fazer muito, principalmente nas relações pessoais. E tem meses q estou mais quieta, cansada ou com sono. E estou aprendendo a respeitar esses meus ciclos de energia. E justamente estava pensando nesse tema quando vc escreveu isso!
    Vou já procurar esse livro! Obrigada por compartilhar tanta coisa boa! Bjs

  9. Thais, boa tarde! Te acompanho quase 4 anos, primeira vez que posto alguma coisa! Sabe que fiz um check-up por esses dias e estava pensando muito sobre isso…com a correria do dia a dia não percebemos o quanto o nosso corpo sofre alterações!!! Obrigada pela dica da leitura, vou procurar o livro para comprar!!

  10. Maria Cristina Rodrigues Treu

    Olha que sincronicidade! Ainda ontem eu estava ouvindo a Kareemi, que justamente aborda a Ginecologia Emocional, que tem tudo a ver com o que o você tratou e também deve estar no livro Mulheres em Ebulição. Graças a Deus pra nós, felizmente, estamos em outros tempos!!

  11. Já quero ler! O conhecimento do nosso corpo é ideal para o empoderamento feminino (e amo isso no seu blog).
    Recomendo o aplicativo Maya, ele acompanha o ciclo e diz quais reações podemos ter, acerta demais e são muitas!
    Sobre o anticoncepcional, acredito que desde sua existência o banalizamos e como remédio tens seus riscos como todos. Para mim, foi a solução para a TPM intensa devido ao hipotireoidismo, para outras pode não ser tão necessário assim.
    Saudações 🙂

  12. Nossa, q texto providencial! Obrigada, Thais!
    Mto importante a gente tem de lembrar q a medicina focada na saúde da mulher é muito recente, ou seja, a literatura (e a prática) médica é completamente androcêntrica. A palavra histeria tem sua etimologia ligada ao útero; a anatomia do clitóris só foi “descoberta”em 1998; métodos anticoncepcionais masculinos são um tabu científico quase instransponível – apesar de um único homem poder engravidar centenas de mulheres em um ano, enquanto a mulher poder ter apenas 1 gestação ao ano; libido feminina, imagina, que desnecessário estudar isso, pois já existe Viagra e isso é o que importa; TPM ainda é sinônimo de xingamento e culpa. Que mundo, que mundo….
    A questão de acompanhar o próprio ciclo é fundamental, por sinal, mudou a minha vida: há alguns anos, eu estava prestes a fazer uma cirurgia no intestino quando encontrei uma gineco abençoada que me propôs o exercício de marcar meu humor no dia a dia, durante 2 meses. Percebemos a alta influência hormonal no meu corpo durante o ciclo menstrual, especialmente os impactos no sistema digestivo e excretor, e só com a correção de alguns hábitos, mais alguns remedinhos simples e naturais, não precisei operar e recuperei minha saúde íntima… Desde então, os apps de ciclos são indispensáveis na minha vida.Costumo dizer que sei a semana exata em que sou capaz de mudar o mundo, e marco td de importante pra essa época!
    Um bj, Thais!

  13. Oi Thaís,
    Ótimo texto!
    Saúde é sempre uma coisa muito importante e que devemos dar atenção mesmo.
    Eu só comecei a perceber isso há 2 anos atrás. Hoje, eu tenho 22 anos e enfrento sérios problemas de saúde e eles começaram a surgir há 2 anos atrás e tive que remodelar todo o meu estilo de vida de trabalho, estudos e tudo mais pra poder dar atenção pra saúde e quando eu comento com as pessoas sobre isso, elas acham que é “conversa” devido a minha idade. Então, sempre sempre cuidem da saúde e principalmente, nós mulheres, devemos ter atenção redobrada.

    1. Estamos juntas, tenho 23 e uma bagagem de problemas de saúde bem grandinha 🙁 ninguém entende e, por ter parado de estudar (e ficar estudando à distância) e trabalhar, enfrento resistência atualmente para me colocar no mercado de trabalho. Nos postinhos de saúde, nem me dão trela, só de verem minha idade acham que carrego o mundo nas costas :/ mal sabem que tô pior que muito velhinho da minha cidade…
      Por isso, não deixe de se cuidar!

  14. Ainda quero muito me aproximar desse assunto e com certeza irei ler esse livro, algumas coisas que eu sempre repeti e não entendia a diferença justamente por não conhecer o meu corpo : Não tenho TPM, ou melhor, não tinha, por sofrer muito (diga-se passível de internação) no período menstrual, muito nova foi me recomendado o uso de anticoncepcionais, o único período que fiquei sem eles foi ao tentar engravidar e no pós parto
    Hoje apos 15 anos de uso, parei de tomar e em setembro completará um ano sem ele, depois de muitos desarranjos, meu corpo agora estabilizou , vejo claramente quando a tpm chega, aprendi a não lutar contra ela e simplesmente acolhe-la, descobri que é um período de reclusão, apesar de não me impedir de desfrutar nada do universo lá fora, mas qdo o corpo pede, eu obedeço. Fico pensando quanto anos perdidos sem aceitar a minha lua, a minha feminilidade que também é a fonte de poder .

    Esse seu post foi lindo e espero que muitas meninas possam ter acesso a ele para quem sabe um novo padrão se abra para a nova geração

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *