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Uma rotina para a autocura

Eu publiquei um post recentemente onde comento sobre o meu histórico em diversas questões da vida, especialmente relacionadas à minha saúde, e como isso mudou a minha mentalidade de maneira geral sobre o que eu considerava ser uma pessoa saudável.

Ontem o meu sogro foi pegar os resultados do check-up que ele fez e chegou em casa muito preocupado porque está com a diabetes altíssima e medo de morrer. Eu fiquei aflita por ele, ao mesmo tempo que não sabia muito o que dizer além de pensar que de nada adianta receitar coisas pontuais se não houver uma mudança no estilo de vida. Mas o problema é que, quando você não vê essa diferença na mudança no estilo de vida, você não acredita. E é muito difícil mudar hábitos de uma vida inteira de uma só vez. Algumas pessoas conseguem, mas outras não.

Eu gostaria de ser essa Thais de 2020 quando eu tinha 18 anos de idade. Praticava esportes, tinha um corpo legal, mas com a chegada da faculdade e da rotina difícil associando trabalho e estudos, muita coisa começou a desandar. Parei de praticar esportes, me alimentava na rua quase que exclusivamente, e eram alimentos de má qualidade. Eu sabia que a questão do estilo de vida era importante, mas eu achava que se tratava de uma fase e que em breve eu retomaria um ritmo mais tranquilo e conseguiria voltar a fazer as coisas. O grande segredo (que eu sei hoje) é que a vida acontece. Esse momento tranquilo nunca chega se você não fizer da sua própria vida um processo ativo de autocura. De se observar, se entender, compreender suas necessidades e, por fim, aplicar, dentro do possível, mudanças significativas que façam diferença real na sua rotina. Não dá para esperar o momento certo. Tem que começar imediatamente, mesmo com os desafios.

Eu tive labirintite, síndrome do pânico, crises de ansiedade, depressão, hipertensão, obesidade, problemas no fígado – todo um pacote. E esse pacote foi resultado, cada coisa em sua fase, claro (não tive tudo isso de uma vez!), de um estilo de vida que eu estava “deixando para lá”. Apesar de saber que era questão de estilo de vida, eu não conseguia fazer um link entre a situação que eu vivia e o suposto “estilo de vida saudável”, pois eu não me identificava com o que eu via. Nunca gostei de musculação (desculpem), não gosto do ambiente de academia, música pop alta, pessoas se admirando no espelho, a cultura do whey protein, além de outras questões relacionadas. E aí eu caí naquela máxima que muitos de nós caímos, que é nem começar se achar que não vai ficar perfeito. Fui levando a minha vida, até os problemas começarem a aparecer.

Foi uma sorte ter conhecido o Ayurveda no ano passado. O livro me chamou atenção, li e fiquei apaixonada. Estava em um momento de saúde delicado, tentando conciliar todo esse mal-estar com as demandas de trabalho e do mestrado. A leitura do livro me mostrou que, se eu quisesse mudanças, deveria mudar a minha rotina, e que esse processo não é fácil e tampouco rápido. Mas precisava começar.

O primeiro aspecto foi o sono. O médico quebrava o mito dos noctívagos, falava sobre a importância de dormir em determinados horários (ciclo do sol, ritmos circadianos, funções do corpo). Analisando a minha rotina, estava tudo errado. Não “tudo” errado, veja bem. Eu priorizava o meu descanso. Fazia questão de dormir minhas 8h de sono diárias. O problema (que eu já tinha identificado) era achar que, se eu dormisse às 23h e acordasse às 7h, tava tudo bem, e no dia seguinte dormisse às 2h e acordasse às 10h, tava tudo certo. Não estava. E foi resgatando um texto meu aqui do blog mesmo, de uma época em que eu tinha aprendido que o que funcionava para mim era dormir e acordar no mesmo horário todos os dias, mesmo aos finais de semana, eu me perguntei: por que deixei de fazer isso se sei que funciona?

Depois, foi a alimentação. Mesmo tendo feito a cirurgia, eu ainda comia alimentos que eu sabia que não me faziam bem, mas continuava consumindo, achando que fariam bem pela questão nutricional e tal. Mas o seu paladar e também o efeito que esses alimentos têm no seu corpo importam tanto quanto a qualidade nutricional deles. Por exemplo, berinjela é um legume com muitas propriedades, mas eu passo mal absurdamente se comer. Mesmo assim, eu pensava: é gostoso, é saudável, vale a pena comer de vez em quando. Pra quê? Então foi passar a me conhecer melhor e mudar essa mentalidade, que é muito difícil porque normalmente um nutricionista não foca nessas questões, a não ser que tenha outra linha de pensamento.

Depois, atividade física. Eu fiz mais de um ano de musculação depois da cirurgia bariátrica porque precisava. Fiz de tudo para me acostumar e gostar, mas realmente não faz o meu estilo. Hoje eu vejo que poderia ter feito alguns exercícios em casa, com pesos etc. Mas entender que o meu estilo de vida, meus pensamentos, tudo, também poderiam influenciar na escolha da melhor atividade física para mim, isso mudou completamente a história. Compreender porque era melhor fazer atividade física de manhã, não de noite, a mesma coisa. Eu sou uma pessoa que funciona bem quando entende os motivos.

O fato é que o que eu estava vivendo no ano passado me mostrou que tudo é reflexo de um estilo de vida e da rotina. Aos poucos, fui me conhecendo e, dentro das minhas condições, construindo essa nova rotina. Eu sabia que, se não descobrisse as causas, eu voltaria a me sentir mal novamente. Foi por isso que me envolvi tanto com o Ayurveda, que tem uma linha equilibrada, sem sugerir extremos. Eu não queria simplesmente ter mais anos de vida, mas ter mais vida nos meus anos.

Todas as pessoas que eu conheço estão ficando doentes de alguma maneira. São doenças do corpo, da mente e da alma. Todas elas são relacionadas. Mas, em algum ponto desse processo, vejo que muitos de nós passam a colocar a “culpa” de tais males em circunstâncias externas. Recém-nascido, emprego, mudança, deslocamento, trânsito, concurso, desemprego, falta de dinheiro, nervosismo, estresse, o governo etc. Que sim, impactam a nossa vida. Mas a responsabilidade sobre como ficar bem perante tudo isso é apenas sua. Sua mãe não vai parar de brigar com você para você ficar bem. Seu bebê não vai parar de chorar à noite agora para você dormir mais. O carro não vai trabalhar sozinho se você hoje depende do Uber para se sustentar. Então, independente das circunstâncias, precisamos ficar bem.

Cada pessoa tem seus próprios desafios e condições de vida que vão permitir tais mudanças em determinado grau. Tem coisas que você pode fazer; tem coisas que não pode – faz parte. O que você pode fazer? Esse é o ponto. Eu não posso pagar a minha massoterapeuta para fazer massagem em mim todos os dias, mas posso fazer uma automassagem. Talvez você não consiga acordar mais cedo porque já vai dormir super tarde e acorda sem ter dormido horas suficientes. A questão é: nessa condição de vida que você tem hoje, o que pode ser melhorado? Porque muita coisa pode. E você sabe disso. A sugestão então é que você implemente uma mudança de cada vez, aos poucos, testando como se sente e dando tempo de consolidar como hábito.

Ter uma vida organizada não significa que sua vida será perfeita, nem que não haverá imprevistos. Significa apenas que você sabe lidar com todos esses acontecimentos. Que você sabe como se reequilibrar mesmo perante tantos desafios. E eu acredito fortemente que a chave para isso esteja na rotina.

Quando falo em rotina de autocura, me refiro a transformar cada dia em uma oportunidade significativa de viver bem. Você pode querer seguir essa ordem de análise:

  • Como eu posso melhorar as minhas condições de sono hoje? Mais horas? Menos horas? Um colchão melhor? Um travesseiro cervical? Uma almofada de corpo inteiro para dormir abraçado e alinhar a coluna? Fazer um alongamento antes de dormir? Tomar um chá? Fazer massagem nos pés? Desligar os eletrônicos algum tempo antes?
  • Como eu posso melhorar as minhas condições de alimentação hoje? Posso preparar comida fresca diariamente, com refeições simples? Posso preparar marmitas para a semana inteira e levar para o trabalho? Posso fazer lanches que não precisam ser esquentados? Posso observar como me sinto após uma refeição? Posso tomar algum chá para melhorar a minha digestão? Posso me consultar com algum profissional da área da saúde para fazer ajustes na minha alimentação?
  • Como eu posso melhorar as minhas condições de atividade física hoje? Eu gosto de academia ou prefiro outra atividade? Que atividade eu gosto? Dança? Luta? Corrida? Como posso acrescentar mais exercícios físicos ao meu dia a dia? Posso baixar um aplicativo que tenha sequências de 7 minutos para exercícios? Posso levantar a cada 40 minutos da minha cadeira no trabalho e me alongar? Posso subir de escada? Posso caminhar 15min depois do almoço?
  • Como eu posso melhorar o meu equilíbrio emocional nas condições que vivo hoje? Tenho como pagar por terapia? Existem opções gratuitas no SUS ou em outro lugar? Consigo aprender meditação? Posso ler livros inspiradores que me ajudem a refletir sobre como me sinto? Posso escrever em um diário antes de dormir, por 5min?
  • Como posso melhorar o meu senso de autocuidado diariamente, nas condições que tenho? Consigo tomar um banho quieta, sem agitação, pensando na purificação do meu corpo? Consigo passar um oleozinho no corpo 3min antes de entrar no banho? Consigo cuidar das minhas unhas logo quando acordo, limpando e lixando? Consigo fazer uma automassagem no rosto antes de dormir?

Eu dei apenas alguns exemplos, mas a ideia é que você reflita sobre todos os aspectos da sua vida, não importam quais sejam as suas condições hoje, e busque melhorias. Certamente o que você pode fazer será diferente do que outra pessoa pode fazer, pois pessoas diferentes têm necessidades diferentes. E você mesmo pode mudar de tempos em tempos. Quando nosso filho era recém-nascido, minha disponibilidade era outra. É ter essa perspectiva, mas não deixar de fazer apenas porque não está no momento ideal, porque o momento ideal não existe. Se existe, é o agora. Os desafios fazem parte. Quanto mais você se percebe, mais fácil será identificar qualquer doença ou problema que surgir.

Autocura se refere a saúde, mas saúde não é apenas o corpo físico. Entender isso faz toda diferença. Tudo na sua vida importa. O modo como você lida com as suas finanças afeta o seu emocional. O modo como você lida com a sua comida afeta seus relacionamentos. Você é uma pessoa só, com múltiplas áreas integradas, e cada uma influencia na outra. Ter consciência disso e trazer mudanças conscientes vai mudar completamente a sua relação com a vida e com a personalização da sua rotina.

Qualquer sinal de desconforto ou sofrimento é o nosso eu interno dizendo que algo não vai bem. Ouça, respeite e honre esse sentimento. Conhecer-se melhor fará com que você busque as soluções que precisa momento a momento, dia após dia. A única coisa que eu quero que você faça depois de ler esse post é comentar aqui embaixo que você decidiu assumir esse compromisso com você mesma/o. Quem está comigo?