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Maternidade

Este é o penúltimo post relacionado ao nosso tema do mês – estilo de vida. Foi um mês mais reflexivo, com posts enormes, que levei dias para escrever cada um. E a ideia foi me concentrar neles, em vez dos posts diários. Falo mais sobre essas percepções e descobertas na newsletter, enviada toda segunda-feira. Se você não estiver cadastrado/a, está perdendo conteúdo. 😉

Já falei sobre: áreas da vida no Trello, visão para os próximos 9 anos (numerologia), gezellig (meu conceito de “casa”), voz, budismo beatnik e veganismo. Hoje vou escrever sobre maternidade, e antes do final do mês teremos mais um sobre moda e estilo pessoal. Aí encerramos.

Algumas mulheres têm o sonho de serem mães desde muito novas, pois essa é a cultura que vivemos e que muitas vezes se impõe a nós. Tenho certeza que sofri influência da minha mãe, pois ela nunca me deu bonequinha de presente nem alimentou esse inconsciente na minha infância, por isso eu cresci mais querendo fazer outras coisas que pensando na maternidade em si.

Quando eu conheci o meu marido e nós começamos a namorar, de alguma maneira essa vontade despertou em mim, porque nos amamos muito desde o início. Mas claro: eu era nova, estava em época de vestibular, e tinha muita coisa pela frente ainda antes de pensar em ser mãe.

Passei por MUITA coisa nesse meio tempo, especialmente relacionada ao trabalho, sobrecarga e a vontade de mudar de carreira. Tive meu período minimalista, que foi radical e, portanto, essencial para me trazer reflexões, e foi naquele momento que eu percebi que queria ser mãe. Simples assim. Aproveitei que queria fazer uma transição de estilo de trabalho (e trabalhar em casa) e começamos a nos preparar para ter um filho. Eu saí do emprego que eu estava na época e passei a trabalhar em casa, com vários clientes freelancers para webdesign e conteúdo.

Foto do quarto do meu filho (arquivo pessoal)

Quando eu engravidei, algumas coisas aconteceram na minha vida. Meu pai, que já estava com a saúde debilitada (ele teve leucemia), ficou ainda pior. Exatamente uma semana antes do Paul nascer ele morreu. Tinha câncer.

Por volta do meu sétimo mês de gravidez, eu comecei a passar um pouco mal de maneira esquisita e descobri também que estava com pré-eclâmpsia, que é uma espécie de doença que só acomete durante a gravidez, mas que também é uma das maiores responsáveis por problemas na hora do parto ou mesmo depois. Geralmente quando a gente vê alguma mulher morrendo na hora do parto, foi decorrente de eclâmpsia, que é tipo uma pressão alta fortíssima na gravidez.

Por conta disso, o último mês de gravidez, especialmente, foi bastante preocupante, pois eu tinha que ir diariamente ao hospital medir os batimentos cardíacos do bebê e, em determinado momento, foi necessário adiantar o parto. O Paul nasceu umas duas semanas antes do previsto, por conta disso. Foi cesárea.

A pré-eclâmpsia teve muita influência na minha recuperação, porque eu sentia dores de cabeça quase insuportáveis e não conseguia sequer dormir quando deveria (quando o bebê estivesse dormindo). Para piorar, acabei tendo um desentendimento com a minha mãe na época, e eu precisei “migrar” às pressas para a casa da minha sogra para que ela me ajudasse com o bebê enquanto eu estivesse “doente”. Ou seja, precisei sair da minha casa, do nosso cantinho, para ficar hospedada em outro lugar, totalmente sem as minhas regras e a minha liberdade. Minha sogra é um anjo e me tratou muito bem como sempre, fazia as comidas para mim, aquela coisa toda. Mas tudo isso influenciou demais no meu estado, e fiquei com medo de ter depressão pós-parto. Meu marido quase não ficava em casa pois ele tinha dois empregos na época.

Na época a gente não tinha celular e notebook como se tem hoje em dia, então foram dias quase que intermináveis para mim. Eu sentia muita dor de cabeça, não conseguia dormir, não conseguia ler, estava triste pelo meu pai, por ter brigado com a minha mãe e por estar longe de casa. E ainda estava preocupada, com medo que minha pressão subisse demais e eu tivesse um “treco”. É óbvio que isso influenciou na minha produção de leite e, em algum momento no tempo e no espaço, o Paul foi pesado no pediatra e veio a notícia: “vai precisar suplementar”. Fiquei chateada porque estava engajada no lance da amamentação, mas nunca questionei e a saúde do meu filho sempre veio em primeiro lugar. A gente confia nos médicos. E, assim, com uma semana de suplementação ele ganhou todo o peso que precisava e eu fiquei me sentindo ainda pior por não ter sido capaz nem de amamentá-lo direito. A cabeça da mulher no puerpério é uma loucura, gente.

Voltamos para a nossa casa cerca de um mês depois que ele nasceu, ou um pouco mais. Basicamente, quando eu já tinha me recuperado da cirurgia e o risco da eclâmpsia tivesse praticamente sumido. Morávamos em um sobrado, então antes eu não podia subir ou descer escadas, por causa da cesárea. Mais recuperada, pudemos finalmente ir para casa, o que mudou muito a minha relação com a rotina de ser mãe.

Felizmente eu, por ser uma pessoa de métodos, li na época um livro que foi fundamental para mim, de uma autora chamada Tracy Hogg, mais conhecida como “a encantadora de bebês”. Ela desenvolveu um método para entender como seu bebê é (de personalidade) e adequar a rotina dele com base em suas necessidades de fome, sono, ficar acordado, ter vínculos com os pais etc. Vindo para casa, fui colocando o método em prática e todos nós ficamos bem. Com seis meses, o Paul já dormia de noite direto. Tomava o leite (suplemento) por volta das 21h, depois eu dava novamente por volta da meia-noite, sempre com a luzinha do quarto bem baixinha, pra mostrar que era hora de dormir, e ele ia direto até de manhã. O dia em que eu dormi quatro horas seguidas depois do parto foi revolucionário para mim. E quando ele começou a dormir mais durante a noite, nessa época, tudo mudou definitivamente.

Em algum momento antes de ele completar um ano de idade, meu marido estava muito insatisfeito com a sua rotina, muito cansativa, de dois trabalhos, e tivemos uma conversa que mudou tudo o que faríamos a seguir. Eu estava me sentindo mal por ficar apenas em casa. Estava sendo muito deprê para mim. Claro que o Paul era o fator mais importante de todos, mas eu precisava sair. A coisa do meu pai, putz, tudo isso me deixava mal de ficar em casa, sozinha com meus pensamentos. Então nós conversamos e concluímos que seria muito mais efetivo eu voltar a trabalhar, pois eu era gestora quando saí do meu último emprego, e conseguiria algo melhor, com um salário melhor que o do meu marido. Ele poderia focar na música (que era a segunda atividade dele), ficaria em casa durante o meu período de trabalho, e eu poderia fazer minha pós-graduação, que era algo que eu acreditava que me ajudaria a conseguir um salário melhor dali em diante. Ele pediu demissão no início de janeiro, e em fevereiro eu já tinha arranjado um novo trabalho, e assim nossa dinâmica mudou radicalmente. Foi um desafio para todos nós, mas estávamos firmes no propósito.

Mais ou menos na metade do ano, recebi uma proposta de trabalho para ir para o interior de São Paulo, o que nos pareceu uma boa ideia porque eu (1) queria sair do mundo das agências de publicidade e (2) sempre tive em mente que sair de São Paulo e ir para o interior nos traria mais qualidade de vida, especialmente com um filho pequeno. Eu aceitei o emprego e, antes de decidirmos se era isso mesmo o que a gente queria, eu fiquei durante uns seis meses indo e voltando de ônibus fretado diariamente, o que era MUITO exaustivo. Saía de casa enquanto ele estava dormindo e, quando chegava, de noite, frequentemente ele já tinha ido dormir também. 🙁 Para o Paul não sentir tanto a minha falta, optamos por colocá-lo em uma escolinha em tempo integral para se distrair. Ele nunca estranhou. Sempre amou conhecer pessoas. Isso foi muito acertado na época, sabe, vendo hoje em dia. Ele tinha pouco mais de um ano.

No final daquele ano, resolvemos finalmente mudar para Campinas, e assim fomos, em dezembro mesmo. Foi uma grande mudança para a gente, porque estaríamos longe da nossa família pela primeira vez, e era como se uma nova era se abrisse e nos tornássemos “adultos de verdade”.

Nós moramos em Campinas durante três anos. Todo final de semana vínhamos para São Paulo – meu marido tinha shows e eu tinha a pós, que era aos sábados o dia inteiro. Foi uma época bastante difícil em termos de volume, pois íamos para lá e para cá o tempo todo, e eu tinha que conciliar trabalho com curso com maternidade com casa e com o blog. O pessoal todo em outro ritmo, na pós, e eu gerenciando o meu limite de faltas porque o Paul teve febre e passou o dia no hospital, ou porque da outra vez estava com tosse e eu quis ficar com ele enquanto meu marido ia trabalhar, para ele não ficar longe dos dois de uma só vez, e tantos outros desafios que quem tem filho sabe como são.

2011 foi o ano que resolvi “profissionalizar” o blog, no sentido de postar todos os dias, desenvolver um calendário editorial etc. Na pós-graduação, meu TCC foi a profissionalização mesmo dele – desenvolvendo logo, missão, visão, a coisa toda. Então, entre 2012 e 2013, ao final do curso, eu descobri que queria muito trabalhar com organização.

Morando em Campinas, o que eu fiz foi conciliar o meu trabalho na época com esse trabalho com o blog. Funcionava mais ou menos assim: chegava em casa umas 18h30, ficava com o Paul até a hora de ele ir dormir, e aí ia trabalhar no blog, até 1h ou 2h da manhã. Acordava umas 7h e ir para o trabalho. Foi assim durante todos esses anos, até 2014, quando pedi demissão. Então não foi nada fácil nem do dia pra noite, gente. Às vezes as pessoas vêem o que eu tenho hoje e acham que a minha vida foi sempre assim.

Não teve um só momento em toda a minha vida que eu não me sentisse culpada por estar trabalhando demais e passando tempo de menos com o meu filhote. Mas, a partir do momento que o meu marido saiu do emprego dele e eu era responsável pelo sustento da nossa família, eu não tinha escolha. Então eu sempre fiz de tudo para ter um tempo de qualidade com o Paul quando não estivesse trabalhando. Ficar até de madrugada trabalhando no blog não era nada. O importante era eu passar o tempo anterior com ele, e depois fazer as minhas coisas.

Nessa época, em 2013, a gente já começou a alimentar a vontade de querer voltar para São Paulo. Estava com saudade da minha avó, queria que o Paul convivesse mais com ela, com a minha mãe e com a minha sogra. Todo mundo estava sentindo nossa falta também. Pensando nele mais uma vez, eu decidi que, a partir daquele momento, desenharia com seriedade a nossa volta através de uma transição de carreira. Eu queria trabalhar com organização, só não via como, ainda. Mas eu faria isso acontecer.

A primeira coisa relacionada foi começar a trabalhar para a Call Daniel naquele ano mesmo. A Call Daniel é a franquia do método GTD™ no Brasil, e eles não tinham ninguém cuidando do marketing deles. Fiz uma proposta e comecei a trabalhar como consultora, à distância, o que já nos trouxe um faturamento extra mensal. Desde o início, estudávamos a possibilidade de eu me tornar instrutora da metodologia. Isso aconteceu finalmente um ano e meio depois, o que me deu a segurança de pedir demissão e voltarmos para São Paulo. Na mesma época (2014), meu primeiro livro seria publicado, e eu já tinha me preparado nos anos anteriores deixando o blog bem profissional e também fazendo cursos e formações como personal organizer, para atuar na área. Teve todo um preparo de anos.

Voltar para São Paulo foi um marco de vida para nós, porque o Paul já estava maior (4 anos) e as avós amaram muito! Todo mundo deu apoio pra gente na época, então nunca teve nenhum tipo de “crise” quando precisássemos deixar o Paul com alguém devido ao nosso trabalho ou porque ele mesmo queria. Desde muito cedo ele se acostumou com a mamãe trabalhando mas que, mesmo trabalhando, ela estava ali cuidando e amando ele muito muito. Ele sempre cresceu rodeado de amor.

Existem muitas maneiras de criar um filho. Para mim, a maneira de fazer todas as coisas na vida é ser uma boa pessoa, pois quem você é ensina qualquer um ao seu redor pelo exemplo. Não adianta eu querer impôr algo dentro de casa ao meu filho se eu não faço daquilo um hábito que ele me vê fazendo. Foi ali que eu percebi que queria ter uma rotina de trabalho mais leve, mais legal, mais iluminada e bem-humorada. Essa sempre foi a minha maior preocupação – ficar bem, por ele.

Hoje ele tem nove anos. Eu digo: “acho que essa é a melhor fase dele!”, no que meu marido responde: “todo ano você acha que é a melhor fase dele!”. Eu curto demais a maternidade. Acho um privilégio você ser responsável pela criação de um ser humaninho para o mundo. Dá para entender a aflição que os pais sentem quando o filho cresce e quer sair de casa, porque é muito apego sentimental, sem dúvida. Para mim, a sensação que melhor descreve o que eu sinto com relação ao nosso filho é “como ter seu coração batendo fora do corpo”. É exatamente isso. Ouvi essa expressão quando ele era bebê e até hoje me sinto assim.

À medida que ele vai crescendo, ele vai desenvolvendo personalidade própria, questionando coisas, tendo suas curiosidades e momento mais autônomos. Eu me surpreendo diariamente com as coisas que ele faz ou diz, e sigo cada vez mais apaixonada.

Ter chegado ao que eu tenho hoje, que é: nossa casa própria, um trabalho que me permita flexibilidade suficiente para estar perto dele, e ter um filho independente que nunca chorou quando eu precisei que ele ficasse com a avó para eu ir trabalhar (ele ama! porque toda avó mima muito os netos, lógico) – tudo isso me dá segurança de cada vez mais me desenvolver como mãe e ver a evolução dele como ser humano mesmo.

A educação é uma construção diária. Tudo é aula. Tudo é exemplo. Ter um filho me tornou um ser humano melhor, porque eu quero ser a versão que ele acredita que eu sou mesmo. Não se trata de perfeição, porque a vulnerabilidade é um ensinamento importantíssimo também. Ele ter me visto triste ano passado quando a minha avó morreu foi fundamental para entender que a mamãe não é imbatível, e que faz parte das relações humanas estarmos juntos e nos apoiarmos, pois isso que faz com que a gente se sinta amado e vinculado um ao outro.

Não sou perfeita. Cometo erros aqui e ali. Mas minha intenção sempre é a melhor possível, especialmente com relação a ele. Mais uma vez, o que me importa na maternidade é cuidar dele e dar o exemplo. Não tem como você criar uma criança que não seja pelo seu exemplo.

Tem toda aquela história de você ter que decidir se prefere ser amiga do seu filho ou tratá-lo com um pouco mais de firmeza e autoridade. Meu marido é mais rígido que eu aqui em casa. Acho que, pelo fato de trabalhar bastante, eu quero ser sempre a melhor mãe do mundo quando estou com ele. Isso não quer dizer que eu não seja firme quando necessário. Mas, quando preciso ser, ele me obedece, porque respeita. Sabe que eu sou a mãe legal o tempo todo então, se eu pedir algo, ele sabe que é sério.

Acredito que o fato de eu sempre ter sido mais “molecona” me ajude com o trato com ele. Conto algumas coisas que eu fazia quando era criança e ele dá muita risada. Acho que ele, de certa maneira, sente que eu sou menos rígida quando conto que fazia parte da turma do fundão ou que eu ia mal em matemática (que ele ama). Isso me tira do pedestal, ao mesmo tempo que deve gerar nele um sentimento de “minha mãe era legal na escola – ela apenas cresceu”.

Cada vez mais me preocupo com esse lance porque a adolescência é uma fase difícil para os pais e para os filhos. O adolescente tem muitas inseguranças e muita vontade de se impôr ao mundo. Se ele não tiver um vínculo de confiança com os pais, pode buscar esse vínculo em outro lugar. Então este é o momento mais sensível da vida do Paul, eu acho, porque é o momento em que ele já entende as coisas, mas precisa ter valores consolidados, para não nos perdermos quando ele finalmente chegar à adolescência. Foi por isso que, no ano passado, eu tomei a decisão de viajar menos a trabalho (eu fazia de duas a quatro viagens por mês antes) – quero estar perto dele, simplesmente. A presença da mãe é fundamental. Mas, além disso, eu QUERO estar aqui.

A todo momento, no dia a dia, eu tenho a oportunidade de demonstrar o quanto eu o amo e também de corrigir ou ensinar coisas para ele. Estar perto e estar ligada é o que faz toda a diferença.

Para terminar esse texto, que já está imenso, quero dizer que é importante para mim, como mãe, lembrar sempre que meu filho não é minha propriedade e que eu apenas sou responsável por ele enquanto ele não é responsável consigo mesmo. Eu estou criando uma pessoa para o mundo. É minha responsabilidade fazer o meu melhor, mas sabendo que ele pode ser o que ele quiser, e não o que eu quero que ele seja. Esse desapego de posse precisa existir, senão todo mundo sofre muito.

Acredito que as coisas estejam indo bem. <3 Eu amo ser mãe mas, mais do que isso, amo o privilégio de ter junto comigo um filho tão incrível quanto o Paul, e de construir essa dinâmica familiar com o pai dele também. Todos nós aprendemos muito com essa relação todos os dias.