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Carta da Editora – Outubro 2020

“Você chegou a ver a minha mensagem?”

Em um mundo onde todos se conectam essencialmente através de dispositivos digitais, onde almoços não são mais permitidos, reuniões presenciais, encontros, o volume de mensagens aumentou mais do que nunca. Mas, apesar de todos estarem cientes disso, ninguém efetivamente toma qualquer providência – na prática – para reduzir a pressão e a ansiedade pela resposta do outro.

Associe esse volume de mensagens ao fato de todos estarem se desdobrando com as atividades em casa, filhos em idade escolar, a sobrecarga natural de ficarmos em frente às telinhas o tempo todo, além da própria questão da saúde, caso você tenha pego COVID-19 ou esteja todo ferrado da cabeça depois de meses de quarentena.

Outubro é um mês que chega ainda no limbo, onde ansiamos por novidades ao mesmo tempo em que não aguentamos mais esse cenário.

Eu procuro ser resiliente. Sempre. Tirar o melhor proveito possível da situação em que me encontro. Tem dias, como hoje, em que acordo já exausta – um sintoma comum no pós-COVID. O dia se arrasta, mesmo tendo muitas coisas para fazer. Ao final do dia, lembro que não respondi nem a mensagem da minha mãe. Então, além de cuidar da minha saúde, preciso fazer tudo aquilo que todo mundo também tem que fazer (trabalho, atividades em casa), mas também passar o dia justificando ou agradecendo pela paciência quando demoro para responder mensagens. E sempre me pergunto qual a dificuldade de entender que o que se passa com você também se passa com o outro? As pessoas acham normal ficar até 23h respondendo mensagens porque o volume aumentou muito? Eu não acho normal, e não vou fazer isso apenas para atender expectativas de quem não coloca limites na própria vida.

Se a gente já tem muita coisa para fazer, imagina só como fica quando não dá para fazer o mínimo. Por dentro, estou bem, mas o mundo externo parece ignorar essa realidade. A empatia funciona bem nas redes sociais, quando todo mundo adora postar frases de efeito ou o quão chocado ficou após assistir “O dilema das redes”. Na prática, não há mudança. Só o fluxo. “Se todo mundo vive na sobrecarga, quem sou eu para sequer pensar em fazer diferente?” É como eu imagino que muitas pessoas pensem, se é que refletem sobre esses atos.

Ter uma Vida Organizada é ir na contramão do mundo. Porque “o mundo” não entende nem aceita uma pessoa que saiba dizer NÃO. Dizer NÃO não significa dizê-lo apenas a coisas insignificantes ou não importantes, mas dizer muito NÃO a coisas importantes também, porque se tem OUTRAS coisas prioritárias que precisa lidar. Saúde, por exemplo. “Olá, eu adoraria participar dessa iniciativa que seria maravilhosa para mim, porém, no momento, mal consigo respirar. Agradeço a compreensão.”

Esta semana um professor meu me disse que já abre tantas exceções no dia a dia para ministrar aulas no melhor horário para os alunos, por exemplo, que não pode abrir tanto a ponto de prejudicar a sua família, a sua saúde, tudo. Ele dá aulas de manhã. Os alunos pedem que seja à noite. Ele diz: “se eu der aulas à noite, fico super agitado depois e não consigo dormir, além de esse ser o período do dia em que fico com a minha família”. Se ele der aula de noite, ele não vai dormir bem, não vai ficar bem, justamente para conseguir dormir, descansar, ter um sono reparador que o faça enfrentar todo o dia seguinte – e ministrar boas aulas – para todo mundo que se relaciona com ele. “Começar uma aula à 8h não é exatamente bom para mim ou para todos. Bom para mim seria 6h da manhã, mas aí eu sei que seria ruim para os outros. 20h seria bom para os outros, mas não seria bom para mim. Então eu já encontrei um meio termo que acredito que funcione para todo mundo, mas é claro que não dá pra agradar 100% das pessoas”.

Qual é a dificuldade de entender isso e de respeitar o tempo do outro?

É exatamente disso que se trata quando se fala em respeito. Entender que existem tantas opiniões e formas de viver quanto existem pessoas no mundo, então não há por que querer que alguém viva de acordo com o que VOCÊ, alecrim dourado, acha que é o mais correto só porque para você acontece de outra forma. “Mas Thais, não é falta de respeito não responder a mensagem do coleguinha em tempo recorde?” Se você desde o início deixa claro que não responde rápido, por “n” motivos, a pessoa pode te contatar ANTES. Olha só que maravilha. Precisa de uma resposta, contate antes, não em cima da hora. Mas o que a gente vê é sempre tudo chegando em cima da hora, e o problema é de quem não responde rápido? Hm, reflita.

Quando eu falo sobre produtividade compassiva, me refiro à mente de compaixão que exercitamos quando pensamos em servir o outro mas, para servir bem, precisamos nós mesmos estarmos bem. É o lance de colocar o oxigênio primeiro em você para poder ajudar todo mundo. Não adianta querer estar presente e dizer SIM a todos sendo que sua família não te vê direito e você se sente exausto. Não é esse o estilo de vida que me comprometi a viver e a ensinar aqui. No entanto, é ÓBVIO que viver implica se relacionar com os outros. Tome decisões, mas comunique-as. Não adianta querer tirar uma semana de férias e não avisar ninguém, para na semana seguinte reclamar que não conseguiu descansar porque teve muita gente demandando coisas nas férias. Eu, por exemplo, mais uma vez saí do What’sApp, mas deixo uma mensagem automática nele dizendo, para quem me contatar, que não respondo mensagem por ali, para me contatar via e-mail. E me contatar via e-mail não significa que eu vá responder em tempo recorde. Eu recebo de 60 a 70 mensagens POR HORA. Respondo no meu tempo, dentro do que é possível para mim, nas condições que tenho. As pessoas absolutamente NÃO TÊM noção.

Se eu não colocar limites e ficar esperando o mundo colocá-lo, ficarei extremamente frustrada porque isso não vai acontecer. “O mundo” está em um fluxo muito doido de conexão permanente e achando que todas as pessoas devem viver dessa maneira. Não devem. Inclusive eu tenho caminhado cada vez mais para ficar offline completamente em vários momentos do meu dia. Não porque eu ache que a tecnologia é “vilã”, mas porque sei que faz mal ficar tanto tempo na frente de uma telinha. Para evitar o burn-out, preciso agir assim. É bem simples de entender, na verdade, mas não há um dia em que não precise justificar o óbvio.

Quando alguém diz que precisa tirar férias, que queria poder tirar um ano sabático, ou que quer se desconectar, eu só consigo pensar: e se a gente descobrisse uma maneira de ter uma rotina menos extrema da qual a gente não quisesse fugir? Sabe? Que tal a gente pensar de verdade sobre isso este mês?

A Carta da Editora é um post que abre o mês no Vida Organizada. <3

Em outubro, o Vida Organizada completa 14 anos de existência.

Todo mês, busco escolher um tema para nortear os conteúdos de modo geral, e por ser um mês de aniversário eu pretendo me aprofundar no que entendo sobre produtividade compassiva.

Recebo mensagens diariamente me perguntando “qual a referência acadêmica” do termo, porque querem se referir em seus trabalhos, ou mensagens de pessoas dizendo que outras estão se apropriando do termo e ensinando “errado”. Longe de mim querer me apropriar de algo, mas o termo “produtividade compassiva” não existe porque ele é um termo original, autoral, que estou desenvolvendo para a minha tese de doutorado. Já mencionei diversas vezes porque esse é um trabalho de pesquisa que “transborda”, mas a consequência disso foi ter, mais uma vez, minhas ideias copiadas e sendo usadas por outras pessoas. Sim, isso é a Internet.

De qualquer maneira, pretendo então ao longo deste mês trazer a minha visão por trás do termo e realizar algumas ações de comemoração do aniversário do blog. Fique ligado/a. 😉

Espero que o mês de outubro traga notícias melhores para a humanidade e o planeta como um todo. Espero que você e os seus estejam bem. Se cuida.

Tenha um bom mês. Seja feliz. <3

Thais