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Felicidade interna e externa

Todos os dias, quando acordo, tenho uma rotina de autocuidado que inclui uma série de práticas a fazer antes de amanhecer. Uma delas é a leitura. Gosto de ler livros sobre Budismo, ou livros sobre espiritualidade de modo geral, que mantenham meu espírito elevado para o novo dia que se inicia.

Recentemente, um desses livros é “Como ser feliz o tempo todo”, do Yogananda. Esse livro é parte de uma série de vários outros com poucas páginas trazendo as orientações do Yogananda para aspectos específicos da vida. Neste, ele fala sobre felicidade.

Logo de início ele traz a ideia de que a felicidade não é algo que acontece, mas que você escolhe sentir. É uma decisão interna. A partir dela, você toma algumas resoluções a respeito do que vai alimentar na sua vida. Anos atrás, quando comentei que parei de assistir filmes de terror, muitos amigos não entenderam. Mas é isso. Quero alimentar a minha mente com elementos que me façam bem, não que me deixem em um estado de perturbação. Trazendo elementos que me deixem feliz, será mais fácil “colher felicidade”.

Depois, ele traz o ponto de que a felicidade diz respeito ao nosso mundo interno.

No início da quarentena, eu estava com muitas dúvidas a respeito dos sentimentos conflitantes que estava sentindo. Apesar de estar tudo bem aqui no nosso microcosmo, eu me sentia um pouco mal por estar me sentindo feliz sabendo que existem tantas pessoas no mundo sofrendo. Foi no Budismo que encontrei a resposta: problemas exteriores exigem soluções exteriores. Problemas interiores exigem soluções interiores.

O que traz ansiedade na pandemia é que está completamente fora do nosso controle. Não sabemos quando haverá vacina, quando voltaremos “ao normal”, quando poderemos viajar ou ir à feira. Problemas exteriores. Ansiedade = problema interior. Logo, para resolver a minha ansiedade, não adiantava eu esperar a solução vinda de fora – eu tive que ir para dentro. Voltei a fazer terapia, intensifiquei minhas meditações, redobrei minha rotina de autocuidado em todos os aspectos, regulei o meu sono, passando a acordar mais cedo. Etc.

É perfeitamente ok se sentir feliz por dentro. Sua família está bem. Você se sente em paz. O trabalho está ok. Por esse motivo, você até consegue ajudar outras pessoas. Sentir-se feliz, ter um contentamento interior, não significa que você está ignorando os problemas do mundo ou que a sua vida é um “mar de rosas”. Significa que você trata os problemas mundanos como eles são: mundanos. Com soluções mundanas. Para problemas internos, você busca soluções internas – meditação ajuda muito, terapia também.

Hoje eu postei no Twitter uma frase que compartilhei acima e uma pessoa respondeu que às vezes se sente culpada por estar se sentindo feliz. Eu não tive a oportunidade de desenvolver essa conversa com essa pessoa, então não sei por que ela se sente culpada. Se formos imaginar que ela se sente culpada porque outras pessoas estão sofrendo, pensar sobre os sofrimentos internos e os sofrimentos do mundo pode ajudar. As pessoas estão sofrendo? O que você pode fazer para ajudá-las? Faça! Talvez a culpa venha de você saber que poderia fazer algo mas não está fazendo? Então faça. É isso, mas não se culpe. Porque a culpa seria uma questão interna que não vai resolver o problema externo também. Só traz sofrimento.

Pensar assim tem me ajudado demais, de forma prática mesmo, no dia a dia. A não me preocupar com problemas mundanos. É aquilo: tem solução, bora pra solução. Não tem solução, paciência. Não vou tirar minha paz por conta disso.

Não digo que seja sempre fácil, mas estou nesse caminho. Entender esse conceito, essa separação, fez muita diferença para mim.

A partir do momento em que eu passo a sentir esse contentamento interior, a própria forma de me relacionar com as pessoas e com o mundo muda.

Quando eu li “Atitude Mental Positiva”, do Napoleon Hill, era esse o sentimento bom que me evocava aquela leitura, mas à época eu não sabia explicar direito por quê. Hoje eu sei. Porque é isso; não se trata de forçar. Se trata de escolher ser feliz, não importam as condições externas. As condições externas nós lidamos com soluções externas. Todos precisamos trabalhar, pagar boletos, comprar comida. Meditação não vai fazer aparecer dinheiro na mesa, porque dinheiro é uma questão externa.

Tá tudo ok você querer sair para jantar com os seus amigos, querer comprar um relógio ou livro, ou até mesmo sentir necessidade de ter um carro. O problema estaria em ver felicidade nessas coisas.

Acho muito louco isso e, acima de tudo, muito pragmático. Foi um divisor de águas na minha relação com tudo aprender a pensar dessa forma. Espero ter conseguido demonstrar neste post como isso impacta positivamente (ou pode impactar negativamente) no seu processo de organização.

Thais Godinho

Thais Godinho

Meu nome é Thais Godinho e eu estou aqui para te inspirar a ter uma rotina mais tranquila através da organização pessoal.

23 comentários em “Felicidade interna e externa”

  1. Thais, seu texto diz muito sobre meu conflito interno recorrente. Se vou dormir quentinha nesse frio congelante do Sul, penso nos moradores de rua que morrem de hipotermia. Será que eu deveria passar a noite andando pela cidade distribuindo mantas? Será que isso me traria paz de espírito? Será que eu deveria dedicar meu tempo livre a ajudar pessoas que vivem em situação de miséria? Me falta coragem, mas esse pensamento é cada vez mais turbulento dentro de mim. Acho que a resposta é sim. E se não for, preciso ao menos agir para então respondê-la com propriedade. Não consigo estabelecer a minha felicidade se não consigo destoa-la da culpa em testemunhar a necessidade do outro.

    1. Olá, tudo bem? Também moro no Sul, e semana passada o frio estava de doer. Aqui em casa nós temos ajudado alguns projetos de forma indireta. Eu não tenho estrutura psicológica para auxilar pessoalmente no atendimento as pessoas em situação de rua e demais necessitados, então arrecadamos doações (roupas, calçados, alimentos, cobertor, etc.) e disponibilizamos para os projetos.

      1. É muito isso Céli. Nem todas as pessoas tem estrutura, seja ela física, emocional e social, para auxiliar o outro tão diretamente. E se a colega acima está sentindo essa necessidade tão forte de ajudar, se pergunte qual a melhor forma de você fazer isso? Ir diretamente deixar um cobertor a noite para quem tem fome é importante. Mas talvez você se coloque em risco, talvez você não processe bem as situações que você irá se deparar. Procurar conhecer ONGs, projetos sociais, o próprio Centro de Referência a população em situação de rua da sua cidade (Centro POP) que é um serviço público que presta atenção variada a essa população, e ver de que forma você pode ajudar essas iniciativas a se fortalecerem, seja com ajuda financeira ou se voluntariando a elas, que já conhecem a realidade dessa população e podem lhe auxiliar nessa coragem de ajudar, que você disse que lhe falta. Tentar ler mais, assistir documentários e conversar com pessoas que atuam com a população em situação de rua, são estratégias que podem contribuir nesse seu desejo de ajudar. O sentimento de culpa paralisa, já o conhecimento mobiliza e dá forças para ação! Abraços 🙂

  2. Nossa, muito obrigada, ótima reflexão! Até anotei aqui no meu BuJo as frases “Problemas exteriores exigem soluções exteriores. Problemas interiores exigem soluções interiores.”, para me acompanharem durante a semana.

  3. Como é difícil encontrar esse equilíbrio, para nós que somos também seres sociais e políticos e nos indignamos com o absurdo que estamos vivendo. Agradeço a reflexão.

  4. Uau, Thais!!!!
    Eu tenho muitas questões internas a resolver. Muitas mesmo. Fui criada com a mentalidade da escassez, pois minha mãe passou muita dificuldade na vida e trabalhou desde muito cedo. Eu, ao contrário, tive uma vida relativamente confortável e não precisei me matar de trabalhar. Até hoje minha mãe acha que eu tenho uma ótima vida (de madame, segundo ela). Entendo a forma de pensar dela apesar de não concordar, mas a questão é que às vezes me pego exatamente assim: culpada por estar feliz. Me sinto péssima por todo o sofrimento do nosso povo atualmente, mas com o “meu mundinho”, “minha família”, eu estou feliz. Foi muito bom ler seu texto neste momento. Abriu um pouco mais minha mente.
    Obrigada por ser tão maravilhosa e compartilhar seu conhecimento conosco.
    Beijos!!!!

  5. Thais,
    Escutei essa mensagem no seu Telegram e dei uma passada aqui no blog imaginando que teria um texto sobre isso. Acertei rsrs. Parabéns pelo texto!

  6. E se tudo é vibração, sofrer devido ao sofrimento alheio só alimentaria a “potencia” da vibração do sofrimento. Se alimentarmos a vibração, pelo menos, da paz interna; estaremos já ajudando o Todo, em sofrimento ou não. Fortalecendo o próximo manifestando a A Paz! Ser responsável pelo o que vibramos é de fato AMOR INCONDICIONAL! É o UNO! 🙏 Sawabona!

  7. Ficar doente não traz cura ao enfermo! Passar fome, não alimenta o faminto.
    E se tudo é vibração, sofrer devido ao sofrimento alheio só alimentaria a “potencia” da vibração do sofrimento. Se alimentarmos vibrações da paz; estaremos já ajudando o Todo. Fortalecer o próximo manifestando a A Paz, a alegria….!
    Ser responsável pelo o que vibramos é de fato AMOR INCONDICIONAL! É o UNO! 🙏
    Sawabona! (Acho q consegui expressar melhor aqui)

  8. No livro que guia meu trabalho, Design Your Life, os autores denominam o problema externo como “problemas gravitacionais”.
    São problemas/questões que não temos condições de resolver (pelo menos naquele momento) e lutar contra não adianta nada.
    Na minha visão, não é o “aceita que dói menos”. É entender que são problemas maiores e que estão fora das nossas possibilidade de solução. Devemos focar em outros, que estão ao nosso alcance para resolvê-los.

  9. Maravilhosa esse ideia, Thais! Resolver o que é externo com soluções externas e cuidar do interno com soluções internas. Clareou um bocado de coisa aqui dentro. Vou ler esse livro do Yogananda! Aprendo muito com vc!

  10. Como foi a sua transição do pensamento minimalista (poucas coisas) para o equilíbrio? Porque lembro que você já escreveu sobre um período que você era minimalista nos quesitos de poucas coisas, roupas, etc.

    Gratidão!

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