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Sobre dar um passo para trás

Estamos vivendo em uma era em que aparentemente só importa se você estiver sempre crescendo e avançando.

Diariamente, recebemos mensagens nas redes sociais sobre a importância do crescimento, da evolução, do avanço.

E sim, eu acho que são coisas importantes. Também acho que crescimento, evolução e avanço possam significar avanços espirituais, evolução como ser humano, crescimento em relação ao que sente etc. Mas, de modo geral, não é essa a abordagem. A abordagem é a de: se você não estiver evoluindo, buscando novos objetivos, querendo ser melhor do que você é hoje, especialmente materialmente, você está morrendo, decaindo, falindo.

Essa cobrança é exaustiva para qualquer ser humano.

Tenho cada vez mais voltado as minhas pesquisas, leituras e estudos para o olhar mais compassivo a termos com nós mesmos. Estou lendo atualmente um livro que fala sobre 14 hábitos destrutivos que especialmente as mulheres têm, justamente por essa cobrança externa e interna que vivenciamos em sociedade. A leitura tem sido um grande aprendizado (não se preocupe, falarei sobre o livro assim que terminá-lo).

Pensando em um cenário maior, hoje temos em nosso país uma margem de 13 milhões de pessoas que estão sem emprego e cerca de 25 milhões que trabalham fazendo bicos, em atividades intermitentes ou precarizadas de maneira geral. A maioria das pessoas que trabalha como MEI é na verdade uma margem formalizada de trabalhadores precarizados.

Isso não é só no Brasil. É uma tendência mundial do mundo do trabalho. Mas no Brasil tudo se intensifica porque é nosso local de fala, é onde vivemos, onde convivemos com as pessoas. Onde temos questões e falhas econômicas e como sociedade. Ao meu redor, na minha família e roda de amigos íntimos, poucos são os que não estão nessa situação difícil. Ou estão desempregados, ou trabalham de maneira informal. Essa é a realidade das pessoas.

Torna-se cruel você chegar com um discurso sobre crescimento e evolução quando a pessoa se sente mal por não ter emprego ou mal conseguir pagar suas contas. Ou então a pessoa até está bem, quer simplesmente curtir um pouco a vida, mas mesmo assim recebe cobranças sobre crescimento e evolução. Sabem? Dá para evoluir e crescer em vários aspectos, não necessariamente envolvendo o crescimento material, o ser promovido, o alcance de metas elevadas.

Não me entenda mal. Sou a favor de metas e objetivos. Eu mesma tenho vários deles e alimento-os diariamente. Para mim, é uma prática que faz bem. Mas mesmo eu tenho uma abordagem um pouco mais leve com relação a esses elementos. Não os vejo como uma obrigação, mas como uma reflexão de cenário – do que quero construir para a minha vida. Mesmo assim, diariamente eu recebo perguntas como: Quantos livros você lê por mês? Quantos projetos você tem? Quantos objetivos você alcançou este ano?

Gente, isso não importa em absolutamente nada. Não é essa a métrica importante. A única métrica que importa é se você está feliz. E você pode se sentir feliz em qualquer situação – mesmo naquelas em que algumas pessoas considerem de “não crescimento”.

Muitas vezes, a melhor maneira de crescer e evoluir é dar um passo para trás. Isso não é demérito nenhum. É a sabedoria de conhecer sua situação, se conhecer, entender as tendências, o cenário onde atua, e estrategicamente decidir esperar ou voltar atrás em algumas questões. Às vezes você simplesmente precisa de um tempo. E tá tudo MUITO bem. Não deixe ninguém fazer você se sentir mal por conta de uma decisão que diz respeito apenas a você.

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40 comentários em “Sobre dar um passo para trás”

  1. Thais, que texto lindo de se ler em uma segunda-feira. Tenho me cansado muito com essa coisa do “mais, mais, mais” e estava refletindo justamente isso no final de semana. Nunca nada é suficiente pra ninguém. Não importa o que você faça, vc sempre precisa fazer além, para mostrar sei lá o quê para sei lá quem. Não importa se sua cabeça não está boa, vc precisa fazer mais e mais toda hora. É exaustivo. Obrigada por esse bálsamo em forma de texto.

    1. Thaís querida, é assim mesmo… As vezes na roda da vida, precisamos parar, observar e ver que não podemos seguir à diante sem voltarmos um pouco em nós mesmos… Você é brilhante 🤩

  2. Que reflexão importante, Thais. A cobrança pela “alta performance” em todas as esferas da vida me parece bem alienante apesar das boas intenções. Equilíbrio é tudo. E ao mesmo tempo nada é mais humano do que viver períodos de desequilíbrios, de ajustes, de altos e baixos.

  3. Que texto maravilhoso, estou em um momento assim. Estou afastada do trabalho devido a uma crise aguda de estresse, e agora estou revendo muitas situações da minha vida que, por causa da correria diária, acabei deixando de lado.

  4. Que reflexão importante! Tenho pensado muito sobre isso, de como o crescimento tem de traduzido numa questão material, econômica ou trabalho. Estamos aqui para aprender, errar, cair, levantar….Crescimento pode ser tb amadurecimento, autoconhecimento, entre tanta outras formas de evoluir! Um beijo a agradeço pela mensagem.

  5. Concordo com as leitoras acima. Um abraço acolhedor. Um bálsamo para dias difíceis. Obrigada, Thais. Seu propósito do dia foi alcançado.

  6. Thays, parabéns pelo texto! Acredito que o grande segredo do viver bem esteja pautado no equilíbrio do douo: quantitativo e qualitativo. Me tocou profundamente. Simplesmente, lindo!

  7. Estava pensando sobre isso nesses dias. Vivemos bombardeados de cobranças por todos os lados, principalmente internamente. Em muitas ocasiões essa situação de conflito pode gerar sofrimento. Não é porque “especialistas” ou o meio nos impõem necessidades que devemos acatar sem um pensamento crítico. Precisamos aprender a perceber se a situação está realmente nos fazendo bem ou não. Parabéns pela iniciativa desse texto!

  8. Sensacional esse texto, Thais. Saiu dos jargões cansativos do mundo da produtividade e falou bem um ponto importante. “A única métrica importante é se você está feliz” – perfeito. Parece que as pessoas estão obsessivas com evolução pessoal, mas nunca param pra pensar sobre o que isso significa.

  9. Thaís, percebi isto da maneira mais difícil possível.
    Entrei em uma competição tão grande, por resultados, que quase perdi minha mulher é meus filhos.
    Vivia com um humor péssimo, dava coice até na sombra. Achei ai ponto de eu não me aguentar!
    Quando a família ia desistir de mim, me dei conta. Dei vários passos atrás, mas valeu muito a pena.
    Hoje, voltei a ter paz, a sorrir. A vida flui.

    1. Que bom que você percebeu. Às vezes a gente entra numa pilha tão grande de atividades e não percebe. Acaba sendo insalubre não só para eles, mas para nós também. Obrigada por compartilhar.

  10. Amei o seu texto, porque hoje é tanta gente falando nas redes, e o pior tanta gente vendendo o que não tem nem pra si. Vejo uma grande hipocrisia, principalmente com as mulheres, se você não tem filhos….é egoísta, como pode não gerar!?…se os tem esta errada em querer cuidar…..tem que ser magra de capa de.revista …e estas são só algumas entre outras cobranças bobas que temos, acho que todas somos individuais e ser feliz com as escolhas que fazemos. Bjs

  11. Que bom ler isso, Thais.
    Tenho deixado de seguir muita gente que insiste na tecla desse “crescer”, “evoluir”… Não há espaço para “ser”, “viver”, “estar”. Se não houver o tal progresso, é porque somos preguiçosos, não temos compromisso, queremos tudo pronto. Claro que há que se mover e agir, mas de modo ponderado, e seu texto toca nesse tema de modo bastante pertinente. Muito obrigada!

  12. É o capitalismo que nos invade por todos os lados. Fala-se da exaustão do capitalismo, dos modos de produção. Estamos vendo a exaustão de quem é explorado pelo capitalismo e acredita que este estilo de vida é o único; que devemos ser e ter mais, que devemos sempre fazer mais com menos, exploramos a nós mesmos e comprometemos nossa sanidade mental sem questionarmos de onde vem a pressão por realização. Talvez seja interessante nos perguntarmos a quem estamos servindo com tantas metas, tantos sonhos, tantos objetivos. São todos nossos? Mesmo?
    Obrigada pela reflexão, Thais!

  13. Isso se chama Capitalismo, sistema esse que nos faz querer coisas que não precisamos e sentir necessidades que não temos.
    A cada dia busco a simplicidade dos dias, onde o SER é o principal pra mim.
    Texto maravilhoso e um alivio em dias tão difíceis! Beijo grande!

  14. É isso mesmo. Ouço frequentemente este discurso do ‘Tem que crescer’, ‘tem que evoluir’ , ‘tem que ter a boa ambição’,’ tem que se expandir ‘, ‘gestão e qualidade para empresa crescer………e sempre com este viés materialista (atingir o topo, receber promoções, eficiência , alta performance… e te ensinam que para ter sucesso vc precisa estar na rodinha do hamster e muito ocupado ….). É desumano, perverso. Há críticas veladas da própria sociedade contra quem não está tão sedento assim…
    A expansão precisa ser a interior, mas isso é tido por muitos como “coisa de fracassado”. Cruel !

  15. Maravilhoso texto! Eu já to nessa vibe há algum tempo: já tirei um sabático, depois voltei com força total, e agora estou na fase do equilíbrio! E sem cobranças 👍🏻👍🏻👍🏻👍🏻

  16. Que delicia ler esse texto Thais, a sociedade realmente nos impõem novas mudanças e busca por mudanças em todo tempo, eu estive desempregada durante 1 ano no ano passado e vivi muito isso de pensar, nossa para que mudar sendo que não tenho emprego, quando lia certas publicações. Hoje trabalho e estou indo no meu passo não adianta sairmos desesperados por uma mudança, pois a mudança precisa ser gradativa e no tempo de cada um, são como os livros que lemos temos que ler e colocar em prática se não de nada adianta as frases de efeito. Abraços.

  17. Meu Deus, Tahis que texto incrível! Estava pensando sobre isso hoje, tinha um compromisso de trabalho muito importante e, duas horas antes meu filho passa mal na escola e tenho que ficar com ele. Anos atrás em abandonei o mestrado que só faltava qualificar e defender para estar com ele após a minha separação, naquele momento e hoje tive que refletir e pensar na melhor escola, não a mais correta aos olhos dos outros mas, a mais necessária e importante na mimha vida e do meu filho.

    Obrigada por esse bálsamo reflexivo, as vezes esquecemos que a referência das metas, aspirações e crescimento é relativo eindividual.

    Te acompanho faz muito tempo, tenho todos os seus livros, suas reflexões e ensinamentos são de extrema importância na sociedade contemporânea que nos engole e nos atropela.

    Obrigada!

  18. Olá Thais,
    Gostei muito do texto. Boa leva a refletir sobre o que realmente importa.
    Minha mãe teve AVC há dois meses atrás. E desde então eu me pego pensando no que realmente importa. Foram 30 dias indo ao hospital dia, tarde e/ou noite, vendo minha mãe na cama. Sei lá, eu falei para meu esposo que isso me fez dá uma freada na vida. Eu preciso terminar de escrever minha dissertação de mestrado. E estou com outros projetos em paralelo. Daí isso tudo me fez ficar acelerada.
    Mas depois do ocorrido, eu me dei a liberdade de ir mais devagar.
    E daí lendo seu texto, eu percebi que fiz a escolha certa.
    Obrigada por compartilhar sua escrita.
    Gratidão 🙏

  19. Me identifiquei bastante com o texto, parar e refletir e ás vezes “dar o passo atrás” pra sociedade muitas vezes alienadas, na empresa em qual trabalho pregam o bom convívio da vida pessoal e profissional, mas na prática esquece. As vezes temos que ter bastante senso crítico e nos posicionar no que é importante no momento pra nos, e não para os outros.

  20. compaixão conosco mesmo. é disso que esse texto fala. obrigado, thais! essas palavras aliviam e nos traz luz no atual cenário de tantas adversidades.
    um abraço

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