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Como nasceu o termo “produtividade compassiva”

Eu recém finalizei o meu pré-projeto de doutorado (primeira versão) e achei que seria interessante publicar um post contando como nasceu o desenvolvimento do termo “produtividade compassiva”. Digo que foi a primeira versão do pré-projeto porque eu vou submetê-lo a processos seletivos pela primeira vez, então terei um feedback sobre ele, podendo fazer ajustes para novos processos a partir do ano que vem ou alinhamentos a partir do momento em que ele seja aceito em algum programa e eu inicie o doutorado em 2021.

“Compaixão” é um termo que está na moda. Se você fizer uma busca sobre o termo no site da Amazon, por exemplo, aparecerão milhares de resultados. Eu considero excelente que estejamos vivendo em uma época em que as pessoas estejam interessadas em sentimentos de compaixão. Acredito demais que o mundo precise disso. O foco que eu trago, no entanto, no desenho desse termo, vem do Budismo. Não, não é necessário ser budista para ter compaixão, mas foi de onde nasceu o meu intuito para desenvolver essa abordagem.

Existe um termo budista para a mente de compaixão. O termo é bodichitta. Quando nos identificamos com o sofrimento do outro, essa é a descoberta da bodichitta. Em sânscrito, bodichitta significa “coração nobre ou desperto”, o que significa que é algo inerente a todos os seres e que despertamos para essa dor quando recebemos toda a dor do mundo e deixamos que ela toque o nosso coração. A dor então se transforma em compaixão.

A primeira nobre verdade no Budismo é: existe sofrimento. Quando nos protegemos dos sofrimentos, não estamos necessariamente sendo bondosos com nós mesmos. Estamos com medo, endurecidos, muitas vezes alienados. Nos separamos do todo. Nos fechamos. Nós temos uma couraça, e a compaixão penetra nessa couraça. Porque, quando encontramos algo precioso, alegre, feliz, queremos compartilhar essa riqueza, e não usá-la para nos distanciarmos. Trata-se de um amor universal.

O despertar espiritual é frequentemente descrito e comparado a subir uma montanha para, lá do alto, meditar e alcançar a iluminação (a analogia do monge no alto da montanha). E bem, essa é uma imagem muito bonita, mas o fato é que, quando subimos a montanha – e a subida pode ser uma jornada necessária, além de sofrida – nós deixamos para trás tudo e todos. Deixamos nosso chefe ansioso, nossa irmã com depressão, o amigo com vícios, a amiga com câncer. Nenhum sofrimento é aliviado a partir de nossa jornada ou fuga pessoal. Eles continuam existindo. Por isso, quando se fala em bodichitta, em mente de compaixão, a analogia real é a jornada da descida, não a da subida apenas. A subida é importante porque, alcançando a libertação, nos libertando dos sofrimentos, aprendemos como fazer, mas não faz sentido guardar isso só para a gente. Ajudamos os outros a se libertarem de seus sofrimentos também. E sim, leva tempo. Leva muitas vidas. É um caminho.

No meu pré-projeto, o recorte da pesquisa de campo serão os praticantes budistas vivendo, se relacionando e trabalhando no mundo ocidental – em especial o Brasil. E aí poderemos tensionar essa mente de compaixão na prática, na vida real. Eu sei que existem outras pessoas que não são budistas e que também sentem compaixão. Existem até pesquisas relacionadas aos profissionais de saúde (enfermeiros, por exemplo). Meu problema de pesquisa então será: como um profissional que desenvolve essencialmente uma mente com foco em compaixão, construída a partir de bases fortes como valores atrelados a um caminho religioso de disciplina moral, como o Budismo Mahayana, estabelece limites de comunicação com foco em uma produtividade pessoal? E ainda: é possível o desenvolvimento de uma produtividade compassiva ainda dentro do capitalismo, que seja menos agressiva ao trabalhador?

Trazendo para a parte prática, que estamos trabalhando nesta Semana, envolve desenvolver decisões e habilidades internas, referentes a nós mesmos, para depois ensinarmos e levarmos essas habilidades externamente, para as pessoas com as quais convivemos. Trata-se de uma abordagem compassiva e não violenta de trato com os demais, mesmo a gente vivendo em um mundo com potencial caótico, especialmente com relação ao excesso de trabalho, preocupações e informações.