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Sobre o ritmo das outras cidades

Lá na Holanda eu reparei como, com exceção dos lugares para turistas e eventos muito noturnos, como festas e raves, as pessoas não têm a cultura de sair de noite como acontece aqui no Brasil. Sei que não é no Brasil todo mas nas cidades maiores, mas aqui é comum termos coisas como, por exemplo:

  • shopping que fecha às 22h
  • mercado que fecha às 23h
  • pessoas estudando à noite

Só para citar algumas.

Isso faz com que o nosso dia seja mais longo e, também, por ter mais atividades, mais cansativo. Talvez esteja associado ao nosso clima. Por exemplo, na Holanda, pelo fato de o inverno ser muito rigoroso, eles talvez já estejam acostumados a sair do trabalho e ir para casa, ou jantar cedo e voltar pra casa, porque de noite querem estar “refugiados” em seus lares.

Aqui em São Paulo, pelo menos ao meu redor, eu vejo muito as pessoas irem ao shopping de noite, depois mercado, depois jantar, depois irem para casa. Isso cria uma rotina noturna voltada a atividades que não foram realizadas durante o dia, além de ser uma rotina voltada para o consumo. Quando eu fui para os Estados Unidos pela primeira vez, há uns cinco anos, e fiquei em Las Vegas, eu achei impressionante que, apesar de ter muitos estabelecimentos abertos para os turistas, o horário normal das coisas não vai até tão tarde assim. E vejam, uma cidade que “não dorme”. Imagino que em Nova Iorque deva ser diferente, mas só estando lá para ver.

Na semana retrasada eu tive a oportunidade de conversar com uma amiga minha que fez uma viagem à Índia para conhecer os lugares sagrados. Ela disse que uma das coisas que mais chamaram a sua atenção foi justamente o ritmo diferente. Não em Délhi, por exemplo, em que você as pessoas correndo para lá e para cá, o trânsito em um caos de certa maneira harmonioso. Mas o ritmo das pessoas mesmo, nunca voltado a “fazer mais”. Acho que nós puxamos muito isso dos nossos vizinhos norte-americanos, especialmente porque a cultura do trabalho no Brasil sempre copiou muito esse modelo dos Estados Unidos.

Tenho alguns amigos portugueses, espanhóis e italianos que compartilham comigo como o estilo de vida no Mediterrâneo, de modo geral, é diferente. É simplesmente outro ritmo. Não que seja mais devagar. É apenas outra pegada, com foco em outras coisas.

Bem, eu acredito que todo esse “papo” sobre ritmo diga muito respeito à nossa coerência com a vida que estamos construindo para nós mesmos. Posso dizer por mim que considero muito difícil viver em um mundo em que as pessoas não respeitam o seu ritmo e, mesmo você trabalhando ensinando sobre boas práticas de organização e produtividade, ainda te enviam um e-mail pedindo para você enviar um negócio urgente, o quanto antes, para qualquer assunto.

Entender que eu tenho um ritmo meu e que eu não devo “me atropelar” em decorrência do ritmo que outra pessoa esteja tentando impôr para mim foi um dos maiores aprendizados que tive até aqui na minha vida. E não estou dizendo que seja fácil ou imediato, mas a percepção pode sim ser imediata. Comece a partir de hoje a se observar e a se conhecer melhor, para entender como o seu ritmo funciona.

A construção dele virá no seu dia a dia, para o resto da sua vida.

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18 comentários em “Sobre o ritmo das outras cidades”

  1. Bom dia! Este é, eu acredito, mesmo o ponto de partida, né, Thaís…entender nosso ritmo, nos repeitando e “educando” os outros a este respeito para que tudo faça sentido e flua na direção do nosso propósito e estilo de vida almejados. Uma iluminação mesmo. =)

  2. Excelente post! Tenho pensado muito sobre essa questão do ritmo da vida também. Acho que o imediatismo, as redes sociais, o Whatsapp, tudo parece que nos acelera mais e mais. Já sou um pouco agitada por natureza e estou fazendo um esforço para identificar aquilo que me torna ainda mais agitada e tentar fazer mudanças na minha vida. Agitação demais com certeza não me faz bem.

  3. Aqui em Portugal (onde não existe o problema do inverno rigoroso), os horários são bem mais restritos e as pessoas vão sim mais cedo para casa. Vai encontrar poucos restaurantes abertos depois das 22 horas, por exemplo.

  4. Você abordou uma das coisas que mais me impressionaram nas oportunidades que pude ir à Europa. Esse ritmo é, para mim, invejável, e meta de vida. Acredito que demande um longo caminho de autoconhecimento e mudanças de hábitos, mas é totalmente possível.

  5. Amei o texto, Thais! E sou completamente identificada com essa tua percep̤̣o de ritmo de vida. Curtir a vida com tranquilidade ̩ maravilhoso Рe eu prestei mais aten̤̣o nisso te acompanhando por aqui, por isso, um obrigada de cora̤̣o! <3

    Abraço!

  6. Interessante q vc comentou e eu vi isso em nova york tbm.
    Fora farmácias (q lá são mais uma loja de conveniência do q farmácia mesmo) e bares/casas noturnas, quase tudo fecha entre as 8 e 9 horas da noite fora da área turística. lembro q jantamos mto no mcdonalds numa viagem no inverno pq era o único lugar aberto perto do hotel lá pelas 10 da noite. e como lá não tem shopping praticamente, as lojas da rua estão fechando no máximo as 8. no verão tem mais lugares abertos até tarde pq ainda está claro, mas ainda assim mtos fecham.
    mas eu acho q é um pouco coisa de são paulo. a maior parte da minha vida morei em campinas, e qdo passei uns anos em Cosmópolis, estranhei mto tudo fechado e ngm na rua as 8 horas da noite.

  7. Na Escócia também é assim! Na cidade onde eu morei as lojas abrem por volta das 8:00 e fecham as 17:30, as pessoas levam seus filhos pra escola e depois vão trabalhar, saem do trabalham buscam os filhos e dão uma volta na praia (a cidade era litorânea). No verão era bem comum ver famílias inteiras nos canteiros e nas praias fazendo piqueniques até umas 20:00 e depois indo pra casa (no inverno não dava pq não tinha nem 4 hrs de sol, mas a lógica de passar tempo lendo, brincando, vendo TV com as pessoas que eles gostavam era a mesma).
    Tive a mesma percepção que vc: vivemos muito num mundo de amanhã, e muitas vezes esquecemos do hoje

  8. Thais, o pior é você perceber que tem outro ritmo, e ver outras pessoas “se matando” e querendo “se matar” de trabalhar. A percepção que só tenho essa vida, me fez enxergar que devo ir mais devagar e isso não significa fazer menos coisas, mas saber encaixá-las em devidos lugares e horários, devidas prioridades.

    Ótima percepção! Acho que isso venha com a sabedoria da idade (não estou dizendo que você é velha rsrsrs). Eu sempre fui “rueira”, como dizia meu pai. Mas ao longo dos últimos anos, me organizando e voltando o pensamento para meus valores, comecei a organizar minha casa, meu lar, pra que eu esteja nele, PRESENTE. E sair é até gostoso, viajar é maravilhoso, mas voltar pra casa não tem preço.

    Novamente, bem vinda de volta! Estava com saudade das suas reflexões e das postagens. (do Instagram também!!!)

  9. Thais. Em Taipei, a impressão que eu tenho é de que as pessoas trabalham muito, em um ritmo bem puxado. Embora, muitos restaurantes e feiras noturnas não fiquem abertos depois das 22h, existe um número enorme de lojas de conveniência que ficam abertas 24h e quando eu digo um número enorme é um número grande mesmo! Na loja de conveniência em Taipei além de comprar algo para comer e beber, é possível pagar contas, imprimir coisas, retirar encomendas, comprar passagens de trem e ônibus de longa distância e até deixar roupas para a lavanderia. A presença destas lojas em grande número na rua transmite a sensação de que é sempre possível fazer tudo a qualquer hora. Bem o oposto de um ritmo mais lento.

  10. Muito interessante! Aqui, além do culto ás muitas horas de trabalho, temos as dificuldades de locomoção. Bastante comum aquela pessoa que deveria sair do trabalho às 18:00 sair às 19:00, levar uma hora e meia no trajeto, e portanto só estar em casa ás 20:30 hs. Legal a gente pensar nisso, e se organizar pra fazer diferente.

  11. Thais, eu acho que a natureza, com as 4 estações definidas, leva a vida para um outro ritmo. Comecei a observar isso de forma mais intensa depois que comecei a viajar para a Europa no mês de dezembro. Mesmo sendo pré-festas, tudo tem um outro ritmo, uma outra pegada. E curti muito porque as minhas férias assumiram um pouco esse ritmo mais slow também.

  12. Bem legal o post! Mas eu penso que é positivo existir esse ritmo de funcionamento das coisas. Supermercados 24h, academias que fecham mais tarde, restaurantes.. Acho libertador para quem tem trabalhos que ocorrem nas madrugadas, por ex.
    Sinto que são necessários até. Porque nossos horários de trabalho são longos e há pouco tempo livre para fazer compras, exercícios e atividades de lazer

  13. Quando trabalhei em uma.multinacional, norte americana, ia muito para o Iowa, bem no interior.
    Lá se jantava entre 17:30 é 18:00, depois casa. Nada ficava aberto, até muito tarde.
    Aqui em.casa, temos este costume tbm. Sai das à noite, mais nos finais de semana. Mas entendo que por vive e no interior, Araraquara – SP, este hábito seja mais comum.

  14. A primeira vez que fui pra NY, ia passar apenas 2 dias e tive a maior decepção, cheguei numa segunda feira 20h… TUDO fechado! Rodei muito pra encontrar um 7Eleven aberto e uma sessão de stand up super underground. Mas a cidade estava parada!

  15. Tenho a mesmíssima opinião! Viajei na primavera para Califórnia, e foi exatamente isso que percebemos. Em cidades turísticas e até mesmo em cidades grandes tudo fechava cedo. Precisávamos nos atentar aos horários para não ficarmos sem ter onde jantar.
    Percebo que aqui no Brasil, o que para mim é infelizmente, temos outro costume. Inclusive já trabalhei em lugares onde era bem visto trabalhar até tarde da noite. Um absurdo.

  16. Oi Thais!

    Passei os últimos 15 dias de férias, primeiro em Lima (Peru) e depois em Coroa Vermelha, ao lado de Porto Seguro, na Bahia.

    Sobre a primeira, uma cidade latinoamericana gigantesca e cheia de contrastes igual nosso Brasil, também os shoppings abrem mais tarde e fecham mais cedo (tipo das 11h da manhã às 20h), embora os mercados funcionem igual… Além disso não possuem aquela infra toda que nos faz às vezes achar que pode ser legal passear no shopping. É lojas, espaço a descoberto, enfim, compra e sai.

    E na Coroa Vermelha, ao contrário da vizinha agitadíssima e boêmia, quando dá 17h está tudo fechando, barracas de praia, lanchonetes, feirinha… Supermercado maior é até 20h! Lá anoitece super cedo e o barulho de mosquitos, cigarras e alguns passarinhos é um deleite pros ouvidos!

    Dormi como um bebê na praia, como não durmo nem aqui em Floripa! E vi que rapidamente todo mundo se ajusta, se organiza para providenciar o que for necessário antes que tudo se feche, e não há crise!

    Beijos 🙂

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