Categoria(s) do post: Rotinas

Tem uma frase que eu tenho falado bastante nos últimos anos, que é: a gente sabe quando virou adulto quando começa a cuidar de outras pessoas. E não me refiro só aos filhos não (mesmo porque, muitas pessoas não têm filhos). Mas pessoas no geral. Porque a gente passa grande parte da nossa vida aprendendo como cuidar da gente mesmo. Quer dizer, esse é um aprendizado eterno. Mas chega um momento – e é difí­cil determinar exatamente quando ele chega – que você começa a cuidar de outras pessoas também. Esse momento pode chegar mais cedo para alguns, mais tarde para os outros, mas sempre chega. Com as mães, então, essa realidade é ainda mais forte.

Eu quero aproveitar então a proximidade que estamos com o Dia das Mães para trazer este tema para o blog porque ele tem tudo a ver com organização. Se você for o filho caçula entre quatro irmãos e tiver 20 anos, sua mãe, 50, 55, pode não ter sequer pensado nisso ainda. Mas se você tiver 35 anos, for filho único e a sua mãe tiver 60 ou 70, pode ser que algumas ideias já tenham passado pela sua cabeça.

O termo “accountability”, em inglês, é traduzido para o português como “responsabilidade”, mas não é apenas sobre responsabilidade. Afinal, temos também o termo “responsability” em inglês para essa palavra. Accountability tem a ver com responsabilidade engajada, no sentido de tomar a coisa para si. E eu acho que, quando se trata de cuidar dos pais e dos filhos, isso é muito verdadeiro.

O objetivo deste texto não é ditar regras ou dizer o que é certo ou errado, mas despertar o iní­cio dessa reflexão. O que você vai fazer a respeito da sua mãe? Você já pensou nisso? Como ela está nesse momento? O que você pode fazer para ajudá-la? Como ela estará daqui a cinco anos? 10? 15? Que cenário você tem í  sua frente e como a sua famí­lia poderá apoiá-la de alguma maneira? São questões que você tem que pensar. Mas tudo são escolhas, é claro. Você pode optar por simplesmente não pensar nelas. Não se trata de uma questão obrigatória.

Muitas pessoas dizem que o Dia das Mães perde sua validade por ser uma data comercial, mas eu discordo. Enquanto qualquer data fomentar esse tipo de debate e tópico para pensarmos, eu acho válido. E acho que tudo o que nos leva a pensar sobre “laços abertos” tem a ver com organização pessoal.

accountability-mae

Deixe seu comentário

18 comentários

  1. Carolina Pina comentou:

    Desde criança me vi cuidando de outras pessoas; minha avó e tia-avó foram mães com 30 anos (o que é bem incomum para época delas) e ficaram viúvas com menos 5 anos de matrimônio. Sempre moraram juntas e acompanhei durante minha infância esse cuidado entre elas. E, então, na adolescência me deparei cuidando das duas. No meu caso sempre foi algo natural e me sentia tão feliz em poder retribuir um pouco do que elas tanto me ofereceram. Hoje, com 23 anos, não tenho mais as duas e sinto um certo vazio dentro de mim por não cuidá-las. Mas me sinto feliz pelo trajeto de amor, paciência e respeito aos idosos que meus pais me incentivaram a ter. E graças aos meus pais e as minhas avós, me sinto (de certo modo) treinada para o futuro.

    Gratidão pela reflexão,Thais!

  2. Suzana S. comentou:

    Que bela reflexão Thais!
    Também penso que estas datas podem perder o viés apenas comercial se soubermos parar um pouquinho para refletir desta forma.
    Um dia das mães maravilhoso para você!
    Beijos

  3. Cristina comentou:

    Um dos poucos textos sobre esta data que de fato define a importância de refletir sobre Mãe. Excelente!

  4. Rebeca comentou:

    Que bonito o depoimento da Carolina!

    Eu me deparei com essa situação esse ano. Raramente viajo e no início do ano viajei com uma amiga. Dois dias depois, minha mãe quebrou o braço e não me contou nada. Quando voltei, levei um susto enorme ao vê-la com o braço imobilizado. A partir disso, as atividades da casa, que eram divididas, ficaram todas por minha conta e eu passei a ajuda-la a cortar a carne na hora das refeições, lavar os cabelos quando ia tomar banho, enfim, essas coisas do dia a dia.

    Quando ela tirou o gesso e já estava quase finalizando a fisioterapia, caiu novamente e se machucou bastante, achamos até que ela tinha quebrado o outro braço. Ela chegou em casa com o rosto sangrando e eu fiquei assustada DEMAIS com aquela cena.

    Hoje fico muito preocupada quando ela sai para trabalhar ou qualquer outra coisa sozinha (acho que ela se sentia exatamente assim quando eu comecei a sair de casa sozinha também). Mas também me sinto muito feliz em poder retribuir o que ela fez e faz por mim e que tudo o que eu fizer jamais será suficiente para retribui-la.

  5. Monica comentou:

    Muito apropriada essa reflexão. Mas, como mãe a ser cuidada, rs, penso que a nós também cabe grande responsabilidade: preservar até onde for possível nossa independência e autonomia em todos os campos: física, emocional e financeira. Viver em espaços apropriados, próximos das nossas principais necessidades, para não incomodarmos os filhos a cada vez que precisamos ir ao mercado. Manter nossa mente ocupada e produtiva, para não dependermos de atenção que nem sempre pode ser dispensada. Nossos filhos, ao contrário de nós, estão naquela fase louca de construir. Muitas vezes falta-lhes tempo e não amor.
    Principalmente sermos mães cujas companhia é agradável, evitando chantagens emocionais, pressões, vitimismo. Sermos leves, cheirosas e atualizadas. Penso que é uma boa maneira de cumprir a última etapa da vida.

    1. Carolina comentou:

      Obrigada pela sua reflexão Mônica, às vezes me sinto culpada por não ter mais tempo para a minha mãe, mas a frase “Muitas vezes falta-lhes tempo e não amor” caiu como uma luva. Minha mãe é uma querida e compreende isso ao máximo, mas ainda assim me cobro as vezes.

    2. Falou muito bem Carolina! Tem pais que abusam, viram filhos e teimosos, e ainda são novos (num tem nem 60) é bem complicado contornar essa situação.

    3. Aline Dias comentou:

      Muito legal Monica! Nós, filhos queremos proteger e fazer as coisas pelos pais, achando que já não dão conta e tal… Mas a sua colocação foi perfeita. É claro que, dentro das possibilidades, temos que deixar nossos pais viverem sua vidas, se cuidarem e serem independentes.

  6. Denise comentou:

    Penso nesta questão dos cuidados com minha mãe e meu pai desde muito cedo.
    Sinceramente, hoje me senti acolhida com este post, pois é uma visão que poucas pessoas têm ou falam sobre isso.
    Parabéns por despertar a reflexão!

  7. Loyde comentou:

    Nossa! Que tema necessário! Tenho vivido na pele essa experiência. Minha mãe ainda é jovem, não tem nem 50 anos ainda. Mas há uns dois anos vem sofrendo com fortes sintomas psicossomáticos, causados por anos e anos de estresse, e trabalho duro como doméstica. Quando ela saiu de um emprego de mais 20 anos, começou a apresentar sintomas de ansiedade, e isso tem custado muito caro pra ela. Hoje, devido a alguns sintomas, ela não está podendo trabalhar, e eu tive que assumir todas as despesas da casa. Todas. Também passei a fazer tarefas em casa, coisa que não fazia antes. Foi muito grande a responsabilidade que eu tive de assumir. Confesso que eu não sabia cuidar de ninguém. Tive de aprender. Sou servidora, e não ganho tão mal, mas por conta dessa situação passei por alguns apertos. Cuidar dos pais não é uma tarefa fácil, se responsabilizar por alguém é uma opção sim. O filho ou filha pode simplesmente se omitir? Eu posso imaginar minha mãe cuidando de mim, caso fosse eu que estivesse precisando. E eu não vejo essa situação como um peso. Às vezes, eu temo que ela não se recupere, e então traço planos e metas pra garantir que, mesmo nessa situação, eu consiga administrar bem minha vida, minhas finanças e a casa. Outras vezes, imagino o futuro com a saúde dela restaurada, e faço planos de como vou administrar minha vida em diversos aspectos e as finanças. Faço planos pras duas situações. A certeza que eu tenho é que nós sempre seremos amigas, e estaremos unidas. A doença e todas as situações difíceis por que passamos só fortaleceu o amor de mãe e filha, e me fez ver os diversos sacrifícios que ela fez por mim, antes de que eu pudesse fazer qualquer coisa por ela.

  8. Bárbara comentou:

    Amei o texto!

  9. Larissa comentou:

    Que belo texto Thaís!!

    Sempre refliti (desde criança) sobre a minha responsabilidade em relação à minha mãe. É isso mesmo!

  10. Nayara comentou:

    Puxa, esse post e os belos comentários mexeram comigo. Reflexão indispensável e oportuna.
    Obrigada, Thais!

  11. Daniela Dantas comentou:

    Thais, que ótima reflexão.
    Passei por isto há alguns anos. Sou filha única e, apesar de ter meu pai vivo e com saúde, ele tb já tem uma certa idade e não pode nem deve assumir certas coisas. Passei dois meses com minha mãe internada, ela foi desenganada pelos médicos. Fui providenciar jazigo/cremação, aquelas coisas que a gente nunca pensa… ou só pensa em momentos assim.
    Foi duro, mas graças a Deusa ela se recuperou. Mas ficou a lição.
    Acho que fica este tema pra vc postar mais algo a respeito. Jazigos e cremações tem um preço exorbitante em SP (m2 maior que apartamento no Morumbi) se feitas aquisições em última hora. Cotar essas coisas num momento de fragilidade é mt cruel. Então que todos nós tomemos essas providências agora.

    1. Thais Godinho comentou:

      Obrigada, Daniela, pela sugestão.

  12. Selaine comentou:

    Que boa sugestão de reflexão Thais!
    Sou filha única e ao ler todos os depoimentos, me vi e já passei por vários situações relatadas. Mas, o amor por nossas mães sempre nos ajuda e impulsiona a fazer qualquer coisa.

  13. ValDear comentou:

    Comecei a viver esse tema em 2003, aos 22 anos de idade quando meu pai sofreu um AVC e ficou acamado. Filho único e com uma mãe deficiente fisica, tive que assumir muitas tarefas e responsabilidades que não imaginara assumir tão cedo. Meu pai se foi em 2008, mesmo ano que minha mãe passou a viver numa cadeira de rodas, dependendo de mim para as mais diversas atividades. Hoje, em 2019, minha mãe ainda é viva mas cada vez mais dependente, necessitando passar o dia em um day care de idosos, onde é alimentada, toma banho, faz atividades recreativas e tem uma vida social, e todas as noites vem pra casa para dormir.

    A rotina nem sempre é fácil, o idoso nem sempre é dócil e a paciência nem sempre é presente, mas o amor está sempre ali num sorriso, num abraço.