[cap]T[/cap]em uma coisa sobre as cozinhas: está sempre todo mundo reunido nelas. E não é só porque comer é muito gostoso. Não! Mas porque a cozinha gera a ocupação, e estando ocupados, em um estado de fluxo, parece que conseguimos conversar mais. Na verdade, e isso pode até parecer contraditório: quando estamos ocupados na cozinha, parece que é quando realmente temos tempo para parar e conversar com as pessoas que moram ou estão em casa com a gente.
“Vem aqui enquanto eu pico as cebolas”. “Me ajuda a guardar as compras”. “Pega aquela panela pra mim”. A cozinha é onde todo mundo coopera quando é chamado. Acaba sendo até meio automático. “Como foi seu dia?” “Você não vai acreditar no que me aconteceu hoje.” Etc.
Não í toa, as cozinhas são consideradas o coração da casa. O coração é o órgão que bombeia o corpo. E, sem a gente perceber, ele está sempre trabalhando. Se ele para, todo o resto falha. O que acontece em uma casa se a cozinha não funciona? Se a geladeira não está ali, se o simples microondas esquentando uma comida pronta inexiste? Parece que nem casa é. Interessante isso.
E quando a gente para para pensar que a cozinha tem como função ser o cí´modo da casa onde prepara os nossos alimentos, o coração seria o que, exatamente, senão isso também? O que nos alimenta? A cozinha é local de criatividade. Não é í toa que muitas pessoas não apenas cozinham como gostam de trabalhar na mesa da cozinha. A cozinha tem algo que os outros cí´modos não têm.
í‰ claro que a importí¢ncia da cozinha depende muito de família para família e, especialmente, do tamanho do cí´modo em cada casa. Algumas cozinhas são integradas í sala; outras, cí´modos gigantescos, com ilhas de trabalho no centro. Há famílias que gostam de organizar encontros entre parentes e amigos; há pessoas que comem sozinhas diariamente.
Além da funcionalidade das cozinhas, há o valor sentimental. Quem não lembra da comida da vó? Mas qual o gosto da comida de vó, se cada um teve uma vó diferente? O sentimento tem um gosto diferente, mas é o mesmo ao mesmo tempo. Assim é com as cozinhas.
De toda maneira, são cí´modos com aromas, energias e sentimentos. Foram criados com um propósito, e hoje servem a tantos outros. Hoje, mais do que apenas um cí´modo funcional, é um espaço familiar, onde criam-se relacionamentos e convívio em família. Em apartamentos menores, o convívio se estende a uma sala de estar, porque a cozinha diminuiu. Outros, um pouco maiores, se estendem a varandas gourmets – verdadeiras primas pomposas das cozinhas, com direito a fogões, fornos e todos os artefatos de sua prima original.
O que quer que envolva a sua cozinha, ela está presente. Ela representa o poder da criação dos alimentos que você ingere e leva para dentro do seu corpo e da sua família. O mesmo que você faz com sentimentos, arte, música. Independente do tipo de coração, você tem um. E ele continua batendo enquanto você existir. O coração da sua casa, no entanto, bate por todos que nela moram. Então ele precisa do carinho que ele merece para fazer isso acontecer.
Thais Godinho
Editora