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John.

Thais Godinho

Thais Godinho

Autora do Método Vida Organizada, criou este blog em 2006.

Hoje faz 30 anos que John Lennon foi assassinado.

Muita coisa já foi dita sobre ele, então eu gostaria de fazer hoje uma homenagem ao John – pai de Julian e Sean.

John e Julian

Julian nasceu quando os Beatles estavam estourando. Seu nome é uma homenagem à mãe de John, Julia, com quem ele teve um relacionamento conturbado. Talvez alguns de vocês não saibam, mas Julian quase foi o nome do nosso Paul. Acho que é realmente um nome lindo. Mais tarde, o Paul (McCartney) escreveu a música ‘Hey Jude’ para ele, quando soube que seus pais se separariam.

O casamento de John com Cynthia (mãe do Julian) estava fadado à separação. Uma vez li que ela se escondia em armários durante as festas dadas pelo John, para ver se ele sentiria sua falta e a procuraria – o que nunca aconteceu. Ela era a esposa de um beatle. E, convenhamos: todos eles eram galinhaços na época, tocavam o terror nas noites londrinas (e em outros países, lógico) e aproveitavam aquele furacão que era a beatlemania. Julian nasceu nessa época, então, e John não se dedicou a ele. Ele era jovem, imaturo e um beatle. Um filho não fazia parte dos planos, mas mesmo assim ele se manteve casado e tentando manter as aparências – apesar de Cynthia ter criado Julian praticamente sozinha. Em parte, ele acabou fazendo o mesmo que seu próprio pai fizera, abandonando o filho. Julian sempre foi ressentido e, até hoje, diz que sua principal inspiração musical foi Paul McCartney. O que é irônico é que, sem querer, ele está sendo sarcástico igualzinho ao pai. Coisa genética, é claro.

Quando Yoko (a segunda esposa de John e o amor de sua vida) ficou grávida, tudo era diferente. John não era mais um beatle. Não queria mais ser. Ele disse em ‘God’: “eu só acredito em mim / em Yoko e em mim / e esta é a realidade / o sonho acabou”. Era o back to the egg derradeiro – o retorno à simplicidade, ao primal, e agora eles teriam um filho. É importante citar que Yoko tivera alguns abortos, então quando a gravidez de Sean vingou, a importância foi muito maior.

Antes da gravidez de Yoko, eles ficaram um tempo separados. O período é controverso (alguns dizem que John estava finalmente “voltando ao normal” depois do “domínio” da Yoko, enquanto ele chamou de “fim de semana perdido”, já que estava sem ela). De qualquer forma, quando eles voltaram, Yoko ficou grávida de Sean. Todos esses acontecimentos levaram John a fazer uma escolha muito inusitada na época: ele queria ficar em casa, cuidando do bebê, enquanto Yoko saía para cuidar dos negócios da família.

John e Sean

John ficou recluso durante cinco anos “cuidando de Sean e fazendo pão”, como ele mesmo disse. Essa pausa fez com que ele pudesse amadurecer e fazer com Sean tudo o que não fez com Julian, o que não deixa de ser um fato triste para comparar. De qualquer forma, John passou de um estado depressivo, dependente, inseguro, a um personalidade alegre, confiante, feliz, despreocupado. A mudança foi tão visível que, quando ele finalmente voltou a gravar, a música que abria o álbum chamava-se “(Just Like) Starting Over” (“como se estivesse começando de novo”). As músicas desse disco, que seria o seu último, são consideradas por muitos fãs as melhores de sua carreira.

Uma pausa aqui para falar sobre o talento musical do John. Ele nunca foi aquele cara que se importava com violinos e arranjos de orquestras (Paul fazia isso). Mas era aquele que chegava no estúdio querendo transformar uma música dos Beatles em uma canção circense. Ele não sabia como, mas queria fazer. Ao ouvir qualquer uma de suas letras, você percebe que ele transpirou aquilo, em vez de compôr. Se for realmente inevitável comparar, podemos dizer que o John escrevia diários e o Paul, livros. Quando escutamos uma música como ‘Mother’, tomamos conhecimento daquele sentimento chocante que ele exprimiu ao compôr e cantar aquela canção. Para mim, é emocionante comparar o início da carreira solo do John, com discos amargurados, inocentes até certo ponto, mas muitos simples e verdadeiros, com o último, onde ele parece dizer: “ok, passei por tudo aquilo, mas já passou, e agora sou uma nova pessoa, estou pronto para outra”. E então ele foi assassinado. É muito triste e comovente. A história dele é muito triste.

A herança musical que ele nos deixou não é nada comparada à dedicação de seus últimos anos ao filho caçula, fruto de tanto amor entre ele e Yoko. Sinto demais pelo Julian, mas ele sobreviveu (convenhamos) e hoje é um músico incrível, com a voz igual à do pai. Hoje, 30 anos depois da morte do John, tudo o que eu consigo pensar é na quantidade de coisas bacanas que ele teria feito se ainda estivesse vivo – no tipo de velhinho simpático e agitado que ele teria se tornado. Para Sean e Julian, o único sentimento é de uma perda irreparável. Então, por eles, hoje eu sento e vejo as rodas girarem e girarem.

Mas a minha preferida é esta aqui.

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