Sobre o ritmo das outras cidades

Lá na Holanda eu reparei como, com exceção dos lugares para turistas e eventos muito noturnos, como festas e raves, as pessoas não têm a cultura de sair de noite como acontece aqui no Brasil. Sei que não é no Brasil todo mas nas cidades maiores, mas aqui é comum termos coisas como, por exemplo:

  • shopping que fecha às 22h
  • mercado que fecha às 23h
  • pessoas estudando à noite

Só para citar algumas.

Isso faz com que o nosso dia seja mais longo e, também, por ter mais atividades, mais cansativo. Talvez esteja associado ao nosso clima. Por exemplo, na Holanda, pelo fato de o inverno ser muito rigoroso, eles talvez já estejam acostumados a sair do trabalho e ir para casa, ou jantar cedo e voltar pra casa, porque de noite querem estar “refugiados” em seus lares.

Aqui em São Paulo, pelo menos ao meu redor, eu vejo muito as pessoas irem ao shopping de noite, depois mercado, depois jantar, depois irem para casa. Isso cria uma rotina noturna voltada a atividades que não foram realizadas durante o dia, além de ser uma rotina voltada para o consumo. Quando eu fui para os Estados Unidos pela primeira vez, há uns cinco anos, e fiquei em Las Vegas, eu achei impressionante que, apesar de ter muitos estabelecimentos abertos para os turistas, o horário normal das coisas não vai até tão tarde assim. E vejam, uma cidade que “não dorme”. Imagino que em Nova Iorque deva ser diferente, mas só estando lá para ver.

Na semana retrasada eu tive a oportunidade de conversar com uma amiga minha que fez uma viagem à Índia para conhecer os lugares sagrados. Ela disse que uma das coisas que mais chamaram a sua atenção foi justamente o ritmo diferente. Não em Délhi, por exemplo, em que você as pessoas correndo para lá e para cá, o trânsito em um caos de certa maneira harmonioso. Mas o ritmo das pessoas mesmo, nunca voltado a “fazer mais”. Acho que nós puxamos muito isso dos nossos vizinhos norte-americanos, especialmente porque a cultura do trabalho no Brasil sempre copiou muito esse modelo dos Estados Unidos.

Tenho alguns amigos portugueses, espanhóis e italianos que compartilham comigo como o estilo de vida no Mediterrâneo, de modo geral, é diferente. É simplesmente outro ritmo. Não que seja mais devagar. É apenas outra pegada, com foco em outras coisas.

Bem, eu acredito que todo esse “papo” sobre ritmo diga muito respeito à nossa coerência com a vida que estamos construindo para nós mesmos. Posso dizer por mim que considero muito difícil viver em um mundo em que as pessoas não respeitam o seu ritmo e, mesmo você trabalhando ensinando sobre boas práticas de organização e produtividade, ainda te enviam um e-mail pedindo para você enviar um negócio urgente, o quanto antes, para qualquer assunto.

Entender que eu tenho um ritmo meu e que eu não devo “me atropelar” em decorrência do ritmo que outra pessoa esteja tentando impôr para mim foi um dos maiores aprendizados que tive até aqui na minha vida. E não estou dizendo que seja fácil ou imediato, mas a percepção pode sim ser imediata. Comece a partir de hoje a se observar e a se conhecer melhor, para entender como o seu ritmo funciona.

A construção dele virá no seu dia a dia, para o resto da sua vida.

Psicologia, organização e produtividade

Algumas áreas e campos de estudo da psicologia que conversam diretamente com os temas de organização e produtividade são:

Psicologia positiva

Eu ouvi falar sobre essa área quando fiz minha formação em Coaching em 2016. Existe um livro chamado “Felicidade autêntica”, do autor Martin Seligman (também autor de “Florescer”) que fala sobre psicologia positiva. Esse campo da psicologia estuda sobre como os seres humanos sentem a felicidade, bem-estar, valores, caráter, senso de propósito. Tem tudo a ver com o que eu falo por aqui.

Cognição distribuída

David Allen, autor do método GTD, já dizia: “nossa mente serve para ter ideias, não para armazená-las”. Usar a mente para pensar, estar presente, se engajar em pensamento estratégico, planejar projetos, é o que ela faz de melhor. Alguns estudos nessa área da psicologia têm respaldado essa ideia.

Acumulação compulsiva

Muitas pessoas sofrem sendo acumuladoras de coisas. Hoje um profissional que trabalhe com organização e produtividade não pode ajudar alguém que tenha esse tipo de compulsão, e sim um profissional qualificado em psicologia.

TOC

O transtorno obsessivo compulsivo é frequentemente e vulgarmente associado às pessoas organizadas, como se o fato de você ser organizado o qualificasse para ter esse transtorno. O TOC pode caracterizar uma série de comportamentos que não necessariamente tenham a ver com organização, então dizer a uma pessoa organizada que ela “tem toque” é, além de pejorativo, bem errado.

Teoria do fluxo

Cada vez mais nos deparamos com estudos que abordam essa consciência e sensação de fluxo que muitas vezes acaba sendo representada por atletas que estejam engajados em suas atividades. A ideia de fluxo para a produtividade é muito explorada porque diz respeito a estarmos realmente presentes, fazendo algo sem ver o tempo passar.

Foco

O que falamos tem tudo a ver com o exercício do foco em todos os segmentos da vida e em nível micro e macro.

TCC

Terapia cognitivo-comportamental (TCC) é uma forma de psicoterapia que se baseia no conhecimento empírico da psicologia. Ela abrange métodos específicos e não-específicos (com relação aos transtornos mentais) que, com base em comprovado saber específico sobre os diferentes transtornos e em conhecimento psicológico a respeito da maneira como seres humanos modificam seus pensamentos, emoções e comportamentos, têm por fim uma melhora sistemática dos problemas tratados.

A terapia cognitivo-comportamental possui tanto técnicas da terapia cognitiva como da terapia comportamental, tendo demonstrado ser uma das técnicas mais eficazes no tratamento de vários transtornos como depressão e esquizofrenias. (Wikipedia)

Ansiedade

Muitas pessoas sofrem com ansiedade e, além de a organização ajudar em diversos aspectos, pode ser que, muitas vezes, acabe aumentando a ansiedade. Mais uma vez, o indicado é buscar um profissional adequado.

Capital psicológico

Estrutura relativamente nova que os psicólogos em empresas estão começando a estudar com mais profundidade. Trata-se de como o funcionário se expressa, mostra-se eficiente e otimista, além de resiliente, por exemplo.

Este post tem o único intuito de mostrar como psicologia, organização e produtividade são assuntos relacionados, e é apenas uma primeira tentativa de trazer esses assuntos para perto para conseguirmos trocar algumas figurinhas a respeito.

Caso tenha algo a contribuir, por gentileza, deixe um comentário! Obrigada.

Meus acessórios essenciais para ter uma boa noite de sono

Meu sono é sensível. Isso significa que, para eu pegar no sono, preciso de todo um ritual. Sempre admirei as pessoas que conseguem encostar e dormir rapidamente em qualquer lugar e sob quaisquer condições. Nunca fui essa pessoa. Por isso, com o passar dos anos fui descobrindo o que funcionava de verdade para mim.

Já compartilhei aqui no blog algumas dicas e como eu faço para a rotina mesmo ser mais tranquila. Dê uma navegada, porque tem bastante texto legal.

Hoje vou compartilhar apenas os acessórios que eu uso para dormir bem. São eles:

Água
Sempre tenho água ao lado da cama, pois frequentemente fico com sede ou com a garganta seca e ajuda muito ter a garrafinha ali ao lado, no criado-mudo.

Manteiga de cacau
Meus lábios costumam ficar muito ressecados, especialmente no inverno, então passar uma camada generosa de manteiga de cacau antes de dormir me deixa confortável. (Algumas vezes, dependendo do frio, chego a passar até uma pomada nos lábios, para hidratar mais.)

Protetor auricular
Não uso sempre, até mesmo por questões de higiene, mas naqueles dias em que preciso descansar pra valer, sem ficar acordando à noite com pequenos barulhos, eu uso protetores auriculares. Meu sono é tão sensível e eu acordo tanto durante a noite com os mínimos barilhinhos que, só de usar esses protetores, minha qualidade de sono aumenta uns 200%.

Touca com forro duplo
Ok, estamos no inverno. Mas eu não poderia deixar de compartilhar essa dica, pois ela funciona sempre que estiver frio, não importa a estação. Perdemos muito calor do corpo pela cabeça. Como eu tenho sinusite, esse frio faz muita diferença. Há alguns anos, eu percebi que o fato de usar uma touca para dormir fazia com que eu me aquecesse mais rápido, além de dormir mais facilmente, justamente por essa questão de administrar a temperatura do corpo. Funciona como mágica. Teste!

Polaina
Pode parecer um acessório muito dos anos 80, mas eu sou friorenta e detesto acordar de noite com frio nas canelas. Por isso, as polainas são essenciais para ‘juntar” as calças com as meias e, assim, me manter quentinha durante a noite.

Travesseiro para a coluna
Há alguns anos, um médico ortopedista me pediu para providenciar um travesseiro de corpo inteiro para dormir agraçada com ele e alinhar a minha coluna. Deu muito certo. Hoje em dia, uso um travesseiro normal na lateral apenas “para me apoiar”, e o efeito é o mesmo. Quando eu era mais nova eu não me importava muito com a minha postura durante o sono, mas com o passar dos anos isso foi se tornando uma questão importante. Diminuiu demais as dores que eu sentia nas costas – isso tudo alinhado a um cuidado maior com a ergonomia durante um dia de trabalho também.

Pijama confortável
Eu não compro mais pijamas que apertem ou que sejam feitos de tecidos que agridam a pele de alguma maneira. Tenho uma amiga que tira sarro da minha cara porque eu realmente invisto em pijamas em vez de simplesmente usar roupas velhas para dormir, mas eu realmente sinto uma diferença enorme tanto no auto-cuidado (sinto que estou me mimando quando coloco um pijaminha legal) quanto na qualidade do meu sono. Os tecidos são mais confortáveis, eu me sinto melhor, enfim, é um mix.

Protetor de olhos
Por último, mas não menos importante. Quem tem o sono sensível como o meu já deve até usar esse acessório. Não consigo mais dormir sem o protetor de olhos, pois ele deixa a minha “visão” bem escura e, assim, meu cérebro não fica estimulado. Uso todos os dias.

E você, tem algum acessório que usa para dormir e que faz toda diferença na sua qualidade de sono? Compartilhe aqui!

Como eu estou transformando – aos poucos – o meu trabalho

Quando eu era criança, gostava de brincar de professora – como praticamente todas as crianças da minha idade na época.

Depois, eu achei que seria desenhista. Minha mãe me levou para conhecer o Maurício de Souza, que me deu um desenho da Mônica autografado, elogiou as histórias em quadrinhos que eu mesma criava com papel sulfite e me convidou para trabalhar com ele quando eu crescesse. Eu sinceramente passei anos da minha vida achando que eu realmente faria isso.

Na época do vestibular, eu não tinha mais esse sonho e queria algo mais “normal”. Gostava de desenhar, então pensei em Moda. Mas também gostava de ler, então pensei em História ou Direto (mais “do mercado”). Por gostar de escrever, juntei em um mix e acabei optando por Jornalismo. Foi uma boa escolha e, até hoje, acho que teria me formado uma boa jornalista. Sempre trabalhei com criação de conteúdo, mas a formação em Publicidade deu o tom do que eu faria com ele profissionalmente (para quem não sabe, fiz dois anos de Jornalismo e depois mudei para Publicidade, onde me formei).

Cara, realmente a vida é como um supermercado. Você passa pelas gôndolas, sabe que precisa fazer escolhas, mas são tantas (umas tão boas e outras tão estranhas), que a tendência a ficar confusa(o) é enorme.

Quando eu fui para o (super) mercado de trabalho, tudo era indefinido. Comecei trabalhando como estagiária na área de marketing de uma empresa. Depois, migrei para uma área de comunicação interna. De lá, trabalhei em agências de publicidade, até entrar novamente na área de comunicação de outra empresa – desta vez, ligada ao governo. Foram todas experiências muito interessantes e que me ajudaram a formar quem eu sou hoje, especialmente no que diz respeito a habilidades de convivência profissional.

A parte de habilidade no meu ofício, eu sinceramente aprendi sozinha, com poucas pinceladas de colegas ou professores nos diversos cursos que fiz. Sempre fui muito autodidata e gostava de testar o que aprendi. Não foi à toa que criei este blog, lá em 2006, para escrever sobre um assunto que eu gostava. Eu só não imaginava que um dia trabalharia com isso, apesar de meu coração ter começado a bater mais forte quando comecei a me envolver com o assunto.

De verdade, a vida é uma jornada. E começar a se organizar, a querer desenhar essa trajetória, é colocar o pé na estrada.

À medida que as coisas foram acontecendo, eu fui aprendendo muito sobre mim mesma – o que eu gostava e o que eu não gostava de fazer. Tudo isso foi me ensinando para onde eu gostaria de encaminhar a minha vida dali em diante.

Não existem caminhos certos ou errados – e eu sei que você deve estar cansada(o) de ler isso. Mas o que quero dizer é que eu procuraria novas maneiras de ser feliz em quaisquer caminhos que eu tenha escolhido, que me levariam a lugares diferentes. Eu poderia ter me tornado advogada. Estilista. Jornalista. Historiadora. Bibliotecária. Farmacêutica. Realmente não importa, mas sim a jornada. E esse é o ponto.

Ter passado por todas essas reflexões nos últimos meses tem me ajudado a ponderar sobre a vida como um todo e sobre como podemos colocar uma pressão enorme sobre as escolhas que fazemos, como se fossem irreversíveis. E, sabe, algumas delas podem ser. Mas o irreversível não quer dizer definitivo. Quer dizer apenas que você escolheu algo, essa escolha teve consequências, mas essas consequências te ajudaram a ser quem você é hoje – uma pessoa que pode fazer escolhas melhores ou, pelo menos, diferentes. E toda essa vivência vai te levando a novos caminhos. Novas estradas. E novos lugares.

Eu curto muito pensar lá na frente. Onde eu quero chegar. No estilo de vida que estou construindo para mim, especialmente com o trabalho. Mas curto igualmente a minha vida agora, e ela precisa ser curtida agora, não só depois (depois TAMBÉM).

Na prática, significa investigar porque, pelo terceiro dia seguido, eu não estava a fim de fazer uma atividade que, até então, eu curtia pra caramba. Não deixar a vida passar, sabe? Tomar providências. Mas, acima de tudo, tentar me entender.

Quanto mais você caminha, mais descobertas você faz, e essas descobertas te levam a descobrir novos caminhos que você talvez não tenha considerado antes.

Eu cresci uns 10 anos no último mês – sem brincadeira. Passei a ver com mais leveza algumas áreas da minha vida que tinham uma essência mais intensa – especialmente no trabalho.

Quando passei a ver tudo o que eu faço como algo efêmero, que vai acabar (que seja com a minha morte), e que existem tantas outras possibilidades na vida para mim, assim como tantas outras pessoas que podem fazer esse mesmo trabalho que eu faço, abrindo um leque de possibilidades para relacionamentos, parcerias, oportunidades… isso me deixou muito feliz e curiosa para colocar a cabeça para fora do carro e curtir o vento batendo no rosto no meio da estrada mesmo, antes de chegar no lugar. Porque, por mais que eu tenha meus mapas, por mais que eu saiba o caminho, caramba… a brisa está ótima. O sol está se pondo, eu estou feliz, e um sorriso no rosto vale mais a pena que uma lágrima no travesseiro de noite – o que é igualmente válido, é claro. Mas, no momento, levo esse sorriso porque já chorei demais.

Os propósitos do mestrado

Comentei no post de ontem que eu falaria mais sobre os propósitos do mestrado e este texto de hoje é para trazê-los. Achei importante compartilhar porque 1) descobrir o propósito nas coisas que fazemos é uma boa prática de produtividade e 2) compartilhar com vocês me traz a sensação de ser mais autêntica no trabalho que exerço aqui.

Quando eu resolvi fazer o mestrado, tempo atrás, minha principal motivação era a de dar aulas. Com tudo o que aconteceu no primeiro semestre, eu “entrei em crise” com esse propósito, por dois motivos: 1) não sei qual será o futuro das faculdades e universidades. tudo vai mudar. não sei se os alunos ainda são tão interessados em um professor em sala de aula. e 2) eu já dou aulas. já sou professora. então qual é o ponto prático dessa formação?

Vários professores e colegas que vivem exclusivamente da vida acadêmica estão fazendo o caminho inverso, e com dificuldades. Tentando empreender, ir “para o mercado”, sobreviver de outras forma porque não conseguem empregos lecionando ou mesmo tendo bolsa como pesquisadores.

Quando eu pensei seriamente em parar com o mestrado agora, isso não afetaria tanto a minha trajetória a longo prazo. Eu comecei o mestrado antes do que eu planejava. Quando eu coloco as coisas sob perspectiva, eu não tenho a “pressão” de ter um diploma de mestre no momento. Tenho meu trabalho, tenho a minha empresa. Eu poderia perfeitamente parar um tempo e retomar ano que vem, por exemplo. Mas a maneira como isso me afetaria internamente faria muita diferença. Primeiro, porque eu adoro o mestrado. Me distrai e me faz feliz pensar em coisas diferentes e estar com aquelas pessoas, que já me afeiçoei. Segundo, porque eu sentiria como se estivesse deixando de lado algo muito importante para mim, que representava uma construção importante de vida que me levou até tal momento.

Ter passado por esse período de reflexão (que inclusive coincidiu com o período em que meus professores estavam de férias e que eu precisava escrever dois artigos de conclusão das disciplinas) foi importante porque eu percorri toda uma jornada para chegar à decisão final e clara sobre a continuidade do mestrado. Ter clareza sobre o propósito (ou os propósitos) me fez prosseguir. Foram eles:

Propósito 1: Contribuição com o mercado da Comunicação

Estamos vivendo um momento muito particular, específico e crucial no mercado de trabalho de maneira geral, mas especialmente no campo da Comunicação. A Editora Abril fechou diversas revistas e vai demitir mais de 600 funcionários – muitos deles, jornalistas. As agências de publicidade estão caminhando para o mesmo fim. Nossas profissões serão transformadas e, as carreiras, reconstruídas. Por eu ter feito essa transição anos atrás (sair de uma empresa e empreender), eu sinto que posso ajudar tanto quem já está no mercado há 30 anos quanto quem está em começo de carreira, se formando na faculdade. E eu quero fazer isso. Quero colaborar de alguma maneira. Pretendo fazer isso com a criação de conteúdo, mas também ministrando cursos e aulas em universidades. Acredito na área da Comunicação e nas profissões da área. Quero ajudar a pessoa que quer ser jornalista a realmente ser jornalista, mesmo com essas mudanças e perspectivas confusas (e as outras profissões, claro).

Propósito 2: Contracultura da produtividade no trabalho

Eu realmente acredito que existe um modo de trabalho mais gentil, menos agressivo, com o trabalhador, do que o mercado impõe. A ideia de hora extra como algo normal, ou a conectividade permanente que as mídias (e as relações através delas…) nos obriga a ter, entre outras questões pertinentes e urgentes. Eu trabalho com produtividade. Trabalho com um método (GTD) que vai na contracultura – não diz que você tem que fazer MAIS para ser produtivo, e sim que você precisa estar apropriadamente engajado no que está fazendo – que pode ser fazer nada. Então há uma brecha. Há “esperança”. O meu estudo na pesquisa do mestrado (aplicativos de produtividade) vai nessa linha e, junto com o meu trabalho, eu sinceramente sinto que tenho a contribuir com o mundo de alguma maneira.

Propósito 3: Atuar como pesquisadora

Inicialmente, não pensei em investir na área de pesquisa, e sim do ensino. Mas, quando entrei no mestrado, me apaixonei. E isso faz muito sentido: sempre gostei muito de ler e de estudar, além de escrever. Essa parte me pegou de jeito e o fato de eu já ser professora, já ter uma empresa, e não depender financeiramente de uma bolsa de estudos para atuar me dá a liberdade privilegiada de explorar o campo de pesquisa sem tanta pressão, “porque eu quero” mesmo.

Este é o propósito egoísta, digamos assim, mas que me ajudou a ver que não “dependo” de virar professora exclusivamente, ou de parar com todo o resto que eu faço para viver apenas na área acadêmica. Foi uma conclusão importante e que fez toda a diferença.

Esses propósitos estão tão claros que entraram na minha vida como um foguete! Voltei ao segundo semestre do mestrado com outra visão, outra energia, outro gás, outro senso de aproveitamento e foco. Me sinto completamente renovada e renascida, e grata pela oportunidade que a vida me proporciona de construir a coerência em tantas atividades.

Sobre se reconstruir: pedacinho por pedacinho

Pode ser que vocês já estejam um pouco entediados de tanto eu falar sobre esse assunto. Peço desculpas por isso, mas eu acredito que o ponto principal de qualquer blog é o tom pessoal, e é impossível fazer isso sem escrever sobre o que estou vivendo.

Após a morte da minha avó, eu mergulhei dentro de mim mesma. Mas demorei para entender que eu tinha mergulhado. Foquei no trabalho (que me faz bem), mas uma série de acontecimentos foram encadeados e, hoje, quando paro para refletir, vejo como estava vulnerável. Isso abriu a porta para várias situações que eu jamais permitiria em outras ocasiões, que não vêm ao caso aqui, mas que hoje consigo perceber (e guardar como referência para o futuro).

Chegou um momento em que eu senti que o chão estava desabando ao meu redor. Eu estava muito triste. Não conseguia resgatar minha atitude mental positiva. Não me encontrava. Não sabia mais o que me fazia feliz. Enviei um e-mail para o meu professor orientador dizendo que abandonaria o mestrado (não sentia que tinha cabeça). Queria cancelar minha viagem para participar do GTD Nível 3 (quem me conhece sabe a gravidade dessa ponderação). Entre outras decisões que representavam uma ruptura em diversos aspectos da minha vida.

Foi quando eu resolvi parar.

Não era o momento de tomar decisões importantes nesse nível.

Comecei a querer resolver uma coisa de cada vez, com cuidado. E essa é a dica que eu quero compartilhar com você, caso você esteja vivendo ou um dia passe por uma situação parecida.

O que eu aprendi com o David Allen (autor do método GTD) me ensinou sobre a mente? Que ela não serve para armazenar, e sim para ter ideias. Criar. Encontrar soluções.

Para deixá-la fazer isso, eu preciso esvaziá-la. Tirar as coisas da cabeça. Então resolvi retomar o hábito (de anos, e que tinha parado recentemente) de acordar e escrever um diário, no papel mesmo. Comprei um caderno universitário simples e me obriguei a escrever mesmo sem parecer ter vontade. Passar os pensamentos para o papel, simplesmente.

Isso me ajudou demais a lidar com “um problema” de cada vez.

Reconstruir um castelo começa pelo primeiro tijolo, apenas. E entender isso foi mais do que fundamental, foi VITAL para que eu ficasse bem.

No primeiro dia que comecei a escrever, já me decidi sobre o mestrado. Quero falar mais sobre os propósitos do mestrado em outro post (que já estou escrevendo). Obviamente resolvi continuar.

Depois, decidi sobre outras coisas. Mas fui refletindo com cuidado, buscando dentro de mim as respostas – o propósito de cada coisa – e sem pressa. Algumas eu realmente optei por deixar de lado. Outras serão modificadas, mas é uma transição que levará alguns anos, e não algo imediato.

Quando a gente (que trabalha com isso) fala que organizar é colocar as coisas no seu lugar, diz respeito a mais do que dobrar as meias e arrumar na gaveta. Muitas vezes, as dobras que precisamos fazer são na nossa personalidade, e demandam mais do que simplesmente sentar na cama e fazer com todos os itens. Às vezes, uma única meia dobrada já é um avanço e tanto, e está tudo bem. A gaveta é minha mesmo.

Produtividade é gerenciamento de energia, não de tempo

Como está o seu nível de energia hoje? Você acordou facilmente, sentindo-se descansada(o), empolgado(a) para as atividades do dia? Mas, mais do que isso, feliz, com um sentimento de tranquilidade no coração? Se não, por favor, faça alguma coisa. Pode ser que já há algum tempo você se sinta assim. Neste post, vou trazer uma reflexão que pode te ajudar, além de trazer dicas práticas, como sempre. 🙂

Você tem alguns tipos de energia. A primeira é a física. Para estar fisicamente bem, você precisa cuidar do seu corpo em toda sua complexidade. Tem o sono, a alimentação, os exercícios físicos, seus hormônios, entre outros. Outro tipo de energia é a mental, que é a que vamos abordar aqui, e outra é espiritual, também relacionada. Elas são importantes porque são as fontes que seu organismo busca para encontrar energia em tempos de necessidade.

Uma vez postei aqui no blog um texto muito importante sobre o conceito de produtividade para o método GTD (método de produtividade que uso há muitos anos), em que digo a importância de alternarmos descanso com esforço mental e físico. Vale a pena ler o texto como complemento a este aqui. (link)

Steve Jobs costumava dizer que não se interessava em ser o homem mais rico do cemitério, mas em viver uma vida com propósito – ir para a cama sabendo que trabalhou em algo maior.

Se o que você faz te traz felicidade, por que tornar a sua rotina uma fonte de sofrimento? Não vale apenas para o trabalho, mas para a maternidade, seus hobbies e estudos. Por favor, pense sobre isso hoje. Veja a que respostas chega internamente.

Você quer chegar a um estado de esgotamento tamanho que te obrigue a parar porque foi para o hospital ou até algo pior? Quer chegar a esse estado apenas porque não recarregou suas baterias?

Quando meu filho nasceu, eu adorava uma autora chamada Tracy Hogg, que escreveu uma série de livros com o apelido de “Encantadora de Bebês” (inclusive recomendo fortemente!). E me lembro de um dos pontos mais importantes que ela ensinava, que foi: um bebê não sabe reconhecer quando está cansado. Ele não pode simplesmente dizer: “estou cansado pacas! preciso dormir!”. Então ele chora. Muitas vezes, os pais superestimulam os bebês e depois ficam desesperados porque ele não para de chorar mesmo estando alimentado e com a fralda seca! É só sono!

Às vezes eu acho que nós, adultos, nos tornamos grandes bebezões. Precisamos da permissão de alguém de fora (ou da ordem mesmo!) para dizer: pelamor, PARE, descanse, vá dormir. Vivemos nossa vida ao limite da exaustão. Uma leitora até pediu para eu escrever sobre essa dificuldade que temos de desligar (Ana Carolina, este post é para você! <3). A grande questão é que, quando não desligamos, os circuitos começam a pifar. Os problemas começam a aparecer. Dor de cabeça, dificuldade para dormir, brigas nos relacionamentos. E então tratamos os problemas com aquilo que parece ser a solução mais fácil: tomando remédios. Ou ignorando até um ponto em que não dá mais, e a gente chora ou passa mal.

[Tweet “Se o que você faz te traz felicidade, por que tornar a sua rotina uma fonte de sofrimento?”]

Sempre lembro daquele jogo The Sims quando estou com fome, com sede, cansada ou com vontade de ir ao banheiro. No jogo, que é um simulador, o personagem que você controla precisa ser cuidado o tempo todo. Ele precisa ficar bem. O indicativo de seu bem-estar são algumas barrinhas que aparecem no painel de controle e que servem para você analisar se ele precisa comer, tomar banho etc. Se você permitir que suas barrinhas fiquem no vermelho, isso vai influenciar demais no seu bem-estar, que pode mudar de um momento para o outro.

Imagem: The Sims Wiki

Se a bateria do seu celular estiver baixa, o que você faz? Você carrega. O mesmo deve ser feito com você. E ponto! Se estiver com a energia baixa, recarregue! Simples assim.

Para saber se você precisa recarregar suas energias, segue uma checklist importante para você ter como referência aí sempre com você e verificar de tempos em tempos. Se estiver sentindo algum desses sintomas, pode ser o momento de colocar seu celular na tomada para recarregar:

  • sonolento ou cansado em horários em que normalmente não se sentiria assim
  • antipático e indelicado em demasia
  • reclamando demais das coisas da vida
  • ofendendo as pessoas por nada
  • à beira de um ataque de nervos – nervoso a ponto de achar que qualquer gota d’água pode fazer o seu copo transbordar
  • preocupado em excesso com todo tipo de coisa
  • egoísta, porque se preocupa com seu bem-estar como modo de sobrevivência
  • excessivamente emotivo, deprimido ou frustrado

Eu não estou dizendo que os sentimentos acima estejam certos ou errados, ou sejam não naturais. Eles são completamente naturais. Somos seres humanos e não máquinas felizes o tempo todo. Mas, justamente por serem naturais, eles indicam o que está acontecendo com cada um de nós, e isso precisa ser observado – assim como a felicidade – pois isso gera autoconhecimento. O ponto é que, quando nos sentimos de acordo com os sentimentos acima, tendemos a desenvolver uma visão mais negativa da vida. Até sua saúde é afetada.

Seguem então algumas dicas para que você aprenda a recarregar as suas energias não de vez em quando, mas todos os dias:

  • Encontre uma atividade física que goste e que se encaixe em seu estilo de vida.
  • Cuide com carinho do seu sono.
  • Busque uma forma de alimentação que traga benefícios a você.
  • Consulte um profissional da saúde para fazer uso de vitaminas complementares.
  • Procure fazer algo que você goste muito todos os dias. Usar um creminho gostoso depois do banho, assistir seu canal favorito no YouTube, ler um livro que te deixe feliz, conversar com os seus filhos, cozinhar, brincar com os cachorros etc.
  • Alterne os tipos de atividades ao longo do dia. Se trabalhou durante uma hora no computador, faça uma pausa. Beba água, dê uma volta pelo escritório, converse com as pessoas. Faça um telefonema. Leia um documento impresso.
  • Não se obrigue a preencher os espaços na sua agenda. Valorize o tempo livre.
  • Em vez de esperar o ano inteiro pelas férias, faça do dia a dia suas férias. Viva um estilo de vida mais leve e feliz.
Imagem: Pensador

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Não é normal dormir mal

Nossa sociedade está tão doente que dormir poucas horas virou o novo normal.

Algumas pessoas até se gabam disso: “durmo apenas quatro horas e me sinto bem!”.

Olha, não quero entrar em extremos aqui e dizer que é impossível uma pessoa dormir pouco e se sentir bem. É claro que existem casos e casos. Já tivemos até um ótimo depoimento sobre sono polifásico por aqui, do Darllan, que é leitor do blog e está se formando como professor de GTD. É óbvio que existem corpos e corpos, estilos e estilos de vida, e maneiras de se fazer as coisas.

O que quero problematizar neste post é essa nova regra de normalizar a pouca quantidade de sono. É essa “onda de produtividade e alta performance” que “prega” o aproveitamento máximo do tempo, e que “dormir é para os fracos”. “Você pode dormir quando estiver morto”. Já ouviu essas frases? Então é sobre isso que eu quero falar aqui.

Quando as pessoas me pedem “dicas de produtividade”, a principal “dica” que tenho para dar é: durma bem. Porque, sinceramente: PARA MIM, uma noite mal-dormida acaba com o meu dia seguinte. Eu não tenho energia para nada – passo o dia me arrastando. E acho isso péssimo. Conversando com outras pessoas, sei que não é só comigo.

Quantidade de horas x qualidade das horas

Chegamos aqui então ao ponto: não se trata talvez de dormir muitas ou poucas horas, mas sim de dormir o suficiente. Então sim, amigão, você pode dormir quatro horas por noite e se sentir bem, mas tem pessoas que precisam dormir sete, nove horas, para se sentirem tão bem quanto você. O segredo, mais uma vez, está no auto-conhecimento.

A grande pergunta se fazer é: será que eu realmente fico bem dormindo as quatro horas ou me acostumei? Será que você se sentiria ainda melhor dormindo seis ou oito horas? Fica a pergunta.

Diversos estudos na área das ciências cognitivas dizem que não é “desejável”, mas sim estrititamente necessário alternar períodos de esforço com períodos de relaxamento ao longo do dia. Precisamos dormir bem, alcançar todas as diversas fases do sono, para que nosso cérebro faça aquelas ligações todas e gere conhecimento, retenha informações e faça conexões. Além de, é claro, o descanso físico e mental que só uma boa noite de sono proporciona.

Não quero, mais uma vez, com este post, trazer regras. Quero que você analise e reflita sobre a sua qualidade de vida.

O que EU descobri? Eu descobri que, para mim, dormir de seis a oito horas de sono por noite funciona bem. Minha média são sete horas e meia – oito horas no total, desde o momento em que deito na cama, pego no sono e durmo propriamente dito. Mas há noites em que a qualidade do sono não foi boa – acordo diversas vezes, passo mal do estômago por qualquer motivo, tenho sonhos agitados, e tudo isso faz com que pareça que, mesmo que eu tenha dormido DEZ horas, eu tenha dormido duas ou três apenas. Então não é apenas a quantidade, mas também a qualidade dessas horas de sono. Vale a pena prestar atenção nisso.

Estabeleça regras pessoais

Eu percebi alguns elementos que me ajudam a ter melhor qualidade de sono:

  • não beber café depois da 16h
  • desligar telas e dispositivos eletrônicos até 1h antes de dormir
  • fazer atividades calmas durante a noite
  • não ler livros perturbadores, de terror ou que estimulem muitas ideias
  • não discutir assuntos que vão me deixar agitada
  • não comer alimentos “pesados” ou que dificultem a digestão

Isso já basta.

Importante é priorizar a rotina de sono

Outro ponto é que, se você descobriu que precisa dormir uma quantidade X de horas todas as noites, isso deve ser prioridade para você. Tornar isso prioridade significa dizer não a alguns compromissos que prejudicariam sua noite e o seu dia seguinte. É chato mas é importante. Com o passar do tempo, fui vendo que um show que eu deixasse de ver em um dia qualquer não seria tão ruim assim, levando em consideração a ótima performance que eu teria dando aula na manhã seguinte, se fosse o caso.

Quando eu era mais nova, era comum sair na quinta à noite e ir trabalhar na sexta de manhã. Passava o dia “um caco”, reclamando e esperando dar o horário de ir embora. Isso não é normal nem legal. Hoje em dia não faço mais esse tipo de coisa. Não se trata de ser certinha ou chata, mas de me conhecer e saber como ficar bem. Vou ter “n” oportunidades de jantar, assistir shows e fazer outras atividades se me planejar direitinho. Mas existem dias em que simplesmente meu foco é outro, e é simples assim.

Desde que dormir bem se tornou uma prioridade na minha vida, absolutamente TUDO mudou. Me sinto mais descansada, motivada, inspirada, criativa e produtiva. E como quero sempre estar bem desse jeito, dormir bem é exatamente isso: uma prioridade.

Tenho um outro texto aqui no blog sobre a regularidade do horário de sono, que pode te interessar.

Construção do estilo de vida

Ao pensar sobre o calendário editorial (a programação de posts) desta semana, eu achei que seria bastante pertinente falar sobre construção do estilo de vida. Talvez você se pergunte o que esse assunto tenha a ver com saúde. Na verdade, ele está relacionado tanto ao tema do mês quanto a um processo mais amplo, que abriga todas as áreas da vida, e por isso ele está aqui hoje.

Construção do estilo de vida não tem apenas a ver com independência financeira (a meta da moda), apesar de que buscar independência financeira pode ser algo que você queira para você. Construção do estilo de vida tem, acima de tudo, a ver com auto-conhecimento. A você se conhecer verdadeiramente e, no dia a dia, tomar decisões, realizar atividades, fazer pequenas e grandes coisas que estejam alinhadas com quem você é de verdade. Isso é coerência. Isso é ter uma vida organizada.

No ano passado, eu desenhei um mapa que o David Allen (autor do método de produtividade GTD, que uso há muitos anos) chama de “treasure map”, ou “mapa do tesouro”. Você pode criar esse mapa com colagens, desenhos ou simplesmente palavras. Eu fiz em formato de mapa mental, com desenhos e palavras que me representassem. Pensei no meu futuro – não em um período de vida específico, mas no futuro de maneira geral – e desenhei o que parecia ter a ver com o futuro que eu queria construir para mim, em todos os aspectos. Pensei na minha casa, nas minhas atividades profissionais, hobbies, relacionamentos, finanças, dia a dia mesmo. E o resultado foi bem interessante (compartilho um pouco abaixo).

Tenho esse mapa digitalizado em meu Evernote e também inserido no mapa mental de visão, que diz respeito a um horizonte de mais longo prazo da minha vida (já mostrei em outro post – clique aqui para ver).

Revisar esse mapa regularmente me ajuda a ter tranquilidade e perspectiva sobre a vida que estou construindo para mim. Me ajuda a tomar decisões até mesmo para aspectos mundanos demais, como por exemplo decidir que atividade física vou investir meu tempo (eis aqui porque tem a ver com atividade física este post!). Quando eu pensei nesse estilo de vida que tinha mais a ver comigo, eu mencionais as seguintes atividades físicas:

  • caminhada e corridas
  • tênis
  • vela e vida náutica
  • natureza e aventuras

Do meu ponto de vista, faltou algum esporte de grupo (que hoje sinto falta), mas talvez, quando tivesse feito esse desenho, tivesse pensado tanto a longo prazo que não tenha me visto mais fazendo um esporte assim, e sim atividades mais calmas (esse raciocínio me parece fazer sentido).

Atividade física, como as outras áreas da nossa vida, devem ter a vida com o estilo de vida que queremos construir. Se eu não me vejo fazendo alguma coisa nessa “vida ideal” que quero ter, por que eu investiria tempo agora? (E não estou dizendo que não pode; apenas quero dizer que vale a reflexão para evitarmos perder tempo naquilo que não tem a ver com a gente).

Eu quis falar sobre esse assunto hoje, e na verdade eu poderia fazer vários textos apenas sobre isso, porque mais do que nunca eu tenho aplicado esse estilo de vida que quero construir (e estou construindo diariamente). Tive inúmeros exemplos nas últimas semanas em que precisei tomar decisões – de assuntos grandes, do inventário, até assuntos menores, do cotidiano (devo ou não comer tal coisa?), e que pensar em “o que a Thais faria?” (rs) me foi útil.

Outro dia li sobre o Salvador Dalí. Que, quando ele acordava sem inspiração, ele se perguntava: “o que o maravilhoso artista Salvador Dalí faria em um dia como hoje ou em uma situação como essa?”. E então ele se inspirava em seus próprios insights para poder viver um dia (e uma vida) feliz.

Sei lá – penso que, muitas vezes, buscamos tanta inspiração fora da gente que esquecemos que a principal fonte está aqui dentro. Com o passar dos anos, vou aprendendo mais sobre mim mesma, entendendo o que é natural para eu fazer, como eu penso, como eu me sinto, o que é coerente com quem eu sou, e consigo aplicar isso – sem culpa – no dia a dia, em áreas diversas. Eu diria que isso tem me mantido a salvo de uma depressão maior. (Para quem não sabe, já passei por alguns momentos de depressão severa na vida. A depressão é uma doença que você mantém sob controle, basicamente, e precisa ficar de olho para que ela não volte em momentos difíceis.)

Às vezes, quando acordo chateada ou desanimada, eu pergunto: “o que a Thais do Vida Organizada faria em um dia como hoje?”. E pode parecer besteira, mas isso me inspira a “lembrar” mesmo quem eu sou de verdade e a fazer as coisas com alegria e senso de aproveitamento. É, em resumo, pegar quem eu sou de verdade e trazer para todas as atividades do cotidiano, de modo que, cada vez mais, eu viva a vida que acredito ser a melhor vida que eu possa viver. Posso não estar vivendo hoje, a vida ideal que imagino para mim. Mas sei que, buscando dentro de mim, cada dia que passo eu chego mais perto. E, igualmente, aproveito cada um dos meus dias, o que para mim é muito mais importante nessa jornada inteira.

O ato de cozinhar e estar presente

Quando eu falo sobre organização da rotina de preparo de refeições para o dia a dia, é normal receber comentários sobre a falta de tempo e a rotina ser corrida. Tanto que até os posts sobre isso vão nessa linha, porque meu interesse sem dúvida é ajudar. Mas hoje, escrevendo o último post da semana sobre o tema “alimentação”, eu senti que não poderia deixar de abordar um assunto que considero importante para todas as áreas da nossa vida – especialmente a comida. É a prática, o hábito, de buscar curtir o momento e estar presente naquilo que está fazendo.

Entendo que, no dia a dia, possamos precisar fazer as coisas “correndo”. Mas eu sinceramente acredito que a gente deva tentar fugir disso com o passar do tempo. Afinal, a que serve essa correria? Ela é boa? Ou é apenas um sintoma de uma sociedade doente como um todo? Se precisamos correr até para preparar as nossas refeições, não tem algo muito, muito errado?

Tenho refletido sobre isso porque eu mesma tenho meus momentos de correria também, claro. Às vezes foi uma reunião que terminou mais tarde e, quando eu chego em casa, preciso agilizar o jantar antes de outro compromisso à noite (uma aula, por exemplo). Mas é muito fácil fugir da responsabilidade pela própria vida e deixar isso rolar sempre. Então o que eu tenho tentado fazer, sinceramente, é pensar sobre soluções para casos como esse. Como eu poderia me manter tranquila e presente mesmo em situações com tendência à correria?

De maneira geral, me preparar antes. É isso. Se tem potencial para ser corrido, entender que de fato será, se eu deixar para preparar o jantar naquele período entre compromissos. Então preparo um dia antes, ou planejo algo mais rápido de ser preparado, ou simplesmente delego essa tarefa. Mas deixar a correria como padrão é ruim (para mim). Não faz meu estilo.

Um dos maiores prazeres do meu dia a dia é cozinhar. Existem algumas atividades que me colocam em um estado de fluxo associado à criatividade. Cozinhar é um deles. Gosto de cortar os legumes devagar, prestando atenção nas sementinhas que estou tirando, em lavar os alimentos. Preparo o mise en place bonitinho. Vou lavando as panelas e utensílios enquanto cozinho. Mexo a comida na panela com calma, observando o cozimento. Leio uma revista enquanto espero, ou canto uma música que esteja passando no rádio. É cerca de uma horinha do meu dia em que simplesmente curto fazer aquilo. Pra que fazer com pressa?

Faço mea culpa aqui, porque não cozinho todos os dias. Tem dias em que estou viajando ou passo o dia fora de casa, em eventos diversos. Mas, quando estou em casa, gosto de cozinhar. E felizmente isso tem acontecido cada vez mais.

Quando falo sobre estar presente e engajada no ato de cozinhar, trata-se na verdade de um exercício que procuro trazer para todas as áreas da minha vida. Viver com significado é um ato de coragem. Somos a resistência. E a resistência serve justamente para fazer frente àquilo que queremos mudar.

5 coisas que me ajudam a “viver o momento”

Comentei nos últimos dias sobre como tenho me sentido com a mente plena e vivendo os dias de acordo com o que sinto que deva ser o melhor ritmo para mim. Então hoje neste post quero trazer algumas “dicas”, baseadas na minha experiência, para que você possa fazer isso também.

Auto-crítica

Uma coisa que percebi que parei de fazer e que me ajudou nesse estado foi a parar de me criticar ou tentar ser perfeccionista. Já há anos venho me desapegando dessa ideia, e focando que o feito é melhor que o perfeito não feito, mas ultimamente eu tenho simplesmente parado de “achar” que eu ‘deva” estar sentindo isso ou aquilo no momento. Sou quem eu sou, sinto o que sou, e simplesmente respeito o meu momento. Sei que tudo são fases e, se estou triste, respeito a tristeza. Se estou alegre, não deixo ninguém derrubar essa alegria.

Passado

“Quando eu estudava jornalismo, deveria ter feito tal coisa.” “No meu último emprego, teria sido melhor ter escolhido tal opção.” Eu simplesmente parei de pensar nos “e se”s do passado e aceito cada vez com mais carinho que tudo o que aconteceu na minha vida foi o que me fez estar neste momento de vida hoje, e sou grata.

Permissão

Tem um pouco a ver com o primeiro item, mas é mais associado ao que eu sinto aqui dentro. Eu tenho meus valores, meus princípios, meus sentimentos, meu modo de viver a vida. As outras pessoas têm seus modos diferentes. Eu não espero mais que ninguém “aprove” o meu estilo de vida. Sou quem eu sou, e cada vez mais me dou permissão para fazer o que meu coração diz que devo fazer.

Impermanência

Não fico mais me preocupando excessivamente se algo deve ou não ser feito, se devo agir assim ou assado. Se eu sentir que devo fazer algo, eu faço. Se sentir que não deu certo, eu reajusto a rota. Numa boa, sem melindres. As decisões que eu tomo não precisam ser definitivas, porque muitas vezes no momento da decisão eu não tinha a experiência que viria somente depois de tê-la tomado e vivenciado. Faz sentido? Então é ok reajustar.

Engajamento

A todo momento, quero viver de verdade o que está acontecendo. Não quero fazer as coisas “por fazer”. Quero acreditar que tudo tem um sentido. E não falo sobre grandes acontecimentos apenas – muito pelo contrário, falo do dia a dia mesmo. De acordar em tal horário por determinado motivo. De ficar até tarde acordada porque, para mim, naquele momento parecia o certo a ser feito – e curtido. Tenho curtido mais o momento. É isso.

O que eu posso – e o que eu não posso – resolver agora

Nesse último sábado, dia 9, eu ministrei um curso em São Paulo de GTD com foco em projetos e prioridades. Como todo curso de GTD, é um dia feliz em que eu me sinto alegre por fazer aquilo que eu gosto, e o dia todo flui muito levemente, pois já sei todo o “script” de cor e me divirto muito falando, dando exemplos e tirando dúvidas.

Quanto mais falo sobre GTD, mais eu percebo o quanto é importante, quando se trata de produtividade, que a gente exercite o foco e o sentido de mente plena em tudo o que estiver fazendo.

Não me considero ainda “100% ok” após a morte da minha avó – se é que existe esse estado. Não sei se todos que acompanham este blog sabem, mas minha avó foi como uma mãe para mim. Fui morar com ela ainda muito jovem. Ela, de certa maneira, sempre foi meu ponto de apoio – a pessoa que eu sempre voltava quando precisava de colo ou alguma orientação para a vida. E, de repente, ela não existe mais. É um sentimento meio Marvin que me trouxe uma liberdade que tem seus prós e seus contras.

Um exemplo bem simples. Sempre quis morar fora do Brasil. Teve uma vez que isso realmente quase aconteceu de verdade. Tinha planos, economias, tudo caminhando. Mas, por motivos pessoais, não deu certo. E, toda vez que eu pensava sobre o assunto, eu concluía assim: “enquanto a minha avó estiver viva, vou querer estar perto dela”. E então veio o Paul (nosso filho), e viemos morar perto dela para que ela vivenciasse essa rotina com ele. Foi uma das coisas mais bonitas e acertadas que já fiz. Eles viveram ótimos momentos juntos, do cotidiano mesmo, de corrigir lição de casa da escola até jantar pizza em uma terça à noite. Quando ela se foi, percebi que minha vida era, de certa maneira, um pouco mais desapegada das coisas. Não estou dizendo que vamos sair do país – mas é um sentimento de que eu posso. Sabem? E para várias outras coisas também.

Junto com a morte de um ente querido, tem todas as questões emocionais, mas também as questões financeiras e burocráticas. Por mais organizado que você seja, é sinceramente uma chateação. É um dado novo que aparece e retarda o processo, um número que estava errado, a indisponibilidade das pessoas – e você tendo que resolver tudo mesmo sem estar 100% legal e com outras coisas acontecendo ao seu redor. (Prometo que falarei mais sobre esse tema em posts futuros).

Estou escrevendo tudo isso porque, no sábado, enquanto falava sobre projetos, sobre prioridades, eu fui me sentindo cada vez mais certa sobre o meu ritmo atual. Do meu ponto de vista (e isso obviamente vem do GTD), problemas servem para serem resolvidos, quando você pode resolvê-los. Se não pode, tudo bem, então não se estresse com isso. Tem coisas que simplesmente fogem do meu controle no momento, e eu não sou a “gerente” da vida de todo mundo – no máximo da minha. Tenho deixado mais as coisas rolarem e as pessoas aprenderem com seus próprios erros.

Todo mundo tem problemas. Todo mundo passa por situações difíceis. E eu sempre fui aquela pessoa preocupada com todo mundo, querendo ajudar – muitas vezes me doando excessivamente e prejudicando alguns aspectos da minha vida. Talvez seja algo que eu tenha pego da minha avó (ela também era assim).

Com a morte dela, eu aprendi que não é que a vida é breve, mas que ela deve ser leve. Tanto sofrimento, tanto problema, tanta preocupação, para um dia você nem estar mais aqui. Então minha resolução atual é: não vou mais me estressar, não vou mais me preocupar, com nenhum dos meus problemas. Para todas as coisas, vou analisar com carinho o que estou sentindo a respeito e tomar decisões que me permitam engajar de determinada maneira. Se eu posso ajudar, como posso fazer isso? Se não posso ajudar, como posso ficar bem a respeito? Eu mesma tenho bastante coisa para resolver na vida no momento, na minha vida. Então preciso estar 100% para mim e para os meus, para fazer as coisas andarem.

Por outro lado (dos problemas), tem as coisas boas. Tem as novas iniciativas, meus novos estudos, o fim do semestre no mestrado, o bolão da Copa com o Paul, novos hobbies, amizades. Eu me aproximei de muitas pessoas queridas nas últimas semanas. Pessoas que demonstraram seu carinho de uma maneira incrível para mim, e que eu quero ter por perto para demonstrar que tenho carinho por elas também.

Eu sinceramente não vou perder tempo com aquilo que não merece ou que não precisa ter a minha atenção no momento. Eu sei que é algo um tanto quanto óbvio e que todo mundo sabe que é bom fazer dessa maneira, mas ao mesmo tempo eu sinto que é um daqueles conselhos que ninguém aplica. E é um depoimento dessa prática que estou trazendo neste post hoje. Tem sido ótimo. Um novo estilo de vida para mim. Me sinto livre para sentir, pensar e criar a cada dia a vida que acredito ser a mais correta. E isso sinceramente não tem preço.

Boa semana.

O que fazer se você estiver sobrecarregado(a)

Hoje eu gostaria de compartilhar uma habilidade que aprendi e que tem me sido muito útil desde então. É a habilidade de reconhecer quando abriguei atividades demais na vida e o que eu faço para lidar com essa situação.

É muito comum, para quem é produtivo e gosta de fazer as coisas, abrir espaço na vida, otimizar o tempo, e aí acreditar que pode fazer MAIS com esse tempo que tem. E aí vai trazendo mais atividades. Enquanto as coisas vão bem, está tudo certo. Mas, de repente, parece que tudo vira uma avalanche e você pode se ver bastante sobrecarregado(a). Os problemas simplesmente começam a aparecer: saúde debilitada, nada de tempo para lidar com as pessoas com as quais se relaciona, não dá conta das entregas etc.

Se você se encontra nessa situação, saiba que apenas VOCÊ pode sair dela. Não adianta esperar o seu chefe, o seu namorado (ou namorada), filhos, amigos ou quem quer que seja que chegue até você e traga a solução. Você é responsável pela sua própria vida, e enquanto não solucionar o que está acontecendo, não adianta esperar o tempo passar para resolvê-la. Ela não vai “se resolver”. Você precisa dar uma basta em algumas coisas.

A primeira delas, sem dúvida, é fazer uma análise honesta de todas as atividades que abrigou na vida para decidir quais são realmente essenciais.

Dentro dessas atividades essenciais, certamente você terá também atividades que precisam ser feitas no momento, enquanto outras podem ser delegadas ou colocadas em stand-by – sei que não é o ideal, mas pelo menos durante um tempo, enquanto você foca nas entregas principais.

Quando você define o que é essencial, certamente você vai se deparar com pessoas. Relacionamentos permeiam todas as áreas da nossa vida e, a não ser que você queira fazer tudo sozinho(a), você precisa lidar com as pessoas e dar atenção a elas também.

Imagem: No dia a dia

O coaching tem uma ferramenta chamada “roda da vida”, onde as principais áreas da vida de uma pessoa são colocadas e você pode fazer uma auto-análise para entender qual seu nível de satisfação em cada uma delas. A recomendação, no coaching, é que você escolha UMA área que traria mais impacto na sua vida hoje, se você a melhorasse, e eu recomendo que você faça isso também.

Escolher uma área traz FOCO e dá noção de PRIORIDADE. Se você escolher “saúde e disposição”, por exemplo, a ideia é que privilegie atividades que promovam saúde e disposição. Isso vai fazer com que você deixe várias coisas de lado, inclusive para dormir melhor.

Eu sou da opinião que não é possível viver uma vida cheia de problemas e reclamar diariamente deles. Ou a gente pode solucionar, ou a gente não pode. Se não pode, não adianta ficar reclamando. Eu acredito em uma vida mais leve, feliz, em que a gente trate os problemas como projetos e, para tudo aquilo que não podemos resolver, a gente consiga desenvolver um sentimento de gratidão para entender por que está acontecendo, e que aprendizado podemos tirar.

O que não dá, do meu ponto de vista, é sobreviver aos dias como se a vida não acabasse nunca. Temos que aproveitar o dia. Não se trata de abrigar mil atividades na vida em busca de um futuro que você pode nem chegar a viver. É importante trabalhar pelo amanhã, mas tão importante quanto o amanhã é curtir bem o HOJE, o momento, a jornada.

Não deixe sua vida passar, em meio a tantas reclamações. Pare AGORA e aplique o que você leu neste post. Depois me conta.

Dá para ser pesquisadora e empresária ao mesmo tempo?

Bom, se você não se fez essa pergunta, saiba que eu a faço bastante. O tempo inteiro, eu diria.

Agora que entrei de cabeça na vida acadêmica eu percebo como a academia está distante do mercado. Só o fato de eu repetir essa frase, que é amplamente falada no meio acadêmico, já mostra como existe esse distanciamento. O distanciamento começa na diferenciação. Quem disse que a academia não é o mercado também? Mas voltemos.

O enfoque que eu quero dar neste texto é outro. É discutir como que se consegue ficar em um evento acadêmico recebendo mensagem de cliente no What’s App, precisando da sua resposta o quanto antes. E o que quero trazer como proposta é que a resposta não seja nem 8 nem 80. Vamos tentar problematizar.

Esta semana, estou participando de um evento acadêmico, como ouvinte (o meu primeiro – leia mais aqui). Já participei de outros como organizadora, mas como ouvinte/estudante é a primeira vez. E, no meio da conferência de abertura, olhando ao meu redor – só estudantes e professores, eu me fiz a seguinte pergunta: “para ser do meio acadêmico, é necessário ter a carreira de pesquisa como o meu ikigai?”

Ikigai, para quem não sabe, é uma palavra japonesa para a arte que te leva a descobrir o seu propósito de vida (em resumo).

Eu já acho que essa busca pelo propósito bota uma baita pressão na nossa vida de maneira geral. Por que eu tenho que ter um propósito grande, em primeiro lugar? E por que eu teria que ter apenas um? Foco? Mas não posso focar em mais de uma coisa? Foco em um único propósito não me limitaria? Eu não posso encontrar o propósito em pequenas coisas do dia a dia?

Fazendo aquela pergunta ali de trás para mim mesma, eu descobri que “apenas” ser pesquisadora “não é” o “meu” ikigai. Assim como ser empresária não é o meu ikigai. Eu vejo todas essas frentes apenas como formatos. Eu as vejo como o COMO, não como o O QUÊ. E isso é bom. Tirou uma carga das minhas costas.

Porque vejam, eu estava preocupada. “Será que não estou deixando minha empresa de lado para focar nos estudos?” Se eu deixar a minha empresa de lado, não vou ter dinheiro para pagar os estudos – para começar. Eu me dei um mês de empolgação (e imersão total) com o mestrado, mas agora é hora de colocar a cabeça no lugar e equilibrar as coisas.

Quando eu comecei no mestrado, tive uma semana bem punk. No sentido de ter muitos compromissos e agendamentos. Naquela semana, me dei de presente uma massagem. E, durante a massagem, eu pensei: “coloquei uma coisa grande e volumosa a mais na minha vida. Se eu não quiser abrir mão de outras coisas que são importantes para mim, eu vou ter que pensar em soluções diferentes”. Foi quando veio a ideia de finalmente contratar um auxiliar administrativo.

Durante a conferência de abertura do evento, em um momento meio de perguntas e respostas sobre um tema que não me interessou, fui checar as minhas mensagens para ver se tinha algo urgente. Tinha. Uma cliente que queria inscrever seis pessoas para um curso meu e precisava dos meus dados para fazer o pagamento. Obviamente pude respondê-la porque já tinha esses dados fáceis e bastava copiar e colar. Mas foi quando eu percebi que era o tipo de mensagem urgente que não precisaria ser respondida por mim, se eu já tivesse alguém trabalhando comigo. O auxiliar administrativo vai cuidar dessas coisas. O que sobrecarrega quem é empresário é querer abraçar tudo, e não focar em fazer as coisas certas = coisas que só a própria pessoa pode fazer.

Até ano passado, meu propósito de vida estava muito claro para mim. Eu falei sobre ele no post sobre propósito, que escrevi há pouco tempo. Com a entrada na vida acadêmica, eu abri um pouquinho o leque, no sentido de querer ir além. Não se trata de só ajudar as pessoas a serem menos estressadas. Se trata de pensar no macro, no sistema econômico que vivemos (e que impacta diretamente no mundo do trabalho) e em como eu posso minimizar a agressividade desse sistema sobre aqueles que trabalham e têm sonhos.

Faz pouco mais de um mês que eu comecei o mestrado e já dei um monte de dicas de organização e produtividade para os meus colegas de sala, e até alguns professores. “Você conhece o Evernote? ” Já ouviu falar em GTD?” “Não se sobrecarregue – encontre a dose mínima viável”. Etc. Porque eu faço isso naturalmente. Eu gosto de ajudar. E percebi que tenho uma grande contribuição com relação a isso quando me tornar professora e orientadora. Eu posso ajudar as pessoas nesse sentido.

O meio acadêmico tem muitas pessoas doentes. Que acham que é normal “surtar” em determinado momento da pesquisa. Que deixam a redação dos artigos para a última hora. Que não vinculam sua pesquisa às disciplinas. Mas, mais do que isso, que não vinculam a sua própria pesquisa ao tal “mercado”.

Outro dia, em sala de aula, perguntei para o meu professor de Metodologia como um mestrando poderia saber qual a melhor disciplina para ele dar aula um dia – se de acordo com a pesquisa, ou de acordo com a experiência de mercado, se ele a tivesse – e ele me deu uma resposta muito legal e experiente, que foi: você tem um conhecimento que vai te tornar conhecido na área, ponto, mas o que realmente vai direcionar é a demanda do mercado, da instituição.

Aí eu perguntei para alguns colegas que “vieram do mercado” se eles se sentiriam mais seguros para ministrar uma disciplina que refletisse os seus conhecimentos de mercado ou se refletisse a pesquisa, e TODOS responderam “minha experiência no mercado”. Eu mesma me sentiria mais à vontade (hoje) para ministrar disciplinas de criação de conteúdo para Internet que para epistemologias e teorias da Comunicação (minha pesquisa), por conta da bagagem mesmo. Mas isso deve mudar até o fim do mestrado, ou não.

A solução então seria sempre buscar estudar aquilo que nos é familiar? Mas qual o desafio nisso? Que novidade trarei com a minha pesquisa? Eu gosto da ideia de me aprofundar em um tema diferente, mas que de certo modo conversa com o que eu faço, porque isso me desafia a estudar, ler mais, pesquisar. Mas cada vez mais me convenço de que um pesquisador não está fora do mercado – é um mercado por si só, que existe. Agora, dá para fazer mais de uma coisa na vida? A cidadã aqui conseguirá ser empresária, professora e pesquisadora? Eu penso que sim, se eu vir tudo isso como meios, e não como fins por si só. O que eu acho que é uma abordagem disruptiva não só para o meio acadêmico como para o mercado em si (olha eu diferenciando os dois de novo!).

É possível sim a gente pesquisar, buscar significado, ensinar outras pessoas, e também ter uma relação saudável com a nossa “outra” profissão “de mercado”, gerenciando uma empresa, criando projetos. Do meu ponto de vista, basta não ver as atividades como fins em si mesmas, o que já as limitaria o suficiente. Se o propósito existe, tudo o que posso fazer é equilibrar os “COMOs”, e mais sensacional ainda é fazer com que esses “COMOs” se ajudem e se complementem.

O relacionamento que você tem consigo mesmo(a)

É muito comum ouvir e ler por aí declarações de amor como “você é o amor da minha vida”, “você é tudo para mim” ou “sem você minha vida seria vazia”. Apesar de bonitas e intensas, essas frases podem ser perigosas. Porque, quando colocamos a nossa felicidade fora da gente mesmo, em outra pessoa, isso significa que, se a pessoa for embora, nos sentiremos vazios. Então será que o foco correto não seria outro?

Nunca fui muito com a cara do conceito de “cara metade”. Passa a ideia de que a nossa “metade da laranja” está por aí, e que precisamos dela para nos sentirmos completos. Hoje, depois de adulta, o que eu percebo é que só quando a gente se sente inteiro – e isso significa se conhecer bem, ter seus próprios limites, saber o que quer – a gente tem auto-estima e auto-confiança para conhecer e se relacionar com outra pessoa que seja inteira também. Então não se trata de “metade”. Mas de parceria.

Uma das coisas que apendi no budismo é sobre o apego. Nós nos apegamos a coisas e pessoas acreditando que elas nos trarão felicidade. Nos apegamos ao dinheiro, aos bens, acreditando que, ao ter essas coisas, teremos felicidade, pois nos traz segurança. Então nos apegamos a algo externo – colocamos a nossa felicidade em fontes externas. E o problema disso é que a posse não existe, na verdade. Desse mundo, nada se leva. Então é por isso que, quando as pessoas perdem algo ou alguém (na verdade, é a ilusão da posse), elas se sentem vazias.

No final das contas, apego é apenas amor a si mesmo. Auto-apreço. Você quer que uma pessoa fique com você porque, ficar com ela, é o que deixa você bem. Mas e a felicidade da pessoa?

Muitas pessoas são apegadas ao passado, e não conseguem viver o presente. Vivem se comparando com situações que já passaram. Buscam repetir experiências que não se repetirão. Isso causa frustração e sofrimento, tudo por causa do apego.

Talvez a solução seja identificar as rodinhas da sua bicicleta para que você possa seguir livremente. E isso dá um frio na barriga, porque andar de bicicleta sem rodinhas significa que só depende de você. E não é assim mesmo na vida também?

“Depender de você” significa entender que, antes de qualquer coisa ou outra pessoa, vem você. Que você precisa estar bem para fazer outras pessoas felizes. Para cuidar dos outros. E quantos de nós não nos negligenciamos com o passar dos dias?

Olhe com mais carinho para o que VOCÊ quer, não para o que o seu parceiro (ou parceira) quer, o que o seu chefe quer, o que o seu filho quer, o que a sua amiga quer. Isso não significa ser egoísta. Significa ter integridade.

Dessa maneira, a gente conseguirá viver o presente, o agora, sem se preocupar se “está fazendo a coisa certa”, porque não fere a si mesmo.

  • Desenvolva uma relação mais saudável com você mesma(o). Pare de falar palavras ofensivas contra você mesma(o). Não se critique ferozmente. Olhe com mais carinho para quem você é. Identifique falhas e pontos a melhorar, mas reconheça também os pontos mais fortes, que transformam você em uma versão melhor de você mesmo(a).
  • Exercite estar presente em cada momento. Se vai almoçar, coma. Não fique olhando no celular. Preste atenção na alimentação, no ritmo do seu corpo. Se for dormir, concentre-se em seu descanso. Se estiver brincando com os seus filhos, esteja ali. É realmente um exercício.
  • Reflita sobre as coisas e pessoas que você tem medo de perder. Por que você tem medo de perder? Essa reflexão te ajudará a entender um pouco mais sobre os seus próprios sentimentos e, assim, conseguir trabalhar neles.

Mais uma vez, é uma construção diária. Mas, como andar de bicicleta, o segredo está em se manter em movimento.