Carta da Editora: Sobre a nossa espiritualidade

Como já comentei com vocês algumas vezes por aqui, eu organizo um calendário editorial com bastante antecedência para fazer pesquisas, estudar e me preparar para escrever (e agora gravar) os conteúdos que entrarão nos diversos canais do Vida Organizada.

Em detrimento dos últimos acontecimentos, no entanto, eu resolvi mudar “de última hora” o calendário editorial do mês de junho. Eu falaria sobre outro tema diferente, mas resolvi antecipar o que eu falaria mais adiante, que era sobre espiritualidade.

Antes mesmo de a minha avó morrer, eu já estava com vontade de antecipar esse tema porque ele vem se tornando cada vez mais latente em minha vida. Desde uma viagem de férias que fiz no final do ano passado, com a minha família, resgatei fortemente esse meu lado, então tenho bastante coisa que eu gostaria de compartilhar.

Eu sou budista. Me tornei budista em 2008, acredito. Passei por um período bem peculiar da minha vida, quando abracei (com força) o minimalismo e me desfiz de muita coisa. Já contei essa história aqui no blog e hoje tenho uma visão um pouco mais gentil sobre mim e essa linha (leia aqui).

Nessa época, eu sentia falta não de uma “conexão maior” (nunca fui muito religiosa), mas de uma prática que fosse aliada à minha espiritualidade. Eu tinha buscado outros caminhos antes, mais voltados a práticas da natureza, como o druidismo. Mas, em 2008, comecei a praticar meditação, e isso me ajudou muito na época. Só por volta de 2012 ou 2013 que eu efetivamente passei a frequentar um centro budista e, além de meditar, fazer parte das atividades religiosas em si.

Quando mudamos de Campinas para São Paulo, ficou difícil acompanhar as atividades no centro de SP porque eu morava muito longe. Até tentei, mas complicou realmente, então parei durante algum tempo. Mas nunca deixei de praticar. A meditação não tem uma ligação única e restrita com a religião. Qualquer pessoa pode meditar. Isso é um ponto importante.

Sempre fui uma pessoa que gosta de métodos. Acredito que os métodos nos dêem um caminho mais curto e curado para fazermos qualquer coisa de uma maneira mais bem feita. No Budismo, tem muito disso. As 4 nobres verdades. O caminho dos 8 passos.

Existem duas vertentes que eu me identifico muito no budismo. A primeira é o zen budismo. Foi onde eu comecei, e até hoje gosto de ler e estudar a respeito. Mas a segunda, e que gerou uma identificação maior, foi a NKT (Nova Tradição Kadampa), que baseia seus ensinamentos no Lamrim Kandam – ensinamentos de sutra e tantra que datam de 1d.e.c. Trata-se realmente de um caminho que você percorre até a sua libertação e iluminação.

A base para o estudo do Lamrim é um livro da tradição chamado “Caminho Alegre da Boa Fortuna”, que inclusive eu já falei aqui no blog há alguns anos, quando fiz um post com indicações de livros sobre o budismo.

A prática do Lamrim “divide” o caminho em três etapas. A primeira etapa, chamada de escopo inicial, trata de problemas mais “mundanos”, por assim dizer. Nos ensina como lidar com a raiva, como aprender a meditar, enfim, foca em aspectos que nos conduzam à felicidade. A segunda etapa, chamada de escopo intermediário, conduz o praticante à libertação individual. A terceira etapa, chamada de grande escopo, conduz à plena iluminação. No centro budista, é comum existirem cursos básicos e avançados para estudar esses temas, mas o grande X da questão é a aplicação no dia a dia.

A aplicação no dia a dia envolve não apenas o estudo e a prática de meditação, como o desenvolvimento da disciplina moral, que é basicamente o “caminho do bodisatva”. “Bodisatva” é uma pessoa que está dedicada a alcançar a iluminação, praticando sinceramente. Existe até um bom livro sobre isso, chamado justamente “O caminho do bodisatva”, que traz as práticas a serem observadas. Eu tenho uma checklist com todas elas (rs), que reviso diariamente para garantir que esteja no rumo. Existem diversas “quedas” que qualquer ser humano está propenso a “cair”, e nesse livro temos explicações sobre elas e como “tratá-las”, até o ponto em que você simplesmente não cai mais nelas.

A prática da NKT envolve meditação, datas comemorativas (onde se fazem preces cantadas aliadas a mais meditação), eventos e cursos de aperfeiçoamento em tais conceitos. O “ecossistema” é totalmente mantido através de voluntários (para as atividades) e dinheiro das inscrições dos cursos (para pagamento do aluguel do local, contas básicas etc).

Minha prática pessoal hoje envolve:

  • Meditação diária, e mais de uma vez por dia
  • Estudo do Lamrim
  • Observação constante dos meus atos
  • Trabalho voluntário
  • Viver a vida de acordo, de fato

Tenho praticado intensamente e sileciosamente nos últimos tempos, mas agora fiquei com vontade de falar mais a respeito. Não sou uma pessoa extremamente dedicada às liturgias da religião em si (já fui), então hoje gosto de ler sobre outros caminhos, outras religiões, conhecer outras práticas. Mas acho que vai muito da época e das aspirações como ser humano mesmo, sem certos e errados.

Quis trazer esse tema para junho porque, mais do que associado à religião, a espiritualidade é algo intrínseco a nós. Tem a ver com a vontade humana de buscar significado além do mundano.

Você gostaria de ver algum tema específico sobre esse assunto aqui no blog este mês? Por favor, deixe um comentário. E obrigada por estar aqui. 🙂

Carta da editora – Finanças em ordem

Existem alguns assuntos que são de grande importância em determinadas épocas do ano, mas nenhum tão importante quanto falar sobre organização das finanças neste ano que estamos vivendo. Em um país com 12,7 milhões de pessoas desempregadas e muitos trabalhos informais, mais do que nunca ter as finanças organizadas é um tema importante a ser destacado.

Por isso, nosso tema para o mês de dezembro será organização das finanças. Sim, falaremos sobre Natal, verão, férias, planejamento do ano que vem, mas traremos diversos conteúdos com o objetivo de ajudar você a ter suas finanças mais organizadas para começar o ano bem.

Existe muito a ser falado sobre esse tema. Aqui no blog vamos trazer desde os assuntos mais básicos até recomendações um pouco mais avançadas para quem quiser se aprimorar a respeito das finanças pessoais e da empresa.

Uma coisa é fato: a organização sempre torna tudo mais fácil, e isso não poderia ser diferente com as finanças. Portanto, pegue seu caderno de anotações, tenha boa vontade vinda do fundo do seu coração, e prepare-se para organizar as suas finanças este mês e tirar aprendizados que poderá levar não apenas para o ano seguinte, mas para toda a vida.

Caso você tenha algum assunto específico que gostaria de saber sobre organização financeira, por favor, deixe um comentário neste post.

Bom mês de dezembro para você. Último mês do ano, vamos lá!

Carta da editora – Novembro 2017

O mês de novembro aqui no blog será dedicado ao tema planejamento. Muitos textos já foram publicados aqui no blog sobre esse assunto, mas o legal dos blogs é sempre trazer as visões mais atualizadas sobre qualquer tipo de assunto, inclusive esse.

Quero falar sobre o que entendo como planejamento, como planejo meu ano, os meses, as semanas, os dias, os horários, a vida a curto, médio e longo prazo e por aí vai!

Você tem dúvidas sobre que ferramentas usar para se planejar? Vou falar sobre isso também.

Eu penso que planejar seja um grande ato geral que fazemos com a nossa vida de modo a vivê-la mais plenamente. Podemos ir no nível macro, e pensar na vida como um todo, até ir no nível micro, planejando qual a próxima coisa mais importante a se fazer momento a momento. Todos esses planejamentos são importantes – e planejamento é diferente de engessar a vida e tirar toda a sua espontaneidade. Falarei sobre isso também!

Por hora, este post serve para apresentar a temática mensal e também para perguntar: existe algum post sobre esse assunto que você gostaria de ver aqui este mês? Deixe um comentário. Obrigada!

O poder de criação no nosso dia a dia

Há alguns anos, eu descobri que “criatividade” era um valor muito forte e importante para mim. Para tudo, na minha vida, se eu pudesse aproveitar o meu poder de criação para construir, personalizar ou mesmo acrescentar elementos, qualquer coisa ganhava novos ares e me dava motivação para fazer. Foi quando eu percebi que deveria buscar isso então nas coisas que eu estava fazendo, de uma maneira ou de outra. Quando eu não podia criar, sentia meu nível de satisfação e motivação ir lá para baixo.

Aos poucos, comecei a desenhar um estilo de vida que me permitisse viver dessa criação. Eu gostaria de poder aplicar ao meu trabalho. À minha casa. À minha família. À mim mesma. Afinal, mesmo quando vou preparar uma refeição para a minha família, o que estou fazendo é criando. Aprender isso foi um dos grandes momentos “a-ha” da minha existência.

Mais do que ter a criação como um evento, foi fundamental trazê-la para o dia a dia, como princípio – para tudo o que eu for fazer, quero aplicar meu poder de criação. É possível? Foi o que passei a buscar.

O tema que quero trazer neste mês de outubro é justamente as maneiras de criarmos diariamente. Seja com um relatório que preciso escrever para o trabalho, a roupa que vou vestir amanhã ou até mesmo a maneira de escovar os dentes. Alguns chamariam isso de “hackear a si mesmo”. Eu não acho que precisamos de termos hipsters ou modernos para isso. Até a bíblia fala sobre o poder de criação. É algo intrínseco à humanidade.

Gostaria de fazer um convite para que você pensasse melhor no seu dia de hoje ou na sua rotina atual. Que horas você gostaria de acordar? Como você gostaria ou poderia criar isso para você mesmo(a)? E seu café-da-manhã? Como você poderia criar a manhã de uma maneira que te agrade? Como poderia ser o seu trabalho? E as roupas que você veste – seu estilo pessoal? Suas amizades. Seu relacionamento amoroso. As coisas que te fazem dar risada. Sua casa.

A vida, por si só, nasceu de um ato de criação. Não deixemos que a beleza desse ato se perca em e-mails e outras pequenezas do nosso dia a dia. Cutuque a si mesmo(a) quando se olhar no espelho. Abrace a vida, dia a dia.

O poder da organização ao buscar as decisões dentro de você

David Allen, autor do método GTD, recomenda que a gente revise nosso propósito e nossos princípios toda vez que tivermos que tomar decisões importantes. Isso vale para seu propósito pessoal, mas também para o propósito de um projeto, de uma ação e de qualquer outra atividade. Hoje eu queria falar um pouquinho sobre esses valores internos. A gente não define valores – a gente os tem. E aí a gente vai descobrindo ao longo de uma vida inteira aquilo que a gente verdadeiramente é – e isso é um processo íntimo, porque muitas vezes temos “defeitos” (ou “pontos de melhoria”, o eufemismo da vez) que são tão intrínsecos que dão até um pouco de vergonha de compartilhar com quem quer que seja. Mas, como disse a Clarice Lispector, é complicado cortar defeitos porque a gente não sabe qual é a característica que sustenta o nosso edifício inteiro.

Toda vez que passamos por períodos difíceis, ou precisamos tomar decisões complicadas, é como se a gente recebesse um badge. “Passei por isso!”. Mas o que temos que identificar é o aprendizado que tiramos. Quando você toma uma decisão difícil, certamente ela foi pautada em princípios que, talvez, até então estivessem ocultos para você. Talvez você simplesmente não tivesse percebido que eles estavam aí dentro. Você teve que passar pela tal situação, pela dificuldade, para identificá-los. E identificar esses princípios, esses valores, é muito importante porque, uma vez tendo identificado-os, você pode usá-los como critério para decisões futuras.

O que isso tem a ver com organização? Tudo! Porque você não perderá tempo se “martirizando” pensando o que deve fazer ou não.

Tem outro aspecto importante também, que é o nosso amadurecimento e a nossa mudança ao longo dos anos. Os princípios e valores dificilmente mudam. Mas algumas coisas mudam e, talvez, você estivesse chamando de valor algo que era apenas temporário. Um exemplo bem prático: você descobriu que ama viajar. Acha que viajar é um princípio importante para você. Mas aí nascem seus três filhos, e você percebe que gosta mais de ficar em casa e curtindo a vida com eles pelo bairro que ir viajar. Deixou de ser prioridade. Se viajar fosse tão importante, você levaria seus filhos com você. Se você não vai viajar porque prefere fazer outra coisa, talvez seu valor esteja mais intricado na questão da família, da base, da segurança. Mas tem famílias que vivem viajando com os filhos, porque seus valores estão em viajar, descobrir novas culturas, ensinar isso aos filhos. São apenas valores diferentes. A vida é mesmo um eterno aprendizado.

Em termos práticos, como você pode fazer bom uso dos seus valores, princípios e propósito? Em primeiro lugar, buscando propósito nas coisas que você faz. Por que precisa dar esse telefonema? Por que precisa preparar a refeição hoje em casa? Isso pode te ajudar a ver mesmo coisas mundanas através de outra perspectiva. Em segundo lugar, toda vez que se deparar com um problema, por mais cabeludo que seja, veja como uma oportunidade de aprender com ele a como “mudar de fase” no “jogo da vida”. Para ir para a fase seguinte, você precisa passar pelo chefão. Isso acontece em quase qualquer jogo de vídeo-game. Na vida também. Só que, quando a gente enfrenta o chefão, pode sair machucado (e geralmente sai), mas algo nós aprendemos. Esse “algo” pode ser um princípio importante para você. É como se fosse um diamante lapidado. Anote isso em algum lugar e revisite de vez em quando para validar outras decisões – tanto do dia a dia quanto mais importantes.

Frequentemente passamos por situações que, depois que as superamos, dizemos coisas como “depois que me tornei mãe, percebi que…” ou “depois que fui demitido, aprendi que não adianta…”. Todas essas lições mostram princípios que são parte de você. E, uma vez identificados, te ajudarão a tomar decisões futuras difíceis sem pensar muito. E é o tipo de coisa que só quando a gente passa por isso consegue ver o valor. Até lá, você pode apenas confiar em mim. 🙂

Tem a ver com organização porque construir uma vida organizada é basicamente levar uma vida coerente com quem somos. É não perder tempo com atividades que nos agridam emocionalmente. Quanto mais você prestar atenção em você mesma(o), mais critérios puros e certeiros você terá para decidir como investir seu tempo na vida.

O essencial de cada um

Nunca se falou tanto sobre minimalismo como atualmente. Existem tendências, no entanto, que são benéficas, e eu sinceramente acredito que o minimalismo seja uma delas. O minimalismo que eu acredito tem a ver com encontrar o que for essencial – não só em termos de objetos, mas relacionado a valores, princípios, atividades, projetos, objetivos. Se todos nós conseguíssemos nos ater a esse essencial personalizado, poderíamos perder menos tempo com aquilo que não importa.

Nunca se falou tanto sobre minimalismo como atualmente. Existem tendências, no entanto, que são benéficas, e eu sinceramente acredito que o minimalismo seja uma delas. O minimalismo que eu acredito tem a ver com encontrar o que for essencial – não só em termos de objetos, mas relacionado a valores, princípios, atividades, projetos, objetivos. Se todos nós conseguíssemos nos ater a esse essencial personalizado, poderíamos perder menos tempo com aquilo que não importa.

A grande questão é: como descobrir o que é realmente essencial? Muitas vezes, o caminho inverso funciona como filtro mais fácil. Ou seja, refletir sobre o que não quer, sobre o que não tem a ver com a gente, pode ajudar a entender quem nós somos de verdade e o que queremos abrigar na nossa vida.

Muitas pessoas reclamam do seu dia a dia, do seu trabalho, do seu relacionamento, das suas finanças e de tantos outros assuntos relacionados. O que eu proponho é que, em vez de reclamar (ou além de), você use essa reclamação para entender o que é tão insuportável para você. Porque, nessa reflexão, você pode ver as coisas sob outra perspectiva. O seu chefe é chato, mas você gosta do que faz no trabalho. Logo, como atacar o problema em si, que é suportar o relacionamento com o seu chefe e até melhorá-lo? O foco muda. E as coisas boas (como o que você faz no dia a dia) acabam tendo mais significado.

Sobre a nossa casa. Muitas pessoas pensam que ser minimalista significa ter poucas coisas. De fato, é natural diminuirmos a quantidade de pertences. Porém, a ideia é que tenhamos conosco apenas aquilo que realmente seja essencial – e isso inclui parâmetros individuais. Não tem a ver com ter ou não um carro, ou ter ou não um iPhone. Tem a ver com você analisar com calma, diariamente, durante anos, o seu estilo de vida, e entender o que é essencial para você. Essencial pode ser tomar um banho quente e gostoso com um chuveiro maravilhoso, mas você gasta tanto dinheiro com balada e roupas que acaba nunca conseguindo comprar um chuveiro legal, mesmo que mais caro. Entende onde eu quero chegar? Trata-se de análise pessoal e personalizada, que só você pode fazer, e então aplicar isso às escolhas que você faz na sua vida.

Por que perdemos tempo com pessoas, atividades, processos, problemas, objetos que não nos interessam? A vida é uma eterna construção de estilo individual, e esse estilo se representa em tudo o que fazemos e expomos ao mundo. O minimalismo é tão diferente quanto as pessoas são diferentes. O meu minimalismo será diferente do minimalismo de qualquer outra pessoa, porque o que é essencial para mim pode não ser para ela.

Outro dia participei de uma discussão em um grupo virtual sobre minimalismo onde a pessoa perguntou: “qual o celular mais minimalista que existe?”. E choveram respostas como: “aquele novo modelo da Nokia que só faz ligações”. Mas essas respostas já pressupõem que o essencial em um celular seja apenas fazer ligações. Eu, por exemplo, quase não uso meu celular para fazer ligações. Ele é uma ferramenta de trabalho que uso para gravar vídeos e gerenciar minhas redes sociais, além de me comunicar de maneira ágil com pessoas da família e do trabalho através do What’s App. Se eu tivesse um celular como o citado, ele seria inútil para mim – e isso iria contra o que eu considero essencial.

O mesmo vale para qualquer outra coisa: você pode achar que calça jeans é uma peça básica, mas ela não entra no guarda-roupa de outra pessoa, que prefere usar calças de alfaiataria. Por isso, a recomendação é: menos julgamento, mais análise de si mesmo.

[Tweet “Minimalismo: menos julgamento, mais análise de si mesmo.”]

O minimalismo como estilo de vida é excelente porque nos motiva a editar o tempo todo. Será que eu preciso disso em casa? Será que eu preciso tocar esse projeto no momento? Será que eu preciso fazer esse curso? E, com isso, eu libero espaço na minha vida para o que realmente importa – que, certamente, já terá bastante coisa também, mas serão todas coisas maravilhosas e que me motivam, ou que pelo menos me dão perspectiva de escalada para outro ponto onde quero chegar. Já pensou uma vida inteira apenas com o que for realmente importante?

Seja bem-vindo, julho.

O amadurecimento dos relacionamentos organizados

Ter um relacionamento organizado não é ter um relacionamento previsível. A melhor coisa que existe são as bagunças bem-vindas, as surpresas, a espontaneidade das relações. Me refiro ao propósito. Sobre cada um estar inteiro e enxergar naquela outra pessoa um outro ser inteiro também. E, com base nisso, em respeito, atração, amizade, carinho, admiração, e outros sentimentos bons, estabelecerem um relacionamento. Este será o tema do nosso mês de junho.

Não sei se é sintoma da idade. Não me considero uma pessoa velha, apesar de estar me aproximando do que chamam de “meia idade”. E isso talvez apenas garanta que eu tenha vivido mais anos e (talvez) mais experiências que uma pessoa que tenha 16 ou 22 anos. O que quero dizer é que não me sinto de forma alguma mais inteligente, mais vivida ou mais especial que qualquer outra pessoa. São vidas diferentes, e a minha vida, até aqui, construiu quem eu sou hoje e me ensinou coisas. E eu acredito que muito do que um blog seja é simplesmente a visão do autor (ou no meu caso, autora) sobre determinados assuntos específicos. Então, por eu falar sobre organização pessoal, qualidade de vida, produtividade, aproveitamento do tempo, geração de ideias… todos esses assuntos pelos quais eu sou apaixonada envolvem muitos outros, pois estamos falando da vida. No caso dos relacionamentos, este texto mostra a minha visão hoje.

Durante muitos anos, eu sinceramente acreditei que cada pessoa tivesse uma “cara-metade” por aí. Com o passar do tempo, passei a acreditar que na verdade tínhamos “muitas caras-metades” espalhadas pelo mundo, que poderiam surgir em nossa vida em formato de filhos, amigos, parceiros, colegas de trabalho. O que eu acredito hoje de verdade é que o relacionamento mais profundo que você terá, e também o mais significativo, em primeiro lugar, é com você mesmo(a).

Não me entenda mal: não quero dizer, com isso, que tenho uma visão ególatra ou egoísta dos relacionamentos. O que quero dizer é que buscar a metade em outra pessoa (ou mais de uma) é como buscar a felicidade fora da gente. E já sabemos (se é que sabemos algo nessa vida) que a felicidade vem de dentro, em todos os aspectos. Depende do que você pensa, do seu foco, da sua vida, dos seus sentimentos e das suas percepções e modo de viver a vida.

Hoje eu entendo um pouco mais as pessoas que se casam após terem muito mais idade do que convencionalmente se propõe que haja um casamento. Ou me comovo com histórias de pessoas que se conheceram depois de terem “vivido toda uma vida separados”, mas se encontraram, depois de terem se casado, terem filhos, terem construído suas carreiras, terem se separado, terem passado por doenças ou outros problemas. Porque o que a vida gera é um amadurecimento interno gigantesco. E esse amadurecimento nada mais é do que conhecer a si mesmo(a), entender quais os valores, princípios que nos regem, e nos colocar padrões para uma vida extraordinária que aprendemos a construir. E não me refiro apenas a relacionamentos amorosos não. Me refiro a amizades, a parcerias de trabalho, ao relacionamento com os filhos que fica mais leve, ao relacionamento com os vizinhos, com os colegas do clube, com todos. Ao “bom dia” que todo idoso feliz que está fazendo caminhada te dá, mesmo que sejam sete horas da manhã.

“Mas nem todo mundo amadurece com a idade”, você pode pensar. Exatamente. Assim como nem todo mundo alcança independência financeira, constrói uma empresa que muda o mundo ou tem qualquer conquista que você possa considerar algo “nota 10” para sua a vida e os seus padrões. Cada um tem seus parâmetros. E, de acordo com esses parâmetros, decidimos construir a vida como queremos ou não. E existem pessoas que não constróem. Se conformam, ou apenas não querem, porque já vivem a vida como querem (e tudo bem). Para todos os inconformados, a organização da vida, essa construção coerente, existe.

Eu tenho experienciado uma mudança de nível em termos de relacionamentos. Tenho cada vez mais consciência de quem eu sou e de quem eu não sou. Não sou perfeita, cometo erros. Mas essa percepção sobre quem eu me tornei e quem eu estou me tornando tem me ajudado a lidar melhor com as pessoas nas diferentes frentes da minha vida. Aprendi a dar valor a algumas delas. Percebi que alguns relacionamentos não estavam me fazendo bem, e preferi me afastar. Entendi que existem pessoas que querem te colocar para baixo, enquanto que outras, mesmo com seus erros, estão sempre ali ao seu lado. O seu inteiro aprende a reconhecer o inteiro no outro, e esse inteiro pode combinar com você ou não, ou em partes.

Foi o que me fez perceber que eu tenho uma amiga que é ótima para conversar sobre carreira, mas não temos tantos pontos em comum com relação a lazer, por exemplo (ela gosta de uma coisa e, eu, de outra). Não precisamos ter tudo do outro – e as pessoas não precisam ter tudo da gente. Mas aquele pouco que combina faz a magia acontecer. Ninguém coloca um peso sobre o outro. Nos relacionamos – não nos cobramos. A chave está na reciprocidade, e a reciprocidade vem desse auto-conhecimento e respeito às outras pessoas – ao “encaixe”.

Isso me fez entender que é mais fácil eu mesma usar chinelos que tentar cobrir o chão do mundo inteiro com borracha para que eu possa pisar (conceito budista). Eu, estando bem, fico e faço o bem para os outros. Os outros, estando bem, ficam e fazem o bem para outras pessoas, inclusive para mim, se ela se relacionar comigo. Organização tem sempre a ver com compaixão também.

Sei que o Dia dos Namorados é uma data comercial e que nem deveria ser comemorada em junho, na verdade (o dia original de São Valentim é 14 de fevereiro e, no Brasil, foi mudada puramente para movimentar o comércio entre o Dia das Mães e o Dia dos Pais). Mas, quando eu desenhei o calendário editorial do blog para este ano, me veio uma vontade enorme de falar sobre como a organização impactou e impacta nos relacionamentos. Como todo mês, nem todos os textos serão exatamente sobre esse assunto, mas o foco da maioria deles será. Por isso, se você tiver algum tema relacionado que gostaria de ver aqui, deixe um comentário. Gostaria de tornar essa reflexão coletiva o mais rica possível.

Ela impacta sim, porque ter uma vida organizada significa viver uma vida coerente com quem nós somos de verdade. É artesanal, uma construção eterna em torno dos nossos valores, princípios e, quem sabe, de um propósito maior. Se isso impacta na maneira como nos relacionamos? Mas eu não tenho dúvida!

Seja bem-vindo, junho. 🍁