Planejamento retrospectivo

Nem tudo precisa começar do início. Às vezes, é o fim que nos mostra o caminho. O ponto final antes da primeira palavra, a linha de chegada antes do primeiro passo. Planejar de trás para frente é desenhar um mapa a partir do destino, traçando os contornos do caminho com a clareza do que já se quer alcançar.

O presente é turvo, incerto, cheio de desvios invisíveis. O futuro, por outro lado, pode ser imaginado com mais nitidez. Onde se quer estar? Como será esse momento quando ele finalmente chegar? Criar um planejamento retrospectivo é partir dessa visão já formada e rebobinar o tempo até agora. Como um filme rodando ao contrário, uma linha sendo puxada devagar até a ponta do novelo.

Quando se parte do fim, as escolhas ganham mais propósito. O que parece urgente perde força diante do que realmente importa. As pequenas tarefas cotidianas deixam de ser aleatórias e passam a ser peças encaixadas dentro de algo maior. Cada dia deixa de ser apenas um dia e se torna um passo deliberado em direção a algo que faz sentido.

Mas olhar para o fim não é apenas sobre metas e objetivos. É também sobre evitar arrependimentos. É entender quais caminhos não valem o esforço, quais compromissos são apenas ruído, quais pressões externas podem ser ignoradas sem culpa. Começar pelo fim ensina a cortar o excesso, a focar no que resiste ao tempo, a construir uma vida que faz sentido para quem seremos lá na frente.

Planejar assim exige paciência. Exige aceitar que o percurso pode precisar de ajustes, que a estrada pode ter desvios, que o futuro nunca será exato. Mas mesmo sem garantias, há algo de libertador em saber que cada passo dado é intencional, que cada escolha leva para um lugar que já foi sonhado antes.

Olhando para trás a partir do futuro imaginado, é possível perceber que nem tudo precisa ser tão apressado. Nem tudo precisa ser tão rígido. Há espaço para pausas, para mudanças de rota, para deixar de lado o que já não encaixa mais. Porque o que importa não é apenas chegar, mas o caminho feito com consciência, sem se perder nos ruídos do imediato.

No fim, planejar retrospectivamente é um lembrete de que a vida não precisa ser um atropelo de urgências. Podemos escolher um ritmo mais leve, um percurso mais sincero. Podemos começar pelo fim e, a partir dele, construir um presente que já carrega em si a sensação de pertencimento.

Sobre a autora

Thais Godinho

Autora do Método Vida Organizada, criou este blog em 2006.

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6 Comments

  1. Que texto lindo, tocante, inspirador! Obrigada, Thais, porque suas palavras são um fôlego nessa nada fácil vida.

  2. Lindo post! faz todo o sentido este planeamento retrospetivo.

  3. Quando tudo está confuso, este planejamento trás leveza e clareza.
    Achei ótima a abordagem! ?

  4. Estes posts recentes estão incríveis e inspiradores. Percebi que eles precisam ser lidos com calma para melhor apreciar…cheios de nuances, cheios de insights…que só anos de experiência na área poderiam trazer. Obrigada pela entrega!

  5. Mas esse especialmente me tocou muito! Excelente!

  6. Salvei o seguinte trecho para imprimir e colar na minha escrivaninha:
    “Mas olhar para o fim não é apenas sobre metas e objetivos. É também sobre evitar arrependimentos. É entender quais caminhos não valem o esforço, quais compromissos são apenas ruído, quais pressões externas podem ser ignoradas sem culpa. Começar pelo fim ensina a cortar o excesso, a focar no que resiste ao tempo, a construir uma vida que faz sentido para quem seremos lá na frente.”

    Obrigada por escrever, Thais ??

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