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Editorial: Ame

Escrevo este editorial ao som de “Dreams”, dos Cranberries. Aperta o play para ouvir enquanto lê. 🙂

Um dos significados da palavra amor é “afeição baseada em admiração, benevolência ou interesses comuns” e também “devoção de uma pessoa ou um grupo de pessoas por um ideal concreto ou abstrato”. Isso fica muito claro quando a gente tem aquela ideia de “viver do que se ama”. Isso é tão pregado, não é? Faça do que você ama o seu trabalho. Ame o que você faz.

Eu posso dizer que, para mim, isso foi uma construção de anos. E que todos os anos da minha vida me trouxeram aqui, para este momento.

Quando eu era criança, como grande parte das meninas, eu queria ser professora. Mais tarde, fiquei em dúvida entre um curso de licenciatura e jornalismo no vestibular e essa dúvida sempre rondou a minha mente. Tentei fazer faculdade de História duas vezes, porque queria ser professora e gostava de História – fazia sentido. Todo ano que passava me perguntava se deveria investir em uma graduação de Pedagogia. Li Paulo Freire com 17 anos. Eu sempre gostei do assunto.

Quando eu era adolescente, comecei a escrever. Eu escrevia poesias, depois contos. Minhas amigas mais próximas liam, gostavam e me incentivavam. Comecei a gostar de música e bandas, e criei fanzines. Aquela era a minha referência para escrever, sabem? Eu gosto de escrever, então o que faz sentido escrever nesse momento? Fanzines. Eu também sempre tive agendas e diários. Escrever era a minha terapia e eu nunca ficava entediada contanto que tivesse um caderno e uma caneta na mão.

Quando comecei a trabalhar pra valer, percebi que precisava organizar melhor as minhas atividades. Pensando bem, desde muito cedo eu já me interessava pelo assunto organização – apesar de o meu guarda-roupa ser bagunçado, eu gostava de organizar meu material de estudos, fazia cronogramas para provas e trabalhos e buscava soluções para problemas diversos relacionados a como realizar meus afazeres de maneira mais prática e organizada.

Até os meus 22, 23 anos, tudo isso era muito novo e confuso para mim. Eu sabia que gostava dessas coisas, mas não via como poderia “fazer o que eu amo”, sendo que já tinha contas para pagar e não podia ficar de brincadeira. Não que amar seja brincadeira. Não que não seja.

Um dia, eu fui promovida a coordenadora de projetos na agência onde eu trabalhava. Isso significava que, além de mim, eu teria que coordenar o trabalho de outras pessoas. Só que, por ser jovem e sem experiência, que referência eu tinha? Nenhuma. Comecei a pesquisar sobre gerência de projetos e produtividade. Eu já me considerava uma pessoa organizada, mas queria fazer as coisas de uma maneira mais fácil. E aí, por acaso, eu ouvi falar de um negócio chamado GTD.

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Não vou me estender muito no assunto aqui mas, quando eu li o livro, lembro de ter sido amor à primeira vista. Eu já gostava muito do assunto organização, mas aquilo era profissional demais para mim! Queria implementar tudo! Fiz tudo conforme manda o figurino: tirei dois dias, fiz uma super coleta, comecei a processar aquilo, procurei uma ferramenta para armazenar essas informações (fazia no papel, inicialmente). Estava louca para compartilhar tudo e ninguém na minha roda de amigos e colegas de trabalho conhecia! Foi então que eu resolvi criar um blog para falar sobre meu assunto preferido e compartilhar o que eu aprendia com outras pessoas, e assim nasceu o Vida Organizada, em 2006.

Essa foi a primeira iniciativa relacionada a trabalho que eu fiz que atribuo ao GTD. Só que, na época, eu não sabia que tinha a ver com trabalho. Era só um hobby – um lugar na Internet para escrever sobre algo que eu gostava e estava empolgada aprendendo mais.

Anos se passaram até eu perceber que o Vida Organizada era um pouco mais do que isso. Em 2008, fiz um destralhamento radical na minha vida e queria viver da forma mais simples possível. Esta que vos fala pensou seriamente em ir morar no meio do mato e viver de forma sustentável, sem Internet, sem nada, para aproveitar, como dizia o Thoreau, o sumo da vida. Não fui. Desconstruir as coisas foi importante para me ensinar o que eu queria reconstruir de volta. E foi ali, naquele momento, que eu descobri o Budismo e, com ele, o caminho do meio.

Foi quando eu também descobri que o ser humano tem a tendência a mergulhar em um mar de micro-problemas do cotidiano e esquecer as pessoas ao seu redor. Pensar e ajudar o outro é importante. É mais importante que qualquer outra coisa. Quem ligava para os meus dramas pessoais? Canalize essa energia para algo útil, eu me dizia.

Esse ponto foi o verdadeiro momento da virada para mim, porque foi quando eu passei a buscar pelo significado de todas as coisas que eu fazia. Foi quando eu decidi me tornar mãe. E, depois do nascimento do nosso filho, eu percebi que deveria viver uma vida plena não só por mim, mas por ele também. E, depois disso, nada mais me segurou.

Usei o GTD na forma mais pura da coisa estabelecendo um objetivo e, em menos de um ano, ter mudado tanta coisa na minha vida que, quando paro para pensar, acho um pouco inacreditável. Consegui um trabalho legal ganhando cinco vezes mais do que estava ganhando, fiz pós-graduação, mudei de cidade. Meu trabalho novo tinha a ver com ajudar pessoas e eu produzia bastante conteúdo, então já estava buscando essa coerência com os meus valores e as coisas que eu gosto de fazer, o que se mostrou uma decisão correta.

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Quando percebi tudo o que eu poderia fazer, eu passei a querer me conhecer mais. E, nesse processo de auto-conhecimento, decidi profissionalizar o blog, vê-lo como algo mais sério porque ele estava impactando positivamente na vida das pessoas. Em poucos anos, eu estava falando sobre registro de marca, palestrando sobre blogs profissionais e escrevendo um livro sobre o assunto que eu mais gostava.

Mas teve um acontecimento nesse meio tempo que foi extremamente significativo na minha vida.

Um belo dia, recebi o telefone de uma pessoa e, graças a ela, conheci outra. E essas duas pessoas foram (e continuam sendo) muito importantes para mim. Graças a essas duas pessoas, hoje eu trabalho com o GTD. Quem diria, lá no começo, quando eu era coordenadora em uma agência e li esse livro pela primeira vez, que um dia eu trabalharia dedicada a isso?

Hoje eu tenho dois trabalhos: meu trabalho com o GTD e o meu trabalho com o Vida Organizada. Nos últimos meses, estou aprendendo como lidar melhor com essas duas lateralidades. Porém, uma coisa é certa: não importa qual a bandeira que eu carregue, desde que ela esteja associada aos meus valores e propósito pessoal. E estão. Ambas estão.

Meu amor pelo GTD é tão grande que, para mim, ele sem dúvida é mais importante que o Vida Organizada, porque o próprio Vida Organizada faz parte dele. Nasceu dele. Tudo na minha vida e, se sou quem eu sou, foi por causa do GTD. Posso dizer que, hoje, junto todas aquelas coisas que eu disse serem importantes e tão partes de mim desde sempre: ser professora, escrever, ajudar as pessoas, tudo através da organização pessoal. Chegar neste ponto não foi fácil, não foi rápido, e nem é o fim da linha. Mas eu me dou conta de que há algum tempo eu estou no topo dos horizontes de foco do David Allen, vivendo de acordo com o meu propósito maior e tomando decisões com base nele. Isso é de grande valor, e quantas pessoas vivem dessa maneira? Eu quero ajudar todo mundo a chegar lá. É importante. É um compromisso com a nossa vida.

Por isso, quando a gente fala sobre amor, precisa falar que o amor pode ser à primeira vista, mas só os anos o desenvolvem. O conhecimento, a vivência, tudo isso alimenta e te faz reconhecer o que é amor de verdade.

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Um dia o David Allen nos disse que não tem filhos e que, por isso, está investindo todo o seu dinheiro em um programa de certificação para garantir que, quando ele morrer, o GTD continue a ser disseminado pelo mundo. Pensem em como isso é tocante?

Meu marido me disse assim, uma vez: “Você se dedica tanto a esse negócio. Acho que você deveria criar um método de organização seu, para fazer a mesma coisa”. E minha resposta foi… “Mas esse já é o método perfeito! Eu não saberia viver sem o GTD. Eu não quero criar outro método.” Foi nesse momento que eu descobri o que o GTD significa para mim. Acima de todas as coisas, acima do Vida Organizada.

Então o que faltava para eu ser oficialmente a “filha” do David Allen? Sério, além de tudo isso o que eu faço – quantas pessoas não começaram a usar o GTD por causa do Vida Organizada, quantas pessoas não vêm diariamente tirar dúvidas sobre o método comigo, quantos cursos eu não faço, de quantas iniciativas não participo, todas envolvendo o GTD?

O Daniel me disse: “Thais, essa certificação é sua por direito”. E, por isso, este mês eu estou indo para lá, para Amsterdam de novo, desta vez não como convidada, mas como aluna, tirar essa certificação pela Call Daniel. Eu não consigo colocar em palavras o que isso significa para mim, mas espero ter conseguido demonstrar um pouco, com este texto – essa singela declaração de amor pelo método criado pelo David Allen. Para quem não sabe, a certificação te qualifica como “filha” do David (rs) para expandir o GTD pelo mundo – e, no nosso caso, no Brasil. Isso é muito, muito importante. A responsabilidade é imensa. Ao mesmo tempo, não há nada diferente disso que eu queira fazer. Eu quero esse desafio.

Portanto, se tem um verbo para conjugar em junho, que seja esse:

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Porque descobrir aquilo que você realmente ama pode mudar a sua vida e a de outras pessoas.