Tracy Hogg X Elizabeth Pantley.

Ontem, na metade do livro “Soluções para noites em choro”, comentei o seguinte no meu Twitter:

Hoje, depois de terminar a leitura, continuo com a mesma opinião. Precisei escrever este post, porque quando eu dava dicas da Tracy Hogg na comunidade do livro da Pantley eu era quase apedrejada, como se estivesse dizendo absurdos.

Principais qualidades do livro:
– incentiva demais a amamentação;
– incentiva a confiança no instinto materno;
– incentiva o “faça o que achar melhor para vocês”;
– extremamente humano, e vou comentar porquê.

Pontos fracos:
– paternidade acidental corre solta;
– as dicas são pouco desenvolvidas e fica-se a impressão de serem dadas no achismo;
– ela se contradiz em vários pontos;
– ela apresenta soluções rasas como se tivesse descoberto a lâmpada.

Foi excelente ler este livro depois de conhecer o método da Tracy Hogg, pois em alguns momentos acho que a Tracy falha:
– os livros deixam claro que o método funciona muito mais fácil se você alimentar seu bebê com mamadeiras;
– alguns atos de paternidade acidental não precisam ser tão culposos e não há tanto problema se a mãe resolver pegar leve em alguns deles (como não querer fazer o PU/PD, por exemplo).

Porém, ler o livro da Pantley só me fez ter certeza de que a Encantadora de Bebês manja MUITO de tudo relacionado a bebês, pois várias dicas dadas pela primeira são na verdade coisas que a Tracy Hogg fala com muito mais autoridade e argumento.

Vamos lá a um comparativo simples, então. Para simplificar, EP = Elizabeth Pantley e TH = Tracy Hogg.

O que as duas autoras apresentam em comum:

– A importância de uma rotina na vida do bebê – e de toda a família.
– A importância da observação do ritmo do bebê – anotar durante alguns dias quanto ele dorme, come, fica com sono etc, para só depois organizar uma rotina.
Nunca deixar o bebê chorando e atendê-lo prontamente.
– A importância de entender os ciclos de sono dos bebês e como isso pode ser trabalhado nas sonecas e durante a noite.
Estabelecer obejtivos, se ater a eles e não voltar atrás, pois isso confunde o bebê.
– Ensinar o bebê a diferenciar o dia da noite.
– Não deixar o bebê tirar longas sonecas durante o dia.
Elementos da teoria da extero-gestação, que deixam o recém-nascido se sentindo mais protegido e, por isso, dormindo melhor. O livro da EP enfatiza bem mais esse aspecto que o da TH, inclusive incentivando a livre-demanda e a amamentação na cama compartilhada.
Regular a amamentação diurna para o bebê sentir menos fome durante a noite.
– Importância fundamental da rotina noturna e do ritual para colocar para dormir. Inclusive, EP apresenta dicas ótimas e simpáticas para crianças mais velhas.
– Ambas incentivam colocar o bebê para dormir cedo.
– Importância das sonecas regulares.
– Importância de não deixar o bebê ficar muito estimulado e perder a “janela do sono”.
– Incentivar o bebê a ter um objeto de apego na hora de dormir (TH enfatiza como isso é diferente de um acessório – item que, se tirar da criança, ela não conseguirá dormir, como a chupeta).
– Importância da observação dos impulsos de crescimento e saltos de desenvolvimento, mas a TH é muito mais clara a respeito dessas fases.
– EP fala muito mais sobre os exterminadores de rotina (cólicas, dentição, saltos de desenvolvimento etc) que a TH, mas ambas falam e enfatizam a importância da observação e de manter a rotina para evitar crises.
– Ambas falam da importância da qualidade de vida da mãe, e não só do bebê. EP é mais direta e dá dicas mais práticas.

No que as duas autoras diferem ferozmente:

Frequência das mamadas. EP defende a livre-demanda, enquanto TH acredita que a livre-demanda só deve ser feita em circunstâncias especiais (prematuros, por exemplo), senão é impossível estabelecer uma rotina (além de ela achar que, se a mamada for eficiente, o bebê não precisará mamar em intervalos menores – e, se isso acontecer, algo está errado).
Cama compartilhada. EP acredita que a cama compartilhada facilita a amamentação e permite que tanto mãe quanto bebê descansem melhor, enquanto TH acredita que esta seja a forma mais rudimentar de paternidade acidental, além de um hábito extremamente difícil de reverter depois.
Paternidade acidental com e sem culpa. EP defende as soluções ditas pelo coração, TH pela razão. Ou seja, se você quiser colocar o seu bebê para dormir na cama porque você está cansada, tudo bem, de acordo com a EP. Já a TH defende que isso só confunde o bebê e atrapalha a sua educação.
– EP acredita que é melhor interferir quando o bebê está resmungando no sono, antes de acordar e despertar totalmente, enquanto a TH incentiva-nos a deixar o bebê tentar dormir sozinho, e só pegá-lo se realmente chorar.
– EP acha normal amamentar de hora em hora, enquanto que TH acha absurdo.
– EP acha normal um bebê acordar mais de duas vezes durante a madrugada para se alimentar (depois dos seis meses), enquanto TH apresenta diversas maneiras de solucionar esse problema – também sem choro.
– EP apresenta soluções para mães que amamentam a noite toda, bebês que dormem na cama, no berço, enfim, diversas opções, enquanto a TH acredita que o bebê deva sempre dormir no berço.
– O livro rosa da TH é infinitamente mais completo no que diz respeito às fases e necessidades dos bebês em cada uma delas. EP também divide, mas muito superficialmente (de RN a 3 meses e de 4 meses para cima).
– EP estimula diversas formas de fazer o bebê adormecer, enquanto TH enfatiza a importância da rotina de colocar para dormir (nesse ponto, EP se contradiz um pouco).
– Tudo no livro da EP é mais suave que nos da TH, mas não acho que os da TH sejam frios ou negligentes, de forma alguma. Ela só é contra a síndrome “coitadinho do bebê”.
– EP jamais incentivaria o PU/PD. Ela acha melhor colocar o bebê na cama com os pais, por exemplo.
– EP acha ok amamentar ou dar a mamadeira de madrugada, não importa a idade do bebê nem se isso irá se tornar um hábito. TH defende que o bebê só deve ser alimentado se estiver com fome e, no dia seguinte, aumentar as mamadas durante o dia para ele não sentir fome à noite (o que pode ser sinal de impulso de crescimento, também).
– TH defende o EASY, enquanto EP acredita que cada família é um caso e deve desenvolver uma rotina de acordo com as suas características (TH chamaria tais características de paternidade acidental).
Desmame sem culpa. Os livros da TH enfatizam a importância de escolher o melhor para o bebê, mas não a defesa xiita do leite materno. Também diz que, se a mãe não quer amamentar por qualquer motivo, ninguém morrerá por isso. EP defende a livre-demanda e a importância fundamental da amamentação.
– TH fala da importância de educar crianças emocionalmente instáveis, além de amál-as incondicionalmente. EP pouco fala a respeito de maus-hábitos e limites.
– Para EP, o bebê é um bebê. Para TH, o bebê é uma pessoa com comportamento e personalidade próprias, que devemos conhecer e respeitar.

Como combinar ambas as estratégias, na minha humilde opinião:

– Talvez eu defenda este assunto por estar vivenciando. Mas apesar de a TH ser contra a cama compartilhada, ela não apresenta os motivos reais desse “problema”, enquanto os defensores da prática apresentam dezenas de benefícios. Para quem escolhe dormir com os filhos, a EP apresenta diversas diretrizes de segurança e recomendações gerais extremamente úteis, além de considerações sobre quando o filho for para o seu próprio quarto sozinho, de forma natural, ou como os pais podem incentivar isso gentilmente mais tarde.

– Anotar a rotina de sono é muito útil, porém eu combinaria com a anotação da rotina no geral (mamadas, atividades), como a TH propôe, porque outras coisas também influenciam no sono, além do sono em si. Duas planilhas boas da EP apresentam fatores a serem levados em consideração:

para os cochilos diurnos: anotar hora em que o bebê adormeceu, como adormeceu, onde adormeceu, onde dormiu (diferença importante – se adormeceu no colo e foi colocado no berço, por ex) e a duração da soneca.
para o sono noturno: anotar hora em que dormiu, qual foi o ritual do sono, o nível de atividade antes, o nível de barulho no momento do sono e o nível de iluminação.
para os despertares noturnos: hora, como o bebê acordou (chorando, rindo, se contorcendo), quanto tempo acordado, atividades (mamou, trocou fralda, brincou), quando dormiu de novo, como ele voltou a dormir e durante quanto tempo dormiu.

 TH pede para anotarmos também o seguinte: horário da mamada, quantidade, se fez xixi, se fez cocô, atividades e horário do banho. Anotar tudo isso é fundamental para sabermos quando nossos filhos sentem mais fome, quando sentem mais sono, quanto tempo aguentam ficar acordados e dados do tipo. Sem isso, é impossível estabelecer uma rotina.

– Depois dos três meses de idade, fugir um pouco da sequência EASY da TH (comer/atividade/dormir) e observar mais o bebê. Acho fundamental respeitar o horário das mamadas e da rotina noturna, mas todo o resto pode ser flexível. Se o meu filho estiver com sono somente 1h depois de acordar (quando o normal é ele aguentar 2h), eu o coloco para tirar uma soneca, em vez de segurá-lo mais tempo – o que só o deixará superestimulado. De certa forma, é o que a TH fala também.

– Tabelas e informações sobre alimentação e sono tiradas dos dois livros (achei importante compartilhar):

Tabela de sonecas por idade. De RN a 3 meses ela não soube identificar?
Vocês conseguem pegar a falta de informação na tabela acima? Vejam as indicações para RNs: nenhuma!
Não sei se foi erro da tradução ou o que, mas nos próprios livros a Tracy diz que, antes de completar 1 mês, é extremamente normal o bebê acordar durante a madrugada para mamar. Acho que ficou mal-entendido na lista acima. Por ex, com 1 semana, ela está querendo dizer que o despertar é entre 4h30 e 5h da manhã, e não que o bebê acordará somente esse horário. Muita mãe confunde. Despertar é acordar de vez para a rotina diurna, enquanto acordar ele pode fazer durante a madrugada para mamar ou porque a fralda está suja, por exemplo.

– Tabelas complementares, tiradas de outros lugares mas que cabem bem aqui no texto:

Acredito que seja do BabyCenter essa tabela com o sono total, diurno e noturno.
Picos de crescimento. Não sei de onde são essa tabela e a tabela abaixo, pois estavam salvas no meu computador sem indicação. Porém, elas são ótimas e dão bem a média dos picos e saltos. Os picos duram poucos dias (no máximo 1 semana) e são os períodos quando os bebês querem mamar mais, sentem mais fome, e isso tudo é normal. Se a mãe não está por dentro disso, pode cair na paternidade acidental ou achar que o seu leite está fraco.
Saltos de desenvolvimento. São períodos quando os bebês ficam mais carentes, precisando mais de colo e com dificuldades para dormir (se dormiam bem antes). Se você reparar, é bem nítido o que eles aprendem em cada salto. Tem que ter paciência e manter a rotina para não cair também na paternidade acidental. São apenas pequenas crises passageiras.

No geral, acho os livros da Tracy Hogg infinitamente melhores, mais práticos e obviamente mostrando que ela entende do que está falando. Não sei se o fato de eu não estar mais amamentando influencie nisso de alguma forma. Se eu nunca tivesse ouvido falar da Encantadora de Bebês, provavelmente eu estaria achando o livro da Pantley incrível. Porém, como eu disse: ainda bem que eu li os livros da TH antes! Os livros da EP são ótimos, mas complementares. Mesmo já tendo lido o livro que é para crianças acima de 1 ano, quero comprá-lo, pois ele é bem mais específico que o primeiro e tem dicas ótimas. Ainda recomendo, mas estão muito abaixo dos da Encantadora, na minha opinião.

Sobre a autora

Thais Godinho

Autora do Método Vida Organizada, criou este blog em 2006.

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