Eu acho que uma das coisas mais difíceis que existem é tomar decisões quando você precisa decidir com pressa e não tem as informações suficientes para fazê-lo ou precisaria de mais tempo para cozinhar o assunto na sua cabeça e poder decidir com calma.
Existem momentos na vida em que a gente simplesmente não está bem e qualquer decisão que a gente tome pode não ser a melhor. Eu passei por três situações na vida em que precisei tomar decisões rápidas mesmo não estando bem e sei que essas decisões foram ruins para mim. Vou me abrir um pouco para exemplificar, tentando não me expor tanto nem a outras pessoas.
- Quando o meu filho nasceu, meu pai tinha acabado de falecer. Ele morreu de câncer quatro dias antes de o Paul nascer. Eu precisei passar por aquela semana medicada, pois eu tive uma complicação de saúde no final da gravidez e aquele “estresse” com o luto poderia gerar ainda mais problemas. Quando o Paul nasceu, eu tive que lidar com toda aquela nova realidade de ser mãe, sem conseguir dormir direito, e ainda absorvendo o luto do meu pai. Naquela época, muitas coisas dele foram desfeitas, jogadas fora mesmo, de casa, porque eu não tinha energia suficiente nem para discutir ou argumentar. Ele tinha fitas, gravações, registros da vida dele que, se eu tivesse guardado, poderia digitalizar e ter esse legado guardado. “Destralhar”, naquele momento, não foi a melhor pedida. Obviamente que 99% das coisas poderiam ser doadas ou descartadas, mas esse 1% foi sacanagem. Até hoje lamento profundamente ter deixado isso acontecer. O que eu deveria ter feito: ter separado o que não tinha certeza sobre me desfazer ou não para avaliar mais tarde, nem que levasse anos. Mas no meu tempo.
- Quando a minha avó faleceu, foi totalmente inesperado. Ela era idosa mas estava bem. Teve que fazer uma cirurgia de rotina, de troca de prótese no joelho, e pegou uma infecção no hospital. Morreu em poucos meses. Foi como se o mundo tivesse se aberto aos meus pés. Minha avó sempre tinha sido o meu porto seguro na família, e de repente eu não a tinha mais. Isso aconteceu bem na época em que eu estava me separando. Aceitei algumas situações por medo de não dar conta sozinha, por me sentir desemparada, pensando sempre no bem do Paul. Quando, na verdade, eu poderia ter colocado limites no sentido de dizer que não ia decidir nada com pressa e que eu precisava daquele tempo. Muita coisa teria sido diferente.
- Este ano, enquanto eu estava na Europa, depois de passar um mês na Polônia longe do meu filho, do meu namorado, dos meus cachorros, da minha família, da minha casa, e com o medicamento ajustado na dose errada pelo meu médico, eu fiquei muito mal. Achei que minha saúde mental tinha simplesmente se esfarelado. Naquele momento, me pareceu que não daria para continuar com o Doutorado naquelas condições. Eu cheguei a racionalmente decidir largar o Doutorado pois não estava aguentando mais. Mas foi só acertar o remédio, comprar minha passagem de volta para o Brasil, e receber o amor e o apoio do meu namorado, que isso fez TODA a diferença. E aí eu pude compreender que, ficando no Doc ou não, não era o melhor momento para decidir porque eu não estava bem, e era uma decisão importante, que impactaria muitas áreas da minha vida. Hoje, fico feliz por ter me dado esse tempo. Eu não saí do Doutorado e renovei minha empolgação para finalizar logo o projeto de intercâmbio e voltar para o Brasil. Tudo isso porque aceitei que não estava bem, me dei esse tempo e tomei a melhor decisão.
Veja o arco entre essas três situações e como a Thais de 14 anos atrás era diferente da Thais de hoje em dia. Não pela idade apenas, mas porque passei por tantas situações assim que eu meio que desenvolvi esse senso de auto proteção que ajuda a me preservar e a tomar decisões mais assertivas. Quando eu percebo que eu não estou bem, sei que não é hora de decidir.
Mas o que fazer quando a gente não tem como adiar uma decisão? Bem, a organização ajuda nisso também. Para qualquer decisão, a gente precisa de uma dessas duas coisas: tempo ou informação. Se você não tiver tempo, precisa da informação. E que tipo de informação pode ser útil? Revisar seus horizontes mais elevados – propósito, valores, princípios, objetivos de curto, médio e longo prazo. Fazer uma revisão desses materiais vai te ajudar a retomar o foco , quem sabe, tomar uma decisão correta mesmo não sendo a situação ideal para tal.
Eu espero que este breve relato tenha sido útil e te ajudado em algum momento difícil, ou que você possa compartilhar com alguém que esteja passando por algo assim. Um beijo.
Talvez uma das coisas mais cruéis desse mundo moderno, com o capitalismo desesperado que vivemos, não termos nem tempo, nem informações para tomar decisões.
Parece que um jeito que acharam de controlar as pessoas foi aumentar o nível de urgência na escala maxima.
Tudo é pra ontem, tudo esta atrasado, tudo é urgente.
A gente sabe que quando tudo é urgente, nada é urgente, mas vira um tormento, uma cacofonia de coisas todas falando ao mesmo tempo e demandando.
Mas o seu relato e ensinamentos são excelentes para mostrar que essas coisas passam e que a gente tem que tentar colocar limites e filtrar essas cobranças e cacofonias.
Obrigado
Obrigada, meu amor. <3
Thais, os anos de passam e você continua a me inspirar, eu não canso de ler aqui, pois sinto que toda vez que leio, eu me fortaleço.
Esse post é simplesmente essencial, principalmente para os dias de hoje, onde tudo acontece muito rápido. Se dar um tempo para decidir é crucial, parar e dizer: não quero decidir isso agora é fortalecer. Obrigado de coração!
Muitas decisões erradas em minha vida foram tomadas por impulso, por achar que eu precisava desesperadamente resolver algo sem a reflexão necessária que a situação pedia. Hoje, sei que a maior parte dos problemas pode esperar para ser resolvido (e, quase sempre, ainda estarão lá quando eu resolver encará-los – infelizmente!). Abraços.
Thais, tudo bem?
Parabéns pelo desabafo, esses momentos é que fazem a gente sentir como se estivesse sentado ao seu lado, tomando um café e jogando conversa fora haha.
Sobre a minha opinião, acredito que o Henrique falou a mais pura realizada desse mundo atual, aonde o imediatismo está nos matando a cada dia.
Continue assim com os seus conteúdos, só temos a evoluir. Todos!
Poxa, Thais, acompanho seu trabalho há tanto tempo e sempre aprendo algo novo com você. Eu sei que é óbvio, já que você é professora, mas é que eu gosto muito de aprender com você. Te acho muito consciente da realidade, e isso atrai confiança.
Muito alegre por ter recebido a newsletter dessa semana. Eu estava MESMO precisando dessa lição e reflexão.
Agradecida <3