Quando eu quebrei a minha perna e percebi que ficaria imobilizada durante alguns meses, eu pensei que seria uma boa trancar o semestre no Doutorado para conseguir me recuperar e depois voltar recuperada. Nessa tentativa, descobri que, se eu realmente trancasse, eu perderia a minha bolsa e ainda teria que pagar por todo o investimento feito no meu projeto e que não precisei pagar enquanto bolsista, o que, além de inviável, só reforçou como a vida acadêmica não ajuda em nada na saúde mental dos seus pesquisadores.
Dado o desabafo, gostaria de dizer que a minha primeira reação foi pensar que não seria possível me dedicar ao doutorado como eu pretendia, pois estou me recuperando. E nada contra isso, especialmente se o propósito estiver claro. Portanto, quis compartilhar com vocês aqui no blog os meus propósitos para ter entrado no doutorado e, agora, cada vez mais, para concluí-lo até o final do ano que vem.
1) descobrir o propósito nas coisas que fazemos é uma boa prática de produtividade e 2) compartilhar com vocês me traz a sensação de ser mais autêntica no trabalho que exerço aqui.
Ter clareza sobre o propósito (ou os propósitos) me fez prosseguir. Foram eles:
Propósito 1: Contribuição com a Educação
Estamos vivendo um momento muito particular, específico e crucial no mercado de trabalho de maneira geral, e ainda mais na educação. Nossas profissões serão transformadas e, as carreiras, reconstruídas. E eu quero fazer isso. Quero colaborar de alguma maneira. Pretendo fazer isso com a criação de conteúdo, mas também ministrando cursos e aulas em universidades. Acredito na Educação e nas profissões da área, mesmo com essas mudanças e perspectivas confusas.
Propósito 2: Contracultura da produtividade no trabalho
Eu realmente acredito que existe um modo de trabalho mais gentil, menos agressivo, com o trabalhador, do que o mercado impõe. A ideia de hora extra como algo normal, ou a conectividade permanente que as mídias (e as relações através delas…) nos obriga a ter, entre outras questões pertinentes e urgentes. Eu trabalho com produtividade. Venho desenvolvendo a tese de uma produtividade compassiva. Então há uma brecha. Há “esperança”. O meu estudo na pesquisa do doutorado vai nessa linha e, junto com o meu trabalho, eu sinceramente sinto que tenho a contribuir com o mundo de alguma maneira.
Propósito 3: Atuar como pesquisadora
Inicialmente, não pensei em investir na área de pesquisa, e sim do ensino. Mas, desde quando entrei no mestrado, me apaixonei. E isso faz muito sentido: sempre gostei muito de ler e de estudar, além de escrever. Essa parte me pegou de jeito e o fato de eu já ser professora, já ter uma empresa, me dá a liberdade privilegiada de explorar o campo de pesquisa sem tanta pressão, “porque eu quero” mesmo.
Este é o propósito egoísta, digamos assim, mas que me ajudou a ver que não “dependo” de virar professora exclusivamente, ou de parar com todo o resto que eu faço para viver apenas na área acadêmica. Foi uma conclusão importante e que fez toda a diferença.
Esses propósitos estão claros para mim desde o mestrado e isso faz toda diferença. Ver o doutorado apenas como uma etapa, e não como “o fim”, me ajuda a lidar com ele de uma maneira um pouco mais leve e menos perfeccionista, na medida do possível. Pronta para o antepenúltimo semestre dele.