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Produtividade Compassiva

Tese que estou desenvolvendo para o meu doutorado. O termo não existia e está sendo desenvolvido por mim. Agradeço o não plágio (infelizmente, esse anúncio se faz necessário devido à apropriação indevida por algumas pessoas na Internet).

O conceito de produtividade, referente ao que se produz, pela humanidade, faz parte da nossa história desde a origem.

O termo “produtividade” foi utilizado formalmente, no entanto, pela primeira vez, em 1766, por um economista francês chamado Quesnay e, em 1883, Littre (também economista francês) o usou novamente para descrever a “capacidade de produzir”.

A humanidade passou por um processo de intensificação do trabalho desde o advento das revoluções industriais e a orientação de que os seres humanos deveriam trabalhar mais rápido para acompanhar o ritmo das máquinas, em vez de colocarmos as máquinas a serviço da humanidade para que trabalhemos menos – que era o conceito idealizado.

Em 1950, a Comunidade Econômica Européia definiu formalmente o termo produtividade como sendo “o quociente obtido pela divisão do produzido por um dos fatores de produção”. Em resumo, produtividade boa é aquela que faz mais com menos recursos. Isso direcionou tudo o que se desenvolveu posteriormente a respeito de “gestão do tempo”. A própria noção de produtividade pessoal referia-se a fazer mais coisas em menos tempo, ou economizando recursos.

Desde o advento da luz elétrica, o ser humano aprendeu que ele poderia usar o período da noite não apenas para descansar e dormir, mas para fazer outras atividades. Fábricas funcionavam dia e noite. Hoje, temos um mundo 24/7, cravado por Crary, onde até mesmo o sono é controlado pelo tempo do trabalho, por si só um produto do capitalismo.

Termos máquinas produzindo velozmente, o fantasma do desemprego (“os robôs vão roubar seu trabalho”) e uma sobrecarga de atividades que faz com que todos trabalhem de noite e em horários variados – tudo isso desvinculou perigosamente nós, os seres humanos, dos ritmos circadianos (o ciclo de aproximadamente 24 horas sobre o qual se baseia o ciclo biológico de quase todos os seres vivos, sendo influenciado principalmente pela variação de luz do sol, temperatura, marés e ventos entre o dia e a noite). E isso tem diversas implicações que cada vez mais são pesquisadas e demonstradas pela ciência, como por exemplo a relação existente entre trabalhadores noturnos e câncer feita pela OMS.

Antigamente, o ser humano acordava com o nascer do sol e ia para o repouso com o pôr do sol. A eletricidade mudou tudo isso, e o ritmo de atividades e de trabalho, do estar acordado, acabou se tornando algo agressivo para os seres humanos.

Não estou dizendo que a tecnologia seja vilã por si só. Óbvio que não. A tecnologia traz muitos recursos importantes que permitem a evolução da humanidade em diversos aspectos, especialmente o científico. Mas não podemos deixar de problematizar ou pelo menos observar o efeito que esse afastamento do ritmo natural das coisas tem sobre a gente.

Quando eu trago o conceito de produtividade compassiva, se trata justamente de olhar para dentro e trazer essa percepção do que é mais natural, sensível, menos agressivo à nossa natureza. É a gente conseguir repensar a produtividade dentro de um conceito mais amplo de trabalho, aliado a um sono melhor, uma alimentação mais natural, ao aproveitamento das oscilações de energia que a gente tem ao longo de um dia inteiro de modo que consigamos ficar bem, e não impôr ritmos que nos agridam física e psicologicamente, a diminuir a sobrecarga de atividades e de informações.

Associado ao conceito de trabalho fundante trazido por Lukács, o conceito de bem-viver trazido por Acosta, o conceito de trabalho essencial trazido por Marx – diferenciado do trabalho abstrato -, dentro do que vemos como limites estruturais do capital em uma perspectiva trazida por Mészáros – busca-se propor um modelo de trabalho para uma sociedade em transição. Um modelo de trabalho que seja compassivo com o ser humano.