De Humanas para Exatas: como estou ajudando meu filho a estudar para o vestibular

Sempre me considerei uma pessoa das Humanas. Minha trajetória acadêmica e profissional foi construída em torno de leitura, escrita e análise crítica. No entanto, meu filho Paul seguiu outro caminho: apaixonado por números e teorias, foi finalista da Olimpíada de Matemática e já decidiu que quer estudar Astrofísica. Agora, ele quer se preparar para o Enem e a Fuvest como treineiro, e eu, que nunca fui forte em Exatas, preciso encontrar formas de apoiá-lo nessa jornada.

O desafio não é apenas ajudá-lo nos estudos, mas entender como funciona essa preparação e quais caminhos podem facilitar seu aprendizado. Apoiar um filho em uma área que não é a sua exige pesquisa, adaptação e, acima de tudo, disposição para aprender junto. Aqui compartilho como estou me organizando para incentivá-lo sem interferir em sua autonomia.

Um dos maiores desafios de acompanhar um filho em uma área diferente da sua é equilibrar incentivo e cobrança. Pesquisas da Harvard Graduate School of Education mostram que estudantes com apoio familiar consistente, mas sem imposição excessiva, apresentam melhor desempenho e menor ansiedade.

Meu papel tem sido o de suporte: ajudo na logística, busco materiais de estudo e acompanho suas necessidades sem exigir resultados imediatos. Isso cria um ambiente de aprendizado mais leve e produtivo, permitindo que ele desenvolva autonomia sem sentir a obrigação de atender a expectativas externas.

Comprei um kit bem legal de matemática para ele e estou procurando materiais de cursinhos do ano passado na área de exatas para ajudá-lo a se organizar. Também estou interessada em colocá-lo em um projeto do GTD Teens, mas só se ele quiser. Já conversamos sobre a possibilidade de no futuro ele estudar fora.

Mesmo sem um conhecimento aprofundado na área, percebi que participar das conversas sobre Astrofísica e Matemática ajuda no aprendizado dele. Por isso, faço perguntas sobre os conteúdos que ele está estudando e incentivo que ele me explique suas descobertas. Isso não apenas reforça seu entendimento, mas também fortalece nossa comunicação e torna o estudo mais dinâmico e interessante.

A decisão de cursar Astrofísica não se resume apenas a passar no vestibular, mas a entender quais são os próximos passos na trajetória acadêmica. Estou pesquisando.

Mais do que acompanhar seu desempenho, essa experiência tem sido uma oportunidade de aprendizado mútuo. Para ele, que se aprofunda cada vez mais na Astrofísica, e para mim, que descubro novas formas de apoiar e aprender junto. Me deu até vontade prestar o vestibular com ele como uma forma de incentivo a mais.

Referências:
Leituras recomendadas:
  1. O Cérebro no Ensino – John Geake
  2. A Ciência da Aprendizagem – Benedict Carey
  3. Aprendendo a Aprender – Barbara Oakley

Por que resolvi comprar um freezer?

Resposta rápida: para fazer mais marmitas e pedir menos delivery. Fiz as contas e o aparelho se pagaria em menos de dois meses. Como somos o Paul e eu aqui, é importante ter refeições prontas para a rotina diária e eu me sinto bem cozinhando uma vez por semana, aos domingos de manhã.

Além disso, preparar as próprias refeições é uma forma de garantir alimentos mais saudáveis e adaptados às preferências daqui de casa.

Outro benefício foi a praticidade que o freezer trouxe para o nosso dia a dia. Aos domingos de manhã, costumo reservar algumas horas para cozinhar. Esse hábito semanal me ajuda a ter as refeições prontas para os próximos dias, poupando tempo durante a semana e reduzindo o estresse com “o que vamos comer hoje?”. É gratificante abrir o freezer e encontrar opções variadas, todas preparadas com cuidado e carinho. Para garantir a qualidade dos alimentos congelados, adotei algumas dicas simples, como usar embalagens herméticas e remover o máximo de ar ao armazenar os alimentos, evitando o temido “freezer burn” (ou queimadura de freezer), que pode afetar o sabor e a textura das comidas.

Outra dica que tem me ajudado bastante é congelar os alimentos em porções individuais ou pequenas, utilizando sacos próprios para freezer e etiquetando tudo com a data de preparo. Isso facilita o planejamento, evita desperdícios e assegura que os alimentos sejam consumidos enquanto ainda estão frescos. Sempre deixo um espaço entre as porções no freezer para garantir que o ar circule e os alimentos congelem de maneira uniforme. Esses cuidados simples fazem toda a diferença para manter as refeições saborosas e com boa textura. (As marmitas do Paul têm 500ml e, as minhas, 300ml).

A experiência de investir em um freezer me fez perceber como pequenos ajustes podem transformar a rotina. Cozinhar em lote e congelar as porções não apenas economizou dinheiro, mas também trouxe mais controle sobre a alimentação, evitando escolhas de última hora que nem sempre são as mais saudáveis. Eu comprei o freezer mais simples, da Consul. Valeu a pena. Se você também está considerando maneiras de otimizar o dia a dia e economizar, vale a pena adotar essas práticas. Com planejamento e alguns cuidados no armazenamento, o freezer se torna um grande aliado!

Preparando meu filho para o Ensino Médio

Acredite se quiser: este ano o Paul entra no Ensino Médio. Aqui vai um pouco de como estou me preparando para ajudar meu filho nessa nova fase:

Ano de ficar em casa

Durante 2023 e 2024 eu fiz parte do meu Doutorado fora e viajei bastante. Este é um ano de ficar em casa. Além de focar no término do meu Doutorado, quero estar próxima ao Paul para apoiá-lo em uma fase tão importante da sua vida. Por mais que ele já esteja naquela idade de querer ficar apenas com os amigos e não com os pais, sempre estarei aqui por ele.

Aqui em casa ele tem uma mesa de estudos no quarto dele, com um computador também, luminária, material de papelaria e uma estante para os livros e cadernos. Também estou me preparando para voltar a fazer marmitas uma vez por semana ou a cada duas para que ele sempre tenha uma comidinha caseira e a gente evite ficar pedindo delivery.

Chegou a hora de ensinar sobre organização

Ele finalmente vai precisar, em um nível um pouco mais refinado. De acordo com o interesse dele, quero ensiná-lo sobre práticas básicas, especialmente o uso da agenda e listas, planejamento semanal e, o mais importante: higiene do sono.

Conversas sobre responsabilidades

Ele já entende que o Ensino Médio tem sua importância e disse que quer se dedicar mais aos estudos. Masssssss eu já fui adolescente e sei que esse papo pode se construir sobre um castelo de areia, então quero garantir, através de conversas, que ele sempre se lembre das suas responsabilidades e também pense sobre o futuro.

O Paul é uma pessoa talentosíssima e com dom para matemática, e não gostaria que ele desperdiçasse isso. No entanto, sou bem realista com relação ao que é expectativa minha e o que é desejo dele, e ele que deve decidir. Estou aqui para apoiá-lo no que for melhor.

Apoio de modo geral

Quero que ele leve os estudos a sério, mas sem abrir mão de hobbies, amigos e momentos de descanso. Estou ajudando a explorar atividades extracurriculares para que ele se conecte com o que realmente gosta.

O apoio emocional também se faz necessário. A adolescência já é um período cheio de emoções, então, além de falar sobre bullying, ansiedade e desafios sociais, estou me comprometendo a ser uma ouvinte presente. Também estou dando espaço para ele aprender a tomar decisões e lidar com imprevistos. Afinal, o Ensino Médio é um ótimo momento para começar a praticar autonomia com segurança.

Seguem aqui algumas dicas adicionais que acredito serem úteis caso você esteja passando por algo semelhante com seus filhos:

Incentive a comunicação aberta

  • Crie momentos no dia para conversar sobre como ele está se sentindo em relação à escola, amigos e professores.
  • Mostre que ele pode contar com você para compartilhar suas preocupações ou conquistas.

Estimule hábitos saudáveis

  • Garanta que ele tenha uma rotina equilibrada, incluindo horários regulares para dormir, alimentar-se bem e praticar atividades físicas.
  • Discuta a importância de pausas para evitar sobrecarga mental.

Prepare-se para apoiar nas mudanças

  • Lembre-se de que o Ensino Médio traz novos desafios, como lidar com matérias mais difíceis e responsabilidades maiores. Esteja disponível para ajudar quando necessário.
  • Ofereça apoio emocional, principalmente em períodos de provas ou decisões importantes.

Valorize pequenas – e grandes – conquistas

  • Celebre os esforços e conquistas diárias, como completar uma tarefa ou aprender algo novo.
  • Isso aumenta a autoconfiança e o motivará a continuar se dedicando.

Ofereça recursos para o aprendizado

  • Se possível, invista em materiais de apoio, como livros, cursos online ou aplicativos educativos.
  • Ajude-o a organizar os materiais escolares para facilitar os estudos.

Ajude na gestão do tempo

  • Trabalhem juntos em um calendário ou cronograma semanal para que ele possa gerenciar as tarefas e atividades.
  • Encoraje a priorização e a divisão de grandes tarefas em partes menores (provavelmente projetos).

Esteja atenta/o ao seu bem-estar social

  • Fique atento às dinâmicas sociais e à integração dele na nova escola.
  • Converse sobre o que significa ser um bom amigo e como lidar com conflitos ou desafios nos relacionamentos.

Planeje momentos de qualidade em família

  • Com o aumento das responsabilidades escolares, pode ser fácil perder os momentos juntos. Programe atividades em família para fortalecer os laços e dar a ele um espaço seguro para relaxar.

Espero que essas dicas possam ser úteis e que vocês aproveitem ao máximo essa nova etapa!

Essa é só a base do que estou fazendo para apoiá-lo nessa fase.

E você? Já passou por isso ou está se preparando também?
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Vou adorar trocar umas figurinhas.

Volta às aulas: como organizar para você ou seus filhos em idade escolar

O início de um novo ano letivo é sempre um momento de renovação e expectativas. Seja para você, que está retomando os estudos, ou para seus filhos, a volta às aulas traz desafios que podem ser facilitados com organização. Com algumas estratégias simples, é possível transformar essa transição em um processo tranquilo e produtivo.

Este ano, minhas aulas do Doutorado voltam apenas em março, mas as do meu filho começaram agora no final de janeiro. Ele está no primeiro ano do Ensino Médio. Que orgulho. <3

Hoje, vou compartilhar dicas para organizar essa fase, ajudando você a criar uma rotina mais leve e eficiente para todos. Vamos lá?

1. Crie um espaço de estudos funcional

Ter um local dedicado aos estudos é essencial para manter o foco e a produtividade. Não precisa ser um espaço grande ou sofisticado – o importante é que seja organizado e livre de distrações. Aqui em casa eu tenho algumas mesas que posso usar (a do home-office, a de jantar e a bancada da cozinha), mas muitas vezes também gosto de ler na cama ou no sofá. Meu filho tem uma mesa no quarto dele. Nós dois temos uma estante ao lado da mesa para colocar os materiais.

Dicas para organizar o espaço:

  • Escolha um lugar bem iluminado e silencioso.
  • Tenha à mão materiais como cadernos, canetas e livros.
  • Use organizadores para manter tudo no lugar e facilitar o acesso.

Se você ou seus filhos preferem estudar em diferentes locais, crie uma “mochila de estudos” com os itens essenciais para transportar facilmente e ir para lá e para cá.

2. Estabeleça uma rotina consistente

A rotina é a base para uma organização eficaz, principalmente em tempos de volta às aulas. Uma agenda bem definida ajuda a equilibrar estudos, lazer e outras responsabilidades.

Sugestão de rotina:

  • Manhã: Prepare-se para o dia com tempo suficiente para um café da manhã tranquilo e organização do material. Eu sempre costumo ajustar meu planejamento do dia logo que começo a trabalhar, mas planejo semanalmente de modo geral.
  • Tarde: Reserve um horário fixo para lições de casa e revisões.
  • Noite: Inclua momentos de descanso e revisão rápida do planejamento do dia seguinte.

Use ferramentas como planners ou aplicativos de organização para acompanhar compromissos escolares e prazos importantes.

3. Simplifique a organização de materiais

A bagunça no material escolar é um dos maiores vilões da rotina escolar. Com algumas práticas simples, você pode evitar que isso aconteça:

  • Organize por categorias: Separe livros, cadernos e materiais artísticos em organizadores distintos.
  • Rotule os itens: Facilita a identificação e economiza tempo na hora de buscar o que é necessário.
  • Revise semanalmente: Uma pequena arrumação no final de cada semana ajuda a manter tudo em ordem.

4. Incentive a autonomia

Para os filhos, envolver as crianças na organização é uma forma de estimular a responsabilidade. Dê tarefas adequadas à idade, como arrumar a mochila ou conferir a agenda escolar. Para adultos que estão estudando, isso significa criar momentos de revisão e autoavaliação.

5. Prepare-se para imprevistos

Sempre haverá dias mais corridos ou inesperados. Tenha uma margem de flexibilidade na rotina e lembre-se de que nem tudo precisa sair perfeito. O importante é criar uma base organizada que te permita lidar melhor com os desafios do dia a dia.

Pensando no pós-doc

Meu único defeito é não ter medo de fazer o que gosto.”Rita Lee

Será que todo pesquisador tem essa “péssima” mania de ficar pensando na próxima pesquisa antes de terminar a pesquisa que está fazendo no momento?

Eu ainda não finalizei o doutorado mas, a partir do que escrevi ontem, pensando em uma perspectiva maior para a minha pesquisa de vida como um todo, eu tenho algumas ideias para o meu pós-doc já há algum tempo e tenho conseguido amadurecer melhor o que quero desenvolver nessa pesquisa.

No mestrado, eu realizei o meu sonho de voltar a estudar na Cásper Líbero, ter meu professor preferido como orientador e me formar lá. Eu queria ter esse diploma na Cásper. Minha avó, que faleceu enquanto eu estava no mestrado, teria ficado muito orgulhosa. Ela foi a maior incentivadora quando eu entrei lá para fazer Jornalismo na graduação, mas acabei saindo para fazer Publicidade porque não me deixaram mudar de curso na época.

No doutorado, realizei o sonho de ir para a área de Ciências Sociais – uma frustração da adolescência da época do vestibular. Eu queria ter feito Ciências Sociais ou História. Não fiz. Prestei para Jornalismo, pensando “no mercado” etc. Entrar em Jornalismo e me formar em Comunicação foi importante para mim e para a minha formação, mas eu continuei mantendo essa vontade dentro de mim de estudar uma das duas ciências humanas (ou as duas).

E esse é justamente o ponto agora, para o pós-doc. Eu penso em ir para a História. Juntar Sociologia e História, estudando um tema que tenho estado aficionada desde a época em que o Bolsonaro se tornou presidente e eu comecei a estudar pra ficar esperta: a construção do nazismo.

Eu tive profundos insights quando visitei a sala 600 do Tribunal de Nuremberg, quando estive lá em fevereiro. Essa é uma maneira mais bonitinha de dizer que eu tive uma crise de pânico dentro daquela sala. O ambiente era pesado demais. Eu estudei demais sobre o nazismo para conseguir ficar ali sem ser afetada (além de eu já ser exageradamente sensível para essas coisas e ambientes). Alguns anos atrás, eu li o excelente livro do Bauman, “Modernidade e Holocausto”, que é um livro que eu sinceramente tenho vontade de sair distribuindo na rua, para que todos leiam. Nesse livro, o Bauman fala como o que aconteceu na Alemanha nazista não foi algo “da Alemanha nazista”. Foi algo do sistema capitalista, e que poderia acontecer novamente, a qualquer momento, devido à própria estrutura de exploração essencial para a existência do capitalismo.

Particularmente, eu acho que o tribunal de Nuremberg foi um grande espetáculo dos Estados Unidos para mostrar que estavam “fazendo justiça” depois da II Guerra. Por trás daquele julgamento, que obviamente foi importante em vários sentidos (não tiro o mérito disso), os Estados Unidos estavam buscando oficiais e gestores nazistas para levar para atuarem nas grandes empresas norte-americanas. No ano passado, eu li um livro chamado “Livres para obedecer”, do historiador Johann Chapoutot, onde ele mostra como as práticas modernas de administração e de recursos humanos foram influenciadas e até moldadas pelo modelo de gestão e disciplina do nazismo, até mesmo porque tais gestores do regime nazista foram dar aulas em universidades alemãs de Administração, assumiram a direção de várias empresas na Europa e nos Estados Unidos etc…

A minha hipótese – e que quero levar para o pós-doc – é que, na verdade, os campos de concentração representam uma versão extremada do que vivenciamos cotidianamente “aqui fora” no sistema capitalista. Somos forçados a trabalhar dentro de uma gaiola de ferro até morrer.

Desse ponto de vista, pretendo estudar como, dentro dos campos de concentração nazistas, considerados um dos ambientes mais tóxicos e desumanizadores da história, e mesmo em circunstâncias extremas de opressão e sofrimento, algumas pessoas conseguiram demonstrar e praticar atos de compaixão.

Tive a vontade de produzir uma pesquisa a esse respeito depois de ler o livro “KL – A história dos campos de concentração”, do historiador alemão Nikolaus Wachsmann, quando ele disse que o registro do que aconteceu nos campos está se perdendo e que isso é perigoso. Pesquisadores evitam esse tema porque ele é muito doloroso de fato. Pessoas evitam falar porque é muito perturbador. Mas é necessário, senão se esquece.

Sinceramente, eu ainda não fiz um levantamento bibliográfico sobre essa temática, mas acredito que existam bons registros sobre essas histórias. Já vi algumas coisas por cima. Mas, como meu foco de vida é a produtividade humana, fazer esse estudo a partir desse viés me parece um diferencial de pesquisa. Traçar esse paralelo com o mundo atual, “aqui fora”, seria a principal abordagem. Criar um modelo que explique como a compaixão pode surgir e ser sustentada em ambientes altamente tóxicos, e como essas lições podem ser aplicadas para humanizar ambientes de trabalho modernos, até mesmo abordando situações de trabalho escravo forçado que ainda existem.

Enfim, ainda tenho bastante ideia a desenvolver e amadurecer, mas seria esse o plano inicial.

Eu também gostaria de fazer essa pesquisa fora do país, mas isso depende dos planos de vida do Paul também, porque não quero ficar longe dele novamente. Ainda tem bastante tempo até isso acontecer, então até lá eu poderei finalizar meu doutorado, transformar a tese em um livro, divulgar, escrever artigos e amadurecer as ideias para esse pós-doutorado.

Reorganizando a minha rotina de volta ao Brasil

Estou de volta ao Brasil por algumas semanas para passar as férias de julho com o meu filhote. Isso envolve continuar a minha rotina de trabalho, estudo e pesquisa, mesmo à distância, ficar com ele e resolver algumas coisas em casa antes de viajar novamente. Por isso, foi importante reorganizar a minha rotina.

Como estou acostumada ao fuso horário de +5 horas, eu decidi tentar mantê-lo. Como meu filho está acordando tarde, porque está de férias, eu aproveito o período da manhã para trabalhar tudo o que preciso trabalhar no dia e que me demanda mais concentração, como escrever, responder e-mails e outras coisas do tipo. Almoço com ele, passo a tarde e o início da noite com ele, e de noite ele fica com o pai, que tem hábitos mais noturnos. E eu consigo dormir cedo. Basicamente é isso.

Tem sido uma boa rotina e estou conseguindo fazer o que preciso fazer e passando todo o tempo possível com ele. Vale lembrar que, por ele ser adolescente, ele tem suas próprias atividades, como ficar com os amigos, namorar (pois é) e jogar vídeo-game. Mas, sempre que está em casa, o fato de estar junto com ele conversar, fazer comida, comermos juntos, fazermos passeios etc, já faz toda a diferença.

É um período difícil esse das viagens mas logo acaba. Tô bem centrada em acabar logo para voltar e organizar as coisas por aqui depois desse intercâmbio e, apesar de ser difícil para todos, temos esse objetivo claro em mente, de que é algo bom para o nosso futuro como um todo. Focamos nisso.

Maternidade e organização: o desafio de sempre

Se existe um tema que sempre aparece quando se fala em organização, é a relação que as mulheres têm com a maternidade e suas carreiras profissionais. Não é à toa – muitas mulheres trabalham durante o dia e ainda seguram toda a carga pesada do trabalho doméstico e de cuidado, deixando-nos exaustas.

Quando me tornei mãe, enfrentei o desafio universal que acompanha a maternidade: como equilibrar a vida pessoal e profissional sem perder a sanidade? A verdade é que a maternidade testou todas as estratégias de organização que eu conhecia. No entanto, foi também uma oportunidade incrível para refinar essas estratégias e aprender novas. Hoje, quero compartilhar com vocês como encontrei formas de manter a organização e o equilíbrio, esperando que possa ajudar outras mães que estão navegando por essas mesmas águas turbulentas.

Auto-Aceitação e Flexibilidade

O primeiro passo para encontrar equilíbrio foi aceitar que minha rotina precisaria ser mais flexível. Os bebês e crianças pequenas operam em seus próprios horários, que muitas vezes desafiam nossa noção de organização e eficiência. Aceitar isso não significa renunciar à organização, mas adaptar-se e encontrar soluções criativas para as novas necessidades da família. Isso me demandou perspectiva, em compreender que algumas coisas eu poderia fazer com o filhote pequeno e outras não, só quando ele crescesse. E ainda hoje esse balanço continua, pois eu preciso sempre avaliar o que posso e o que não posso fazer, dadas as nossas circunstâncias atuais, que incluem uma rede de apoio.

Gestão do Tempo com Blocos

Uma técnica que se mostrou particularmente útil foi a gestão do tempo em blocos. Em vez de uma agenda rígida, dividi meu dia em blocos de tempo dedicados ao trabalho, à família e a mim mesma. Essa abordagem permitiu-me ser produtiva no trabalho, enquanto garantia que houvesse tempo de qualidade com minha família e, igualmente importante, tempo para cuidar de mim.

Responsabilidades

Um mapa com minhas áreas da vida, em que eu coloco, dentro de Família, uma ramificação para o Paul e tudo o que eu sou responsável por ele na vida, me ajuda a revisar mensalmente e a refletir sobre como estou me envolvendo e se há atividades ou projetos que precisaria levar em consideração. Definir uma rotina diária de cuidado, planejar atividades juntos semanal e mensalmente também fazem parte de como eu me planejo para estar sempre presente.

Organização do Lar

Manter a casa organizada com crianças pode parecer uma batalha perdida, mas estabelecer sistemas simples de organização fez uma grande diferença. Cestos de brinquedos etiquetados, uma rotina diária de arrumação rápida e um lugar específico para cada coisa ajudaram a minimizar a desordem e a manter a casa em um estado mais gerenciável. Outra coisa que me ajudou foi reduzir minhas expectativas quanto ao “nível de limpeza” da casa. Eu não tinha interesse em manter uma casa impecável, e sim em estar descansada para conseguir fazer as minhas coisas e cuidar do meu filho. Eu acho que essa cobrança que a gente se coloca de querer ter uma casa sempre perfeita só piora a maneira como a gente já se sente pressionada no dia a dia. Implementar a noção do mínimo viável diário também foi crucial pra minha sanidade e funciona lindamente até hoje.

Rotina Flexível

Criar uma rotina flexível foi crucial. Isso significou estabelecer uma estrutura básica para o dia, mas estar pronta para ajustá-la conforme necessário. Ter momentos dedicados para refeições, sonecas e brincadeiras proporcionou uma sensação de previsibilidade para meu filho, enquanto me permitia planejar meu trabalho e tarefas pessoais em torno desses pilares. Também demandou uma mudança de trajetória na minha carreira, saindo de um emprego fixo para me tornar autônoma. Nem preciso dizer que essa transição levou muitos anos e foi necessário fazer um montão de ajustes, especialmente com gastos e outros elementos relacionados ao nosso estilo de vida.

Comunicação e Suporte

Comunicar minhas necessidades e as de meu filho claramente com meu parceiro, família e colegas de trabalho permitiu-me criar uma rede de suporte. Isso não só ajudou a dividir responsabilidades mas também a estabelecer expectativas realistas sobre o que eu poderia realizar em um determinado dia. Eu entendo que nem todas as mulheres têm essa rede de apoio e um pai presente como eu sempre tive com o meu filho. Faça o melhor que puder com as condições que tem. Adapte sempre.

Aprendizado Contínuo

Finalmente, a maternidade ensinou-me a importância do aprendizado contínuo. Ler livros, participar de fóruns de pais e trocar experiências com outras mães foram essenciais para encontrar novas estratégias de organização e equilíbrio.

A maternidade é uma jornada cheia de desafios e alegrias. Encontrar equilíbrio entre a vida pessoal e profissional não é uma tarefa fácil, mas com aceitação, flexibilidade e um pouco de criatividade na organização, é definitivamente possível. Espero que minhas experiências possam inspirar e ajudar outras mães a encontrar seu próprio caminho nessa jornada incrível. E, se tiver alguma dúvida específica, poste aqui. Eu já publiquei tanta coisa sobre esse assunto nesses quase 20 anos de blog que às vezes fico em dúvida sobre se é relevante falar sobre esse tema, então não quero ficar me repetindo, sabe? Obrigada.

Material escolar do ano anterior: o que fazemos com ele?

Eu recebo essa pergunta constantemente então achei que valia a pena escrever um post para deixar como referência.

Quando o Paul era mais novo, eu costumava expôr ao longo do ano os desenhos pela casa e guardar em uma pasta os trabalhos e provas. Uma vez por ano, tirava foto e digitalizava os mais legais e significativos, fotografia a letrinha dele, coisas do tipo, e reciclava o material no final do ano, doando os livros escolares.

Nesta escola que o Paul está agora, há um cuidado não apenas com a sustentabilidade mas com a compreensão do uso e a posse de novas coisas. Há um movimento coordenado pela escola de doação dos livros do ano anterior para alunos que estão mudando de série e também há o incentivo em continuar a usar os cadernos enquanto tiverem folhas limpas.

Escolher uma escola assim foi algo determinante. Foi intencional. Eu mudei de bairro praticamente para que ele pudesse ter acesso a uma escola que fosse desse jeito. Não por esse mínimo detalhe, mas pela direção da escola como um todo, mais humana, mais consciente de todos os aspectos.

Neste exato momento, o que temos:

  • Paul saiu do sétimo e foi para o oitavo ano
  • Livros de ficção que ele usou, a gente vai doar (e alguns eu peguei pra mim kkk)
  • Os cadernos do ano passado, eu vejo COM ELE o que ele quer fazer. Já está numa idade de poder escolher se ele quer manter por n motivos.
  • O mesmo vale para os materiais.

Penso que a maternagem se desenvolve através da conexão nesses pequenos momentos da rotina.

Ter me comprometido com a formação como professora também me permite enxergar o aprendizado de outra forma. Vivemos o que aprendemos. Conversamos sobre o que ele estuda. A vida é o assunto. O papel é um material, e o que importa é o conhecimento. Mas, sobre o assunto do post, agora que ele tem 12 para 13 anos a orientação é: ver com ele. Pelo menos para nós isso faz muita diferença.

Organização da rotina da casa hoje – Julho 2021

Eu escrevi um post parecido há um ano, contando como estava a nossa rotina depois de alguns meses de isolamento. Hoje, já faz um ano e três meses que a pandemia foi declarada e que começamos a fazer isolamento social e a ficar em casa. Não estamos tão trancados – vamos pelo menos uma semana ao mercado e eu busco ir ao escritório de vez em quando – mas não estamos fazendo viagens, indo a restaurantes nem nada do tipo, então considero que ainda estamos em isolamento.

A rotina em casa chegou em um ponto onde estamos nos cobrando muito menos sobre as atividades. Existem aquelas que fazemos todos os dias – o mínimo viável diário – assim como existem atividades que vamos fazendo sob demanda ou quando temos vontade. Não nos guiamos mais por listas da FLY Lady, por exemplo. Está em uma configuração meio livre no momento, pois sentimos que já tínhamos regrinhas demais para outras coisas com as quais precisaríamos nos preocupar, especialmente as questões de higienização quando algo chega da rua etc.

Nosso MVD aqui em casa são atividades simples:

  • arrumar as camas (geralmente meu marido arruma, pois ele levanta depois de mim)
  • guardar a louça limpa do escorredor (geralmente eu faço isso enquanto preparo o meu café)
  • abastecer os banheiros com papel higiênico (geralmente eu faço)
  • trocar as lixeiras e colocar o lixo para fora (geralmente meu marido faz)
  • lavar a louça (meu marido e eu alternamos ao longo do dia)
  • garantir a comida (idem)
  • cuidar da roupa – lavar, dobrar, guardar (idem)
  • limpar o cantinho dos cachorros (idem)

De modo geral, a gente sempre “limpa” alguma coisa no dia. Geralmente são atividades típicas da lista de limpeza detalhada mas, em vez de consultá-la, fazemos conforme a necessidade. Por exemplo, se vejo que o box do banheiro precisa ser limpo, eu priorizo isso no dia. Se a minha mesa do escritório precisa de uma geral, limpo essa parte. Meu marido também segue esse raciocínio. Ele ama tirar o pó das coisas, passar aspirador e limpar o piso, por exemplo. Acho que é o que dá uma sensação de limpeza da casa na cabeça dele. rs Então essa parte fica com ele. Comigo fica a parte mais “administrativa” da coisa mesmo, tipo destralhar, organizar, reparar em algum detalhe que precisa ser limpo ou consertado e coisas do tipo.

Sobre a rotina da família, agora que estamos de férias das aulas tem sido um pouco diferente de quando o Paul tem aula todos os dias. Ele está acordando mais tarde, então pela manhã eu consigo trabalhar concentrada, escrevendo. Quase na hora do almoço, eu faço um scan nas mensagens mais urgentes para não deixar ninguém esperando a minha resposta e vou cuidar do almoço. Eu gosto de cozinhar. Então essa pausa, para mim, é estratégica. Preparo a minha comida com calma, ouço música, converso com os meninos, ajustamos as coisas para a parte da tarde, lavo a louça, depois almoço e descanso um pouquinho.

Nesse descanso, envolve assistir um ou dois vídeos no YouTube, jogar uma partida de xadrez com o Paul ou ficar sem fazer nada um tempo, se eu tiver feito bastante coisa de esforço de manhã.

De tarde, costumo trabalhar com outras pessoas, gravando vídeos, collabs, entrevistas, fazendo reuniões etc. O Paul vem e vai aqui no home-office então sei que preciso dar atenção para ele também. Mantenho os intervalos maiores entre os compromissos para fazer isso, preparar um lanchinho para ele e coisas do tipo.

Quando o sol começa a se pôr, esse é o aviso para o meu corpo começar a pegar mais leve, então entro em uma espécie de “ritual de finalização” do dia de trabalho. Mesmo que eu tenha uma aula para ministrar depois, ou faça ainda algumas coisas de trabalho, eu desligo o computador, paro, vou descansar um pouco. Isso me ajuda a manter esse hábito de “quebrar o looping” do trabalho.

De noite, costumamos fazer algo em família. Ou jogar algum jogo, ou assistir uma série ou filme, cozinhar, enfim, varia bastante. Assim como tem dias em que fazemos coisas sozinhos, ou em dupla. Ontem mesmo meu marido e nosso filho estavam vendo um desenho que eles gostam e eu fiquei vendo um documentário na tv. Não tem regra, é variado.

As atividades domésticas vão sendo feitas ao longo do dia.

Longe do ideal, mas acredito que estamos numa dinâmica que permite que a casa “funcione” e as atividades fiquem bem distribuídas. Conseguimos fazer o que é necessário, descansar, ter momentos de lazer, trabalhar, enfim, tudo numa boa.

Como retomar a sua organização após o nascimento de um filho

Eu sei que existem muitas mães recentes que me acompanham por aqui então, por isso, pretendo trazer mais conteúdos para esse período tão complexo que é a vida da mãe após o nascimento do bebê.

Tudo depende muito das condições que cada mãe tem ao seu redor. Existem mães que tem toda uma rede de apoio, com pai presente, apoio na amamentação, família dando suporte ou até babás. Mas também existem mães que estão simplesmente sozinhas e precisam lidar com todo o puerpério sem muito apoio (ou nenhum). Então vale considerar isso ao ler as dicas abaixo, personalizando-as para as suas circunstâncias.

As regras que funcionam para uma pessoa, podem não ser as mesmas regras que funcionarão para vocês

Empodere-se dessa afirmação. Quando um bebê nasce, nasce também uma mãe que receberá conselhos não solicitados (ou até solicitados, mas bizarros). Todo mundo sempre tem alguma coisa a compartilhar quando se trata de maternidade. Não é porque Fulana disse que nunca mais conseguiu dormir uma noite inteira que esse será o seu caso. Não é porque o bebezinho X começou a tomar “chazinho pra cólica” que você precisa acatar essa recomendação. A maternidade é, acima de tudo, muito intuitiva. Essa conexão pode demorar um pouco e tudo parece confuso no começo, mas confie na sua intuição sempre. E, no caso de dúvida, sempre consulte o pediatra.

Tenha um bom pediatra

Pode ser que você dê sorte da primeira vez ou pode ser que não. Nós aqui em casa não demos. Foi bem chata essa busca. Depois de passar por dois médico, encontramos um que gostamos e que sempre foi muito legal, que é o médico do Paul até hoje. Se você tiver um pé atrás na primeira consulta, ouça sua intuição. Busque até encontrar um médico com o qual se sinta confortável, que faça você se sentir segura como mãe. Isso é muito importante.

Os hormônios estão uma loucura

Cada mulher sente o pós parto de uma maneira. O fato é que os hormônios estão ali ainda lutando para levar seu corpo de volta ao estado pré gravidez, mas também entendendo que você está amamentando agora. Isso mexe demais com o seu organismo, o modo como você se sente e o seu estado mental. Permita-se sentir essas emoções. Permita-se chorar, dar risada, ficar mais emotiva que o normal, sentir tristeza. Todos esses sentimentos são genuínos e não podem ser chamados de “frescura” (olha o machismo velado aí na sociedade). Se for possível para você, consulte-se virtualmente com uma psicóloga, apenas para garantir que você esteja bem. Depressão pós parto é algo comum, assim como uma queda dos hormônios, o que pode te levar a pensar que é depressão, mas às vezes nem é – é só o corpo voltando à normalidade mesmo. De qualquer maneira, é uma época INTENSA. Entenda que é uma época intensa e que ela passa.

Tenha toda a ajuda que puder

Claro que aqui depende muito das condições de cada uma mas, se puder, tenha ajuda. Isso inclui babá, faxineira, até mesmo encomendar marmitas saudáveis e combinar com a lavanderia para buscar e levar a roupa na sua casa. Hoje em dia existem prestadores de serviços para tudo. Não fique com vergonha de pedir ajuda. Tudo o que você puder delegar é excelente.

Vale dizer que não estou excluindo o pai da situação aqui. Pai não “ajuda”, simplesmente faz as coisas junto com a mãe, porque são uma família e a responsabilidade é dos dois. Estou dando dicas para a mãe que está sozinha, cujo pai se excluiu sozinho. Não fui eu neste post que fiz isso.

Peça ajuda

Aqui é uma categoria diferente. Refere-se a pedir ajuda aos amigos e parentes, se você puder e quiser. Fale como as coisas estão difíceis. Às vezes uma amiga que visite a sua casa pode te ajudar com algumas questões, que seja lavar a louça. Quem gosta de você vai amar te ajudar, mas às vezes se sente envergonhado de oferecer. Portanto, se precisar, peça por socorro na sua rede de contatos mais próximos. Nem que seja para desabafar! Faz muita diferença.

A noção de prioridades muda

Antes do seu filho nascer, talvez você conseguisse cuidar da casa como gostaria, estudar como gostaria, além de fazer outras atividades da maneira como gostaria. Com um filho, tudo muda. Você não vai conseguir fazer exatamente as mesmas coisas, do jeito que fazia e na frequência que fazia. Mas isso não é necessariamente um problema, e sim um reajuste! Veja: à medida que seu filho for crescendo, você terá mais tempo e espaço para conseguir retomar algumas coisas. No entanto, quando é um bebê, demanda uma atenção maior mas, acima de tudo, que você esteja bem. Então suas prioridades devem girar em torno disso – você e o bebê bem. Todo o resto pode esperar e o que não puder esperar deve ser colocado na categoria do “mínimo viável”, de modo que você não se sobrecarregue ou se canse tanto.

A rotina deve sempre ser personalizada de acordo com o que é prioridade

No momento, a prioridade pode ser seu bebê ficar bem e você ficar bem. Claro que, para você se sentir bem, talvez tenha que fazer algumas outras atividades, como limpar a casa, cozinhar, lavar a louça, cuidar da roupa. O segredo está no mínimo viável diário. Aquelas coisas mínimas que você consegue fazer para a casa não “desabar”. O restante, é sono, descanso e resguardo. Claro que, para quem tem rede de apoio e ajuda, basta dividir tais atividades. 😉 Mas é importante trazer dicas para as mães solo.

Sua rotina vai mudando enquanto seu filho for crescendo. Entender sobre o ritmo circadiano pode ajudar você a colocá-lo em uma rotina natural, sensível e gentil com o passar do tempo. Por exemplo, de noite, luzes mais baixinhas, sem tanta agitação, farão com que ele entenda que é hora de descansar. Desse modo, com o tempo, ele vai passar a dormir mais de noite, se estiver em condições normais de saúde.

Não é hora de trazer projetos novos. Espere um pouco. Já é bastante coisa para manter antes de trazer coisas novas.

Pelamor, descanse!

É o que todo mundo fala: aproveite as sonecas do bebê para descansar também. Eu sei que aproveitamos as sonecas para fazer atividades da casa ou outras coisas. Mas procure alternar atividade com descanso. E, muitas vezes, você só vai conseguir descansar. Lembre-se sempre que essa fase passa e a cada dia vai melhorar. Nunca perca de vista essa perspectiva. Privação de sono é uma coisa muito ruim e difícil, então foque em descansar o máximo que puder, em detrimento de todas as outras atividades que precisar fazer.

Fazer a transição de uma vida sem filhos para uma vida com filhos pode ser bastante difícil. Eu prometo a você que ficará mais fácil. Cada fase tem seus desafios, mas também coisas boas. À medida que seu filho for crescendo você vai conseguir acompanhar e melhorar sua experiência como mãe e o que funciona melhor para a rotina de vocês.

Filhote no sexto ano e as decisões sobre a escola

Paul irá para o sexto ano em 2021. Este ano, no início da quarentena, a escola dele demorou para se organizar e tomar uma decisão sobre como seriam as coisas. Deram férias, demoraram para iniciarem as aulas, enfim, sei que foi um processo de adaptação para todo mundo. Naquele primeiro momento, eu confesso que fiquei insatisfeita não com o formato definido, mas com a postura da escola, de ficar esperando as aulas voltarem ao presencial e não ter um plano para as aulas online. As aulas do Paul efetivamente começaram a ser online a partir de junho, apenas.

Ele fez o quinto ano em 2020 e o quinto ano é uma transição importante. Uma pena que ele tenha perdido isso, mas a culpa não é da escola, e sim da pandemia. De qualquer maneira, agora ele vai para o sexto ano e a escola ainda não informou quais seus planos, mas acredito que, pelo menos no primeiro semestre, as aulas continuem online ou pelo menos de forma híbrida.

Nós conversamos bastante sobre esse assunto aqui em casa nos últimos meses e decidimos manter o Paul na escola que ele está estudando atualmente. Vou contar os motivos que nos levaram a tomar essa decisão:

  1. Ficar em casa, em isolamento social, vendo essas notícias, o número de mortos, enfim, já é coisa demais para a cabeça dele. Por mais que a gente converse, ele naturalmente não tem o equilíbrio emocional de um adulto. Tem seus medos, inseguranças, e está formando o seu caráter. Logo, concluímos que afastá-lo do único vínculo social que ele tem hoje, que são seus professores conhecidos e amigos de sala, seria a pior coisa que poderíamos fazer. Estamos tentando manter a estrutura mais igual possível para ele.
  2. Antes da pandemia, já tínhamos tido essa conversa porque a escola dele não fica muito perto de casa, mas concluímos que valia a pena mantê-lo lá pois estávamos satisfeitos com a qualidade do ensino e o Paul também se adaptou muito bem. Nós tentamos trocá-lo de escola em 2018 e ele odiou muito. Ao final do ano, ele disse: “mãe, você tem ideia de como é ruim você ficar o ano inteiro longe dos seus amigos, sem saber se eles estão bem?”. Isso me cortou o coração. Além de tudo, o ensino da escola nova nem se comparava à anterior, então decidimos em conjunto colocá-lo de volta nessa escola que ele está hoje. (Tem um post aqui no blog onde falo mais sobre esse processo, se quiser ler.) Então, estando satisfeitos com o ensino e o Paul adaptado à escola em si, não tínhamos por que mudar, especialmente em um momento como esse.

Agora, isso não quer dizer que a gente não vá cobrar da escola uma postura mais profissional diante dos fatos. Continuarei fazendo a minha parte aqui como mãe me envolvendo na educação do Paul, conversando com os professores, cobrando iniciativas. Já sabemos que é exaustivo para as crianças passarem quatro horas seguidas em frente a uma tela do computador. Como eles pretendem mudar esse cenário? Vão mudar algo? Enfim, seguimos por aqui. Não é perfeito, mas estamos envolvidos.

Agora também que já passamos por vários meses de isolamento, a gente já sabe que algumas coisas funcionam e outras coisas não funcionam aqui em casa, em dia de aula. Quero reorganizar o espaço dele, melhorar os equipamentos (especialmente câmera e fone), dar mais espaço mesmo para ele conseguir estudar direitinho. Também pretendo organizar melhor a rotina de estudos além das aulas, junto com ele.

Já encomendei os materiais e creio que a lista de “coisas”, tipo suprimentos de papelaria, seja menor, pelo menos no início do ano. Deve ser mais focada em cadernos, canetas etc, e menos em artigos de arte, que geralmente são deixados na escola no início do ano letivo. Esses são os próximos passos por aqui, além de esperar o novo calendário letivo, para nos organizarmos.

Meu planejamento para o Natal deste ano

Não sou religiosa, mas gosto muito do Natal. É uma época mágica, as crianças adoram, temos muitas comidas gostosas e todo mundo gosta de arrumar a casa para receber as boas vibrações do ano que inicia em alguns dias. Nunca encarei o Natal com qualquer conotação religiosa, mas respeito todos que assim o fazem.

Depois que a minha avó morreu, passamos a celebrar o Natal na casa da minha sogra. Lá, não tem ceia, apenas o almoço. Este ano, faremos a ceia aqui em casa, então, apenas nós, e é provável que meu marido dê uma passada lá no almoço no dia seguinte, tomando cuidados. Mas ele ainda não tem certeza mesmo se vai. Minha mãe mora em outra cidade, tem comércio, e não liga muito para o Natal.

Não montamos árvore de Natal este ano por causa dos cachorros. Também estamos no meio de uma obra, e a casa já tende a ter uma bagunça a mais por conta disso. Nos presentearemos por aqui mesmo, entre nós, e pronto. Pretendemos que a ceia seja muito feliz aqui em nosso núcleo familiar mesmo.

O isolamento social na verdade nos uniu muito e tenho certeza que esse momento será parecido. Claro que ficaremos saudosos dos nossos amigos e parentes, mas entendemos que precisamos ser fortes neste momento e que ele vai passar.

Como você pretende passar o Natal este ano?

Por que eu desisti do objetivo de ter uma casa no interior

Comentei algum tempo atrás que eu tinha um objetivo de comprar um terreno e construir uma casa no interior – mais especificamente, em uma região serrana, pois gosto do frio, de estar em meio à natureza e também por questões de saúde (ar puro, fresco etc). Porém, após anos refletindo a respeito desse objetivo, eu desisti dele. Vocês me pediram para compartilhar qual foi o meu raciocínio, então o post de hoje é sobre isso.

Ao desenhar esse objetivo, nos últimos anos eu concluí diversos projetos relacionados, tais como: esclarecer qual seria a melhor região para comprar esse terreno, esclarecer os custos de compra do terreno e obra para construção da casa, guardar dinheiro para compra do terreno etc. Todos esses projetos foram sendo concluídos nos últimos anos tendo esse objetivo em vista.

Ter uma casa na Serra da Mantiqueira, absolutamente um dos meus lugares preferidos do mundo, era um sonho de muitos anos. Acho que eu sonho com isso há pelo menos 12 anos. Sempre alimentei essa vontade de ter uma casa em região serrana, para poder escrever, viver, cuidar das plantinhas, resgatar animais, meditar, enfim, aquela coisa toda que tem tudo a ver comigo.

Com a pandemia, então… nossa, eu fiquei pensando em como seria bom se a gente tivesse um lugar assim para ir, já que ficar se deslocando não seria uma questão. E o desejo veio ainda mais forte, a ponto de eu falar: vou colocar no papel, vamos fazer acontecer. Lá em abril, maio, virou quase uma obsessão.

Queria ter a casa? Claro que sim. Durante essa pandemia, teria sido excelente mudar para um refúgio desses? Não há dúvida. No entanto, existem coisas que, na nossa cabeça, funcionam muito bem mas, quando colocadas em prática, talvez sejam diferentes do que a gente imaginava.

Quando eu tenho um objetivo, gosto de fazer visualizações (geralmente na cama, antes de pegar no sono), imaginando exatamente o momento em que o alcancei. Consigo me ver fisicamente no ambiente, sentir a minha reação e a das pessoas ao redor. Além de prático, é um exercício muito gostoso de fazer (recomendo muito!).

No entanto, ao fazer esse exercício, você pode se deparar com a realidade da concretização dele e perceber algumas questões que talvez não levasse em consideração quando tudo era apenas um sonho ou ideia. Ao fazer a visualização desse objetivo sendo real, sim, eu me vi feliz, sim, acho que seria uma delícia realizá-lo, construir uma casa do zero, do meu jeito. Mas aí caímos nos aspectos práticos, que seriam os seguintes.

O primeiro problema que me deparei seria com relação à disponibilidade para construir no terreno. Em que momento exatamente da minha vida eu conseguiria me dedicar a uma obra, sendo que minhas atividades hoje estão principalmente em São Paulo, onde a coisa toda está acontecendo? Eu não teria como me dedicar a uma obra em outra cidade. “Mas Thais, você também tem a possibilidade de comprar uma casa já pronta”. Sim, falarei sobre isso adiante. Mas, pegando a escritura do terreno em mãos, eu já imaginei o cenário pensando “ok, e agora? pego o documento e volto para São Paulo, deixando o terreno lá? como vou tocar uma obra nesse meu momento de vida, com cursos, doutorado batendo à porta etc.?”

Outro ponto fundamental é que o meu marido é uma pessoa essencialmente urbana. Ele não gostaria de morar “no meio do mato” de forma alguma. Ele gosta de dizer que moraria no centro da cidade, se pudesse. Ele gosta desse “agito”. Já eu prefiro um lugar mais calmo, tranquilo. Alguns amigos me sugeriram buscar um meio termo, morando em uma região serrana perto de São Paulo ou em uma casa mais arborizada que a que moramos. E sim, todas essas são possibilidades. Mas estamos felizes na casa onde moramos hoje. Não é qualquer “problema” morarmos aqui – a ideia da segunda casa seria ter um lugar para alternarmos, especialmente para descansar ou quando eu quisesse escrever.

Outra possibilidade que me veio à mente seria comprar um terreno em uma ecovila. Por ser um meio comunitário, eu teria outras possibilidades legais de compartilhamento de horta e outras questões. Mas, quando fiz o exercício de visualização, imaginando a gente vivendo nesse local, eu percebi que, talvez, dentro do meu estilo de vida, de trabalho, seria incrível. Mas e os meninos? Meu marido gostaria desse estilo de vida? Como ficaria a vida do Paul, com escola e os avós morando em outras cidades? Em resumo: a gente conseguiria curtir esse estilo de vida, ou tanto faz morar lá ou em São Paulo, com as atividades que já temos hoje?

Imagem: Hypeness

Nós tomamos a decisão de ficar aqui onde moramos mesmo e tomar algumas providências para melhorar a nossa experiência na casa. Resolvemos arrumar o quintal, e isso deve nos dar uma sensação maior de contato com a natureza. Eu preciso de um post inteiro para explicar a situação do quintal da nossa casa, e pretendo fazê-lo em algum momento.

O bairro onde moramos é muito arborizado, com um parque no quarteirão de trás. Não descarto a possibilidade de mudar para uma casa com árvores no quintal em algum momento no futuro, mas penso que devemos continuar em São Paulo, por várias razões. E, em termos de estilo de vida, não pretendo ter uma casa grande, enorme. Gosto de ter uma casa que nós mesmos possamos cuidar.

Apesar de São Paulo ter seus problemas, gostamos muito de morar aqui e de todas as facilidades que a cidade proporciona. Eu amo fazer tudo a pé pelo meu bairro, resolver a vida morando perto de tudo. Moramos em um bairro ótimo, perto do Centro, mas com seu charme de bairro, muito arborizado e tranquilo. E, apesar de estarmos em meio a uma pandemia, não podemos esquecer que isso tudo em algum momento vai passar e meu marido, por exemplo, é músico e faz shows em vários dias da semana. Quando morávamos em Campinas, que já é uma cidade perto de São Paulo (90km), era toda uma logística mais chatinha, além da preocupação dele pegando estrada várias vezes. Não tem por que complicarmos isso.

Nós já moramos em bairros mais afastados do centro e não gostamos da experiência. Amamos o bairro onde moramos. Eu não pretendo sair daqui e, se um dia mudarmos, provavelmente será no mesmo bairro ou em um bairro vizinho.

Ainda sobre o terreno e a casa no interior, existiam algumas alternativas. Por exemplo, eu poderia guardar dinheiro mais algum tempo e comprar uma casa já construída (para pular a etapa das obras) ou simplesmente comprar o terreno e começar a construir apenas depois que tudo fosse mais liberado, pós pandemia. A primeira alternativa seria ok, mas eu não vejo muito sentido, porque o grande propósito do objetivo era eu construir uma casa do meu jeito. Não quero ter uma casa na serra “apenas para ter”, mas enfim, claro que eu poderia procurar até achar uma que eu gostasse muito. Vale lembrar que isso encareceria a coisa toda também.

O que realmente me fez mudar de ideia quanto ao objetivo em si foi imaginar eu já tendo a casa pronta, em perfeitas condições. A gente moraria lá? Provavelmente não. Eu pensei na possibilidade de abrir uma pousada com a minha mãe. Ou um camping. Mas isso demandaria morar no local, e eu sei que meu marido não ia querer sair de São Paulo. Não sei se a minha mãe ia querer isso também (provavelmente sim rsrsrs, mas ainda sim demandaria minha família inteira ter que abraçar a mesma ideia, e meu marido não quer, nem o filhote).

Ter uma casa para os finais de semana? Parece ok, mas eu sei que não iria todo final de semana, justamente porque meu marido tem shows, temos outros compromissos. Além do que, compensa isso em termos de investimento? Ter um imóvel com dinheiro parado lá, que nem faz parte da nossa rotina diária?

Aprofundando nos aspectos práticos, vale lembrar que uma casa em região serrana demanda manutenção, como em qualquer outro lugar, mas com suas particularidades. Tem umidade, além de outros fatores. Plantas, horta, tudo. Não dá para ter uma casa simplesmente e deixá-la lá, sem uso. Contratar um caseiro estaria fora de cogitação. Acho muito absurdo eu ter que pagar uma pessoa para cuidar de uma casa que não consigo cuidar nem que tenho tempo de usufruir. É o cúmulo da acumulação desnecessária, ao meu ver. Eu queria a casa pelo estilo de vida que ela representa, e queria morar lá, estar lá, viver lá, cuidar das minhas plantinhas, fazer as reforminhas diárias, limpar a calha, essas coisas. Eu queria curtir isso. Ter a casa apenas para ter nunca foi o meu objetivo.

Eu não sou minimalista, mas sou adepta da simplicidade voluntária. Ter uma casa na serra seria maravilhoso para morar, pois é o estilo de vida que acredito. No entanto, morando em São Paulo, ter uma segunda casa, que nem vamos morar, não faria sentido para mim. Demandaria custos fixos a mais, manutenção a mais, trabalho a mais.

Ainda acho que ter uma casa na serra e morar nela seria uma experiência incrível. Se meu marido quisesse, eu toparia imediatamente. No entanto, não é o caso. Ele não quer, e ser casada, ter um filho, significa tomar decisões em família, e não unilaterais. Além disso, não me incomodo de morar em São Paulo. Eu gosto também. Não se trata de um “problema”. Estamos bem aqui. Ter uma casa na serra para passarmos os finais de semana ou irmos de vez em quando para descansar parecia uma boa ideia até eu pensar na parte prática e nos custos disso. Para mim, não compensa. E, se eu quiser ir para a serra, basta alugar uma casa e ir. Vou gastar menos e não terei a manutenção toda que requer. Em tempos de pandemia, não estamos viajando ou locando casa de terceiros, mas penso que esse possa ser um projeto interessante para depois – encontrar uma casa com donos legais para a gente alugar de vez em quando. Inclusive quem tem casa vazia coloca para alugar justamente para compensar os custos fixos de manter uma casa nessas condições. É uma situação ganha-ganha típica.

Prefiro investir esse dinheiro, usá-lo na reforma do quintal da nossa casa hoje, por exemplo, que é onde moramos e passamos todos os dias, para ficarmos bem na vida que já vivemos, e talvez futuramente mudarmos para uma casa que tenha mais a ver comigo, com quintal, muitas árvores, em uma rua tranquila, mas ainda assim dentro de São Paulo, com boa localização, por tudo o que representa na nossa vida.

Acho que faz parte de um amadurecimento como ser humano entender que não precisamos “ter” as coisas para usufruir das experiências que tais coisas nos proporcionariam. Acho importante sim ter um teto nosso, como segurança financeira básica, mas desnecessário ter um segundo imóvel. Prefiro guardar esse dinheiro para ficarmos mais tranquilos financeiramente. E, se em algum momento entendermos que estamos prontos para mudar de casa, isso pode entrar nos planos novamente.

Entra também um aspecto comunitário que é refletir sobre os motivos que levam uma pessoa a ter dois imóveis sendo que moramos em um país onde tantos lutam para ter suas próprias terras. Talvez eu não consiga resolver esses problemas para todo mundo, mas eu posso ajudar a nossa família, por exemplo. Minha sogra não tem uma casa própria. Não seria o caso de pensarmos em algo para eles, em vez de pensarmos em uma segunda casa para a gente usar de vez em quando? Sabe?

Um ponto que não quero deixar de comentar neste post é a visão que tenho da rotina como praticante do Budismo. Entendo que seja uma habilidade importante aprender a ser feliz onde quer que eu esteja. Eu já desenvolvo essa habilidade e estou tranquila com ela. Não acho que preciso morar nas montanhas para ser mais feliz ou ir para a Índia para me iluminar. Sei ser feliz onde moro hoje porque a felicidade é um sentimento interno.

E aqui entra também um aprendizado que tive estudando o Feng Shui: quais são os elementos da casa na serra que eu mais gostaria de viver, e como posso tentar trazê-los para a casa que eu tenho hoje? Talvez não consiga tudo, mas é provável que eu consiga trazer diversos elementos, e isso já é, por si só, algo muito legal de se fazer, e material para projetos para os próximos anos aqui na casa onde vivemos.

O propósito deste post foi compartilhar o meu processo de reflexão com relação a um objetivo que eu tinha e que, vivendo a vida, eu refleti e mudei de ideia. Isso já aconteceu com vários outros objetivos que eu tinha mas que, visualizando-os como realidade, eu percebi que não se encaixavam mais no estilo de vida que eu estava construindo para mim. E que imenso privilégio é eu poder me dar ao luxo de escolher que estilo de vida eu quero viver. Reconheço e sou grata por isso. Que eu possa usar esse privilégio para ajudar os outros, mesmo que em uma escala micro.

Obs. Algumas imagens deste post eu peguei no Google e não consegui encontrar o autor / fotógrafo. Caso você reconheça, por favor, me avise nos comentários para que eu possa creditar apropriadamente.

Planejando o futuro com a minha mãe

Algumas vezes comentei sobre esse assunto no blog e muitos de vocês me pediram para escrever mais a respeito. Um dos objetivos de cuto e médio prazo que tenho é sobre o futuro da minha mãe. Comentei que sou filha única e que minha mãe mora em outra cidade, e que eu refletia sobre isso já há algum tempo, sobre como isso influenciaria na minha vida e que eu queria ter um plano para o futuro.

Eu gosto de fazer um exercício que eu chamo de linha do tempo de 100 anos. É basicamente uma linha do tempo para a minha vida, caso eu viva 100 anos, no melhor dos cenários. Não quero entrar aqui na questão de que a expectativa de vida do brasileiro é de menos de 80 anos, e de que já serei idosa aos 60. Não é esse o ponto. É justamente uma reflexão sobre a vida ser finita. Posso viver 100 anos como posso viver 40. Ninguém sabe. É como se fosse uma tela em branco que uso para fazer reflexões sobre a vida de modo geral. Eu ensino esse exercício com mais detalhes no meu curso, no módulo de planejamento de vida.

Quando fiz esse exercício pela primeira vez, anos atrás, eu tive esse grande insight sobre a vida dos meus familiares. Minha avó ainda estava viva, mas já era velhinha. Foi esse exercício que me deu o estalo de querer fazer uma transição de carreira, voltar para São Paulo (nós morávamos em Campinas – ficamos três anos lá por causa do meu trabalho na época), para passar mais tempo com ela, permitir que ela tivesse uma vivência de bisavó com o Paul. Tudo isso foi muito acertado e conseguimos fazer isso. No último Dia das Mães em que ela estava viva, ela estava em uma cama de hospital, fazendo hemodiálise, quase sem sentidos (cognitivamente falando). Foi um dia muito, muito difícil. Eu estava com ela e passei o dia agradecendo por tudo o que ela tinha proporcionado a todos nós, como família, e que ela ficasse tranquila, pois ela tinha um bisneto que a amava, que gostava de matemática (era uma brincadeira interna. “nossa”, pois ninguém na família gostava de matemática e ela acreditava que ele seria o abençoado, e foi! rsrs o Paul ama matemática). Que ela ficasse tranquila com relação à casa, à família, ao meu tio, enfim. Foi apenas um momento a ser lembrado.

Minha avó se foi naquele ano (2018), mas ter feito esse planejamento anos antes me permitiu vivenciar uma série de coisas com ela, e é esse o valor que vejo nesse tipo de planejamento. Ainda que em uma escala diferente, tenho a minha mãe. Ela é muito mais nova que a minha avó, é claro, mas os anos passam para todos. Minha mãe está ótima. É muito ativa, tem um comércio, está bem de saúde. Mas eu sei que a idade chegará para ela também e que eu sou filha única. Moramos em cidades diferentes, e isso sempre me preocupou bastante. Como será o futuro? Se algo acontecer, qual é o plano? Pensar sobre isso não é ter ansiedade, como muitas pessoas acham. Eu, pelo menos, fico ansiosa se pensar nisso e não tiver um plano. Planejar as coisas me deixa tranquila pois eu sei que, se algo acontecer, eu já pensei nas possibilidade e isso facilita a tomada de decisões.

Este ano, tive boas conversas com a minha mãe. O que decidimos é que, em algum momento, faz sentido ela mudar novamente para São Paulo, para ficar perto de nós. De modo geral, o que decidimos é que, quando sair a aposentadoria dela (já deu entrada, mas é um absurdo como o Governo demora para liberar esse benefício, então acreditamos que ainda levará um tempo), ela se sentirá mais segura para fechar a loja (pois não dependerá desse faturamento para pagar suas contas) e fazer outra coisa. Essa “outra coisa” provavelmente será viver de artesanato, como ela sempre gostou de fazer. Minha mãe é uma pessoa de espírito livre, meio hippie. Sempre gostou de viajar, então acredito que será uma daquelas velhinhas que vai fazer viagens com outras vovozinhas, para lá e para cá, e participar de feiras de artesanato fazendo amizades e curtindo esse ambiente musical e cultural.

Aqui eu quero trazer um aprendizado que tive e que partiu de ter uma perspectiva mais humilde sobre a coisa toda. Apesar de termos combinado sobre a mudança para São Paulo, isso era algo que estava muito mais dentro da minha cabeça que da dela. Recentemente, percebi que ela gosta de morar no litoral. Voltar para São Paulo seria uma mudança de estilo de vida difícil para ela. Apesar de ela sempre ter morado em um bairro cultural e cheio de atividades do estilo que ela gosta, São Paulo é uma cidade difícil em termos respiratórios (rs). Em resumo, por mais que você more em um bairro arborizado, faz diferença você morar aqui ou no litoral. Quem se acostuma com o estilo de vida perto da praia, andando de bicicleta, respirando o ar puro, acha difícil voltar a gostar daqui. Eu sou suspeita pra falar, pois adoro São Paulo, mas não consigo negar como esse fator influencia. Eu desenvolvi sinusite, meu marido tem bronquite desde criança e nosso filho teve problemas respiratórios também. Sabemos que o clima ajuda. Em resumo, minha mãe gosta da vida dela lá, e é provável que ela queira continuar morando no litoral enquanto puder. Pesquisando sobre imóveis em São Paulo, ela sempre se mostrou levemente desapegada dessa procura, até que eu percebi que eu estava meio que “colocando o carro na frente dos bois”. Se em algum momento ela precisar, por conta da saúde mesmo, sabemos que a estrutura de São Paulo é melhor e eu estar por perto é o mais prático. Então, quando e se precisar, vamos pesquisar e alugar um apartamento para ela na mesma região em que moramos e ela vai se mudar. É isso. Mas, até lá, ela vai viver a vida dela e ser independente no lugar em que quiser viver.

Penso que o ponto mais importante seja encaixar a atenção a ela mesmo com ela morando em outra cidade. Todo mundo sabe como o ritmo do dia a dia pode tornar as coisas mais difíceis. Mas não dá pra dar desculpas. É algo que tem que ser encaixado e planejado com regularidade. Minha mãe só tem a mim, e a nossa família, então visitá-la e prover tudo o que ela precisa tem que ser uma prioridade. Isso vai ficando cada vez mais latente à medida que ela vai ficando mais velha e precisando de um suporte maior. Financeiramente, já a ajudo como posso. Que bom que cheguei num ponto da vida adulta em que isso é possível, e agradeço todos os dias por esse privilégio. Sei quantas pessoas existem e que rezam diariamente para conseguir ajudar os pais, assim como eles ajudaram os filhos a vida toda.

Uma pergunta que pode surgir é sobre se pensamos em trazê-la para morar com a gente. Nossa casa é pequena e isso nunca foi uma possibilidade. Poderíamos pensar em mudar para uma casa maior, mas não vimos necessidade. Minha mãe é uma pessoa independente e é importante que ela tenha seu próprio espaço. Ela não se sentiria à vontade morando aqui e acho que isso afetaria nossa dinâmica como casal também (marido e eu). Não vemos necessidade nisso, sinceramente. É óbvio que, se fosse necessário, devido a alguma condição de saúde, nós faríamos o que fosse preciso.

Quando ela precisar, ou quiser, a ideia é alugar um apartamento em São Paulo, com portaria 24h (ou seja, uma certa assistência imediata, em caso de emergência), na mesma região que a gente mora, onde ela possa ter o espaço dela, a casa para as suas duas gatinhas, enfim, suas coisas por perto. Mas, enquanto ela está bem, tem saúde, e quer, ela continuará morando na cidade que gosta, com ou sem aposentadoria. Esse é o plano. Tendo um plano, eu já fico mais tranquila.

Em resumo, é respeitar a decisão dela como pessoa, ser humano, e prestar todo o apoio e suporte necessário para que ela fique bem até o final da sua vida (hoje ela está com 61 anos).

Minha dica para você que percebeu que se tornou adulto e precisa cuidar dos seus adultos também é: pergunte. Não tome decisões com base no que for mais prático, organizado ou funcional para você. Converse. Pais podem ser “filhos adultos” depois de uma certa idade, mas ainda são seres humanos com suas aspirações e vontades próprias. Em caso de necessidade, é óbvio que as condições serão diferentes. Mas, até lá, apenas esteja presente, dando suporte para que sejam felizes.

Organização da rotina da casa hoje (Julho 2020)

Achei que seria interessante descrever como está a nossa rotina doméstica hoje, com quase cinco meses de isolamento.

Eu acho bastante interessante comparar todas as fases da minha vida. Hoje, eu estou indo dormir por volta das 21h e acordando por volta das 5h. Quando o nosso filho nasceu, eu não tinha como fazer isso, pois amamentava e dormia nos intervalos junto com ele (na medida do possível). Quando ele passou a dormir a noite toda (geralmente das 20h às 6h, com uma mamada noturna à meia-noite), eu conseguia dormir nesse intervalo de seis horas. Mas, com 1 ano, 1 ano e pouco de idade, ele já dormia direto. Eu poderia ter tido essa mesma rotina de dormir e acordar cedo, mas na época eu comecei a trabalhar no meu projeto (tinha emprego convencional durante o dia e à noite me dedicava ao blog). De qualquer maneira, se não fosse por isso, eu poderia ter implementado essa rotina de dormir e acordar cedo antes, mas não o fiz por vários motivos.

Hoje, eu faço principalmente pela minha saúde. Ajustar o meu corpo ao ritmo circadiano. Depois, pela qualidade de vida. Me sinto bem fazendo tudo ao raiar do dia. Tenho tempo para mim, faço as coisas sem pressa, e minha tarde se resume a responder os outros e preparar meu corpo para descansar à noite.

Como vocês podem imaginar, o principal desafio é ajustar a rotina de toda a casa, pois eu não vivo em uma bolha. Na primeira semana completamente ajustada a esse novo horário, houve protestos (rs). Tentei abrir exceções, ficando até mais tarde acordada para ver um filme com os meninos ou coisas do tipo. Mas aí eu percebi que eles mesmos precisavam de um tempo para eles. Então chegamos ao seguinte ajuste: uma vez por semana fico acordada até mais tarde para vermos um filme juntos (geralmente sexta ou sábado), mas de modo geral tentamos fazer isso mais cedo. No final das contas, deu certo. E eles mesmos têm feito mais coisas juntos depois que eu durmo cedo.

Uma coisa muito importante na relação familiar são os momentos não apenas mãe / pai / filho mas também os momentos mãe / filho e pai / filho. Nessa situação de isolamento social, a gente fica junto o tempo todo. Logo, tem sido saudável pra gente alternar. Tem sido saudável para mim, ter algumas horas pela manhã só para mim. Saudável para a minha relação com o filhote, ter minhas horas só com ele. Dele só com o pai, o pai sozinho e todos nós juntos. No final das contas, ficou um bom equilíbrio.

Então vamos para a nossa rotina.

Eu acordo por volta das 5h. Tenho a minha rotina matinal de higiene pessoal, meditação, yoga ainda no andar de cima (moramos em um sobrado). No banheiro, já dou uma geral, que no sistema FLY a Marla chama de “swish & swipe”, que é tipo você fazer uma limpeza básica na pia do banheiro, nas superfícies. Isso todo dia.

Aí eu desço e ligo minha cafeteira. Dou bom dia para o Stanley (dog) e preparo o meu café enquanto brinco com ele. Quando ele se acostuma com a minha presença, levo ele para fazer xixi, lavo as vasilhas, coloco água e comida e limpo o espacinho dele. Volto para a cozinha e guardo a louça limpa que estava no escorredor. Aproveito para dar uma geral bem básica na cozinha, abro as janelas e acendo um incenso. Pego meu café e venho para o home-office.

O horário ideal para chegar aqui é quando o sol está nascendo (por volta das 6h35 neste momento). Mas não diz tanto respeito ao horário, mas à sequência de acontecimentos. Por exemplo, se eu acordar mais tarde, faço a mesma sequência de coisas. Aqui, trabalho no escritório até umas 7h30, quando preparo o café-da-manhã do filhote e vou acordá-lo para a aula, que começa 8h10. Ficamos juntos, conversamos, é bem gostoso. Quando começa a aula dele, eu trabalho mais concentrada até umas 10h, quando é o primeiro intervalo dele. Nesse momento, eu que tomo meu café-da-manhã, se tiver fome. Brincamos com o dog, conversamos, ele me ajuda com as roupas e coisas do tipo.

Muitas vezes, nesse momento, eu já começo a preparar algo para o almoço – seja arroz ou algo assado no forno, por exemplo. Filhote volta 10h para a aula e eu volto ao trabalho, onde fico até meio-dia também. Nesse meio tempo, meu marido acorda e começa a fazer outras coisas pela casa. Geralmente ele troca as lixeiras, arruma as camas, e uma ou duas vezes na semana passa o aspirador e um pano no chão, em toda a casa. Ele que fica mais responsável pela faxina e eu cuido de detalhes. Por exemplo, ele limpa a cozinha – fogão, superfícies, piso – mas eu que gosto de limpar os potes, tirar o pó, esvaziar e limpar a geladeira, esse tipo de coisa. O mesmo vale para os outros cômodos. Eu também gosto de varrer a casa, o que faço praticamente todos os dias como um ritual de meditação mesmo. rs

Eu geralmente preparo o almoço e, se tiver algo diferente que eles queiram comer, envolvendo carne, meu marido que faz. A gente alterna quem lava a louça – geralmente quem estiver ali pela cozinha nesse horário. Depois do almoço, gosto de sentar na sala e descansar durante uma meia hora. Eu almoço cedo (entre 12h e 12h30 mesmo) e, enquanto meu marido prepara o restante da refeição deles na cozinha, fico na sala descansando. A ideia é não dormir, mas descansar os sentidos. Essa prática tem feito grande diferença no meu dia a dia.

Quando volto para o escritório, já é num clima de encerramento do expediente, mesmo tendo a tarde toda pela frente. O que quero dizer é que gosto de fazer o que demanda mais esforço e concentração pela manhã, para de tarde responder mensagens e fazer outros tipos de atividades, muitas vezes até offline. Como meu marido fica trabalhando, e ele trabalha comigo, muitas vezes ele tem dúvidas então preciso estar disponível para tirá-las.

Quando o sol começa a cair, eu paro tudo e preparo um leitinho quente (o chamado golden milk, na versão vegana, obviamente – vou fazer um post sobre ele em breve) e venho para o escritório observar o pôr do sol na montanha. Observar a mudança de claridade é um aspecto importante do meu biotipo no Ayurveda (a mudança drástica de luminosidade pode causar ansiedade). Mas na real o que é gostoso é o próprio ritual mesmo de parar e observar.

Nesse momento eu arrumo a minha mesa, dou uma geral no escritório e faço algumas coisas em casa também. Tarefas domésticas diversas – trocar a roupa de cama e de banho, guardar roupas limpas, limpar algum cômodo, lavar a louça, enfim. E, por volta das 18h ou 18h30, eu janto, sempre uma sopinha (geralmente lamen). Vejo um pouco de tv, se tiver vontade. Depois disso, procuro evitar eletrônicos para já me preparar para uma boa noite de sono. Fico lendo, conversando com o meu marido ou com o filhote, brincando com o cachorro, coisas assim.

De modo geral, a rotina deles quando vou dormir acaba sendo mais ou menos assim: o filhote fica vendo um pouco de tv, ou eles vêem um filme juntos, e o filhote dorme. Depois, meu marido fica vendo os filminhos dele. Ele é cinéfilo e, acima de tudo, tem hábitos mais noturnos (até por ser músico), então nosso acordo é: de manhã eu cuido do filhote e da casa, e de noite é a vez dele. Essa dinâmica tem funcionado para nós e permite que a gente fique junto mas também tenhamos nossos momentos sozinhos, para fazermos outras atividades.

De noite, geralmente ele lava a louça da janta, dá uma geral na cozinha, tira a roupa da máquina, já coloca a carga para lavar no dia seguinte, rega as plantas e coisas assim. Quando eu acordo, reinicio na minha rotina. É isso.

Acho que a gente chegou numa dinâmica bem legal que permite que a casa “funcione” e as atividades fiquem bem distribuídas. Conseguimos fazer o que é necessário, descansar, ter momentos de lazer, trabalhar, enfim, tudo numa boa.

Foque no mínimo diário!

Este é um momento de desenvolvermos empatia. De não cobrar situações e comportamentos ideais de ninguém, pois é uma situação temporária e em que todos estão fora do seu centro.

Tenho recebido mensagens, desabafos e pedidos de ajuda diariamente de pais e mães que estão preocupados com seus filhos nessa rotina atual. Não apenas com relação à organização da rotina, mas com o bem-estar emocional deles, o que é absolutamente normal.

Eu estaria sendo desonesta se dissesse que tenho uma fórmula mágica! Não existe! Cada família é de um jeito e tem a sua dinâmica! Algumas coisas que eu sei:

  • Toda criança, seja bebê ou pré-adolescente, se beneficia de uma rotina minimamente definida. O que fazer quando acorda, as refeições, quando tomar banho, o básico. Isso dá segurança para as crianças e ajuda na organização da rotina dos adultos também.
  • Se já tinha demanda emocional antes, agora a tendência é ter muito mais! As crianças sentem medo, ficam ansiosas, sabem que as coisas não estão normais! Então faz parte a gente estar mais disponível pra eles, que seja com carinhos e abraços, mas também conversando ou fazendo companhia. Mesmo bebês merecem mais colo! Eles sentem!
  • Períodos de transição passam! Não fique se cobrando solução de coisa que não tem solução! Ninguém quer que o filho fique no tablet muito tempo, mas estamos vivendo uma realidade complicada! Os pais estão sendo obrigados a trabalhar e a lidar com um, dois, três filhos em casa! Não se cobre tanto! Ninguém está vivendo em uma situação ideal! Seu filho não vai ter essa rotina pra sempre!

Vou trazer aqui tambémuma recomendação que serve para todas as pessoas – tenham ou não filhos, com filhos bebês ou adultos. O ponto mais importante a se compreender sobre o processo pessoal de organização é que ele deve sempre ser personalizado para a sua vida.

Independente de estarmos vivendo em tempos de pandemia, algumas situações trazem sobrecarga. Por exemplo, quando um bebê recém-nascido chega na casa, isso muda completamente a dinâmica de tudo. Quando você faz faculdade e trabalha o dia todo, também muda. Quando você começa a trabalhar em um lugar que alterna os turnos, vai mexer com o seu sono, e vai levar um tempo até que se acostume (e tem gente que nunca se adapta – vale para o exemplo da faculdade e o exemplo do recém-nascido). Uma coisa é certa: não é possível organizar tralha. Logo, se você estiver se sentindo sobrecarregada/o, precisa ajustar expectativas e entender que não vai ter como fazer tudo, manter a mesma dinâmica de “antes”, diante dessa nova configuração atual.

Eu sempre comento que eu era uma pessoa que amava ter a casa 100% limpa e arrumada até o meu filho nascer. Quando eu percebi que estava exausta porque estava tendo expectativas fora da realidade sobre manter a casa limpa como antes em período de amamentação, isso mudou minha perspectiva com relação ao processo de organização. A organização deve refletir suas prioridades sempre. Naquele momento, a prioridade era cuidar do meu bebê e da amamentação. Dormir bem, descansar, ficar bem para cuidar dele. Durante alguns meses, todo o restante podia esperar. Essa foi a escolha que eu fiz.

Reconhecer o mínimo necessário a ser feito diariamente, em todas as áreas da vida, é um raciocínio prático. Você pode aplicá-lo em absolutamente todas as áreas da sua vida. Por exemplo:

Saúde
Talvez você não consiga mais ir à academia diariamente depois que o seu filho nasceu. No entanto, qual o mínimo que conseguiria fazer todos os dias? Talvez alguns abdominais enquanto ele dorme? Uma prática rápida de yoga? Uma sequência de polichinelos que ainda vai fazer o seu filho dar gargalhadas?

Casa
Talvez você não consiga mais manter a casa como mantinha antes. O que é necessário fazer todos os dias para que ela “não caia”? Lavar a louça, cuidar da comida, trocar as lixeiras, cuidar da roupa, dar uma varrida no chão? Só você pode saber, pois depende de quantas pessoas moram na casa, se você tem algum prestador de serviço para ajudar ou não etc. E tem pessoas que preferem a casa de um jeito diferente – mais limpa, menos limpa.

Estudos
Talvez você não consiga estudar quatro horas por dia para o seu concurso público depois que o seu filho nasceu. Como você consegue estudar ao longo do dia? Talvez apenas revisar mapas mentais e conteúdos e, quando ele dormir, consegue estudar com mais concentração? Ou talvez você queira esperar algum tempo ele crescer mais para que você possa se dedicar aos estudos.

Organização não tem a ver com copiar exemplos de outras pessoas, mas com entender a sua rotina, as suas necessidades, quem você é, e aplicar tudo isso à sua realidade atual, que terá necessidades diferentes não apenas da de outras pessoas, como suas mesmo, pois a vida muda e não somos a mesma pessoa que éramos um ano atrás.

Então:

  1. Aceite que se trata de uma nova situação atual. Ela é temporária, mas não se sabe quanto tempo vai durar. Mas é a situação atual.
  2. Encontre o mínimo satisfatório em todas as suas atividades e áreas da vida para fazer diariamente, e foque nessas coisas. Se sobrar tempo, você faz o que era desejável.

“Ah, mas eu gostaria de manter a mesma rotina de estudos / saúde / finanças de antes”. Volte ao tópico 1 para não se sentir frustrada/o. É simples assim. 😉

“Quando tudo isso passar, vou me organizar”. Não é assim que funciona também. A organização deve ser para a sua vida e te ajudar exatamente nesses momentos mais desafiadores. Não há por que esperar chegar em um determinado momento – o momento é agora, e é excelente para você rever seus processos e olhar com mais compassividade para a sua rotina, para se cobrar menos.

Ideias para quem trabalha em casa com crianças

Estou achando maravilhoso que o mundo tem descoberto como é difícil o dia a dia das mães que trabalham em casa e ficam com os filhos! Não é nada fácil, não é mesmo?

É uma situação desafiadora e as recomendações obviamente vão depender demais da idade dos filhos, da quantidade deles, da estrutura familiar, das condições financeiras e outros fatores. Portanto, vou procurar trazer dicas que sejam democráticas, buscando abrigar a maioria das condições, mas espero que entendam essa condição impossível de trazer soluções para todo mundo. O importante é cada um fazer aquilo que pode dentro das suas necessidades.

  • Converse com os seus filhos para que eles compreendam a situação e tenham a chance de manifestar o que têm vontade de fazer. Eu cheguei com uma programação de atividades pronta para o meu filho e no primeiro dia ele quis aprender a tocar um instrumento musical (que tínhamos em casa). Ele passou o dia vendo tutoriais no YouTube e treinando, e tanto eu quanto o pai dele conseguimos trabalhar tranquilamente. Você pode ter ideias, mas dependendo da idade dos seus filhos, eles podem ter suas próprias e te surpreender. Dê essa chance.
  • Com mais de uma pessoa em casa, sempre é mais fácil. Se tiver a possibilidade, alterne com outra pessoa (o pai ou a mãe, ou outra pessoa) quem trabalha e quem entretém a criança durante um tempo. Aqui em casa, quando preciso me concentrar, meu marido fica com o filhote, e vice-versa.
  • Quando posso trabalhar sem tanta concentração, ele fica comigo, fazendo alguma atividade, mas sempre conversando. Não me atrapalha se eu tiver a expectativa do que é esse trabalho. Uma coisa é escrever, que demanda concentração total. Isso não dá pra fazer com ele me fazendo perguntas a cada 3 minutos. Mas eu posso editar um vídeo, arrumar o escritório, fazer uma série de outras atividades com ele junto comigo fazendo outras.
  • Quando estou sozinha com ele e precisa fazer uma reunião ou me concentrar, eu aviso que não poderei ser interrompida e uso o fone de ouvido. Fico de olho nele mas consigo fazer o que preciso. Não dá pra ficar o dia todo assim, pois ele precisa de atenção, mas em alguns momentos é possível.
  • Integrar a criança às atividades pode ser uma boa para distraí-los. Desde o momento em que ele acorda, ele entra no jogo aqui. Café-da-manhã, ele está na cozinha preparando comigo. Yoga, faz comigo. Tirar roupa da máquina e dobrar, chama junto. Desse modo, você está presente. Quando precisar se concentrar e pedir para ele ficar quietinho em uma atividade individual, será mais fácil de ele ficar, pois não sentirá sua falta tanto assim.
  • TV, celular, computador, vídeo-game não são o mundo ideal, mas acho que vivemos em um estado de exceção. Se você precisa trabalhar e a única maneira, em alguns momentos, é permitir essas tecnologias, não se culpe tanto. Faz parte!
  • Manter a rotina o mais próximo possível do normal. É muito rápido mudar e começar a dormir mais tarde, mudar o horário de almoço, de banho etc. Crianças não combinam com falta de rotina. Elas precisam da rotina para se sentirem seguras. Além disso, especialmente no que diz respeito ao sono e à alimentação, a rotina regular permite que o corpo não sofra com mudanças. Tudo o que não queremos é baixar a imunidade.

Estão circulando pela internet diversas ideias de atividades e brincadeiras para entreter as crianças em casa. Logo, ideias não faltam. Aqui vão algumas:

  • Usar a grade horária da escola para revisar as matérias e lições de casa. Não apenas as lições, mas pesquisar vídeos no YouTube sobre o assunto, ler nos livros, enfim, estudar propriamente dito.
  • Atividades domésticas. Cada idade permite um grau de envolvimento e segurança. Dobrar as roupas, arrumar as camas, passar um pano nas superfícies, preparar seu próprio lanche são coisas simples que as crianças podem fazer. Não é pela complexidade, mas pelo senso de participação.
  • Ajudar no trabalho. Dependendo da idade da criança e da sua atividade profissional, ela pode ajudar de alguma maneira. Verifique a viabilidade.
  • Entretenimento offline. Se tiver quintal ou varanda, ótimo. Use! Cachorro, piscina e outras atividades ao ar livre não vão faltar. Para lugares fechados: leituras, colagens, massinha, receitas (na cozinha), quebra-cabeça, jogos de tabuleiro, instrumentos musicais, algum hobby, desenho, pintura, escrita, quadrinhos, brincadeiras diversas.
  • Entretenimento online. Filmes, séries, desenhos. Promova maratonas. Faça pipoca e brigadeiro. Gravar vídeos para um canal próprio no YouTube. Tirar fotos. Vídeo-game. Vídeos no YouTube. Telefonar para a família e amigos. Joguinhos na Internet.

Outra coisa: da mesma maneira que as pessoas da sua equipe te interrompem no trabalho, sua família e seus filhos vão te interromper em casa. Faz parte da convivência com outras pessoas. Seja paciente, pois seus filhos também estarão preocupados e, provavelmente, sentindo mais necessidade de presença e carinho. É outro ritmo de vida. Aceite.

Todos nós, como seres humanos, precisamos aprender a lidar melhor com essas mudanças inesperadas. Quem sabe assim aprendemos a pensar mais no outro e a viver em comunidade (que inclui a família)?

Espero que o post tenha sido útil para quem está tendo dificuldades com esse momento.

Organizando a rotina de estudos de uma criança no 5o ano

Filhote está no quinto ano, o que é um absurdo, pois eu ainda sou a criança que está no quinto ano. kkk Brincadeiras à parte, eu me lembro claramente da minha época do quinto ano, e é incrível que meu filho esteja nessa idade. Ele está numa época ótima e eu confesso para vocês que termos nos resolvido com a questão “que escola” fez muita diferença na maneira como ele se sente e no ensino dele.

Na escola que ele estuda, eles dão um livrinho com todos os tópicos pedagógicos que serão estudados ao longo do ano, em todas as matérias. Eu gosto de estudar esse livrinho com atenção e revisar mês a mês, para ver em que pé ele está.

Quando os livros chegaram, eu também revisei todos, para garantir que não tenha nada muito polêmico ali que eu pudesse ter que reclamar com a escola (tipo, terraplanismo). Não teve, ufa! Então seguimos.

Uma coisa que fizemos antes de as aulas começarem também foi uma revisão da estante dele de livros para abrir espaço para as apostilas e materiais do ano corrente. Separamos alguns livros para doação e arrumamos o que ficou. Gravamos um vídeo com esse processo. Ficou bem engraçado – você pode conferir aqui.

A estante dele fica propositalmente ao lado da escrivaninha no quarto, de modo que ele possa fazer a lição dele ali. Temos iluminação e a janela logo em cima da mesa, assim como os porta-canetas com tudo o que ele precisa.

Para mim, a grande diferença aqui no lance do quinto ano é que ele tem professores diferentes para algumas matérias (o que foi uma grande novidade para ele) e tem mais lições, aulas em alguns sábados, provas praticamente toda semana. Por isso, não dá para bobear. A rotina não é mais tão leve quanto era no ano passado, e a ideia é que ele estude todos os dias.

O que ainda estamos buscando uma maneira legal de implementar é revisar as aulas que ele teve no dia e depois fazer a lição de casa, mesmo que seja para a aula da semana que vem. Eu quero que ele implemente esse hábito de revisar e estudar porque acho que isso será uma habilidade importante em qualquer profissão que ele possa querer seguir. Eu também quero que ele aprenda a fazer mapas mentais este ano.

Outro ponto importante é fazer paralelos do estudo dele na escola com coisas fora. Por exemplo, se alguém fizer algum comentário sobre racismo, eu já puxo assunto sobre o histórico da escravidão e como isso foi impactante no Brasil etc etc. Dessa maneira, o assunto se torna interessante porque ele vê vínculo com a sua realidade. Esse é um exercício constante, de enxergar oportunidades no dia a dia.

Além da escola, ele também está desenvolvendo novas habilidades, como comunicação (estamos pensando no curso de teatro) e meditação (ele começou em janeiro no centro budista). Acredito que ambas as coisas sejam “soft skills” essenciais para essa nova geração que nasceu tão mais inteligente que todos nós. Vamos precisar nos comunicar bem (redes sociais! a era do compartilhamento) e lidar com a ansiedade (por isso a meditação).

Como eu gosto muito de ler e de estudar, para mim, o grande legado que posso deixar para o nosso filho é justamente dar esse exemplo e mostrar como estudar é maravilhoso, e não algo chato que a gente faz por obrigação. Estudar abre barreiras, desfaz limites, explora a imaginação e nos ensina a fazer coisas incríveis. Se eu conseguir passar essa mensagem para ele, ficarei feliz.

Divisão de tarefas em casa

Um dos temas que eu mais recebo reclamações diariamente é sobre como dividir tarefas em casa, como fazer com que marido e filhos façam a sua parte e outros assuntos relacionados.

Aqui na nossa casa, acho que já comentei algumas vezes ao longo dos anos, tudo isso foi um processo.

Meu marido, como todo homem da geração dele, cresceu em um ambiente familiar em que a mãe e as irmãs mulheres sempre cuidaram da casa. Quando nós começamos a namorar, ambos éramos adolescentes e muito novos para levantar essas questões. A geração de hoje já é mais antenada nessas problematizações, mas nós não éramos, especialmente porque demoramos para casar e morar juntos.

E, quando casamos, ele tinha dois trabalhos. Quase não ficava em casa. Eu já trabalhava em casa. Logo, acabou sendo um processo meio natural eu ficar responsável pela maioria das tarefas domésticas. Eu sempre gostei de cuidar da casa e manter as coisas organizadas, então não foi um problema para mim.

Tudo ficou diferente com o nascimento do nosso filho. Cuidar da casa, cuidar do bebê e cuidar da minha saúde (tive pré-eclâmpsia durante a gravidez e, depois, algumas consequências disso, tipo enxaquecas diárias) ficou bem pesado. Quando o filhote tinha quase um ano de idade, nós conversamos e resolvemos que eu voltaria a trabalhar fora, até porque seria melhor para nós em termos de receita familiar. Ele ficou com o trabalho com música (que tinha horário mais flexível) e pediu demissão do lugar onde trabalhava, e eu voltei a trabalhar em uma agência de publicidade. Nesse mesmo ano, consegui um emprego em uma empresa em Campinas, e ao final do ano mudamos para a cidade no interior de SP.

Eu diria que essa mudança foi o grande potencializador da coisa toda na nossa casa. Como agora eu passava o dia todo fora, trabalhando, e muitas vezes chegava a viajar a trabalho, não tinha como meu marido não ficar responsável pelas atividades. Morávamos em um apartamento com três dormitórios. Ele preparava as refeições e mantinha a casa limpa. Eu cuidava mais dos detalhes, tipo limpar lugares que ele provavelmente não lembrava de limpar e cuidar da organização das coisas – compras para preparar as refeições na semana, compra de insumos diversos, contas etc.

Simplesmente teve que ser assim porque senão não teríamos comida na mesa, uma casa minimamente arrumada e limpa e nosso filhote não cresceria em um ambiente saudável.

Hoje temos uma configuração de vida muito legal que nos permite descansar mais, devido à flexibilidade de horários de ambos.

Nós moramos em um sobrado, e morar em uma casa é muito mais trabalhoso de manter do que morar em um apartamento.

Ele sempre cozinhou em casa, mas depois que virei vegana eu passei a preparar mais as refeições, porque eu estava comendo coisas diferentes. Eu gosto muito de cozinhar e acho terapêutico parar uma vez por dia e preparar alguma refeição.

Ainda sou responsável por organizar o menu da semana e preparar a lista de compras no mercado. Para otimizar, peço muito entrega via delivery (o mercado) ou simplesmente dou a listinha (pelo What’sApp) e ele compra tudo no mercado, quando passa o dia fora, de carro, por ser mais fácil para ele o trajeto.

Com relação à limpeza, ambos mantemos no dia a dia. Trocar as lixeiras, lavar a louça, limpar as superfícies, varrer a casa, arrumar as camas, trocar toalhas. Toda essa logística de manter a casa arrumada e limpa diariamente é dividida por nós. Não tem “tensão” alguma aqui. Quem estiver disponível acaba fazendo.

Depois de um tempo morando aqui no sobrado, nós resolvemos trazer uma pessoa para fazer a faxina mais pesada uma vez por semana. Como não ficamos tanto em casa, acabou sendo desnecessário, e agora ela vem a cada 15 dias. Isso nos ajuda bastante porque o que costuma tomar mais tempo é essa faxina mais pesada mesmo – esfregar box, passar aspirador, limpar janelas, piso, garagem. Antes, no entanto, quando morávamos em apartamento, conseguíamos dividir essas tarefas sozinhos tranquilamente, mesmo com a rotina de trabalho que temos, que na época envolvia muitas viagens.

Temos uma certa preocupação com o Paul realizando algumas atividades domésticas porque ele tem alguns problemas respiratórios. Então varrer, que seria algo que na idade dele seria fácil de fazer, ele não pode fazer. Bater travesseiros, trocar roupa de cama – tudo o que envolve pó, ele não pode fazer. Mas ele colabora com outras coisas:

  • Guardar as coisas que estejam fora do lugar
  • Preparar o próprio lanchinho
  • Levar louças sujas para a pia
  • Colocar roupas sujas no cesto
  • Ajudar a dobrar a roupa limpa que sai da máquina
  • Arrumar a cama
  • Dobrar e guardar a própria roupa

Além de estar sempre presente quando estamos fazendo alguma atividade.

Nós elaboramos um esquema de “mesada meritocrática” que fica na geladeira, com tarefas listadas, e tudo aquilo que ele fizer ou não fizer ganha ou perde pontos (que resultam em mais ou menos dinheiro ao final do mês). Em breve farei um post só sobre ela. Mas ele não ajuda em casa por causa da mesada não, e sim porque sempre explicamos para ele a importância de ajudar a mamãe e o papai nas atividades, pra não ficar pesado pra ninguém. Ele ajuda tranquilamente e até se oferece quando vê que a gente está para lá e para cá fazendo as coisas.

Pagar uma faxineira para limpar a casa pode significar mais tempo livre com o meu filho, que é algo que só eu posso fazer

Ajuda demais termos essa dinâmica porque o fato de o meu marido fazer as coisas em casa dá o exemplo para ele. É a melhor educação de todas. Não se pede nem se força nada – ele vê que é simplesmente parte da equipe “casa”.

Eu entendo que há casas em que essa dinâmica simplesmente não exista. E eu não vou falar para você trocar de marido ou de esposa. São vários fatores que influenciam aqui, e tudo se trata de relacionamentos. Não é fácil gerenciar qualquer tipo de relacionamento e só você pode saber como lidar com a pessoa que está ao seu lado. O que posso dizer é que felizmente os tempos estão mudando, e hoje os homens fazem muito mais coisas em casa, o que é excelente, mas ainda assim as mulheres se sentem sobrecarregadas. Estamos no meio dessa mudança, e penso que a geração do Paul já vai ser completamente diferente. Educar um menino em casa para que ele veja as atividades domésticas como parte da vida é como eu faço a minha parte hoje.

Como estamos falando sobre casa minimalista este mês no blog, não posso deixar de dizer que uma casa com menos coisas e com menos complicações facilita a vida de todo mundo. Quanto menos coisas para fazer, mais tranquila é a divisão. Cada família deve chegar a um consenso sobre como deve organizar a própria rotina em casa, de modo que ninguém se sobrecarregue.

Maternidade

Este é o penúltimo post relacionado ao nosso tema do mês – estilo de vida. Foi um mês mais reflexivo, com posts enormes, que levei dias para escrever cada um. E a ideia foi me concentrar neles, em vez dos posts diários. Falo mais sobre essas percepções e descobertas na newsletter, enviada toda segunda-feira. Se você não estiver cadastrado/a, está perdendo conteúdo. 😉

Já falei sobre: áreas da vida no Trello, visão para os próximos 9 anos (numerologia), gezellig (meu conceito de “casa”), voz, budismo beatnik e veganismo. Hoje vou escrever sobre maternidade, e antes do final do mês teremos mais um sobre moda e estilo pessoal. Aí encerramos.

Algumas mulheres têm o sonho de serem mães desde muito novas, pois essa é a cultura que vivemos e que muitas vezes se impõe a nós. Tenho certeza que sofri influência da minha mãe, pois ela nunca me deu bonequinha de presente nem alimentou esse inconsciente na minha infância, por isso eu cresci mais querendo fazer outras coisas que pensando na maternidade em si.

Quando eu conheci o meu marido e nós começamos a namorar, de alguma maneira essa vontade despertou em mim, porque nos amamos muito desde o início. Mas claro: eu era nova, estava em época de vestibular, e tinha muita coisa pela frente ainda antes de pensar em ser mãe.

Passei por MUITA coisa nesse meio tempo, especialmente relacionada ao trabalho, sobrecarga e a vontade de mudar de carreira. Tive meu período minimalista, que foi radical e, portanto, essencial para me trazer reflexões, e foi naquele momento que eu percebi que queria ser mãe. Simples assim. Aproveitei que queria fazer uma transição de estilo de trabalho (e trabalhar em casa) e começamos a nos preparar para ter um filho. Eu saí do emprego que eu estava na época e passei a trabalhar em casa, com vários clientes freelancers para webdesign e conteúdo.

Foto do quarto do meu filho (arquivo pessoal)

Quando eu engravidei, algumas coisas aconteceram na minha vida. Meu pai, que já estava com a saúde debilitada (ele teve leucemia), ficou ainda pior. Exatamente uma semana antes do Paul nascer ele morreu. Tinha câncer.

Por volta do meu sétimo mês de gravidez, eu comecei a passar um pouco mal de maneira esquisita e descobri também que estava com pré-eclâmpsia, que é uma espécie de doença que só acomete durante a gravidez, mas que também é uma das maiores responsáveis por problemas na hora do parto ou mesmo depois. Geralmente quando a gente vê alguma mulher morrendo na hora do parto, foi decorrente de eclâmpsia, que é tipo uma pressão alta fortíssima na gravidez.

Por conta disso, o último mês de gravidez, especialmente, foi bastante preocupante, pois eu tinha que ir diariamente ao hospital medir os batimentos cardíacos do bebê e, em determinado momento, foi necessário adiantar o parto. O Paul nasceu umas duas semanas antes do previsto, por conta disso. Foi cesárea.

A pré-eclâmpsia teve muita influência na minha recuperação, porque eu sentia dores de cabeça quase insuportáveis e não conseguia sequer dormir quando deveria (quando o bebê estivesse dormindo). Para piorar, acabei tendo um desentendimento com a minha mãe na época, e eu precisei “migrar” às pressas para a casa da minha sogra para que ela me ajudasse com o bebê enquanto eu estivesse “doente”. Ou seja, precisei sair da minha casa, do nosso cantinho, para ficar hospedada em outro lugar, totalmente sem as minhas regras e a minha liberdade. Minha sogra é um anjo e me tratou muito bem como sempre, fazia as comidas para mim, aquela coisa toda. Mas tudo isso influenciou demais no meu estado, e fiquei com medo de ter depressão pós-parto. Meu marido quase não ficava em casa pois ele tinha dois empregos na época.

Na época a gente não tinha celular e notebook como se tem hoje em dia, então foram dias quase que intermináveis para mim. Eu sentia muita dor de cabeça, não conseguia dormir, não conseguia ler, estava triste pelo meu pai, por ter brigado com a minha mãe e por estar longe de casa. E ainda estava preocupada, com medo que minha pressão subisse demais e eu tivesse um “treco”. É óbvio que isso influenciou na minha produção de leite e, em algum momento no tempo e no espaço, o Paul foi pesado no pediatra e veio a notícia: “vai precisar suplementar”. Fiquei chateada porque estava engajada no lance da amamentação, mas nunca questionei e a saúde do meu filho sempre veio em primeiro lugar. A gente confia nos médicos. E, assim, com uma semana de suplementação ele ganhou todo o peso que precisava e eu fiquei me sentindo ainda pior por não ter sido capaz nem de amamentá-lo direito. A cabeça da mulher no puerpério é uma loucura, gente.

Voltamos para a nossa casa cerca de um mês depois que ele nasceu, ou um pouco mais. Basicamente, quando eu já tinha me recuperado da cirurgia e o risco da eclâmpsia tivesse praticamente sumido. Morávamos em um sobrado, então antes eu não podia subir ou descer escadas, por causa da cesárea. Mais recuperada, pudemos finalmente ir para casa, o que mudou muito a minha relação com a rotina de ser mãe.

Felizmente eu, por ser uma pessoa de métodos, li na época um livro que foi fundamental para mim, de uma autora chamada Tracy Hogg, mais conhecida como “a encantadora de bebês”. Ela desenvolveu um método para entender como seu bebê é (de personalidade) e adequar a rotina dele com base em suas necessidades de fome, sono, ficar acordado, ter vínculos com os pais etc. Vindo para casa, fui colocando o método em prática e todos nós ficamos bem. Com seis meses, o Paul já dormia de noite direto. Tomava o leite (suplemento) por volta das 21h, depois eu dava novamente por volta da meia-noite, sempre com a luzinha do quarto bem baixinha, pra mostrar que era hora de dormir, e ele ia direto até de manhã. O dia em que eu dormi quatro horas seguidas depois do parto foi revolucionário para mim. E quando ele começou a dormir mais durante a noite, nessa época, tudo mudou definitivamente.

Em algum momento antes de ele completar um ano de idade, meu marido estava muito insatisfeito com a sua rotina, muito cansativa, de dois trabalhos, e tivemos uma conversa que mudou tudo o que faríamos a seguir. Eu estava me sentindo mal por ficar apenas em casa. Estava sendo muito deprê para mim. Claro que o Paul era o fator mais importante de todos, mas eu precisava sair. A coisa do meu pai, putz, tudo isso me deixava mal de ficar em casa, sozinha com meus pensamentos. Então nós conversamos e concluímos que seria muito mais efetivo eu voltar a trabalhar, pois eu era gestora quando saí do meu último emprego, e conseguiria algo melhor, com um salário melhor que o do meu marido. Ele poderia focar na música (que era a segunda atividade dele), ficaria em casa durante o meu período de trabalho, e eu poderia fazer minha pós-graduação, que era algo que eu acreditava que me ajudaria a conseguir um salário melhor dali em diante. Ele pediu demissão no início de janeiro, e em fevereiro eu já tinha arranjado um novo trabalho, e assim nossa dinâmica mudou radicalmente. Foi um desafio para todos nós, mas estávamos firmes no propósito.

Mais ou menos na metade do ano, recebi uma proposta de trabalho para ir para o interior de São Paulo, o que nos pareceu uma boa ideia porque eu (1) queria sair do mundo das agências de publicidade e (2) sempre tive em mente que sair de São Paulo e ir para o interior nos traria mais qualidade de vida, especialmente com um filho pequeno. Eu aceitei o emprego e, antes de decidirmos se era isso mesmo o que a gente queria, eu fiquei durante uns seis meses indo e voltando de ônibus fretado diariamente, o que era MUITO exaustivo. Saía de casa enquanto ele estava dormindo e, quando chegava, de noite, frequentemente ele já tinha ido dormir também. 🙁 Para o Paul não sentir tanto a minha falta, optamos por colocá-lo em uma escolinha em tempo integral para se distrair. Ele nunca estranhou. Sempre amou conhecer pessoas. Isso foi muito acertado na época, sabe, vendo hoje em dia. Ele tinha pouco mais de um ano.

No final daquele ano, resolvemos finalmente mudar para Campinas, e assim fomos, em dezembro mesmo. Foi uma grande mudança para a gente, porque estaríamos longe da nossa família pela primeira vez, e era como se uma nova era se abrisse e nos tornássemos “adultos de verdade”.

Nós moramos em Campinas durante três anos. Todo final de semana vínhamos para São Paulo – meu marido tinha shows e eu tinha a pós, que era aos sábados o dia inteiro. Foi uma época bastante difícil em termos de volume, pois íamos para lá e para cá o tempo todo, e eu tinha que conciliar trabalho com curso com maternidade com casa e com o blog. O pessoal todo em outro ritmo, na pós, e eu gerenciando o meu limite de faltas porque o Paul teve febre e passou o dia no hospital, ou porque da outra vez estava com tosse e eu quis ficar com ele enquanto meu marido ia trabalhar, para ele não ficar longe dos dois de uma só vez, e tantos outros desafios que quem tem filho sabe como são.

2011 foi o ano que resolvi “profissionalizar” o blog, no sentido de postar todos os dias, desenvolver um calendário editorial etc. Na pós-graduação, meu TCC foi a profissionalização mesmo dele – desenvolvendo logo, missão, visão, a coisa toda. Então, entre 2012 e 2013, ao final do curso, eu descobri que queria muito trabalhar com organização.

Morando em Campinas, o que eu fiz foi conciliar o meu trabalho na época com esse trabalho com o blog. Funcionava mais ou menos assim: chegava em casa umas 18h30, ficava com o Paul até a hora de ele ir dormir, e aí ia trabalhar no blog, até 1h ou 2h da manhã. Acordava umas 7h e ir para o trabalho. Foi assim durante todos esses anos, até 2014, quando pedi demissão. Então não foi nada fácil nem do dia pra noite, gente. Às vezes as pessoas vêem o que eu tenho hoje e acham que a minha vida foi sempre assim.

Não teve um só momento em toda a minha vida que eu não me sentisse culpada por estar trabalhando demais e passando tempo de menos com o meu filhote. Mas, a partir do momento que o meu marido saiu do emprego dele e eu era responsável pelo sustento da nossa família, eu não tinha escolha. Então eu sempre fiz de tudo para ter um tempo de qualidade com o Paul quando não estivesse trabalhando. Ficar até de madrugada trabalhando no blog não era nada. O importante era eu passar o tempo anterior com ele, e depois fazer as minhas coisas.

Nessa época, em 2013, a gente já começou a alimentar a vontade de querer voltar para São Paulo. Estava com saudade da minha avó, queria que o Paul convivesse mais com ela, com a minha mãe e com a minha sogra. Todo mundo estava sentindo nossa falta também. Pensando nele mais uma vez, eu decidi que, a partir daquele momento, desenharia com seriedade a nossa volta através de uma transição de carreira. Eu queria trabalhar com organização, só não via como, ainda. Mas eu faria isso acontecer.

A primeira coisa relacionada foi começar a trabalhar para a Call Daniel naquele ano mesmo. A Call Daniel é a franquia do método GTD™ no Brasil, e eles não tinham ninguém cuidando do marketing deles. Fiz uma proposta e comecei a trabalhar como consultora, à distância, o que já nos trouxe um faturamento extra mensal. Desde o início, estudávamos a possibilidade de eu me tornar instrutora da metodologia. Isso aconteceu finalmente um ano e meio depois, o que me deu a segurança de pedir demissão e voltarmos para São Paulo. Na mesma época (2014), meu primeiro livro seria publicado, e eu já tinha me preparado nos anos anteriores deixando o blog bem profissional e também fazendo cursos e formações como personal organizer, para atuar na área. Teve todo um preparo de anos.

Voltar para São Paulo foi um marco de vida para nós, porque o Paul já estava maior (4 anos) e as avós amaram muito! Todo mundo deu apoio pra gente na época, então nunca teve nenhum tipo de “crise” quando precisássemos deixar o Paul com alguém devido ao nosso trabalho ou porque ele mesmo queria. Desde muito cedo ele se acostumou com a mamãe trabalhando mas que, mesmo trabalhando, ela estava ali cuidando e amando ele muito muito. Ele sempre cresceu rodeado de amor.

Existem muitas maneiras de criar um filho. Para mim, a maneira de fazer todas as coisas na vida é ser uma boa pessoa, pois quem você é ensina qualquer um ao seu redor pelo exemplo. Não adianta eu querer impôr algo dentro de casa ao meu filho se eu não faço daquilo um hábito que ele me vê fazendo. Foi ali que eu percebi que queria ter uma rotina de trabalho mais leve, mais legal, mais iluminada e bem-humorada. Essa sempre foi a minha maior preocupação – ficar bem, por ele.

Hoje ele tem nove anos. Eu digo: “acho que essa é a melhor fase dele!”, no que meu marido responde: “todo ano você acha que é a melhor fase dele!”. Eu curto demais a maternidade. Acho um privilégio você ser responsável pela criação de um ser humaninho para o mundo. Dá para entender a aflição que os pais sentem quando o filho cresce e quer sair de casa, porque é muito apego sentimental, sem dúvida. Para mim, a sensação que melhor descreve o que eu sinto com relação ao nosso filho é “como ter seu coração batendo fora do corpo”. É exatamente isso. Ouvi essa expressão quando ele era bebê e até hoje me sinto assim.

À medida que ele vai crescendo, ele vai desenvolvendo personalidade própria, questionando coisas, tendo suas curiosidades e momento mais autônomos. Eu me surpreendo diariamente com as coisas que ele faz ou diz, e sigo cada vez mais apaixonada.

Ter chegado ao que eu tenho hoje, que é: nossa casa própria, um trabalho que me permita flexibilidade suficiente para estar perto dele, e ter um filho independente que nunca chorou quando eu precisei que ele ficasse com a avó para eu ir trabalhar (ele ama! porque toda avó mima muito os netos, lógico) – tudo isso me dá segurança de cada vez mais me desenvolver como mãe e ver a evolução dele como ser humano mesmo.

A educação é uma construção diária. Tudo é aula. Tudo é exemplo. Ter um filho me tornou um ser humano melhor, porque eu quero ser a versão que ele acredita que eu sou mesmo. Não se trata de perfeição, porque a vulnerabilidade é um ensinamento importantíssimo também. Ele ter me visto triste ano passado quando a minha avó morreu foi fundamental para entender que a mamãe não é imbatível, e que faz parte das relações humanas estarmos juntos e nos apoiarmos, pois isso que faz com que a gente se sinta amado e vinculado um ao outro.

Não sou perfeita. Cometo erros aqui e ali. Mas minha intenção sempre é a melhor possível, especialmente com relação a ele. Mais uma vez, o que me importa na maternidade é cuidar dele e dar o exemplo. Não tem como você criar uma criança que não seja pelo seu exemplo.

Tem toda aquela história de você ter que decidir se prefere ser amiga do seu filho ou tratá-lo com um pouco mais de firmeza e autoridade. Meu marido é mais rígido que eu aqui em casa. Acho que, pelo fato de trabalhar bastante, eu quero ser sempre a melhor mãe do mundo quando estou com ele. Isso não quer dizer que eu não seja firme quando necessário. Mas, quando preciso ser, ele me obedece, porque respeita. Sabe que eu sou a mãe legal o tempo todo então, se eu pedir algo, ele sabe que é sério.

Acredito que o fato de eu sempre ter sido mais “molecona” me ajude com o trato com ele. Conto algumas coisas que eu fazia quando era criança e ele dá muita risada. Acho que ele, de certa maneira, sente que eu sou menos rígida quando conto que fazia parte da turma do fundão ou que eu ia mal em matemática (que ele ama). Isso me tira do pedestal, ao mesmo tempo que deve gerar nele um sentimento de “minha mãe era legal na escola – ela apenas cresceu”.

Cada vez mais me preocupo com esse lance porque a adolescência é uma fase difícil para os pais e para os filhos. O adolescente tem muitas inseguranças e muita vontade de se impôr ao mundo. Se ele não tiver um vínculo de confiança com os pais, pode buscar esse vínculo em outro lugar. Então este é o momento mais sensível da vida do Paul, eu acho, porque é o momento em que ele já entende as coisas, mas precisa ter valores consolidados, para não nos perdermos quando ele finalmente chegar à adolescência. Foi por isso que, no ano passado, eu tomei a decisão de viajar menos a trabalho (eu fazia de duas a quatro viagens por mês antes) – quero estar perto dele, simplesmente. A presença da mãe é fundamental. Mas, além disso, eu QUERO estar aqui.

A todo momento, no dia a dia, eu tenho a oportunidade de demonstrar o quanto eu o amo e também de corrigir ou ensinar coisas para ele. Estar perto e estar ligada é o que faz toda a diferença.

Para terminar esse texto, que já está imenso, quero dizer que é importante para mim, como mãe, lembrar sempre que meu filho não é minha propriedade e que eu apenas sou responsável por ele enquanto ele não é responsável consigo mesmo. Eu estou criando uma pessoa para o mundo. É minha responsabilidade fazer o meu melhor, mas sabendo que ele pode ser o que ele quiser, e não o que eu quero que ele seja. Esse desapego de posse precisa existir, senão todo mundo sofre muito.

Acredito que as coisas estejam indo bem. <3 Eu amo ser mãe mas, mais do que isso, amo o privilégio de ter junto comigo um filho tão incrível quanto o Paul, e de construir essa dinâmica familiar com o pai dele também. Todos nós aprendemos muito com essa relação todos os dias.