
Eu levei o primeiro ano do Doutorado como se estivesse no Mestrado. Só fazendo aula e lendo.
Não que isso fosse errado. O primeiro ano do Doutorado serve para isso mesmo: preciso cumprir créditos das disciplinas, ler, afinar melhor o recorte da minha pesquisa.
E não dá para apressar isso, o que é um problema, porque o Doutorado, como o Mestrado e outros cursos, tem uma duração pré-determinada. Não importa o que aconteça, em quatro anos você tem que concluir, defender a sua tese. Então claro que pode causar um certo estresse e pressão em cima dessa decisão.
Eu entrei no Doutorado com um foco claro: elaborar uma tese sobre produtividade compassiva. Mas eu não sabia como delinear o recorte de pesquisa. Eu passei o ano de 2021 inteiro atrás desse recorte, investigando possibilidades. Como eu estava cumprindo os créditos das disciplinas, tava tudo bem. Deixei rolar “no plano de fundo” do meu cérebro. Porque é aquilo: conscientemente não pegava o negócio pra pensar todos os dias mas, por saber que preciso trabalhar essa questão, ela fica acontecendo ali na sua cabeça, no inconsciente. Até que de repente parece que as peças se encaixam e eu consigo a solução. Por isso o descanso é tão importante – ele ajuda nessa conexão das sinapses. (recomendação de leitura)

Bem, e o que aconteceu?
Eu tive o imenso privilégio de ser convidada a participar de um grupo de pesquisa das Ciências da Religião lá na universidade e isso tem sido uma experiência absurdamente enriquecedora, pois aprendo muito. E aí eu tive a oportunidade de apresentar o meu projeto de pesquisa na última reunião do grupo, no início de maio, e o feedback foi MONSTRUOSO de bom. Tanto o professor quanto os outros pesquisadores do grupo me deram muitas dicas e orientações e eu fui conversar com a minha professora orientadora sobre elas, e ela amou! Então deixa eu compartilhar com você:
- Eles me deram várias sugestões de recorte para a pesquisa de campo e, conversando com a minha professora orientadora, chegamos em dois caminhos possíveis que já afinam o meu foco, com a tendência para um deles que parece mais “fácil” de percorrer. Um dos caminhos seria conversar com líderes de grandes empresas que sejam praticantes do Budismo, pois são pessoas que conseguem direcionar “de cima para baixo” atividades compassivas com relação í equipe. Apesar de ser incrível, esse recorte é um pouco complicado, pois pode levar muito tempo para encontrar tais líderes, fazer as entrevistas etc. Então estamos tendendo para o segundo recorte, que é conversar com centros budistas sobre as demandas que eles recebem das empresas para palestras e treinamentos, especialmente monges mais midiáticos como a Monja Coen, por exemplo. Porque essa pesquisa de campo vai me ajudar a ver como o Budismo traz respostas para problemas corporativos do Ocidente. O problema de pesquisa se tornou então: Por que uma empresa brasileira, de um país majoritariamente cristão, busca orientação no Budismo para os seus trabalhadores? Pesquisar programas de educação corporativa que buscam respostas no Budismo, entrevistar os monges etc. Nossa, isso deu uma clareza tremenda! Então seguiremos por aí.
- O professor do grupo de pesquisa de CdaReligião compartilhou comigo uma pasta no Drive com DEZENAS de livros, artigos e e-books que relacionam Budismo ao trabalho e ao capitalismo, e ele me recomendou focar nessas leituras até o meio do ano buscando fazer um “estado da arte” desse material. Conversei com a minha professora orientadora e ela concordou em absoluto, então esse é o meu foco agora.
Vale falar sobre as disciplinas.
Em teoria, eu cumpri já todos os créditos. No entanto, na secretaria, me informaram que seria desejável cursar todas as disciplinas de Fundamentos, por eu não ser formada em Ciências Sociais. Eu já fiz Fundamentos da Sociologia, mas faltam Fundamentos da Antropologia e Fundamentos da Política, que pretendo fazer nos próximos semestres. Aconteceu uma coisa curiosa neste semestre. Eu me inscrevi em uma disciplina que era de Fundamentos da Sociologia com sociólogos contemporí¢neos, mas o programa acabou sendo semelhante ao da disciplina que fiz no ano passado e tentei mudar para Fundamentos da Política. No entanto, não era possível efetivar a matrícula em outra disciplina depois do início do semestre. O aprendizado que ficou foi: vale a pena se inscrever para todas as disciplinas de interesse e, após o início das aulas, escolher quais eu vou permanecer e quais eu vou sair. Por isso, para o semestre que vem, eu me inscrevi em 5 disciplinas. Não quer dizer que farei todas integralmente, mas que terei essas opções. E uma delas é a de Fundamentos da Antropologia. Se eu conseguir, já faço este ano. Se ficar pesado, tenho até o final do Doutorado para fazer, e tá tudo certo.
Além disso, tem as disciplinas da minha professora orientadora, que quero sempre fazer, todo semestre, para que ela me ajude semanalmente com a minha pesquisa. Ela desenha as disciplinas de acordo com os projetos dos seus orientandos, e isso tem sido uma experiência fantástica para mim – eu adoro narrativas. A disciplina dela do próximo semestre será na verdade uma atividade programada que dura entre dois e três meses, e não o semestre inteiro. Então já será mais leve.
Mas um outro aprendizado que estou tendo é o de buscar fazer disciplinas í noite. De tarde é muito complicado, por conta do trabalho. Quando não tiver muito jeito, ok, mas não é o ideal. Sempre que possível, farei as disciplinas no período da noite.

Em resumo, como está meu segundo ano do Doutorado? Sem dúvida, mais focado. E isso faz toda diferença.
Revisando meu planejamento do ano, aqui está o meu recorte:
- Fazer as disciplinas da minha professora orientadora
- Estado da arte com as leituras de budismo e trabalho
- Definição do recorte da pesquisa de campo e início da pesquisa ðŸ™ðŸ»
- Cursar Fundamentos da Antropologia
Eu ainda tenho dúvidas sobre a publicação de artigos. í‰ obrigatório neste momento? Ou apenas desejável? Eu ainda estou sem muita clareza sobre isso, então aceito a ajuda de vocês. <3 Obrigada!
Muito legal, Thais! É tão bacana quando a gente encontra pessoas que nos ajudam em nossa jornada… Entrei no mestrado e seu blog tem me ajudado bastante.
Cara ThaÃs,
Que bacana esse recorte de problema de pesquisa! É uma elaboração muito importante de sua trajetória e maturidade como pesquisadora. Sempre achei curioso como o trabalho de pesquisadora de doutorado é formado por várias ações quase que invisÃveis, que derivam do próprio encadeamento de ideias mas de um trabalho mental exaustivo.
Sobre publicação, talvez seja viável formatar esse estudo do “estado da arte” na forma de um artigo para algum encontro? Da minha experiência funcionou bem ir até um congresso / encontro acadêmico com um artigo não tão pronto, ouvir os feedbacks, realizar os acertos que fazem sentido e submeter em algum periódico.
Também se vc precisar escrever uma capÃtulo da Tese, para qualificação por exemplo, talvez valha à pena fazê-lo quase que em formato de um artigo.
Se não é uma obrigação do teu programa de pós ter artigo submetido ou publicado, creio que a decisão de fazer um artigo vai muito dos objetivos. Colegas que estão decididos a prestarem concurso como professor universitário, por exemplo, se envolvem mais na submissão e publicação de artigos em revista de alto impacto.
Estou entrando no prazo final da minha pesquisa, ainda com muitas dificuldades de desenvolver a parte empÃrica e posterior escrita da tese. A pandemia e o retorno ao trabalho na carreira pública impactaram na minha trajetória de pesquisadora. Estou tentando me reencontrar.
A leitura do blog VO, das suas palavras, é sempre um momento restaurador, para mim.
Um abraço,
Ruth
Adorei Thais, aliás, se puder compartilhar algum livro ou artigo relacionando budismo e trabalho ficarei muito grata. O tema me interessa muito também. Boa caminhada por aÃ! _/\_
Eu também teria interesse em ler alguns livros a respeito, Thais!
Obrigada por tanto!
Beijo
Oi, Thais!
Eu fiz meu mestrado na USP e aqui é obrigatório que o aluno tenha publicado pelo 1 artigo em revista com JCR, no Doutorado são dois artigos. Mas, eles podem ser feitos a qualquer momento do curso.
Vale olhar as diretrizes da sua instituição. De qualquer forma, é sempre desejável a publicação de artigos. Isso aumenta a relevância do seu nome como pesquisadora.
Que legal ThaÃs, gosto quanto você fala sobre o doutorado, não conheço muitas pessoas que fizeram ou fazem (na verdade você é a única). Tá sendo uma experiência bem legal acompanhar, sendo o meu primeiro contato e ainda mais no Brasil, que não valoriza a pesquisa
Ei, Thais, te acompanho desde 2016 (fiz até o primeiro módulo do GTD em BH), tem épocas que me desorganizo e sempre volto aqui para me reorganizar. Eis que to aqui pensando numa forma de me organizar melhor na escrita acadêmica e referenciar minhas bibliografias e me lembrei do bog. Você indica algum programa para referenciar textos acadêmicos? Usou em seu mestrado? Não posso entrar no doutorado me embolando com isso
Oi Thais.
Acabei de iniciar meu 2o ano de doutorado e meu foco agora é publicar.
Em parceria com meu orientador fechamos uma meta de 4 artigos neste ano. Tbm farei umas disciplinas para ajudar nesse processo.
Legal ler sobre seu processo. Ajuda a pensar no meu. Abs