Em outubro, eu li este livro para o meu projeto de 12 livros de finanças para 2021. Estou caminhando com os livros de agosto e setembro (sem pressa) mas consegui ler o de outubro para trazer a resenha para cá. Ah, e vale dizer que eu dei o meu livro de dezembro para outra pessoa, porque não tenho interesse em ler (folheei e vi que não ia gostar). Coloquei outro no lugar, que em breve divulgarei.

Eu já tinha lido o livro do T. Harv Eker outras duas vezes na vida, mas em momentos MUITO diferentes do que estou vivendo agora. A primeira vez que li, não me impactou em absolutamente nada. Eu não estava empreendendo e não senti que poderia implementar muita coisa do que estava ali, além das questões sobre “mentalidade”. Depois, quando eu já estava empreendendo, tinha um colega / conhecido de trabalho que estava apaixonado pelo livro, foi no evento do autor aqui em São Paulo e, enfim, fez campanha para todo mundo ler ou reler o livro. Para mim, ele era um daqueles livros meio que “referência” sobre finanças nos anos atuais, então essa releitura tinha todo esse background pessoal para que você compreenda melhor o meu contexto e a análise abaixo.
Bom, primeira coisa: todos esses livros têm um viés muito claro, com raríssimas exceções, que é o viés da auto-ajuda, do discurso neoliberal de meritocracia, responsabilização dos indivíduos pelos seus próprios fracassos e sucessos, ausência de consciência de classe, ignorar completamente o mundo de desigualdade em que vivemos, especialmente em países como o Brasil. Logo, de modo geral, já não espero muita coisa diferente mesmo que esse discurso. Não tem a ver com “passar pano”, mas de ser realista. Tanto que, quando surge um livro fora da curva nesse sentido, como o livro do Amuri, a gente até estranha! Mas exalta, e tem mesmo que exaltar.
“Os segredos da mente milionária” é um livro sobre mindset. Basicamente, coisas que você precisa saber sobre como os milionários pensam para refletir sobre suas próprias crenças e analisar se você tem “se formatado” para ter dinheiro ou não.
Bons pontos do livro
- Querendo ou não, é um livro de referência em finanças pessoais hoje em dia. Tem sim coisas legais que podemos tirar dele. Acredito que valha a pena manter na biblioteca depois da leitura.
- O uso de afirmações pessoais. Não que usar afirmações em si seja o suficiente “para ter uma mente milionária”, mas eu gosto da prática de afirmações em todos os sentidos, pois são as mensagens que enviamos para nós mesmos o tempo inteiro.
- O lembrete para acordar e prestar atenção na vida que está passando. Que, se você quiser mudanças, precisa se planejar para que elas aconteçam. Isso tem tudo a ver com planejamento de vida.
- Apesar da questão meritocrática, como budista, eu acredito de verdade que o nosso estado mental influencie como vivemos. Não é a mesma coisa que o que ele traz no livro, mas é uma prática semelhante. Então eu me identifico com alguns aspectos assim. De modo geral, penso que todo ser humano deve prestar atenção em seus próprios pensamentos, para se conhecer e entender que pontos estão levando ao sofrimento ou í felicidade.
- O encorajamento a alimentar pensamentos bons. Eu sou desse time. Isso não significa ser apático ou ignorar os problemas, mas conhecê-los, tomar providências para mudar, mas enxergar as coisas de um ponto de vista mais positivo pela própria sanidade mental, e não de uma maneira tóxica.
- Ele sempre cita que, quanto mais rico você for, mais poderá ajudar pessoas. Eu gosto que ele cite isso. Querendo ou não, se difere de muitos livros que citam a condição de riqueza apenas para benefício pessoal e posse material.
- Acho polêmica a recomendação de se cercar de pessoas que pensem como você em termos de dinheiro, porque não é assim que o mundo funciona. Convivemos com pessoas diversas. Mas eu penso que a grande linha condutora dessa ideia pode ser explorada sim. Não apenas com relação ao dinheiro, mas a objetivos em comum. Bem, essa é a ideia básica de qualquer grupo desde que o início da humanidade. Meu único receio aqui é aquela coisa do cara se endividar para aparecer com uma Ferrari no jantar com “os caras ricos” mas ele não ter dinheiro algum para sustentar sua vida e acabar se endividando para manter um estilo de vida que o permita conviver com essas pessoas. Então, obviamente, tem que ter bom-senso nessa recomendação (e muitos não têm).
- “Você faz uma coisa do mesmo modo que faz todas as outras”. Eu acredito nisso. Trata-se da postura de vida. Não tem a ver só com dinheiro, mas respeito, responsabilidade etc.
- “As coisas acontecem onde você coloca sua atenção”. Acredito muito nessa ideia. í‰ o foco.
- O incentivo ao estudo e ao aprimoramento pessoal para sempre. Claro que conversa com a lógica neoliberal de responsabilização individual do riscos e problemas, mas trata-se de um ponto que ele poderia ter simplesmente ignorado, e não ignorou. E eu sempre gosto quando alguém incentiva o estudo e a educacão.
Pontos complicados
- Eu não gosto dessa simplificação de ficar chamando as pessoas de “os ricos”. Parece que se cria uma entidade que despersonaliza.
- Fatalismo. “Em cinco minutos que posso prever o destino financeiro que você terá para o resto da sua vida”.
- A recomendação de admirar quem for rico apenas pela condição de “ser rico”. Não curto. Sabemos que muitas pessoas são ricas porque não foram nada legais de modo geral. Eu faria apenas esse adendo. Vivemos em um mundo em que as pessoas acabam tomando decisões prejudiciais a si mesmas justamente porque admiram demais milionários e bilionários completamente fora da sua realidade, quase que como um culto (Elon Musk, Jeff Bezzos, Warren Buffet, entre outros). O problema disso é esquecer o que há por trás dessas riquezas e considerar a trajetória deles como regra para quem “se esforçar” também.
- Quando fala sobre crenças limitantes a respeito do dinheiro, é muito comum cair naquela coisa do “as pessoas pensam que os ricos são maus” ou que “dinheiro é sujo”. Eu entendo, mas não é apenas uma questão de crença. Eu penso que, para mudar o mindset de quem pensa aqui, caberia uma reflexão um pouquinho (nem precisa ser muito) mais aprofundada, mandando a real: “olha, o capitalismo é isso, pra você ter lucro e acumular capital, existe uma coisa chamada mais-valia, e ela é obtida pelo trabalho adicional das pessoas, mas é importante que você, sabendo disso, tenha as ferramentas para buscar viver e se relacionar de uma maneira mais íntegra” etc. E não tem. Então fica vazio. “Ah, então para eu mudar minhas crenças é só alguém vir e me dizer?”. í“bvio que não. E isso é crucial para o livro, então teria outro desenrolar se existisse essa honestidade que, infelizmente, muitos autores nem se atentam em seu próprio mundo, quanto mais para trazer í escrita.
- O arquivo 11, em que ele fala sobre ser remunerado por resultados e não contrato, dá aquela alfinetada básica nos direitos trabalhistas. Mais uma vez, complicado falar sobre isso sem a visão abrangente mais problematizada.
- A falta de crítica quanto aos milionários que poderiam “ajudar mais pessoas” mas, ao contrário disso, apenas acumulam dinheiro. Ele fala muito em ser rico para ajudar os outros mas, na real, o que vemos não é bem isso. Então, para mim, ter um comentário que fosse fazendo uma crítica a esse modelo daria um tom diferente ao livro.
Ele traz 17 “arquivos de riqueza”, que são os pontos que ele usa para construir o que ele acredita ser o mindset da pessoa milionária. Ao longo do livro, ele passa por esses pontos, traz afirmações e ações subsequentes.
Uma das coisas que eu menos gosto nesses livros de auto-ajuda norte-americanos são aquele monte de historinhas para demonstrar o ponto que o autor quer chegar. Esse livro não tem essa abordagem! Ponto positivo. í‰ direto ao ponto.
A parte mais técnica, tipo “ok, mas como eu faço tudo isso na prática”, aparece no final (arquivo 15) mas é bem pouquinho. Talvez pudesse ter sido mais explorada? Ficou mais “uma pincelada” que um ensinamento mesmo. Mas é um bom trecho, que dá sugestões sobre como distribuir o que ganha e tudo o mais.
Eu gosto de avaliar a experiência do livro observando como eu me sinto após a sua leitura. E, apesar dos problemas óbvios que ele tem e as questões descritas acima, é um livro que cumpre o seu papel de te colocar pra frente, te incentivar í ação, a pensar diferente. Então, por isso, creio que tenha muito mérito sim. Fica na minha biblioteca. 😉
E quando sairá um livro seu sobre o tema? Acho que você poderia ter um ponto de vista muito interessante e bastante equilibrado que falta nesse tipo de livro. Sei que não é o seu foco, mas adoraria ler! Gosto também desse livro, mas quando li fiquei com as mesmas impressões que você. Adorei a crÃtica.
Não tenho previsão de livro sobre o tema. No entanto, compartilho diariamente esse tipo de conteúdo no blog, no Insta, no YouTube.. Será que tudo precisa virar livro? 😉 Fica o questionamento.
Não precisa mesmo! Mas acompanhar tantas redes sociais também não precisa, por isso gosto tanto do blog!
Li há mtos anos, precisando reler.
Ótima resenha, apesar do viés neomarxista.
hahaha
O que Marx traz sobre sociedade de classes e estrutura materialista é uma ferramenta de análise que nos permite a crÃtica. É estudada na faculdade de Economia também. Não se trata de viés marxista, mas de fazer essa análise, necessária, que significa basicamente pensar em todos os lados ao avaliar uma questão colocada. Sei que nesses tempos que vivemos a gente falar sobre questões complexas assim é um pouco complicado, mas espero ter deixado um pouco mais clara a abordagem colocada no texto, que não tem absolutamente nada a ver com “viés”.
Um dia gostaria que fizesse um post sobre como é ser empresária, frequentar comunidades online tipo as do Érico Rocha, ler livros de desenvolvimento pessoal e finanças (escrito em sua maioria por autores de direita) e ser doutoranda em ciências sociais. Sou acadêmica com os mesmos interesses que você e sofro muitas crÃticas.
Muito bom, Thais. Sinto que você tem trazido mais as reflexões da vida acadêmica para as do Vida Organizada e isso só enriquece seus posts. Ótima análise dos pontos problemáticos e dos que te estimularam. Beijinho 😘😘
Obrigada, Karina. <3
Oi ThaÃs. Adoraria se você fizesse um post sobre a sua filosofia pessoal sobre dinheiro. Compartilho vários pontos com você (como as crÃticas que você listou sobre esse livro é outros no estilo auto ajuda financeira), mas confesso que também tenho muitas crenças sobre dinheiro que não me ajudam a viver bem na nossa sociedade, que querendo ou não, é capitalista. Lidar com dinheiro sempre me traz ansiedade. Em breve mudarei de cargo e serei responsável por administrar e investir dinheiro de diferentes projetos (incluindo salários de outras pessoas). Acho que saber como você lida e concilia essa questão de dinheiro com sua filosofia pessoal de compaixão pode ser interessante para eu criar minha própria maneira de conciliar meus pensamentos sobre o assunto é funcionar de maneira eficiente sem perder a essência. Adoro seu trabalho, te sigo desde que eu nem lembro quando! Beijos.
Me identifico demais com as suas aflições, Luiza. Para mim essa é uma questão complexa também. Pretendo sim comentar mais. Obrigada pela sua mensagem.
Vamos aguardar! 🤩
Uma coisa que eu realmente não entendo é a vinculação com a amazon, notadamente uma “predadora†representante da pior face do capitalismo selvagem. Não quero ser melhor do que ninguém, mas me recuso a comprar qualquer coisa nessa empresa, principalmente livros . O Brasil está cheio de pequenas livrarias que precisam de apoio e divulgação.
Obrigada, Eni. Sua crÃtica faz todo sentido. No entanto, a Amazon oferece um programa de afiliados, que comissiona em 10% o blog caso algum utilize o link. Apesar de concordar com você, ainda preciso pagar boletos – servidor do blog, ferramentas de design, entre outros – e tudo isso custa dinheiro. Vivemos em uma sociedade capitalista que nos demanda esses custos e, para isso, precisamos receber algum tipo de remuneração para pagá-los. A comissão vinda desse link da Amazon, apesar de pequena, já ajuda bastante.
Eu costumo incentivar as livrarias de bairro e pequenas comprando nelas mesmo. E compro bastante! Faço minha parte. Sempre dou preferência a elas. Infelizmente, por não terem essa estrutura predatória da Amazon, elas não conseguem ser competitivas nos preços e fazer programas de afiliados como a Amazon faz. Se fizessem, certamente eu optaria por eles colocando o link.
Não sei se você trabalha em alguma empresa, mas a situação de vÃnculo é semelhante. Nesse caso, o que fazer?
pedir demissão porque não concorda com o modelo capitalista? Como você faz? Ficarei feliz de saber, pois assim podemos trocar ideias construtivas sobre como sobreviver a esse modelo.
Interessante este post.
Eu parei de ler estes livros de “o que os ricos fazem para ser ricos” há muito tempo. Primeiro é que conheci muitas pessoas ricas de verdade que fogem totalmente desses estereótipos. Depois que estes conteúdos tendem a deixar a pessoa mais pobre do que rica. Muitas pessoas ricas nunca leram esses conteúdos e fazem dinheiro e o pobre começa a se comparar com pessoas que são totalmente diferentes delas, que não precisam cuidar dos filhos o dia todo, pessoas que tem motoristas, secretários, etc.
Uma coisa que eu detesto com todo meu ser, haha, que foi o motivo de eu sair do curso de Publicidade em 2015 é sempre nos ensinarmos com esses exemplos intocáveis: Steve Jobs, Oprah Winfrey, Mark Zuckerberg, Silvio Santos… ou quando começavam uma aula “a Apple fez uma propaganda assim, a Coca-Cola”… tipo, os alunos dos primeiros semestres eram ensinados com base nessas empresas que eles dificilmente iriam conseguir trabalhar na criação. Porque não ensinavam como fazer publicidade para o mercado local que é mais próximo da realidade dos estudantes?
Depois descobri que a maioria dos professores tinham agências de publicidade na cidade e não queriam que os alunos fossem independentes, mas sim trabalhassem para eles recebendo quase nada.
A mesma coisa acontece com esses livros. É sempre um “espertinho” que sai pelo mundo entrevistando milionários e bilionários (como se fosse simples assim), e descobre técnicas incrÃveis para enriquecer e lucram horrores com este conteúdo.
A verdade sobre o dinheiro é que existem várias áreas onde a pessoa pode enriquecer, mas é preciso que a pessoa tenha uma vivencia nessa área e inove ou invista nela, por isso é algo muito individual. Outra coisa é quem já tem muito dinheiro em uma sociedade capitalista facilmente enriquece mais e mais sem tantos esforços.
Exemplo: a Thais de 2006 sonha em ter uma loja virtual para vender produtos de organização, mas só tem mil reais para investir por mês VS a Thais de 2030 que começa uma loja distribuidora com um investimento inicial de dois milhões.
Por isso é fácil falarem: – o fulando é foda, têm 30 empresas, ganham x milhões. Como se o leitor fosse um burrinho que não consegue ganhar mil reais na sua empresinha de garagem, rs.
Fora essas biografias todas enfeitadas para fazer esses milionários parecerem pessoas super boazinhas, que ajudam os pobres, quando muito do império deles deve-se ao suor e ideias de várias pessoas que nem sempre são recompensadas.
Enfim, poderia fala horas sobre isso, rsrs. Mas eu fico meio chateado pq conforme vou crescendo, vejo que o que mais nos vendem são mentiras. Enriquecer pode ser uma coisa gostosa, saudável e interessante de se fazer, mas vejo que não tem nada a ver com estes livros.
Nossa, Wellington, abrigo e me identifico com todas as suas ponderações. Obrigada por complementar o post com seu comentário!
Boa tarde bem dizer que gostei muito do resumo esta bem organizado; com contiudos objectivas; e claras;
Um dos poucos livros que desejo reler. 🙂
As crÃticas são ótimas, mas no geral, o livro é bom.
Thais, suas resenhas são ótimas, super pé no chão. Vc consegue não ser superficial e nem por isso trazer um texto de difÃcil compreensão.
Adorei suas reflexões!! 😉
Excelente resenha! Estou enrolando pra ler este livro e alguns outros faz tempo… Fui ver uma palestra online dele em um evento e não aguentei 5 minutos, a fala meritocrática e idealizada sobre os ricos me enjoou na hora.
Porém também acho que vale a leitura, este assunto é importante até como sobrevivência na sociedade capitalista que vivemos. E podemos adaptar que puder aos nossos valores e personalidade.