Categoria(s) do post: Carreira, Diário da Thais, Equilí­brio emocional

Este é o tema macro do mês no Vida Organizada e venho realizando conteúdos diversos sobre isso no Instagram, no Telegram, no YouTube e aqui. A ideia é abordar o tema ao longo do mês mas não deixar de falar sobre outros assuntos, porque assim fica bem variado. 😉

Hoje eu gostaria de compartilhar algumas ideias sobre liderança compassiva.

Liderança compassiva, a meu ver, é entender que é mais importante se preocupar com as pessoas que com os projetos ou os resultados. E não me entenda mal: resultados são tudo na vida financeira saudável de uma empresa. Mas esse resultado na real é fruto do trabalho feito por pessoas. Logo, eu acredito que, para ter resultados, mais importante que ter o foco neles um lí­der precisa ter o foco nas pessoas. Precisa se importar. O lí­der é alguém que se importa.

Nunca vou me esquecer de um exercí­cio feito lá em 2015, quando fiz pela primeira vez o curso de Fundamentos do GTD com o David Allen em sala, em que a Ana Maria (Senior Master Trainer e professora na ocasião) explicou sobre a importí¢ncia do entendimento das três naturezas do trabalho para cada pessoa, dependendo da fase que vivencia e das suas responsabilidades. Ela deu o exemplo de um gestor de projetos, por exemplo. Esse é um cara que tem atividades previamente definidas, com toda a certeza, e que também atende a demanda não planejada que chega no próprio dia em questão. Mas, essencialmente, a natureza maior do trabalho dele é definir o próprio trabalho e o trabalho das outras pessoas – o que significa ler e-mails, processar, revisar projetos, notas de reuniões, fazer o acompanhamento das tarefas delegadas e por aí­ vai. Esse é o seu trabalho. Não são coisinhas aleatórias que você faz “se der tempo”. A organização é essencial.

Muitos lí­deres caem na execução porque são excelentes executores. Geralmente a pessoa é promovida a coordenadora ou gerente justamente porque faz as coisas muito bem. Então, para ela, é muito fácil voltar í  sua zona de conforto de sair executando, porque assim ela mostra resultado. Mas o resultado que um lí­der precisa mostrar não é necessariamente o da execução, mas o de gestão de tudo o que está acontecendo, de direcionamento da galera para os resultados, e isso envolve motivação, lidar com pessoas, escuta atenta, entre outras questões.

Penso que seja um momento de “clique mental” quando um lí­der percebe isso. Que ele não está ali para executar, mas para garantir a execução do todo e isso envolve pessoas, mais que o microgerenciamento de projetos em uma ferramenta. “Você atualizou o seu projeto hoje? Você trabalhou das 8h í s 17h hoje?” í‰ MENOS sobre isso.

Aí­ a gente volta pro grande ponto que é: lidar com pessoas não é fácil. Você precisa ter conhecimento, empatia, escuta atenta, mas também ser assertiva/o quando precisa direcionar a estratégia. Ser assertiva/o sem ser tirana/o é o desafio de todo lí­der. Porque, além de ser assertiva/o com o que precisa ser feito, ainda tem o lance da motivação. E como que motiva uma pessoa que não concorda com o que precisa ser feito mas ela precisa estar bem para conseguir executar?

Do meu ponto de vista, o “segredo” está em ouvir o que a pessoa tem a dizer, em primeiro lugar. Ela certamente tem uma visão que talvez você não tenha levado em consideração e que, se for o caso, você pode abrigar ou até mesmo mudar as suas ideias. Então a primeira coisa é escutar.

Em segundo lugar, ter empatia. Entender o momento da pessoa. Todos nós temos dias bons e ruins, momentos melhores e piores da nossa vida. í€s vezes a pessoa fica chateada com uma demanda não pela demanda em si, mas porque você a pegou em um dia ruim. E aí­ vai para a terceira coisa, na minha opinião:

Ter clareza sobre o que é fato, opinião, conhecimento e sentimento. Fatos são fatos. “Se fizermos isso, acontecerá aquilo. Logo, precisamos fazer”. Opinião é: “eu entendo que a estratégia serve para isso, isso e aquilo, mas não concordo”. Justo, e todo mundo tem o direito de discordar. Inclusive, ainda bem! “Deus me livre” uma equipe que diz amém para tudo o que eu faço! O questionamento e a riqueza da diversidade de opiniões são muito importantes. Conhecimento é a pessoa saber mais que você sobre um assunto, ou você saber mais do que ele, e você conseguir explicar por que as coisas precisam ser feitas de determinada forma. Ou ela, por conhecer mais, expí´r fatos e questões diversas que sejam relevantes para a tomada de decisões, porque ela sabe do que ela está falando.

Já sentimento é algo interno. í‰ a pessoa ficar chateada porque você ouviu a opinião dela mas mesmo assim seguiu outra estratégia com base em fatos e conhecimento. A clareza aqui é a seguinte: tenha empatia, aceite a chateação, porque ela é legí­tima, mas o sentimento é da pessoa, algo que faz parte dela, não de você. Aqui eu acho que reside o limite, sabe? A pessoa pode ter questões que são dela, assim como você pode ter questões que são suas, que podem ser tratadas em terapia, autoconhecimento, leitura de livros legais de autoajuda, entre outras ações. Mas um lí­der não pode levar esse tipo de coisa para o lado pessoal, porque senão afetará a motivação dele também. Uma estratégia não pode ser mudada porque alguém ficou chateado por questões internas e pessoais. Então o lí­der tem que ter essa clareza e, com empatia e assertividade, direcionar o todo.

Por fim, voltar sempre ao propósito das coisas. Por que estamos fazendo isso? Por que fazer isso é importante? Com a quantidade de coisas a fazer, í s vezes até a gente esquece. Então voltar ao propósito e relembrá-lo para a equipe é parte importante de todo o processo.

í‰ lembrar que a compassividade vai para os outros mas precisa pender para o seu lado também. Ser um lí­der compassivo envolve reconhecer seus pontos fracos, os pontos de melhoria, suas falhas, seus erros, e acima de tudo ser humano perante a equipe. Assumir que errou, assumir o fracasso por um projeto que não deu certo, tudo isso é responsabilidade do lí­der. Nunca procurar “culpados”. Isso não existe. Se uma equipe fracassa com algum projeto ou o resultado não é tão bom, tudo é sobre o lí­der, não sobre a equipe. Porque, por mais que alguém na equipe tenha errado, é responsabilidade do lí­der consertar esse erro e redirecionar a galera. Então não tem como se abster. í‰ seu papel!

Trazendo um pouco mais especificamente para a nossa realidade no Vida Organizada, aqui a compassividade também envolve a coisa do horário, da carga de trabalho, da clareza sobre quem faz o quê, do entendimento de que muita coisa a gente não consegue fazer agora então pode delegar, enfim. Questões de produtividade. Não cobrar a pessoa da resposta de uma mensagem a não ser que seja urgente. Etc.

Obviamente ainda tenho TUDO a aprender sobre esse tema mas eu entendo que este post seja uma fotografia do meu momento. Eu passei por longos processos de amadurecimento profissional sobre esse tópico desde que me tornei coordenadora de projetos na agência de publicidade que trabalhava lá em 2006. Todas as dificuldades que tive ao longo dos anos subsequentes tiveram a ver com relacionamentos. Entender isso foi uma mudança de chave real no que diz respeito í s minhas responsabilidades hoje. Espero então que o texto seja útil de alguma maneira para você, caso esteja passando por um momento de vida parecido.

Hoje eu levo questões para terapia, recentemente iniciei um processo de coaching de liderança que está sendo INCRíVEL para mim, além de muita leitura de livros, assistir palestras do TED e coisas relacionadas me ajudam a ter uma noção melhor do todo. Também faço alguns cursos online e participo de grupos de mentoria que me ajudam a direcionar questões especí­ficas. Entendendo como parte do meu trabalho, como minha responsabilidade, isso não se torna “algo que preciso fazer”, mas A ESSíŠNCIA do que preciso fazer. O resto eu já sei fazer bem. Executar, planejar, organizar, o que quer que seja. Fiz durante muitos anos sozinha. O que eu preciso aprender agora é sobre liderança. E neste post quis trazer um pouquinho sobre como venho fazendo e o resultado desses aprendizados iniciais.

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17 comentários

  1. Queila de Brito Oliveira comentou:

    Oi, Thais. Acompanhando os conteúdos desse mês e tentando por aqui trazer as questões de liderança para o serviço público, onde as regras são um pouco diferentes. Se tiver algumas reflexões, poderia compartilhar?

    1. Não entendi, qual sua dúvida específica para eu refletir? 😉

      1. MichelleZ comentou:

        Thais, não sei se é o que a Queila quis dizer, mas também trabalho de certa forma no serviço público, e aqui, eu percebo que o desafio é que a estabilidade do trabalho e ao mesmo tempo, a falta de “profissionalização” de alguns setores (aqui entenda a própria empresa, cultura), tornam o relacionamento muito difícil. Vejo pessoas insatisfeitas, mas que não querem ou mesmo não podem abrir mão do trabalho/vaga e buscar algo mais alinhado a sua personalidade, ao passo que, a própria empresa passa constantemente por mudança a cada nova eleição presidencial. Talvez uma ideia para refletir e que a sua visão contribuiria bastante é: existe diferença no exercício da liderança em uma empresa privada e em uma empresa/setor público?

  2. Aline Carvalho comentou:

    Thais, amei o post ! entendo que a Liderança Compassiva é o futuro

  3. Regiane comentou:

    Assunto interessante com abordagem muito clara. Minha filha trabalha comigo, na minha empresa, e tenho enfrentado muitas questões que no mundo corporativo normal eram até tranquilas para mim, mas com ela é diferente e difícil. E sinceramente não estou sabendo como lidar, já que os mundos acabam conflitando (família e trabalho). Tentei diversas técnicas e métodos e falhei em todos. Tem alguma dica ou experiência para compartilhar? Ela tem 19 anos e é o primeiro trabalho dela.

  4. FERNANDA G RAMOS comentou:

    Nossa Thais, nem acabei de ler o texto todo, mas so esta frase ja me acrescentou tanto: Ela deu o exemplo de um gestor de projetos, por exemplo. Esse é um cara que tem atividades previamente definidas, com toda a certeza, e que também atende a demanda não planejada que chega no próprio dia em questão. Mas, essencialmente, a natureza maior do trabalho dele é definir o próprio trabalho e o trabalho das outras pessoas – o que significa ler e-mails, processar, revisar projetos, notas de reuniões, fazer o acompanhamento das tarefas delegadas e por aí vai. Esse é o seu trabalho. Não são coisinhas aleatórias que você faz “se der tempo”. A organização é essencial.
    Eu sou gestora de projetos e dependo de pessoas que trabalham com rotina, ou seja, eu sempre tenho que “disputar” o trabalho delas no meu projeto com as atividades do dia a dia. E elas acham que meu trabalho é simplesmente fazer follow up. E não é so isso…é sobre organização, sobre melhores estratégias para cada ação, processar mil e uma informações…E vc disse bem: não sao coisinhas aleatórias.

  5. Rodrigo Peres comentou:

    Obrigado por compartilhar tanta informacao legal em mais um post maravilhoso 🙂

  6. Jéssica França comentou:

    Oi Thais ! Adorei o post e o tema. Super pertinente para meu momento aqui também. Apesar de não ocupar um cargo de liderança, quero desenvolver essa habilidade e tenho buscado o conhecimento nessa área. Só não entendi o que significa “as três naturezas do trabalho”. Porém, dei um google e encontrei a explicação em seu próprio blog =) . Gratidão !

  7. Ana Karoline de Oliveira Costa comentou:

    Thaís, eu intuitivamente costumava pensar como você. Fui coordenadora de uma equipe, buscava escutar as pessoas e motivá-las, envolvê-las, mas infelizmente não consegui. A equipe falava uns com os outros através de gritos e ameaças, eu mesma fui ameaçada diversas vezes e até humilhada pelos colegas. Isso me adoeceu e sai da coordenação. Percebi que nem todo mundo sabe ou gosta de trabalhar com empatia e respeito. Ainda tem gente que, infelizmente, prefere ser tratado com grosseria e ameaça.
    O adoecimento me fez sair de licença e hoje eu me pergunto se eu realmente quero voltar aquele ambiente, o que me faz ter que voltar é a necessidade de emprego.

  8. Lucá comentou:

    UAU! Adorei isso!!!

    E esse cargo de gestor de projetos, hummm, está no meu radar…

  9. Adele comentou:

    O dedo de mandar esse texto pra algumas pessoas coçaaaa.
    Eu acho que toda vez que alguém é promovido a um cargo de liderança em uma empresa grande, a empresa deveria se responsabilizar por treinar essa pessoa. Afinal, se há treinamentos para quem executa, por que não haver para quem lidera?
    Pelo menos no ramo que eu trabalho vejo muita gente que sobe porque sabe executar bem, mas não tem e nem busca as ferramentas para todo o resto, o que acaba sendo ruim pra toda a equipe.

  10. Camila Lacerda comentou:

    Este tema está sendo muito importante para minhas reflexões sobre meu papel como gestora e líder no local onde trabalho. Realmente, lidar com pessoas não é fácil, mas essencial para qualquer gestor. Obrigada e parabéns pela abordagem.

  11. Aline comentou:

    Olá Thais, adoro tudo: o blog, o insta o youtube. Gostaria de saber quais são as leituras , palestras, cursos que citaste no texto .

    1. Me acompanhe no Skoob que tenho os livros listados lá. Impossível responder em um comentário o trabalho de uma vida inteira. 😉

  12. Luana Lemos Villar comentou:

    Que post incrível Thaís! Liderar tem sido um grande desafio para mim também, um desafio gostoso, mas não é fácil. Suas reflexões sobre liderança compassiva tem ajudado muito.
    Obrigada

  13. Iandra Cristine comentou:

    Que post incrível! Me deu vários insights de coisas que preciso melhorar . Gratidão

  14. Marina Mondadori comentou:

    Era isso que estava precisando, Thaís! Obrigada <3