Foque no mínimo diário!

Este é um momento de desenvolvermos empatia. De não cobrar situações e comportamentos ideais de ninguém, pois é uma situação temporária e em que todos estão fora do seu centro.

Tenho recebido mensagens, desabafos e pedidos de ajuda diariamente de pais e mães que estão preocupados com seus filhos nessa rotina atual. Não apenas com relação à organização da rotina, mas com o bem-estar emocional deles, o que é absolutamente normal.

Eu estaria sendo desonesta se dissesse que tenho uma fórmula mágica! Não existe! Cada família é de um jeito e tem a sua dinâmica! Algumas coisas que eu sei:

  • Toda criança, seja bebê ou pré-adolescente, se beneficia de uma rotina minimamente definida. O que fazer quando acorda, as refeições, quando tomar banho, o básico. Isso dá segurança para as crianças e ajuda na organização da rotina dos adultos também.
  • Se já tinha demanda emocional antes, agora a tendência é ter muito mais! As crianças sentem medo, ficam ansiosas, sabem que as coisas não estão normais! Então faz parte a gente estar mais disponível pra eles, que seja com carinhos e abraços, mas também conversando ou fazendo companhia. Mesmo bebês merecem mais colo! Eles sentem!
  • Períodos de transição passam! Não fique se cobrando solução de coisa que não tem solução! Ninguém quer que o filho fique no tablet muito tempo, mas estamos vivendo uma realidade complicada! Os pais estão sendo obrigados a trabalhar e a lidar com um, dois, três filhos em casa! Não se cobre tanto! Ninguém está vivendo em uma situação ideal! Seu filho não vai ter essa rotina pra sempre!

Vou trazer aqui tambémuma recomendação que serve para todas as pessoas – tenham ou não filhos, com filhos bebês ou adultos. O ponto mais importante a se compreender sobre o processo pessoal de organização é que ele deve sempre ser personalizado para a sua vida.

Independente de estarmos vivendo em tempos de pandemia, algumas situações trazem sobrecarga. Por exemplo, quando um bebê recém-nascido chega na casa, isso muda completamente a dinâmica de tudo. Quando você faz faculdade e trabalha o dia todo, também muda. Quando você começa a trabalhar em um lugar que alterna os turnos, vai mexer com o seu sono, e vai levar um tempo até que se acostume (e tem gente que nunca se adapta – vale para o exemplo da faculdade e o exemplo do recém-nascido). Uma coisa é certa: não é possível organizar tralha. Logo, se você estiver se sentindo sobrecarregada/o, precisa ajustar expectativas e entender que não vai ter como fazer tudo, manter a mesma dinâmica de “antes”, diante dessa nova configuração atual.

Eu sempre comento que eu era uma pessoa que amava ter a casa 100% limpa e arrumada até o meu filho nascer. Quando eu percebi que estava exausta porque estava tendo expectativas fora da realidade sobre manter a casa limpa como antes em período de amamentação, isso mudou minha perspectiva com relação ao processo de organização. A organização deve refletir suas prioridades sempre. Naquele momento, a prioridade era cuidar do meu bebê e da amamentação. Dormir bem, descansar, ficar bem para cuidar dele. Durante alguns meses, todo o restante podia esperar. Essa foi a escolha que eu fiz.

Reconhecer o mínimo necessário a ser feito diariamente, em todas as áreas da vida, é um raciocínio prático. Você pode aplicá-lo em absolutamente todas as áreas da sua vida. Por exemplo:

Saúde
Talvez você não consiga mais ir à academia diariamente depois que o seu filho nasceu. No entanto, qual o mínimo que conseguiria fazer todos os dias? Talvez alguns abdominais enquanto ele dorme? Uma prática rápida de yoga? Uma sequência de polichinelos que ainda vai fazer o seu filho dar gargalhadas?

Casa
Talvez você não consiga mais manter a casa como mantinha antes. O que é necessário fazer todos os dias para que ela “não caia”? Lavar a louça, cuidar da comida, trocar as lixeiras, cuidar da roupa, dar uma varrida no chão? Só você pode saber, pois depende de quantas pessoas moram na casa, se você tem algum prestador de serviço para ajudar ou não etc. E tem pessoas que preferem a casa de um jeito diferente – mais limpa, menos limpa.

Estudos
Talvez você não consiga estudar quatro horas por dia para o seu concurso público depois que o seu filho nasceu. Como você consegue estudar ao longo do dia? Talvez apenas revisar mapas mentais e conteúdos e, quando ele dormir, consegue estudar com mais concentração? Ou talvez você queira esperar algum tempo ele crescer mais para que você possa se dedicar aos estudos.

Organização não tem a ver com copiar exemplos de outras pessoas, mas com entender a sua rotina, as suas necessidades, quem você é, e aplicar tudo isso à sua realidade atual, que terá necessidades diferentes não apenas da de outras pessoas, como suas mesmo, pois a vida muda e não somos a mesma pessoa que éramos um ano atrás.

Então:

  1. Aceite que se trata de uma nova situação atual. Ela é temporária, mas não se sabe quanto tempo vai durar. Mas é a situação atual.
  2. Encontre o mínimo satisfatório em todas as suas atividades e áreas da vida para fazer diariamente, e foque nessas coisas. Se sobrar tempo, você faz o que era desejável.

“Ah, mas eu gostaria de manter a mesma rotina de estudos / saúde / finanças de antes”. Volte ao tópico 1 para não se sentir frustrada/o. É simples assim. 😉

“Quando tudo isso passar, vou me organizar”. Não é assim que funciona também. A organização deve ser para a sua vida e te ajudar exatamente nesses momentos mais desafiadores. Não há por que esperar chegar em um determinado momento – o momento é agora, e é excelente para você rever seus processos e olhar com mais compassividade para a sua rotina, para se cobrar menos.