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Como acabar com as dívidas

Estamos falando sobre finanças este mês no blog, e para isso eu tenho usado o método do Ben Zruel, que conheci ao fazer um curso de finanças para empresários, no mês passado.

Neste post de hoje, vamos falar sobre a questão das dívidas. Já falamos sobre:

Como parte deste último, também fiz uma provocação para quem estiver trabalhando: e se você ficasse desempregado/a? A provocação é para quem está trabalhando repensar os seus gastos, e não para quem já está desempregado/a.

Quando se fala em dívidas, meu entendimento é que se trata de tudo aquilo que estou devendo para terceiros. Aqui entrariam então tópicos como: família, cartão de crédito, financiamentos, entre outros.

Alguns pontos específicos que o Ben fala sobre dívidas e que serão abordados neste post de hoje (que, já aviso, será grande):

  • Ou você toma uma atitude, ou a vida toma por você
  • Você precisa conhecer as regras do dinheiro
  • Não importa o tamanho da sua dívida – você consegue resolver

Observando os comentários nos últimos posts, achei que seria importante fazer uma breve recomendação. Felizmente, muitos de nós que gostamos do assunto organização já temos as finanças organizadas, e isso é excelente. Muitos leitores deixam dicas adicionais nos comentários, trazem suas experiências, e fico muito feliz com essa interação. Mas existem também aqueles leitores que ainda não chegaram a esse estágio e que podem estar com problemas financeiros reais. Estes podem inclusive ter vergonha de comentar, e lêem os posts em silêncio. Mas estão aqui. Por isso, quero pedir licença a você, leitor com as finanças já organizadas, para neste post especificamente falar com aqueles que podem estar com problemas sérios financeiros e dívidas enormes.

Estou preparando também um post sobre crise, recessão, morar no Brasil e pensar em finanças. Lá procurarei me aprofundar melhor nesses temas, para contextualizar. Hoje o foco estará em acabar com as dívidas.

Coincidentemente, há poucos dias o Ben publicou em seu canal um vídeo reforçando o ponto dele sobre pagar as dívidas antes de investir seu dinheiro. Recomendo que você assista (abaixo ou através deste link).

Ou você toma uma atitude, ou a vida toma por você

Aqui fazemos o link com o ajuste do padrão de vida. Eu sei que esse assunto é polêmico porque ele cutuca algumas feridas que todos nós temos. Eu acredito que não exista certo ou errado padrão, mas que todos nós podemos nos beneficiar dessa análise e cortes de custos, especialmente os fixos.

O grande problema é sempre depender do salário, e isso resume a vida do brasileiro. Logo, é pensar: e se eu não tivesse meu salário? A pergunta serve para repensarmos o estilo de vida antes de ser obrigado a passar por esse cenário – o que infelizmente hoje é a realidade de cerca de 13 milhões de brasileiros. De modo que quaisquer mudanças que você fizer já vão impactar nas suas finanças de modo geral.

Dívidas entram muito nisso porque muitas dívidas podem existir justamente para você bancar um determinado estilo de vida que pode te aprisionar. Acho que o financiamento do carro é o exemplo mais claro mesmo. A pessoa tem um salário de 1.200 reais e paga uma parcela de 800 para ter o carro, fora gasolina, seguro, IPVA etc. É muito difícil chegar nessa pessoa e dizer: amigo, o carro não CABE na sua vida. Ele prefere continuar se enrolando com o dinheiro todo mês a assumir que realmente não consegue bancar essa despesa e voltar a andar de transporte público (é óbvio que não estou me referindo aqui a pessoas que dependem do carro para trabalhar). Bom, e caso não tenha ficado claro, o exemplo não se aplica apenas ao carro. Aplica-se a tudo que mantemos na nossa vida, dia após dia.

Imagem: Via Trolebus

Imagine viver uma vida sem dívidas. É fácil se você tentar. Talvez você já até viva. Que bom. Mas a realidade brasileira e, em um espectro maior – no mundo – é outra. Em uma pesquisa realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) em junho deste ano, 63,4% das famílias brasileiras estão endividadas. O indicador chama de dívidas tudo isso aqui: cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, empréstimo pessoal, financiamento de carro / imóvel e seguro. (leia o artigo, tem considerações importantes)

Existe um livro chamado “O governo do homem endividado”, de Mauricio Lazzarato (link na Amazon), que é uma leitura essencial para entender o mundo em que vivemos hoje. Em resumo, o sistema a que todos estamos submetidos funciona melhor se estivermos endividados. Por isso existem tantos incentivos a fazer novas dívidas. “Aqui está nosso novo cartão”. “Parcele em até 24 vezes”. Se a gente não estiver ligado, pode acabar tendo problemas reais com isso. Problemas financeiros acabam com casamentos, famílias, relacionamentos e até a vida das pessoas. É muito importante que a gente trate esse assunto como uma prioridade.

Muitas pessoas vivem mensalmente sem saber como gastam o seu dinheiro. O Ben fala no livro que, em média, as pessoas podem gastar de 30 até 300% a mais do que ganham mensalmente sem nem perceber, graças às alternativas de crédito disponíveis e por não terem noção do quanto gastam! É fácil obter crédito. Cheque especial entra como saldo. O limite do cartão entra como saldo. E, assim, as pessoas vão se endividando, muitas vezes sem nem perceber até que a situação fique insustentável. Ter controle dos gastos diários é MUITO básico. Como você vai fazer isso, realmente tanto faz. Escrevendo em um bloquinho, usando um aplicativo como Guia Bolso, baixando seu extrato e analisando, atualizando uma planilha… As pessoas se apegam tanto a esse “como” que acabam nunca fazendo! Sendo que o importante é ter o registro, não importa como você o faça. Comece de qualquer jeito e depois vá ajustando, se sentir necessidade.

A disciplina de registrar os gastos permite que você analise e pense: caramba, gastei XXX reais comendo fora este mês! Como posso melhorar? Pois são esses “pequenos” gastos diários que fazem a diferença no montante final. Um Uber de 7 reais todo dia vira um montante gigantesco ao final do mês, na fatura. E na fatura não importa se você gastou 7 reais – importa que gastou 250 no total.

logo, não dá para falar sobre organização financeira se você não fizer esse registro em primeiro lugar. Você pode categorizar os seus gastos em uma planilha. Existem muitos modelos legais disponíveis na Internet, mas eu vou deixar aqui o link para a planilha do Ben, já que eles está servindo de inspiração para esta série de posts. O foco final da coisa toda será em cortar gastos e usar esse dinheiro para fazer investimentos. Chegaremos lá!

[Tweet “”A última coisa que um ser humano está disposto a admitir é que todas as decisões que tomou a respeito do dinheiro nos últimos anos foram equivocadas.” (Ben Zruel)”]

Às vezes, a gente tem que mudar TUDO! Muita gente vai à falência justamente porque não mudou quando podia, e aí foi obrigado a mudar de maneira muito mais drástica em um estado de calamidade total (ou quase).

Conhecendo as regras do dinheiro

Existem regras. O dinheiro, de modo geral, funciona de determinada maneira. Você aprender coisas como: dívida faz você gastar mais, como obter descontos, como negociar etc. é absolutamente necessário. Não há dinheiro a perder. Os bancos brasileiros cobram as maiores taxas de juros do mundo, apenas porque podem fazer isso. Mandam e desmandam no mercado. Se você não souber as regras, vai se ferrar mesmo! Os caras são profissionais. Precisamos ser também.

Algumas recomendações que o Ben dá para lidarmos com as dívidas são:

  1. Em primeiro lugar, se desfazer de dívidas ou reajustar ao seu padrão de vida mais adequado. Exemplo: vender o carro financiado e usar o valor quitado para comprar um carro mais barato, sem financiamento. Ou trocar por um financiamento menor, que caiba no seu orçamento.
  2. Focar no pagamento das dívidas que você já tem. Exemplo: precisa do carro, então todos os seus esforços devem se voltar para a quitação dele o quanto antes para finalizar essa despesa. Não faça novos financiamentos, não compre mais coisas. Apenas quite essa dívida.
  3. Não pedir orientação para os funcionários do banco. Eles trabalham para o banco! Você acha que as orientações que eles vão te dar vão ajudar você ou o banco? Eduque-se, aprenda sobre finanças, pois assim você poderá fazer escolhas melhores, mesmo que sejam sugeridas pelo seu gerente (pelo menos você vai ter como saber se é a melhor escolha mesmo).
  4. O Ben tem uma orientação super polêmica com relação às dívidas, e ele explica melhor no livro, mas em resumo é: ou você paga toda a dívida, ou não paga nada. Funciona assim: surgiu uma dívida imensa. Se você tiver que financiar o pagamento dessa dívida, vai pagar juros altíssimos que vão dobrar ou duplicar o valor dela. Então ou você paga à vista ou deixar quieto e não paga. Vai ficar com o nome sujo? Vai. E talvez seja até melhor, para você aprender a lidar com seu dinheiro na marra! Vá guardando o dinheiro e, quando chegar uma proposta vantajosa para quitar, você quita. Leia mais no livro dele para entender melhor o que ele está propondo.
  5. Não fazer novas dívidas para quitar outras! Tipo pegar um empréstimo para pagar outra dívida! Você só vai pagar juros mais altos!
  6. Por fim, ser compassivo/a consigo mesmo/a. Você não está nessa situação porque é um fracassado, mas porque errou. Paciência, isso acontece. Acerte daqui para a frente. Pronto. Tenha controle emocional também. Com organização, tudo dá certo.

Só de não fazer novas dívidas já é um passo e tanto para a maioria das pessoas. Veja algumas atitudes que você pode tomar hoje mesmo para acabar com as suas dívidas. Reflita sobre todas elas com carinho:

  • Cheque pré-datado. Você usa? Qual é a situação? Como quitar essa dívida?
  • Cartões de crédito. Como posso quitar? O que eu comprei parcelado que poderia ter esperado um pouco para eu comprar à vista, com mais planejamento? O que eu não deveria ter comprado? Que serviços ou assinaturas eu estou mantendo e nem preciso? Que taxas estou pagando e posso diminuir? Posso reduzir a minha quantidade de cartões?
  • Cheque especial. Que tal considerar cancelar e diminuir as taxas do seu banco?
  • Carnê de loja. Como quitar o mais rápido possível? Como posso me planejar para futuras compras de modo que não tenha mais esse tipo de dívida?
  • Empréstimo pessoal. Como quitar o quanto antes? Economizo juros se parar de pagar e aguardar uma proposta de quitação? Ou se eu mesmo/a fizer essa proposta?
  • Financiamento de carro e de imóvel. Quanto falta para pagar? Quanto eu pagaria, sem juros, se quitasse à vista? Existe a possibilidade de vender o carro ou o imóvel e, com o valor já pago, comprar outro mais barato à vista? Eu preciso desse carro, em primeiro lugar?
  • Seguros. Compensa mais pagar esse seguro ou investir o mesmo valor em outro tipo de fundo para cobrir uma suposta situação que o seguro também cobriria?

Nós brasileiros temos uma relação muito complexa com o consumo. Com tanta desigualdade social, consumo significa inclusão. Por isso, muitas vezes, as pessoas gastam achando que, assim, estarão vivendo um estilo de vida diferente, mais “elevado”. Será que existe algo mais elevado que a segurança financeira da sua família? A tranquilidade de viver sem dívidas, tendo um dinheiro guardado para emergências e planejamento para o futuro? Enfim, não estou aqui para ditar regras, mas para provocar reflexões.

Não importa se você errou no passado. Recomece agora. A cada momento, uma decisão que afeta a sua vida financeira.

(Nosso último post desta série será sobre investimentos, ainda este mês).

Autor

22 comentários em “Como acabar com as dívidas”

  1. Esse post foi um tapa na cara e, ao mesmo tempo, um convite a enxergar com clareza a situação. Muito importante abordar de maneira organizada essa temática e a consciência de classe + organização ajuda demais na quitação de dívidas. Muito obrigada. Tô amando a série, acompanho sempre que tem postagem nova.

  2. Thais, tenho pensado bastante na questão da educação financeira e como me preocupo bastante com o meu futuro (e com o futuro dos meus pais), tenho buscado ler e entender mais sobre o assunto. Algumas das práticas do Ben (e que você trouxe para cá) eu já venho praticando, então acho que você ter essa mentalidade já ajuda bastante. Fiquei tão interessada no assunto que acabei comprando o livro do Ben para o kindle e foram vários socos no estômago, mas uma leitura que achei ter valido bastante a pena. Enfim. O comentário é só para dizer o quanto o Vida Organizada tem me dado uma nova perspectiva das coisas, trazendo mais clareza para uns planos que eu vinha procrastinando por medo e ansiedade. <3

  3. Minha meta é sanar toda dívida da casa até final do ano, e deixar o caixa positivo. Pois a meta para 2020 é fazer uma viagem internacional com a família. Mas precisamos ter o dinheiro para isso realizar-se. E não dever nada.

  4. Muito bom esse post, me identifiquei e muitos tão nessa situação e tbm usam o consumo como compensação emocional, eu mesmo faço isso e término me enrolando mais !

  5. Thaís, você é tão generosa e compassiva. Passa o conhecimento sem culpabilizar alguém que já está em uma situação difícil. É para ajudar. Ne? Parabéns!

  6. Ola Thaís. Muito bom esse post! Tenho estudado muito o assunto, há vários anos, faço meus controles, sei no que gasto mas, ainda assim, do ano passado para cá venho me endividando. Fazendo minha auto análise, cheguei a conclusão de que uma questão importante são os “gatilhos emocionais” e acho que esse é o problema de muitas pessoas… vivemos tempos sombrios, desesperançosos (pelo menos boa parte de nós está se sentindo assim), então o consumo acaba sendo uma maneira de sentir algum prazer, de fazer algo (de maneira equivocada) para melhorar a autoestima, organizar a bagunça interna. Eu, por exemplo, comecei várias pequenas reformas em casa, na tentativa de renovar algo que sei, não é externo. Quando me dei conta disso, congelei (no freezer mesmo) o cartão de crédito e voltei pra Análise.
    Gastar demais pode ser sintoma de algo maior e acredito que o seja, na maioria dos casos.

    1. Concordo totalmente Bel, e esse é meu caso. A terapia me ajuda muito a entender melhor como o consumo é uma compensação emocional. E olha q não vim de família pobre mas nunca fui educada a cuidar do dinheiro de uma maneira realista. Ou eu não ganhava algum presente pq “não merecia”, ou eu ganhava tudo pq “merecia”, ou eram só frases feitas qnd eu gastava demais, do tipo “não somos sócios da Light, “dinheiro não dá em árvore”, etc…nunca foi uma conversa franca, direta, mesmo eu adolescente ou jovem e já passível de entendimento da vida adulta. Resultado: não sei gerenciar meu dinheiro e vivo enrolada, não pq ganho mal mas pq gasto de forma desordenada. Nesse ano eu consegui melhorar bastante, direcionei parte da minha renda para um financiamento de um imóvel q em breve irei quitar mas ainda sofro com esse “consumismo de compensação”. Difícil demais mas hj já estou melhor q ontem e isso me motiva.

  7. Thaís, não é sobre o post e sim para te desejar feliz aniversário!:))) Tem um trecho de uma música do Nando Reis que diz (…) sabe quando a felicidade invade quando pensa na imagem da pessoa (…) E é isso, mesmo sem conhecer vc de forma pessoal, eu me sinto tão bem de ser sua leitora, penso em vc com todo o afeto! Vc é muito maravilhosona, faz um bem incrível pro mundo, tem uma linda jornada! Saúde, vitalidade, prazer, alegrias, sonhos e tudo o que vc deseja! Um beijo!

  8. Oi Thais,
    No Rio de Janeiro tem a Escola de Educação Financeira com cursos e atendimento gratuitos.
    São cursos básicos e avançados. Desde como organizar um orçamento domestico, como investir… Além disso, tem atendimento individual com o dr. finanças um consultor financeiro. Tudo gratuito. Tem também palestras sobre endividamento com abordagem psicológica e consulta com a defensoria pública para os casos de super endividamento.
    https://www.rioprevidencia.rj.gov.br/EscolaPrevidenciaria/GradeProgramacao/Cronograma/index.htm

  9. Parabéns Thais!

    Muitas felicidades!
    Saúde!
    Que você continua essa pessoa esforçada e dedicada a melhorar o mundo a sua volta compartilhando o seu aprendizado!

    Deus abençoe!

    Valéria Ferrer Gomes

  10. Só agora comecei a ler os textos sobre finanças e estou gostando muito de todas as dicas e orientações!
    Ter um controle dos gastos diários me ajudou a perceber que estava usando uber demais e que levar marmita para o trabalho ajuda muito a economizar.
    Obrigada por essa série!

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