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A importância dos diários

Esta dica que trarei hoje trago com base na minha experiência pessoal de muitos anos com relação a este assunto.

Eu comecei a escrever diários ainda na adolescência e, portanto, essa foi uma prática que sempre fez parte da minha vida.

Em algum momento, eu parei de escrever porque estava passando por uma depressão e externalizar pensamentos difíceis estava me deixando pior, quando eu os lia depois. Eu não via avanço, sabem? Então parei durante algum tempo.

Recentemente, com a morte da minha avó, eu retomei esse hábito com maior intensidade. Eu vinha fazendo, nos últimos anos, o registro diário no Evernote (tem até post sobre isso – clique aqui para ler). Porém, nesses últimos meses, resgatei o hábito de escrever em um caderno. Analisando o que não me deixava bem ao fazer um diário na época em que tive depressão, eu percebi que não era o ato de escrever que me deixava mal (escrever era ótimo), mas sim ficar relendo e “remoendo” alguns sentimentos. Então eu achei que uma boa oportunidade de melhoria seria escrever, analisar no próprio dia, após a escrita, como estava me sentindo, e ver o que eu poderia aprender sobre mim mesma naquele momento. E aí deixar as anotações para lá.

Escrever todos os dias pode parecer uma prática assustadora para quem não tem esse costume, mas não existe melhor orientação que simplesmente sentar e começar a escrever qualquer coisa que vier à sua mente. De alguma maneira, seus pensamentos começam a aparecer e a se organizar para a escrita quando você se força a fazê-lo.

Eu aprendi isso lendo o livro “O caminho da artista”, da Julia Cameron, que foi um livro que eu não curti muito como um todo mas, com relação a essa prática específica, ele valeu a pena por si só. Basicamente, ela recomenda que você escreva três páginas inteiras todos os dias, ao acordar, sobre qualquer assunto. Mesmo que não sinta vontade de escrever, simplesmente comece e deixe os pensamentos fluírem.

Passei a usar essa orientação há alguns meses para me entender melhor. Eu percebi que minha vida só melhoraria se eu melhorasse, e eu sei que a chave para isso era deixar a minha mente bem. Como nada “externo” estava me ajudando (leituras, conversas, terapia), eu senti a necessidade de simplesmente olhar para dentro. Para olhar para dentro, em primeiro lugar eu me permiti dar esse tempo, que poderia levar meses, para me descobrir novamente, e em segundo lugar eu voltei a escrever. Comprei um caderno universitário muito simples na Kalunga, mas que tinha uma capa bonita, e simplesmente comecei a escrever todos os dias ao acordar.

Fiz uma viagem com a minha família para Campos do Jordão no início de agosto (é uma cidade serrana no interior de São Paulo, conhecida pelo seu tradicional friozinho e o ar puro das árvores), e uma das melhores coisas que fiz por mim mesma lá foi ter me dado esse tempo para escrever todos os dias de manhã, quando eu acordasse, antes que todo mundo despertasse também. Foi ali que vi não apenas a importância dessa prática, mas a importância de fazer todos os dias, religiosamente.

Em poucos dias fazendo isso eu já me descobri outra pessoa. Estava me entendendo melhor e me vendo com maior compassividade.

Para os meus estudos e preparação do curso de GTD Nível 3, que eu fiz agora em setembro (leia sobre a viagem e o curso aqui), precisei reler o livro “Making it all work”(o terceiro livro do David Allen, autor do método), o que fiz três vezes desde o início do ano. E uma parte que sempre gostei muito desse livro é uma parte em que ele escreve sobre a prática de fazer diários.

Escrever em um diário é uma forma de captura. Você tira os pensamentos da mente e passa para o papel, para esclarecer melhor depois. Aqui vai um pouco do que ele fala sobre essa prática (em tradução livre):

“Uma maneira maravilhosa de começar a experimentar uma melhoria no seu controle durante esta primeira fase da captura é escrevendo em um diário. Muitas vezes, todas as incompletudes da nossa vida se manifestam apenas quando a gente dá um passo para trás e toma notas sobre como nos expressamos.”

Simplesmente escrever diariamente pode trazer insights, e traz mesmo.

Trata-se de um processo introspectivo e que pode ser útil em alguns momentos da vida, assim como foi, por exemplo, nesse período pós-morte da minha avó. Continua sendo, na verdade, mas tem sido realmente essencial. Eu precisava compartilhar isso aqui no blog porque tem feito toda a diferença na minha vida, dentre todas as outras coisas que eu tenho feito com essa finalidade também.

E existe algo na escrita no papel que não consigo explicar. Acredito que, em primeiro lugar, seja a questão do foco apropriado. No computador, podemos nos distrair a um clique das coisas. Em segundo lugar, o fato de você pegar um caderno, uma caneta, sentar em um lugar diferente, com uma postura diferente, pode te colocar em uma disposição melhor para realizar aquela atividade. E isso cria a imagem de um momento importante e significativo na vida, que nos associa a determinadas sensações.

Hoje tenho escrito essencialmente quando eu acordo. É o melhor momento do dia para mim, pois estou descansada e a minha mente funciona de maneira mais clara. Já percebi que, quando escrevo à noite, tendo a estar mais cansada e, portanto, desanimada – apenas como um reflexo químico do meu corpo na forma como eu me sinto. E isso não me deixava legal ou inspirada. Escrever de manhã me deixa bem.

As maiores descobertas sobre nós mesmos nem sempre precisam ser compartilhadas. Elas acabarão sendo compartilhadas com o mundo à medida que a gente for vivendo e executando as coisas no dia a dia da nossa própria maneira, incorporando esses aprendizados e percepções que tivemos sobre nós mesmos. Mas uma única ideia ou sensação pode demorar dias, semanas, meses para entrar na gente de verdade, e escrever em um diário é uma maneira de incubar esse ovinho até ele estar pronto para nascer.

Eis aqui um texto de 2013 (!) no blog onde eu falo sobre os benefícios de se escrever um diário. Lá cito outras ferramentas que podem ser úteis para você também. Espero que goste.

Autor

24 comentários em “A importância dos diários”

  1. Não consegui retomar ainda essa prática. Sou uma pessoa que “penso por escrito”. Como escrever ajuda a estruturar melhor os meus pensamentos… consigo exercitar isso de forma muito intensa no ambiente profissional (já tive chefes que ficaram impressionados com a qualidade dos meus projetos pelo fato primordial de eu escrever de forma estruturada e conseguir, assim, conduzir o raciocínio do “patrocinador” do projeto). Preciso levar essa habilidade para a vida. Admiro muito você e, apesar do atraso, parabéns pela nova idade. Sou quase 10 anos mais velha que você (completo 47 em novembro) e você verá o quão libertadora a passagem do tempo pode ser. Obviamente o físico muda, o pique não é mais o mesmo, mas a cabeça muda pra melhor. Já ouvi falar que o ponto mínimo da curva da felicidade (bem-estar global, eu diria) são os 45 anos e que depois só muda para melhor. Mas acho que você já queimou algumas etapas neste processo e está madura para curtir cada vez mais o lado bom da vida. Take care!

  2. Antigamente, eu tinha uma crença boba e infundada de que os mestres eram necessariamente pessoas que tinham vivido mais tempo do que nós. Isso até começar a acompanhar o Vida Organizada. Você me desconsertou – como uma moça que nasceu quando eu já estava até alfabetizada poderia me ensinar tanto? E você me ensina todo dia. Obrigada, de coração.

  3. Oi Thays!
    Estou fazendo um curso sobre as personalidades do Eneagrama, e com isso, venho buscando conhecer sobre cada vez mais sobre o assunto. Fiquei curiosa em saber o seu tipo… vc já fez teste? Fica como uma sugestão para você abordar em posts futuros. 😉

  4. Oi Thaís,
    Adorei o seu texto. Eu sempre preferi escrever no papel, me sentia meio pré histórica com isso, mas eu acho que as palavras fluem melhor, e naquele momento eu relaxo.
    Fora que eu adoro ter um caderno físico, é meio que o meu compromisso de escrever. Já o computador é outra história, como disse você a gente se perde.
    Abs
    Camila

  5. Toda vez q penso em diário, lembro do livro a Casa dos Espíritos, de Isabel Allende. E me pego imaginando como seria minhas próximas gerações lendo e imaginando como teria sido minha vida…acho estimulante…

  6. thais, sempre leio, nunca comento.
    fazer diário é fundamental na vida! passei por uma depressão severa há um tempo, e vi que uma das coisas que me ajudavam a botar um prumo mínimo (porque eu realmente saí do ar) era escrever.
    hoje em dia, de alguma forma, os períodos mais confusos da minha vida são os em que eu não estou escrevendo, justamente. manter um diário faz parte das coisas que me situam em mim mesma, como fazer exercício e tomar sol.
    eu tenho feito o meu diário no notes, que pode ser acessado pelo celular, pelo meu laptop e pelo computador do trabalho quando a coisa aperta. mas é claro que nada, NADA, substitui o papel e essa coisa gostosa que eu chamo de comichão do grafite (escrevo a lápis o quanto dá). esse formato digital é mais prático e tem me atendido na correria do dia a dia, que no fim das contas é o que tem que acontecer, né. vc toma a solução que te atende melhor, o importante é fazer.
    inspirador esse post, espero que ajude as pessoas no tanto de alcance que vc tem. as pessoas perderam a prática de escrita de fôlego, que é tão fundamental nessa vida tão fragmentada que temos levado.
    um beijo grande pra vc, e feliz aniversário.

  7. Também tenho retomado essa prática, é incrível mesmo! A leitura que me ajudou bastante foi uma clássico da Escrita Criativa nos anos 1980: “Escrevendo com a alma”, de Natalie Goldberg. Ela é zen-budista e descobriu na escrita uma terapêutica para a alma, aos moldes do que aprendeu com seus mestres na arte da meditação. Registrar diariamente algo sobre si mesma como sentimentos, lembranças, medos infantis, são formas de retomar o escritor que todos temos em nós, segundo ela, e que silenciamos pelo medo da rejeição. Adorei essa postagem, Thaís!!! Quanta coincidência 🙂

  8. Gratidão por esse post. Também sempre tive o hábito de externalizar meus pensamentos e sentimentos através de um diário escrito. Com o tempo, acabei deixando de lado. Há alguns dias, essa vontade de escrever para mim mesma tem se manifestado, mas não estava me sentindo à vontade de falar comigo mesma. Vai fazer quatro meses que meu pai faleceu; e ainda não consigo olhar para tudo isso sem dor, perda, saudades… Sei que escrever irá me fazer muito bem. Seu post me deu coragem para retomar esse “carinho” comigo mesma. Gratidão.

  9. Minha maior dificuldade em escrever diários é pq sempre fico no receio de outra pessoa ler o que seria só pra mim. Lembro q na adolescência minha irmã levou meu diário pra escola e ainda leu com as amigas. Depois disso nunca mais consegui fazer diário em caderno.

  10. Oiê, Thais! Recentemente coloquei essa prática novamente na minha rotina. Estava sentindo falta dessa conversa íntima comigo, algo que sempre fiz desde pequena. Mas por dividir minha semana entre duas cidades, optei pelo formato digital. Tenho usado um programa/app chamado Journey. Ele é ótimo! Tem a opção de incluir foto, vídeo, áudio, humor do dia entre outras coisinhas. Estou usando a versão Free, e pensando na possibilidade de pegar a Premium para utilizar todos os recursos.
    Estou adorando.
    Bjão

  11. Thais, obrigada pelo post!
    Como vc faz para manter seu caderno com acesso restrito?
    Eu acho muito interessante ter um diário, vi em algum lugar que “escrever é conversar con a alma”, mas não quero compartilhar o teor do que escrevi com outra pessoa.
    O que vc pode sugerir?

  12. Já eu possuo mais afinidade com equipamentos eletrônicos. Escrever “no computador” me ajuda assimilar mais o conteúdo. Não sei (ainda) explicar o motivo. Mas, sou assim, e tive essa concepção há alguns anos atrás, talvez uns cinco anos – ou mais, ou menos. Eu utilizo um aplicativo chamado “Diaro”, que funciona como um diário. O bacana é que você pode sincronizar com o site “diaroapp.com” e salvar todo o conteúdo no dropbox, automaticamente. Atualmente eu não tenho o hábito de escrever sobre a minha vida diariamente no aplicativo. Mas, sempre que quero desabafar eu escrevo ali. Isso me acalma e me faz refletir sobre o conteúdo. Principalmente quando estou profundamente magoada. Mas, eu também utilizo o Diaro como um fichário eletrônico, pois, é possível criar pastas dentro do mesmo. Geralmente quando estou fazendo algum programa voltado para o desenvolvimento pessoal, eu utilizo ele.

  13. Eu sempre tive vontade de fazer um diário, mas eu só sinto vontade de escrever, quando estou triste, eu não tenho amigos então quando eu estou triste eu escrevo de uma forma onde parece que eu estou conversando com outra pessoa. Gostaria de escrever todas os dias. Acho que vou tentar novamente.

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