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Os propósitos do mestrado

Comentei no post de ontem que eu falaria mais sobre os propósitos do mestrado e este texto de hoje é para trazê-los. Achei importante compartilhar porque 1) descobrir o propósito nas coisas que fazemos é uma boa prática de produtividade e 2) compartilhar com vocês me traz a sensação de ser mais autêntica no trabalho que exerço aqui.

Quando eu resolvi fazer o mestrado, tempo atrás, minha principal motivação era a de dar aulas. Com tudo o que aconteceu no primeiro semestre, eu “entrei em crise” com esse propósito, por dois motivos: 1) não sei qual será o futuro das faculdades e universidades. tudo vai mudar. não sei se os alunos ainda são tão interessados em um professor em sala de aula. e 2) eu já dou aulas. já sou professora. então qual é o ponto prático dessa formação?

Vários professores e colegas que vivem exclusivamente da vida acadêmica estão fazendo o caminho inverso, e com dificuldades. Tentando empreender, ir “para o mercado”, sobreviver de outras forma porque não conseguem empregos lecionando ou mesmo tendo bolsa como pesquisadores.

Quando eu pensei seriamente em parar com o mestrado agora, isso não afetaria tanto a minha trajetória a longo prazo. Eu comecei o mestrado antes do que eu planejava. Quando eu coloco as coisas sob perspectiva, eu não tenho a “pressão” de ter um diploma de mestre no momento. Tenho meu trabalho, tenho a minha empresa. Eu poderia perfeitamente parar um tempo e retomar ano que vem, por exemplo. Mas a maneira como isso me afetaria internamente faria muita diferença. Primeiro, porque eu adoro o mestrado. Me distrai e me faz feliz pensar em coisas diferentes e estar com aquelas pessoas, que já me afeiçoei. Segundo, porque eu sentiria como se estivesse deixando de lado algo muito importante para mim, que representava uma construção importante de vida que me levou até tal momento.

Ter passado por esse período de reflexão (que inclusive coincidiu com o período em que meus professores estavam de férias e que eu precisava escrever dois artigos de conclusão das disciplinas) foi importante porque eu percorri toda uma jornada para chegar à decisão final e clara sobre a continuidade do mestrado. Ter clareza sobre o propósito (ou os propósitos) me fez prosseguir. Foram eles:

Propósito 1: Contribuição com o mercado da Comunicação

Estamos vivendo um momento muito particular, específico e crucial no mercado de trabalho de maneira geral, mas especialmente no campo da Comunicação. A Editora Abril fechou diversas revistas e vai demitir mais de 600 funcionários – muitos deles, jornalistas. As agências de publicidade estão caminhando para o mesmo fim. Nossas profissões serão transformadas e, as carreiras, reconstruídas. Por eu ter feito essa transição anos atrás (sair de uma empresa e empreender), eu sinto que posso ajudar tanto quem já está no mercado há 30 anos quanto quem está em começo de carreira, se formando na faculdade. E eu quero fazer isso. Quero colaborar de alguma maneira. Pretendo fazer isso com a criação de conteúdo, mas também ministrando cursos e aulas em universidades. Acredito na área da Comunicação e nas profissões da área. Quero ajudar a pessoa que quer ser jornalista a realmente ser jornalista, mesmo com essas mudanças e perspectivas confusas (e as outras profissões, claro).

Propósito 2: Contracultura da produtividade no trabalho

Eu realmente acredito que existe um modo de trabalho mais gentil, menos agressivo, com o trabalhador, do que o mercado impõe. A ideia de hora extra como algo normal, ou a conectividade permanente que as mídias (e as relações através delas…) nos obriga a ter, entre outras questões pertinentes e urgentes. Eu trabalho com produtividade. Trabalho com um método (GTD) que vai na contracultura – não diz que você tem que fazer MAIS para ser produtivo, e sim que você precisa estar apropriadamente engajado no que está fazendo – que pode ser fazer nada. Então há uma brecha. Há “esperança”. O meu estudo na pesquisa do mestrado (aplicativos de produtividade) vai nessa linha e, junto com o meu trabalho, eu sinceramente sinto que tenho a contribuir com o mundo de alguma maneira.

Propósito 3: Atuar como pesquisadora

Inicialmente, não pensei em investir na área de pesquisa, e sim do ensino. Mas, quando entrei no mestrado, me apaixonei. E isso faz muito sentido: sempre gostei muito de ler e de estudar, além de escrever. Essa parte me pegou de jeito e o fato de eu já ser professora, já ter uma empresa, e não depender financeiramente de uma bolsa de estudos para atuar me dá a liberdade privilegiada de explorar o campo de pesquisa sem tanta pressão, “porque eu quero” mesmo.

Este é o propósito egoísta, digamos assim, mas que me ajudou a ver que não “dependo” de virar professora exclusivamente, ou de parar com todo o resto que eu faço para viver apenas na área acadêmica. Foi uma conclusão importante e que fez toda a diferença.

Esses propósitos estão tão claros que entraram na minha vida como um foguete! Voltei ao segundo semestre do mestrado com outra visão, outra energia, outro gás, outro senso de aproveitamento e foco. Me sinto completamente renovada e renascida, e grata pela oportunidade que a vida me proporciona de construir a coerência em tantas atividades.

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21 comentários em “Os propósitos do mestrado”

  1. No meu caso, já trabalhava e não precisava também do diploma, decidi fazer o mestrado simplesmente porque sentia falta de me aprofundar em alguns temas e continuar estudando. No final, acredito que valeu a pena, conclui em 2011, não me dedico a area academica mas o mestrado me abriu portas em grupos de pesquisa e de trabalho que realmente gosto e complementam minha vida profissional.

  2. Thaís; Com seu post de hoje reflito que problema não é mudar o propósito, o problema é não tê.lo. Eu sempre quis ser pesquisadora, por isso fiz o mestrado, por isso quero chegar ao doutorado. Agora lendo você e no atual momento do país, às vezes eu penso que seria importante também empreender, mas ainda não sei no que exatamente. Porque às vezes por mais que a gente estude, ainda dá a impressão que não é o suficiente, e que a gente sabe muito pouco.

  3. Acredito que vc está certa de dar continuidade ao mestrado sim, Thais. É um “título” a mais para sua carreira, além de tudo o que vc mencionou. Vai te fazer muito bem emocionalmente também, eu acredito.
    Acho incrível a clareza como vc enxerga as coisas, a sua visão de futuro e de si própria! Abraço!

    1. Obrigada, Daniele. Não vejo problema em parar, se eu decidisse que seria o melhor (mental e emocionalmente faland0, porque eu poderia voltar depois, sem problemas. Mas sinto que é algo que devo fazer no momento, por vários motivos.

  4. Thais, meu caminho foi inverso, entrei achando que queria pesquisar e acabei me apaixonando pela docência. Concordo em ter esses propósitos elucidados, porque tem dia que a vontade de desistir aumenta; mas acho que tem aquela história do caminho ser tão ou mais importante do que o final. A acaba fazendo outras sinapses, somos desafiados; se aprende a estudar, aprende estratégias, paciência, resiliência, enfim, amadurece no geral. Em resumo, apanha e ganha umas cicatrizes de guerra, rs. Estou no mercado e minhas colegas são mestres ou doutoras sem necessariamente lecionar/pesquisar, mas são profissionais diferenciadas.

  5. Que linda! Seu trabalho me inspira demais, todos os dias!!!

    A propósito, vc parou com a terapia? Tomei a liberdade de perguntar pq achei q a reflexão do texto tem tudo a ver e li um post de 2016 em q vc compartilhava o início do tratamento e depois não sei se falou mais nisso. Queria saber se ainda pensa a mesma coisa a respeito e se acha q vale a pena acompanhamento de longo prazo ou mais para as crises mesmo.

    Mais uma vez agradeço pelo trabalho incrível! <3

  6. Também comecei o mestrado esse ano, e com bolsa ainda, o que foi bem difícil dada a atual situação das universidades públicas. Por isso, me faço as mesmas perguntas que você. Com tanta dúvida sobre o futuro acadêmico, comecei a repensar meus propósitos também. Amo aprender, amo a experiência do mestrado, da pesquisa do estudo, mas não sei se seguir unicamente a área acadêmica é uma boa saída. Por favor, nunca pare de compartilhar um pouco dos seus pensamentos e etapas do seu mestrado, me inspira muito!

  7. Muito legal 🙂
    Estou tentando fazer mestrado também.
    Gostaria de deixar mais um incentivo: Fiz já 2 cursos seus e gostei muito, vc ensina de uma forma muito leve e intuitiva. São talentos raros e, se vc puder levar pra “Cadimia”(rs) também, será muito bom 😉

  8. Poxa Thaís, que legal você compartilhar isso. Estou em um momento parecido de reflexões, só que desta vez para fazer o doutorado. Estou ainda um pouco chocada com as notícias sobre o possível não suprimento de bolsas de mestrado e doutorado, pelo governo. Saí recentemente do trabalho, almejando mudanças em meu trabalho e com o desejo de empreender (sem muita clareza ainda no quê – mas tudo indica que algo no campo da educação), e fazer o doc pelos mesmos motivos – vontade de ensinar, fazer algo que eu goste, contribuir com a ciência respondendo a perguntas sobre um problema de conservação marinha, e aí de repente: pá.
    Será que num futuro próximo teremos a figura do professor? Eu acredito neste modelo de educação onde o professor fica em pé na sala e os alunos sentados ouvindo? Enfim…tô beeem confusa. Dias mais animados, outros menos…e por aí vai. Mais uma vez, obrigada por compartilhar teus questionamentos da vida real.

  9. Thais,
    Obrigado pelo texto. É inspirador.
    Estou em um momento de dúvida em relação ao meu mestrado e vejo que preciso refletir sobre os meus propósitos.

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