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O poder da organização ao buscar as decisões dentro de você

David Allen, autor do método GTD, recomenda que a gente revise nosso propósito e nossos princípios toda vez que tivermos que tomar decisões importantes. Isso vale para seu propósito pessoal, mas também para o propósito de um projeto, de uma ação e de qualquer outra atividade. Hoje eu queria falar um pouquinho sobre esses valores internos. A gente não define valores – a gente os tem. E aí a gente vai descobrindo ao longo de uma vida inteira aquilo que a gente verdadeiramente é – e isso é um processo íntimo, porque muitas vezes temos “defeitos” (ou “pontos de melhoria”, o eufemismo da vez) que são tão intrínsecos que dão até um pouco de vergonha de compartilhar com quem quer que seja. Mas, como disse a Clarice Lispector, é complicado cortar defeitos porque a gente não sabe qual é a característica que sustenta o nosso edifício inteiro.

Toda vez que passamos por períodos difíceis, ou precisamos tomar decisões complicadas, é como se a gente recebesse um badge. “Passei por isso!”. Mas o que temos que identificar é o aprendizado que tiramos. Quando você toma uma decisão difícil, certamente ela foi pautada em princípios que, talvez, até então estivessem ocultos para você. Talvez você simplesmente não tivesse percebido que eles estavam aí dentro. Você teve que passar pela tal situação, pela dificuldade, para identificá-los. E identificar esses princípios, esses valores, é muito importante porque, uma vez tendo identificado-os, você pode usá-los como critério para decisões futuras.

O que isso tem a ver com organização? Tudo! Porque você não perderá tempo se “martirizando” pensando o que deve fazer ou não.

Tem outro aspecto importante também, que é o nosso amadurecimento e a nossa mudança ao longo dos anos. Os princípios e valores dificilmente mudam. Mas algumas coisas mudam e, talvez, você estivesse chamando de valor algo que era apenas temporário. Um exemplo bem prático: você descobriu que ama viajar. Acha que viajar é um princípio importante para você. Mas aí nascem seus três filhos, e você percebe que gosta mais de ficar em casa e curtindo a vida com eles pelo bairro que ir viajar. Deixou de ser prioridade. Se viajar fosse tão importante, você levaria seus filhos com você. Se você não vai viajar porque prefere fazer outra coisa, talvez seu valor esteja mais intricado na questão da família, da base, da segurança. Mas tem famílias que vivem viajando com os filhos, porque seus valores estão em viajar, descobrir novas culturas, ensinar isso aos filhos. São apenas valores diferentes. A vida é mesmo um eterno aprendizado.

Em termos práticos, como você pode fazer bom uso dos seus valores, princípios e propósito? Em primeiro lugar, buscando propósito nas coisas que você faz. Por que precisa dar esse telefonema? Por que precisa preparar a refeição hoje em casa? Isso pode te ajudar a ver mesmo coisas mundanas através de outra perspectiva. Em segundo lugar, toda vez que se deparar com um problema, por mais cabeludo que seja, veja como uma oportunidade de aprender com ele a como “mudar de fase” no “jogo da vida”. Para ir para a fase seguinte, você precisa passar pelo chefão. Isso acontece em quase qualquer jogo de vídeo-game. Na vida também. Só que, quando a gente enfrenta o chefão, pode sair machucado (e geralmente sai), mas algo nós aprendemos. Esse “algo” pode ser um princípio importante para você. É como se fosse um diamante lapidado. Anote isso em algum lugar e revisite de vez em quando para validar outras decisões – tanto do dia a dia quanto mais importantes.

Frequentemente passamos por situações que, depois que as superamos, dizemos coisas como “depois que me tornei mãe, percebi que…” ou “depois que fui demitido, aprendi que não adianta…”. Todas essas lições mostram princípios que são parte de você. E, uma vez identificados, te ajudarão a tomar decisões futuras difíceis sem pensar muito. E é o tipo de coisa que só quando a gente passa por isso consegue ver o valor. Até lá, você pode apenas confiar em mim. 🙂

Tem a ver com organização porque construir uma vida organizada é basicamente levar uma vida coerente com quem somos. É não perder tempo com atividades que nos agridam emocionalmente. Quanto mais você prestar atenção em você mesma(o), mais critérios puros e certeiros você terá para decidir como investir seu tempo na vida.

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23 comentários em “O poder da organização ao buscar as decisões dentro de você”

  1. Isso de analisar as situações é importantíssimos, inclusive nas mais tensas as vezes deixamos de agir ou falar e só depois do ocorrido é que fazemos essa analise, a organização do pensamento e do agir é essencial.

  2. Adorei o texto! É bem isso mesmo… Os critérios que cada estabelece para fazer escolhas vem desses valores que adquirimos ao longo das dificuldade da vida!

  3. Olá Thaís ! Muito obrigada por seu artigo e todo seu trabalho ! Me sinto muito melhor agora, após ter aprendido tanto com seus posts, vídeos e tudo mais ! Percebi nessa jornada que, meu mindset não estava alinhado aos sonhos que tenho… depois de um tempo, entendi que os sonhos são para mim uma bússola, um caminho e que tenho que “adequar” minhas “ferramentas” – mindset para alcançá-los… e posso te dizer que me sinto agora no rumo certo. ! O meu muiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiito obrigada !

  4. Thais, sou sua leitora a tempos mas quase nuca ma manifesto. Hoje, gostaria de dizer que o GTD me ajudou a tomar decisões desse jeito que você descreveu. Há uns meses comecei a trabalhar num escritório que não tem o costume de emendar feriados. Mas minha família fica sempre na espectativa dos feriados emendados e a maioria do momentos bons ocorrem nos feriados, quando passamos mais tempo juntos. Analisando meus objetivos e propósitos percebi que prefiro ganhar um pouco menos e desfrutar desses momentos do que ganhar só um pouco a mais e perde-los. Sem o GDT provavelmente eu ficaria nas lamentações e não teria visão suficiente pra compreender o que vale mais e a possibilidade dessa tomada de decisões. Seu blog tem sido de muita valia pra mim. Continue compartilhando suas ideias.

  5. O mais perfeito de tudo nesse post, é que se encaixa em todos os aspectos que estou passando em minha vida neste momento. Foi muito bom ler isso e saber que de fato, quando somos organizadas, fica mais fácil tomar a decisão certa de uma forma mais fácil.

    Obrigada

  6. Ótima reflexão, Thais!!! Estou nessa fase de “aprendizado interior” e você tem toda a razão ao afirmar que nossas prioridades mudam com o tempo e com os acontecimentos. Acho que nos falta um pouquinho de atenção com o nosso interior. Acompanhar você e inserir os contextos de organização na minha vida têm me ajudado muito no autoconhecimento. Obrigada por cada texto, cada palavra, por mais simples que seja. Beijos!!! : )

  7. Gostei muito do texto, ultimamente estou viajando nesse tipo de reflexão e já me peguei várias vezes falando “depois que me tornei mãe, percebi que…” Enfim, é um aprendizado contínuo, é uma redescoberta constante e um encontro real com nosso verdadeiro eu e que muitas vezes é bem doloroso!

  8. Thaís, preciso dizer que esse texto veio fechar com chave de ouro muitas reflexões que tive ultimamente. Estou passando justamente por uma fase de questionar quais são meus reais valores e o que realmente faz sentido pra mim. E adorei o exemplo de “viajar” porque é algo que sempre gostei mas por muitos anos tive poucas oportunidades, mas quando elas vieram encheu minha vida de cor , significado, expansão da minha mente é percebi que realmente era muito importante pra mim. E com certeza quando tiver filhos, levá-los para conhecer o mundo e ampliar os horizontes será muito importante pra mim. Seus textos parecem um guia de vida, com objetividade e profundidade,que atingem a alma, sacodem as emoções ao mesmo tempo que conforta o coração. Definitivamente o que você escreve e como escreve, é um dom. Me sinto grata de há 7 anos ter você através do blog fazendo parte dos meus aprendizados na vida 🙂

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