Tenho refletido demais sobre a natureza do meu trabalho ultimamente. Sei que também é a natureza do meu ano pessoal (um ano 7, de auto-conhecimento e mergulho interior), e já entro nas vibrações do meu próximo ano (um ano 8, empreendedor), com meu aniversário chegando em setembro. Superei este ano, digamos assim. Foi realmente um período de grande reflexão e aprendizado. Não foi de nada “ruim”, pois ele foi maravilhoso para que eu aprendesse coisas importantes a respeito do meu trabalho e de mim mesma. A principal é mais recente, e tem a ver com o título desse post. Por isso, hoje quero escrever sobre o assunto para compartilhar com vocês essa reflexão e para ajudar quem talvez esteja passando pelo mesmo momento e precisando de uma luz.
Quando eu comecei a empreender, em 2014, tudo era muito nebuloso. Coisas básicas como gerenciamento de notas fiscais, pagamento de impostos, organização de documentos – eram novidade para mim. Junte a essas coisas necessárias todo o trabalho que estava acontecendo, e que não me permitia “parar para pensar e estudar” nessa situação nova que eu estava vivendo. Hoje eu sei que esse processo entraria em um “plano de visão” para pelo menos três anos (colocar a operação da minha empresa em estado de cruzeiro). Mas, na época, era muito incipiente. Eu fazia tudo essencialmente na base da boa vontade.
Outra coisa que eu também lutava contra e não queria acreditar de maneira nenhuma era no mito (e hoje digo de boca cheia que é mito) de que empreendedor não tem tempo para nada, precisa se dedicar a tudo no negócio e dar o sangue mesmo. Isso é alimentado de maneira geral no mercado. Eu pensava: “Poxa, mas não é possível. Eu trabalho com produtividade. Deve existir uma maneira de não me sobrecarregar com tudo isso.” Então sim, é mito. Você pode ter uma empresa, se dedicar muito a ela intelectualmente, mas não se sobrecarregar e ter uma vida equilibrada desde o começo.
Bem, do meu ponto de vista, de acordo com o método de organização que eu desenhei para o Vida Organizada, o primeiro passo é destralhar. E isso vale para qualquer coisa. Mas como assim, destralhar? í‰ você se desfazer daquilo que não faz sentido. De cara, pensei: “ok, vou delegar funções então”. Mas aí é que entra a questão da clareza. Delegar o que, exatamente? O que eu “não gosto” de fazer? Eu travei uma pequena (porém produtiva) batalha interna até descobrir exatamente o que deveria ser delegado. E eu achava mais difícil no meu caso, pois tenho duas frentes de trabalho (o GTD e o Vida Organizada). Se complementam, mas são duas frentes diferentes.
Recentemente, participei de um evento do Conrado Adolpho (uma autoridade quando se fala em marketing digital, e que eu acompanho desde 2008, se não me engano) em que ouvi ele dizer uma verdade que eu já tinha ouvido antes também: não tem como você ser o especialista no seu negócio e também o gestor. Ou uma coisa, ou outra. Não dá pra abraçar o mundo. Onde eu tinha ouvido isso antes? Anos atrás, com o David Allen (autor do GTD). Ele disse que tinha contratado um CEO para a sua empresa (David Allen Co.) porque não queria ficar na operação – ele queria apenas ser o cara que desenvolve cursos, ministra palestras e espalha o conteúdo do GTD pelo mundo. Como o Steve Jobs dizia, a vida é sobre conectar os pontos. E aí, na semana passada, também li (em uma só sentada) o livro do Diego Carmona (“Visionários”), em que ele fala basicamente sobre isso. Foi o suficiente para cair a minha ficha em algo importante e que foi um divisor de águas para mim.
E por que eu estou me abrindo para vocês e contando tudo isso? Porque sei que muitos empreendedores me acompanham por aqui. E definir papéis é chave para organizar a vida.
Muito do que foi confuso nos últimos anos para mim vem do fato de eu querer “fazer tudo” na minha empresa (Vida Organizada) e também “fazer tudo” na consultoria onde atuo com o GTD. Isso aconteceu porque sou uma pessoa que se envolve muito com o que faz. E esse também é um dos perigos de amar demais o seu trabalho. Apesar de eu sempre ter em mente o equilíbrio e priorizar uma vida tranquila, me sentia incomodada por deixar pontos importantes de lado, que gostaria de estar trabalhando e não estava justamente para não me sobrecarregar.
Por fim, sem “enrolar” mais com a contextualização (ela é importante), a decisão que eu cheguei foi: sou especialista quando se trata do GTD, mas sou a gestora quando se trata do Vida Organizada. Isso significa abrir mão de papéis de gestora com o GTD e de abrir mão de papéis de especialista com o Vida Organizada. E isso foi mind blowing.
Como uma pessoa obcecada pela alta performance humana, passei vários dias trabalhando no que seriam as minhas novas áreas de foco profissional com base nesse meu novo entendimento. Desenhei um mapa para as áreas relacionadas ao GTD (como especialista) e um mapa para as áreas relacionadas ao Vida Organizada (como gestora). E tudo ficou claro como água.
Agora eu tenho um mapa do que são realmente as minhas responsabilidades em cada uma das duas frentes (e que são naturezas diferentes de responsabilidades) e, daqui a para a frente, vários projetos que me permitirão colocar tudo em estado de cruzeiro.
Sim, é uma construção. Mas uma construção maravilhosa que estou muito empolgada fazendo. Nunca tinha pensado no meu trabalho dessa maneira, e essa percepção me ajudou demais a ver as coisas como um todo, onde eu quero chegar em cada uma das frentes, o que deve e pode ser delegado, quais meus objetivos de curto, médio e longo prazo etc. Realmente parece que eu bati com uma varinha mágica e abri as brumas de todo o cenário.
Se você for uma pessoa que tem um emprego e está tocando um segundo negócio em paralelo, perceba que você não pode atuar como empregado no seu negócio. í‰ outra natureza. Se você for gestor, tiver uma empresa, uma franquia, um empreendimento seu, saiba que você não é o especialista – e, se for, deve ter especialistas tão bons ou melhores que você trabalhando com você e te deixando na liderança e direcionamento do negócio – essas sim atividades que só você pode fazer. Isso aqui pega direto no ponto dolorido porque geralmente quem empreende o faz porque é bom na área. Pode até ser o melhor. Mas isso não basta – a não ser que você queira continuar sendo o especialista, então nesse caso deve ter alguém com você tocando o negócio.
Uma das coisas que mais me atrapalharam nos últimos anos foi querer desenvolver uma rotina de atividades parecidas para ambas as frentes. E eu trabalhava como se estivesse em um emprego – agendamentos, projetos, prazos etc. E sim, tudo isso é incrível e funciona, mas você tem que inserir os elementos certos nessas categorias de trabalho. E agora eu finalmente sinto que esteja efetivamente fazendo isso.
Eu pretendo explorar muito mais essa ideia no meu livro que estou escrevendo (será publicado ano que vem) e no novo curso de organização para empreendedores (que estou desenvolvendo para setembro).
Se você for empreendedor e sentir que esse assunto pode te ajudar, por favor, deixe um comentário! Vamos trocar ideias. Obrigada!
Sabe o que é mais legal de tudo isso? Acompanho o blog desde 2014 e é notória a mudança e evolução ao longo do tempo.
Que legal. Fico feliz. Obrigada pelo comentário.
Concordo plenamente!
Muito legal Thais,
O que se trata “colocar em estado de cruzeiro”?
É uma analogia com o estado de cruzeiro em um vôo de avião. É quando a aeronave está estável em termos de estado e velocidade, sob controle.
Minha profissão se enquadra em uma categoria em que sou obrigada a ter empresa em sociedade, e mesmo que eu seja a única prestadora de serviços, não é possÃvel não ter empresa aberta e manter uma boa clientela. Quando abri a primeira empresa, minha mãe foi sócia, mas a participação dela era mÃnima e raramente chegava a precisar emitir notas. Assim, dois anos depois, uma amiga que estava em situação parecida propôs sociedade, então agora somos duas profissionais, com frentes de trabalho semelhantes mas cada uma com sua cartela de clientes. Mesmo assim, o serviço administrativo ficou bem mais leve: uma faz as visitas ao banco, e outra mantém a comunicação com a contadora, etc.
Bem legal. Obrigada por compartilhar.
Te acompanho a muito tempo acho que desde 2011 e ver o V.O evoluindo é maravilhoso Ele é essencial pra mim.
Muito interessante mesmo! Estou ansiosa por este novo ano, pelas novidades que trará dos horizontes mais altos do GTD e desta parte do empreendorismo. Sou empresária à 3 anos, em Portugal, e tenho gostado muito do que leio aqui e tem-me ajudado imenso tanto a nÃvel pessoal com profissional. Estes cursos da Call Daniel também se fazem cá em Portugal? Sigo o blog desde 2008 (provavelmente), quando me comecei a interessar por organização mais “a sério” e acho que fazer um destes cursos de GTD era fantástico!
Obrigada!
PatrÃcia Guerreiro
Oi PatrÃcia, tudo bem? Eu estou formatando um modelo de trabalho para poder levar o curso de GTD para Portugal e um primeiro passo é ir conhecendo algumas pessoas que morem aà para entrar em contato e viabilizar datas. Posso colocar você na minha lista? Em que cidade você mora? Obrigada.
Antes demais, fico muito contente pela resposta positiva!
Em segundo, claro que sim! Adoraria fazer parte desta vinda do GTD para Portugal!
Eu sou de Almada (perto de Lisboa) e tenho um centro de Estudos e Formação o que também me faz passar estes conhecimentos aos alunos que por mim passam! 🙂
Fico à espera então das novidades vindouras!
PatrÃcia Guerreiro
Obrigada, PatrÃcia! Agradeço muito!
Esse curso é pra mim, Thais! Empreendedora desde os 18 anos era uma que dava o sangue. Estou com 31 anos agora e mãe pela primeira vez — e vivo nesse dualismo da dedicação ao meu negócio X tempo de qualidade com a minha pequena.
Já vou me inscrever! 😀
Bacana o seu post Thais, leva-nos a uma boa reflexão!
Penso que dá para ser um bom especialista e também um bom gestor, mas é um grande desafio. Desafio este que é enfrentado por 100% dos empreendedores, especialmente aqueles que estão começando um novo negócio ou atravessando algum tipo de crise.
Quando você é um bom especialista e encontra um bom gestor para lhe apoiar (ou vice-versa) tem-se um grande potencial de boas realizações.
Oportuno mesmo, mas fiquei pensando em como implementar essa lógica no estágio inicial do empreendimento. Se você tem um emprego e começa seu empreendimento individual muitas vezes ainda não consegue remunerar nem o seu próprio trabalho, quanto mais o de terceiros. Thais, olhando pra trás hoje e se vendo como empreendedora iniciante e com emprego paralelo, você vê uma saÃda pra esse dilema?
Aà você tem um objetivo e precisa “gerar caixa” para alcançá-lo. O que não pode perder de vista é o que quer fazer.
Texto ta maravilhoso, Thais! Adoro quando você cria conceitos e não somente os redistribui. Isso não é algo que você aprendeu e sim uma maravilhosa incursão em si mesma que fez com que chegasse a esse pensamento. Também sou leitor antigo nunca comentei. Esse talvez seja o segundo comentário no blog.) e preciso do Blog comigo. A sua evolução é notável e pra quem te conhece a bastante tempo sente como se fizesse parte disso tudo… como se fossemos parte da mesma empresa, sabe? É uma alegria imensa ver tudo correndo bem! Um grande abraço e sucesso!
Muito obrigada, Marcos. Seu comentário foi muito especial.
Parabéns pela sacada. Luto diariamente para não virar “escravo” de mim mesmo. Ainda não consegui atingir essa percepção de ver meu negócio apenas como gestor. Assim como, por mais que seja o especialista no emprego formal, acabo por diversas vezes tomando as rédeas como se fosse o gestor. A separação das duas áreas é um objetivo mas ainda não consigo visualizá-lo claramente. Continuarei acompanhando os próximos episódios. Novamente, parabéns.
Obrigada por comentar! Eu também tomo as rédeas nesse momento (só para constar rsrs). Mas o que esse exercÃcio me fez perceber é que eu tenho que delegar coisas especÃficas. Logo, virou um objetivo para mim gerar caixa para ter alguém cuidando do operacional. Também quero trazer especialistas para trabalharem comigo. Então esse é todo um trabalho que preciso focar nesse momento – uma construção para os próximos anos.
Caiu como uma luva o post. Cheguei à mesma conclusão recentemente e concordo com seu posicionamento. Não dá p ser tudo ao mesmo tempo, mas é possÃvel p executar projetos paralelos, quando sabemos exercer diferentes papéis!! Grande bjo!!
muito esclarecedor e bonito ver suas descobertas
Olá Thais, o grande problema é que muitas pessoas se auto-intitulam como empreendedoras apenas pelo fato de estar começando um novo negócio. Na minha opinião empreender vai muito além de ter uma empresa, é algo relacionado à atitude e modo de pensar. O que você acha?
Certamente.
Acompanho o VO há uns sete anos e é muito legal como vc compartilha tanto da sus vida e mantém a discrição com assuntos mais pessoais. Confesso que esse texto não ficou muito claro pra mim (deixarei pra reler em uns dÃas mais). Sou emprendedora e gosto muito quando vc traz posts com essa temática.
E como dado freak querÃa comentar que quando engravidei Li todo o arquivo do teu blog de maternidade. Adorava ler vc contando sobre suas descobertas com o Paul.
Um beijo Thais
Muito bom, ThaÃs. Nós empreendedores vivemos num dilema constante.
Olá Thais! Nunca comentei nada antes, embora sempre tenha tido vontade, até para trocar ideias sobre o GTD aplicado à minha área (faço investigação na área biomédica e estou a tentar aplicar GTD no planeamento de projectos/experiências que tenho em mãos e definir metas para o futuro). Hoje em particular decidi fazê-lo por causa de um comentario seu sobre trazer o curso de GTD para Portugal. Por favor … faça isso.
Sou portuguesa, trabalho no Porto, e já sigo o Vida Organizada há anos, embora muito mais afincadamente agora. Comprei o livro do David Allen. Descobri os seus livros a venda em Portugal 🙂 Tenho devorado todos os seus textos no VO e vÃdeos no YouTube. São verdadeiramente inspiradores e têm me ajudado muito (mesmo muito) a mudar a forma como faço a gestão da minha vida e projectos.
Muito, muito obrigada Thais. Espero sinceramente um dia poder agradecer-lhe pessoalmente. Beijinhos do outro lado do Atlântico.
Que legal, Elva. Nós estamos estudando a possibilidade de ir. Por favor, cadastre seu nome aqui para você ser avisado quando formos:
http://gtdportugal.com/cadastro/
Obrigada!
Como separar especialista de gestor quando se está sozinha na empreitada? Eis a questão, Thais… rsrs. Tenho passado por isso…
Você direciona o seu negócio para fazer isso acontecer um dia. 😉
Thais, gostaria de detalhes sobre o curso. São vÃdeos ou material escrito? Quanto tempo temos acesso?
Todas as informações serão postadas em breve. 🙂
Eu costumo utilizar diversos materiais (vÃdeos, textos, arquivos) e o acesso é até 1 ano.
Concordo com seu ponto de vista empreender não só começar um negócio isso é o que a mÃdia coloca como um empreendedor vai muito. É uma mudança de ponto de vista é pensar fora da caixa, inovar procurar oportunidades onde outros veem dificuldades e sair da lugar comum parabéns
Thais, esse cursos também é indicado para quem está em vias de abrir um negócio (fÃsico)?
Abraços!
Sim! O foco não será no negócio em si mas na organização do empresário. 🙂