
Na semana passada, passou pela Câmara dos Deputados a proposta de lei que permite à s empresas terceirizarem todas as suas atividades, inclusive as chamadas atividades-fim (as principais atividades da empresa – a razão dela existir). Por exemplo, uma escola poderia terceirizar a contratação de professores. Antes, só era permitida a terceirização de atividades-meio – como limpeza e segurança.
Na prática, isso significa que o funcionário terceirizado será contratado pela empresa “terceirizadora”, com carteira assinada com esta, em vez do vÃnculo com a empresa em que efetivamente trabalhará. Isso possivelmente trará salários menores, porque a “terceirizadora”, a empresa intermediária, certamente vai querer tirar o lucro dela em cima das contratações. Além disso, sem vÃnculo com a empresa em que efetivamente trabalhará, qual será o nÃvel de engajamento? Qual será o papel do RH? Podemos ser muito mais facilmente substituÃdos, constituindo apenas uma ficha trabalhista? (Ao mesmo tempo, é assim tnao diferente hoje em algumas empresas?) O que mais se tem discutido é a diminuição ou quase inexistência de direitos trabalhistas suadamente conquistados.
Enfim, a lei ainda não foi aprovada, mas é provável que caminhe para isso. Vamos bater um papo então sobre essa situação?
Fica difÃcil tentar prever o que exatamente irá acontecer. É fato que o nosso paÃs está em um momento de crise e com muito desemprego, e que essa nova lei poderá abrir a chance de mais vagas, mas com salários menores e condições trabalhistas quase inexistentes. Será que o brasileiro está preparado para essa realidade?
Eu sempre considerei o tema educação financeira uma opção privilegiada. Me sinto privilegiada por poder falar em guardar dinheiro, construir fundo de emergência, conhecer investimentos, comprar à vista e outros do tipo. Para muitas pessoas, que desde adolescentes (…), todo o “salário” que recebiam de empregos absolutamente necessários para o seu sustento ou da famÃlia, guardar dinheiro ou pensar sobre investimentos era algo completamente fora da realidade. São pessoas que precisam (ou precisavam) escolher entre pagar a conta de luz ou comprar comida no mercado. E então, se por acaso tiverem um maior poder aquisitivo, vão querer gastar com “coisas” relacionadas a um estilo de vida que nunca tiveram mas sempre quiseram, como TVs, celulares e carros. Para essas pessoas, não gastar tudo o que ganham é algo muito difÃcil e complicado, até sem sentido. Também já vi casos de pessoas que conseguiram e sempre foram muito organizadas financeiramente, mesmo com pouco. O que quero dizer é que é difÃcil mudar uma forma de pensar uma vez que você já tenha se acostumado a viver de uma determinada maneira.
Quando eu saà do modelo CLT para o modelo PJ, eu demorei para me adaptar. Eu achava que todo o dinheiro que eu recebia era meu, assim como acontecia quando eu recebia um salário. Eu demorei bons anos para aprender sobre educação financeira de uma empresa (mesmo uma empresa de uma pessoa só!), descobrir como pagar um bom e suficiente salário para mim, o que devo pagar de impostos, o que posso investir na empresa em si. E apenas com isso eu comecei a ir além, pensando em aposentadoria, plano de contas, projeção financeira.
Passei por bons momentos e por momentos bem difÃceis nesses quase três anos trabalhando como PJ. Ano passado, passando por um desses momentos complicados, eu gerei um princÃpio para a vida. Eu acho que princÃpios são como badges que a gente gera sempre que passa por algo e decide alguma coisa importante. E esse princÃpio foi: crie sua própria estabilidade. Não fique parada. Cuide da sua mente e busque sempre meios de garantir os recebimentos da sua empresa. E isso mudou a minha vida. Mesmo na crise, minha empresa continuou crescendo. Eu nunca parei. Foi uma lição importante.
Fico imaginando como será para as pessoas que nunca passaram por isso terem que encarar uma situação dessas de repente, em um momento de crise e desespero, em muitos casos. Sem dinheiro guardado. Sem entender o cenário. Contabilidade e finanças deveriam ser disciplinas a serem estudadas na escola. Se haverá tal mudança em nossa sociedade, seria fundamental educar a população. Mas será que há interesse em educar a população ou apenas em “fazer girar a economia”?
Por isso, esse post é um primeiro de vários que pretendo escrever sobre o assunto. Precisamos aprender. Precisamos entender como a coisa toda funciona. Porque, independente do formato do seu trabalho hoje, é fato que o conceito de trabalho no mundo todo está mudando. Talvez a gente caminhe sim para modelos de trabalho mais independentes. E isso depende de sabermos administrar a “nossa empresa”, o nosso dinheiro, os impostos, os investimentos, os direitos. Sendo o Governo, uma empresa ou nós mesmos quem gera essa renda.
Afinal de contas, somos todos terceirizados.
Bom dia Thais, compartilho do seu ponto de vista a respeito da terceirização, mas também dessa sua atitude de não paralisar na constatação, de buscar extrair princÃpios, linhas de atuação para o empreendimento que nós todos somos, continuo me inspirando com essas coisas que vc posta generosamente, logo quero estar de novo com vc no curso GTD nÃvel 2
Thais, bom dia!
Muito bom! Acho importantÃssimos a educação financeira, porque hoje vejo que toda a população é tutelada pelos “direitos trabalhistas”, como se não tivéssemos competência nem responsabilidade para lidar com nossas finanças.
Post incrÃvel Thais, necessitamos de mais conteúdos assim mesmo, digo por mim que nunca tive uma educação financeira e estou cada vez mais engajada em saber sobre o assunto… Parabéns pelo excelente trabalho, nunca comento mais acesso o blog todos os dias 🙂
Obrigada!
Thais, te suplico ESCREVA SOBRE FINANÇAS irá ajudar muito a mim seus leitores <3
Gratidão!
Vou escrever mais!
Oi, Thais!
Seu texto veio em um momento extremamente oportuno. Eu estou terminando minha faculdade de Letras em uma universidade federal e trabalhando ao mesmo tempo. Entrei na faculdade com muitos sonhos e expectativas (e obviamente me frustrei pelo excesso delas), mas vejo bem de perto o desinteresse em educar a população. Meus colegas professores e eu estamos sem horizonte, não por falta de vontade, mas pelo futuro muito próximo e desagradável que nos aguarda em relação à s condições de trabalho e medidas que vêm sendo adotadas para a nossa classe. Por mais que eu tente ser otimista, é difÃcil acreditar que estamos numa crise e tudo vai ser superado em poucos meses.
A Faculdade de Letras da UFRJ(onde eu estudo) está sem limpeza desde semana passada por não repassar a verba à empresa terceirizada. Estamos literalmente no meio do lixo! A UFRJ recebeu a verba, mas para onde foi ninguém sabe. Enquanto isso, funcionários de outra empresa terceirizada, que inclusive trabalham em outro prédio, vão cobrir essa falta. O grande problema são os terceirizados que estão sem receber desde o inÃcio do ano, e os próprios alunos estão fazendo cestas básicas para ajudá-los. Não há notÃcia de que isso aconteça em outra unidade da UFRJ, apenas na nossa. E é por acaso? Claro que não! Somos nós que ensinamos a interpretar textos, “pensar fora da caixa”, argumentar, problematizar, ou seja, tudo o que os nossos polÃticos não querem que a população faça. Educação financeira na escola? Pelo menos na pública acho bem difÃcil ter. Só não consigo entender porque ainda estão todos de braços cruzados assistindo esse show de horrores nos noticiários todos os dias.
Está difÃcil até cuidar da mente, Thais. Mas obrigada pela reflexão, é importante que todos pensemos bem nos que estamos deixando acontecer com o nosso futuro.
Abraços,
Daniela
Agradeço muito que você tenha compartilhado seus pensamentos.
Olá ThaÃs.
Achei muito boa sua fala e concordo principalmente quando você fala em criar sua própria estabilidade. Eu tenho isso como um princÃpio para mim e, talvez por isso, tenha um padrão de vida mais baixo do que amigos que ganham o mesmo ou até menos. Isso porque invisto na busca dessa estabilidade.
No entanto, eu sei que essa forma de pensar não é, nem de longe, o da maioria das pessoas. Seja porque não podem ou porque não dedicaram tempo para pensar nessa coisa de segurança financeira. Assim, fico muito preocupado com essa perda de direitos, especialmente pela forma como está sendo conduzida. Na minha opinião, são assuntos muito sérios que influenciam a vida de milhões de pessoas, que não estão sendo discutidos amplamente com a sociedade e são decididos a toque de caixa.
Concordo que as relações de trabalho estão mudando no mundo todo. Mas não podemos importar modelos prontos. Temos que elaborar o nosso, observando nossa cultura, nossas fragilidades e principalmente dando voz às pessoas.
Um abraço.
André.
Concordo 100%. Obrigada por comentar.
Olá Thais… Tenho e já li seus dois livros… aprendi muito com eles… e acompanhando seu blog tb: aprendi muito!!! Sobre seu novo artigo sobre terceirização, acredito que você esteja entrando num campo, que acredito, esteja faltando seu último toque: Orçamento Organizado!!! Poderia ser seu novo projeto… para 2018, 2019… um livro sobre como organizar nossas contas… ensinar a usar aquelas letrinhas e valores que bancos nos mostram, e muitos de nós entendem nada!!!! Hoje todos falam para cair fora da Poupança… mas como começar do zero com outros investimentos? Sei que existem outros escritores famosos que poderiam nos orientar… mas acho que com seu jeitinho mais realista, conseguirÃamos aprender e botar em prática esses ensinamentos com mais facilidade… era só uma sugestão… Um abração!!!
Adorei a sugestão! Muito obrigada!
ThaÃs; fantástico você escrever sobre esse novos rumos do paÃs que afetam de forma direta nossa vida. É isso: seja qual for a mudança é preciso que a gente aja de alguma forma sobre ela e não apenas receba sem fazer nada sobre isso!
ThaÃs; fantástico você escrever sobre esse novos rumos do paÃs que afetam de forma direta nossa vida. É isso: seja qual for a mudança é preciso que a gente aja de alguma forma sobre ela e não apenas receba sem fazer nada sobre isso! Guardar dinheiro pode ser sim uma alternativa.
Tema interessante e de grande reflexão. O fato é que, ao permitir a terceirização da atividade fim da empresa, não haverá mais interesse em elaboração de plano de cargos e salários e ascensão profissional dentro da própria organização, o que poderá ser um desestÃmulo para o contratado.
Acredito, também, que nem todas as profissões comportam a sistemática de PJ.
Enfim, tenho dúvidas se o Brasil e as pessoas estão preparadas para esse novo modelo. Precisamos realmente aprender.
Gostei muito do post. 😉
Exatamente. É uma mudança significativa a longo prazo.
Obrigada por comentar.
Muito bom esse post, Thais. Sou de TI, já fui PJ também e sei bem como é complicado. Essa coisa de querer vender a ideia de “teremos mais vagas” está dividindo as opiniões, e cegando algumas pessoas para os reais problemas dessa mudança.
Sim.
Oi Thais,
Acompanho o seu blog há um bom tempo e tenho seus dois livros. Sempre gostei muito dos seus textos porém confesso que estou confusa quanto a essa sua postagem.
Oi Gabriela, tudo bem? Que ponto você achou confuso, para que possamos discutir?
Oi Thais!
Sim, por favor, escreva mais sobre esse assunto!
Minha rotina de internet envolve o Vida Organizada, o Gustavo Cerbasi, o Me Poupe… Canais que disponibilizam informação gratuita e de qualidade para lidar com tempo, dinheiro, carreira, objetivo, sonhos…. Quanto mais acompanho esse Universo, compreendo que se tem muito a fazer dentro dessa área (tanto como individuo como quanto sociedade) e que acima de tudo é necessário estar aberto para isso, pois, mesmo sendo algo tão bacana de se explorar para uns, não é todo mundo que quer olhar para isso.
Eu preciso dizer que a partir do momento que comecei a entender o sentido da organização e da produtividade, comecei a entender também como eu dou valor para o meu tempo, para os meus recursos e realmente vejo o quanto faz diferença ter a noção de que precisamos desenvolver organização, inteligência financeira e de tempo também. Precisamos de inteligência de recursos. E mais do que isso, precisamos querer gerir nossa vida, algo que você coloca muito bem aqui:
“E isso depende de sabermos administrar a “nossa empresaâ€, o nosso dinheiro, os impostos, os investimentos, os direitos. Sendo o Governo, uma empresa ou nós mesmos quem gera essa renda.”
Torço para que cada um de nós desperte e lute por si (em todas as áreas da vida), sem medo, pois não temos muito tempo e temos muito para conquistar — desde fazer sua própria comida a tornar-se um investidor.
Um abraço e muito obrigada pelo seu trabalho! 🙂
Obrigada por comentar. Muito rico.
Adorei esse inÃcio de posts Thais.
Acho que a minha realidade é a de muitos brasileiros.
Hoje em dia temos muitas responsabilidades e principalmente financeira, na qual o salário não acompanha.
Falo por experiência própria, sou uma pessoa desapegada a gastos e foco muito em minhas prioridades que é a educação da minha filha.
Porém com isso me gera um pânico, pois me pego pensando em como fazemos para conseguir pagar contas necessárias e ainda : poupar para o futuro, para o fundo de reserva e para os outros tantos fundos, sendo que o que sobra as vezes vai para o cofrinho e as vezes o mesmo sai mais rápido do que entrou.
Claro que cada um de nós tem suas metas e prioridades, não sei se consegui expressar meu pensamento perante a este ponto de vista, mas talvez esta dúvida seja a de muitas pessoas.
Haja cobrança neste século em que vivemos…
Obrigada novamente pelo post.
Eu que agradeço seu comentário.
Bela reflexão!
Thais, minha linda… seus posts SEMPRE incentivadores! Engraçado que eu como trabalho com RH, fiquei a favor da lei da terceirização por ver como o paÃs chegou e falei isso com meu esposo… somos todos “terceirizados”. Assim como fiquei a favor da reforma da previdência, se fosse bem pensada, pois é absolutamente necessária.
Mas lendo esse seu texto, fiquei MUITO interessada nessa transição CLT x PJ, questão de impostos, lucro, etc, e organização financeira. Eu sou “sócia” na empresa do meu pai, mas estou ainda muito por fora da questão financeira, pois esta quem gere é minha irmã (a que vai sair de licença essa semana, lembra que falei sobre e deu até uma postagem? as coisas acalmaram… eu me sinto tão próxima de você que me sinto a vontade pra comentar rsrs)…
Queria muito saber sobre investimentos também.
Você falará sobre isso nessa “série” de posts? O outono chegou, você tem planos mensais pro blog?
Ando sem tempo, mas não perco uma postagem sua <3
Obrigada, Evelyn! Pretendo falar mais sobre isso sim! As respostas ao tema do post foram positivas e acredito que seja um assunto que possa ajudar outras pessoas.
Olá, Thais!
Esse momento que o trabalhadores enfrentam, com a perda de direitos iminente, é bastante preocupante. Seu post traz uma importante reflexão, a educação financeira seria um caminho de mais esperança para os cidadãos.
na realidade quem sofre com essas mudanças na lei trabalhista é sempre os empregos por que o patrão gasta menos.No final todos vão querer terceirizar
Oi, ThaÃs. Uma dúvida: quando você diz “O que mais se tem discutido é a diminuição ou quase inexistência de direitos trabalhistas suadamente conquistados.”, o que exatamente quer dizer com isso? Por que essas empresas vão ter que contratar os funcionários de carteira assinada do mesmo jeito, não? Então que direitos eles vão perder? Estou perguntando porque realmente não faço ideia de como isso funciona e também nunca parei pra ir atrás de entender mais a fundo. Antes eu tinha essa visão de que terceirização era necessariamente ruim, mas depois lendo seu blog eu comecei a pensar se isso não seria simplesmente uma forma de “delegar tarefas”. Você acha que tem relação? Agradeço se puder responder.
Eu acredito que esse projeto de lei possa dar margem a outros tipos de contratações.
Isabel, o pouco que consegui ler sobre (preciso me inteirar disso, pois trabalho com questões trabalhistas) foi que uma empresa só poderá terceirizar o funcionário por até 6 meses, depois o mesmo funcionário só poderá trabalhar com a empresa depois de passados 6 meses. Isso que criará a rotatividade que o governo deseja com os empregos. No entanto, funcionários terceirizados custam mais e trabalham mais, mas recebem menos. Essa está sendo a grande preocupação dos brasileiros. Foi mais ou menos isso que entendi. Tem o lado bom, pela criação de empregos. E o lado ruim, porque a rotatividade prejudica a questão da aposentadoria que também está mudando. CTPS será assinada na terceirização; mas durante um tempo, você ficaria sem contribuir INSS. E isso mudaria essencialmente as questões como férias, 13o salário, inss, seguros e auxÃlios. Espero ter ajudado.
Muito interessante seu texto. Só quem trabalha com justiça do trabalho sabe a situação precária da maioria dos terceirizados que agora, mais do que nunca, vão sofrer muito (no balaio de gato que vai virar) para conseguir seus direitos não pagos. A conferir.