Em que fuso horário você está?

Ontem eu postei uma foto no Instagram com uma legenda que levantava uma questão que acho fundamental: o ritmo de cada um. Como na foto as pessoas pensaram que eu estava me referindo a horários de trabalho (o que também pode ser, mas não é o ponto), resolvi explorar mais a ideia aqui.

Quero dizer que cada pessoa tem um ritmo. Vou falar um pouco sobre o meu.

Eu sou uma pessoa que gosta de fazer as coisas com significado. Mente plena. Atenção apropriada. Não gosto de coisas de última hora, mal feitas, desorganizadas, urgentes, porque sei que elas tiram a minha atenção apropriada e não é necessário que sejam feitas assim. Poderiam ter sido melhor planejadas em 99% das vezes. Portanto, acredito que todos possam se beneficiar da organização. É um ato de respeito com você, sua família, seus colegas de trabalho, cientes e todos que são impactados pelos seus atos.

Nem todo mundo trabalha o dia inteiro com a caixa de entrada dos e-mails aberta, respondendo cada mensagem que chega como se fosse um rebate do jogo de tênis. Nem todo mundo gosta de ficar o tempo inteiro batucando teclado. Nem todo mundo verifica o What’s App a cada três minutos. Nem todo mundo acompanha todas as atualizações e mensagens do Facebook diariamente.

Meu trabalho não se resume a isso. Eu sou escritora, e preciso de tempos de concentração, distração e descanso. Prefiro tornar todos os meus dias calmos, porém com atividades coerentes com a minha vida, que trabalhar de maneira insana de segunda a sexta e desmaiar no sofá durante o final de semana inteiro. Não é um “modo certo” de viver – é como eu vivo. Se existe um modo certo de viver, do meu ponto de vista, é aquele que você construiu para si.

Para mim, é importante ficar longe do computador muitas vezes, por exemplo. Minha criatividade (que é fundamental para o meu trabalho) depende disso. É muito comum eu escolher dedicar um ou dois dias, ou mais, para me concentrar em outra coisa. Meu trabalho (minha saúde, minha sanidade mental) depende de momentos como um passeio aleatório pela livraria ou regar as plantas no meio da tarde. Aí coloco uma resposta automática no meu e-mail, se ficar muito tempo fora, porque as pessoas precisam de um retorno. Eu respeito quem faz esse contato.

Também é muito comum eu não responder um e-mail no minuto em que ele entra na minha caixa de entrada, porque eu o acesso com uma determinada frequência. Eu tenho muitas atividades na vida que gosto muito de fazer, mas elas me tomam bastante tempo. Se eu não for rígida com o que for prioridade para mim, minha vida vai ficar extremamente tumultuada. E eu já fui assim. Não quero mais.

É extremamente comum eu ser convidada a participar de muitas, muitas atividades. Eventos, parcerias, cursos, reuniões, viagens. E isso tudo é muito maravilhoso e importante, mas eu tenho outras coisas importantes na minha vida também – meu filho, minha saúde, minha escrita. Coisas que são prioridades. E definir prioridades é ter que dizer muito “não”. Quando alguém não aceita um “não” meu, ficando desapontado(a) ou irritado(a), eu fico me perguntando que mundo é esse que as pessoas simplesmente não aceitam que existem ritmos diferentes de se levar a vida.

Para mim, é muito gratificante poder, em uma segunda-feira de manhã, acordar mais tarde, porque fiquei escrevendo no domingo de noite. Ou adiantar alguns e-mails no domingo, se isso me fizer ganhar horas na segunda-feira. Ou ir ao cinema na quarta-feira à tarde. “Mas Thais, a grande maioria das pessoas não pode”. Isso significa que eu não posso? Eu também não podia até alguns anos atrás, e fui construindo (ainda estou) um estilo de vida que me permitisse viver assim. E nem estou dizendo que é o certo. É o certo para mim, hoje. Posso mudar.

Quando eu falo que cada pessoa vive em um fuso horário diferente, estou me referindo ao tempo, ao ritmo de cada um. Eu gosto de sentar no Starbucks da Av. Paulista e ficar vendo as pessoas passarem, enquanto ouço música no celular. Eu não gosto de correria. Mas eu também sei aproveitar o meu tempo de trabalho – e sei que, muitas vezes, o que fazemos em 8 horas pode ser feito em 3 ou 4. Por eu saber aproveitar o meu tempo, consigo criar espaço na minha vida para tudo aquilo que considero importante.

Foi o que me permitiu, ontem à tarde, terminar uma sessão de coaching e ir passear com a minha cachorrinha. Voltei e continuei trabalhando. É o que me deixa super ok para estudar uma apostila de curso de noite, se meu marido estiver assistindo um jogo de futebol. Ou que me atenta ir dormir mais cedo ou mais tarde em alguns dias, porque depende do que quero fazer mais (dormir ou fazer algo). Eu só aproveito o meu tempo.

Aprendi, com os anos, e cada vez mais venho exercitando, a importância de alternar períodos de relaxamento com períodos de esforço. Já falei sobre isso aqui no blog (leia o post – é importante). É acordar 15 minutos mais cedo só para poder tomar o café-da-manhã devagar. Beber um chá.

Por favor, pare de correr em direção a uma estafa mental. Aproveite o dia. Sei que nem todo mundo vai mudar isso do dia para a noite, mas inicie nessa direção. Se todos iniciarmos, mudaremos o mundo que nossos filhos irão viver. Tudo a seu tempo, e cada um ao seu.