Destralhando: Será que você está armazenando o seu passado?

Eu falo muito aqui no blog sobre “destralhar” – um termo que aportuguesei do “declutter”, em inglês. Destralhar, dentro do método Vida Organizada, é o primeiro passo da organização. Significa não apenas descartar o que não se usa mais ou não se ama, mas também manter somente aquilo que realmente importa. Isso vale para a casa, para a vida, para os seus projetos de trabalho.

No entanto, após anos trabalhando com muitas pessoas, visitando a casa de clientes, eu percebi que existe um tipo de tralha que costuma ser guardada que é muito específica e que lida com questões maiores, que são as tralhas que representam um passado que a pessoa ainda não percebeu que é passado. Vou explicar melhor.

Em primeiro lugar, vejam como a organização física apenas reflete a organização da mente, e vice-versa. Existe uma relação inegável entre ambas.

Hoje em dia, especialmente nas grandes cidades, todo mundo tem a tendência a viver na correria, porque realmente existe muita coisa a ser feita. Porém, eu noto que, com algumas pessoas, esse tipo de tralha do passado é mais comum. A jovem que acabou de se formar na universidade e ainda guarda materiais de estudo que não vai mais usar. O pai que continua guardando seu equipamento de camping, mesmo sem usar há anos, desde que seus dois filhos nasceram. A avó que guarda livros profissionais mesmo depois de aposentada e não lidar mais com aquilo.

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Esses objetos são guardados porque eles representam mais do que objetos sem uso. Eles representam uma vida que elas não queriam que tivesse acabado. Parece que, se o objeto for embora, a esperança de viver aquilo novamente irá embora para sempre também, e essa expectativa pode gerar grande tristeza.

Mas vamos examinar a raiz da questão aqui. Estou querendo dizer que tais objetos devam ir embora? Não necessariamente. Estou sugerindo que você talvez deva analisar de perto seus sentimentos com relação a eles para que possa tirar aprendizados.

Por exemplo, o pai que guarda o equipamento de camping que nunca mais usou. Se ele gosta tanto da prática de camping, como ele poderia aproveitá-la, de acordo com sua situação atual, com os recursos que dispõe no momento? Pode ser que o simples fato de encarar esse sentimento já desperte variadas soluções, de ir acampar com a família a trocar por outro hobby parecido. Mas só assim ele vai conseguir confrontar a tralha guardada (na casa e dentro dele) para poder endereçá-la corretamente.

A jovem que se formou e ainda guarda os materiais da faculdade, achando que um dia ainda poderá usá-los. Em que sentido? Talvez em uma pós-graduação? Esse é o tipo de pensamento que nos leva adiante. Se você não o tiver, aquelas coisas ficarão abandonadas ali, sem uso algum, apenas causando sobrecarga mental desnecessária. A partir do momento que você sabe que quer guardar para uma possível pós-graduação, consegue até selecionar e reduzir, guardar menos, só o que pretende usar mesmo. E não tem problema algum chegar à conclusão, depois de alguns anos, que não vai usar nada daquilo ou que quer seguir por outro caminho na sua especialização profissional. Mas, por hora, você tirou aquelas coisas da sua mente.

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Mesmo a vovó que ainda guarda livros do trabalho pode perceber que os guarda porque gosta de consultá-los ocasionalmente, para manter o cérebro ativo. Ou ela pode perceber que gostaria de trocar por versões mais recentes, para se manter atualizada. Ou pode até mesmo buscar um hobby com relação ao seu trabalho anterior, ensinando estudantes da mesma profissão, revisando textos ou prestando consultoria.

O fato é que nada volta ao mesmo lugar. Você pode retomar atividades relacionadas aos objetos que estão guardados, mas sua vida não é mais a mesma. Apenas guardar os objetos na esperança que eles revivam um momento passado da sua vida não fará com que isso instantaneamente aconteça, porque a lembrança está em você, não nos objetos. O segredo aqui está em identificar esse sentimento dentro de você e reavivá-lo de acordo com a sua nova situação, até para dar sentido àqueles objetos. Porque, se eles representam algo tão importante, mas estão parados, significa que esses sentimentos dentro de você estão parados também.

Veja exemplos de objetos que podem se encaixar nessa situação:

  • Sobras de reforma
  • Livros que foram importantes em uma época, mas não geram mais interesse agora
  • Materiais escolares, da faculdade e outros
  • Artigos de artesanato
  • Instrumentos musicais
  • Itens de decoração de uma casa anterior
  • Itens que não fazem mais sentido depois de uma mudança para um imóvel novo
  • Objetos relacionados a hobbies ou esportes que você não pratica mais
  • Brinquedos
  • Roupas

Situações diversas que podem promover essa reflexão:

  • Mudança de casa
  • Mudança de emprego
  • Conclusão de algum curso
  • Aposentadoria
  • Mudança de interesses
  • Mudança de hobbies
  • Você comprou um item mais novo ou atualizado

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Destralhar é muito mais do que circular pela casa com um saco preto de plástico ou uma caixa para recolher itens que não usa mais. Se analisarmos o propósito de cada coisa que entra na nossa vida – de objetos a pensamentos -, ficará mais fácil ter critérios para o que deve permanecer ou não. No entanto, quando deixamos objetos de lado, estamos deixando nossos sentimentos com relação àquela época de lado também. E, uma hora ou outra, eles serão colocados à sua frente. Se você não esclarecer isso agora, todos os dias se deparará com aqueles objetos que vão gerar um barulho mental que você não precisava ter. Lide com eles e experimente o gosto de uma vida com mais significado e cheia de coisas – e sentimentos – que te fazem bem.