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O amadurecimento dos relacionamentos organizados

Ter um relacionamento organizado não é ter um relacionamento previsível. A melhor coisa que existe são as bagunças bem-vindas, as surpresas, a espontaneidade das relações. Me refiro ao propósito. Sobre cada um estar inteiro e enxergar naquela outra pessoa um outro ser inteiro também. E, com base nisso, em respeito, atração, amizade, carinho, admiração, e outros sentimentos bons, estabelecerem um relacionamento. Este será o tema do nosso mês de junho.

Não sei se é sintoma da idade. Não me considero uma pessoa velha, apesar de estar me aproximando do que chamam de “meia idade”. E isso talvez apenas garanta que eu tenha vivido mais anos e (talvez) mais experiências que uma pessoa que tenha 16 ou 22 anos. O que quero dizer é que não me sinto de forma alguma mais inteligente, mais vivida ou mais especial que qualquer outra pessoa. São vidas diferentes, e a minha vida, até aqui, construiu quem eu sou hoje e me ensinou coisas. E eu acredito que muito do que um blog seja é simplesmente a visão do autor (ou no meu caso, autora) sobre determinados assuntos específicos. Então, por eu falar sobre organização pessoal, qualidade de vida, produtividade, aproveitamento do tempo, geração de ideias… todos esses assuntos pelos quais eu sou apaixonada envolvem muitos outros, pois estamos falando da vida. No caso dos relacionamentos, este texto mostra a minha visão hoje.

Durante muitos anos, eu sinceramente acreditei que cada pessoa tivesse uma “cara-metade” por aí. Com o passar do tempo, passei a acreditar que na verdade tínhamos “muitas caras-metades” espalhadas pelo mundo, que poderiam surgir em nossa vida em formato de filhos, amigos, parceiros, colegas de trabalho. O que eu acredito hoje de verdade é que o relacionamento mais profundo que você terá, e também o mais significativo, em primeiro lugar, é com você mesmo(a).

Não me entenda mal: não quero dizer, com isso, que tenho uma visão ególatra ou egoísta dos relacionamentos. O que quero dizer é que buscar a metade em outra pessoa (ou mais de uma) é como buscar a felicidade fora da gente. E já sabemos (se é que sabemos algo nessa vida) que a felicidade vem de dentro, em todos os aspectos. Depende do que você pensa, do seu foco, da sua vida, dos seus sentimentos e das suas percepções e modo de viver a vida.

Hoje eu entendo um pouco mais as pessoas que se casam após terem muito mais idade do que convencionalmente se propõe que haja um casamento. Ou me comovo com histórias de pessoas que se conheceram depois de terem “vivido toda uma vida separados”, mas se encontraram, depois de terem se casado, terem filhos, terem construído suas carreiras, terem se separado, terem passado por doenças ou outros problemas. Porque o que a vida gera é um amadurecimento interno gigantesco. E esse amadurecimento nada mais é do que conhecer a si mesmo(a), entender quais os valores, princípios que nos regem, e nos colocar padrões para uma vida extraordinária que aprendemos a construir. E não me refiro apenas a relacionamentos amorosos não. Me refiro a amizades, a parcerias de trabalho, ao relacionamento com os filhos que fica mais leve, ao relacionamento com os vizinhos, com os colegas do clube, com todos. Ao “bom dia” que todo idoso feliz que está fazendo caminhada te dá, mesmo que sejam sete horas da manhã.

“Mas nem todo mundo amadurece com a idade”, você pode pensar. Exatamente. Assim como nem todo mundo alcança independência financeira, constrói uma empresa que muda o mundo ou tem qualquer conquista que você possa considerar algo “nota 10” para sua a vida e os seus padrões. Cada um tem seus parâmetros. E, de acordo com esses parâmetros, decidimos construir a vida como queremos ou não. E existem pessoas que não constróem. Se conformam, ou apenas não querem, porque já vivem a vida como querem (e tudo bem). Para todos os inconformados, a organização da vida, essa construção coerente, existe.

Eu tenho experienciado uma mudança de nível em termos de relacionamentos. Tenho cada vez mais consciência de quem eu sou e de quem eu não sou. Não sou perfeita, cometo erros. Mas essa percepção sobre quem eu me tornei e quem eu estou me tornando tem me ajudado a lidar melhor com as pessoas nas diferentes frentes da minha vida. Aprendi a dar valor a algumas delas. Percebi que alguns relacionamentos não estavam me fazendo bem, e preferi me afastar. Entendi que existem pessoas que querem te colocar para baixo, enquanto que outras, mesmo com seus erros, estão sempre ali ao seu lado. O seu inteiro aprende a reconhecer o inteiro no outro, e esse inteiro pode combinar com você ou não, ou em partes.

Foi o que me fez perceber que eu tenho uma amiga que é ótima para conversar sobre carreira, mas não temos tantos pontos em comum com relação a lazer, por exemplo (ela gosta de uma coisa e, eu, de outra). Não precisamos ter tudo do outro – e as pessoas não precisam ter tudo da gente. Mas aquele pouco que combina faz a magia acontecer. Ninguém coloca um peso sobre o outro. Nos relacionamos – não nos cobramos. A chave está na reciprocidade, e a reciprocidade vem desse auto-conhecimento e respeito às outras pessoas – ao “encaixe”.

Isso me fez entender que é mais fácil eu mesma usar chinelos que tentar cobrir o chão do mundo inteiro com borracha para que eu possa pisar (conceito budista). Eu, estando bem, fico e faço o bem para os outros. Os outros, estando bem, ficam e fazem o bem para outras pessoas, inclusive para mim, se ela se relacionar comigo. Organização tem sempre a ver com compaixão também.

Sei que o Dia dos Namorados é uma data comercial e que nem deveria ser comemorada em junho, na verdade (o dia original de São Valentim é 14 de fevereiro e, no Brasil, foi mudada puramente para movimentar o comércio entre o Dia das Mães e o Dia dos Pais). Mas, quando eu desenhei o calendário editorial do blog para este ano, me veio uma vontade enorme de falar sobre como a organização impactou e impacta nos relacionamentos. Como todo mês, nem todos os textos serão exatamente sobre esse assunto, mas o foco da maioria deles será. Por isso, se você tiver algum tema relacionado que gostaria de ver aqui, deixe um comentário. Gostaria de tornar essa reflexão coletiva o mais rica possível.

Ela impacta sim, porque ter uma vida organizada significa viver uma vida coerente com quem nós somos de verdade. É artesanal, uma construção eterna em torno dos nossos valores, princípios e, quem sabe, de um propósito maior. Se isso impacta na maneira como nos relacionamos? Mas eu não tenho dúvida!

Seja bem-vindo, junho. 🍁

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37 comentários em “O amadurecimento dos relacionamentos organizados”

  1. Ola Thais,

    Eu gostaria que o tema “networking” fosse abordado.

    Por exemplo, como se organizar para desenvolver e manter a rede de amigos profissionais.

    Obrigada e estou anciosa para ler os proximos artigos desse tema.

    Natalia

  2. Texto maravilhoso…que privilégio poder começar o mês junho com essa reflexão!
    Veio em um momento mais que oportuno e de reorganização na minha vida.
    Gratidão, Thais!

  3. Que legal a escolha desse tema, Thais, sinto na pele o impacto da organização, e da falta de, no relacionamento, vou acompanhar aqui com você nesse mês, procurando trazer para a minha vida

    1. Também gostei bastante do tema! Já rendeu um monte de reflexão só pensar nisso… Vamos lá! Vontade de me aprofundar!

  4. Thais, bom dia. Como sempre, muito apropriada sua reflexão. Eu trabalho e faço a faculdade dos meus sonhos à noite. Sou casada pela segunda vez e sempre penso sobre a maneira de preservar meu relacionamento dessa correria toda. Porque, às vezes, quando chega no sábado à noite, a única coisa que eu quero é dormir e não namorar… Seus textos, portanto, serão de grande utilidade. Beijo e obrigada sempre

  5. Que texto suave e gostoso de ler Thais!
    Tenho aprendido muito com os seus posts, tinha muita dificuldade de organização e tem feito mudanças em várias áreas da minha vida.
    Concordo com você sobre a organização inserida em qualquer relacionamento. Pois estou vivendo essa sintonia dentro da minha casa. A organização do lar, financeira e de tempo, por consequência me trouxe mais tempo e harmonia com meu noivo e outros familiares.
    Obrigada por abrir o mês com esse texto tão leve e reflexivo.
    Beijos!

  6. Lindo, Thaís! Há algum tempo também venho refletindo sobre essas coisas! Gratidão por tudo…por coisas que você nem tem ideia …! Luz e Paz! Amor sempre!
    Adriana Mazzola

  7. Olá Thais,

    Muito obrigada por este post tão bem escrito e por todo o seu fantástico trabalho com este blog, que muito me tem ajudado.

    Quanto ao dia dos Namorados, penso que no Brasil se comemora no dia 13 de junho ( sou portuguesa, corrija-se se estiver errada) por ser o dia de Santo António de Lisboa/ de Pádua, o santo casamenteiro. Em Lisboa, o dia de Santo António é feriado municipal
    e há muitas tradições associadas ao culto desse como padroeiro dos casamentos. Infelizmente, hoje em dia é no dia 14 de fevereiro que se comemora o dia dos namorados em Portugal, justamente por razões comerciais, pois S. Valentim tem muito menos a ver com a nossa cultura do que Santo António, que aqui nasceu e em torno de quem há tanto património artístico. Sou professora e digo sempre aos meus alunos que os brasileiros é que têm razão, ao comemorarem o dia de Santo António como o dia dos Namorados e não o dia de S. Valentim, como os anglo-saxónicos! 🙂

  8. Thais, exatamente ontem escrevi o texto abaixo em meu facebook: “Maturidade emocional é você aprender a não cobrar nada de ninguém, não importa quem seja. É entender que ninguém é obrigado a fazer nada por você mas ser grato por qq pequena ajuda, ciente de q as pessoas fazem o q está ao alcance delas. Todo mundo tem suas vidas e compromissos e nem sempre dá pra parar tudo pra estar ao nosso lado qnd queremos mas maturidade emocional é saber q isso é normal e não significa falta de amor ou de interesse pela gente. Maturidade emocional é agir com leveza na vida para q as pessoas estejam ao nosso lado pq elas gostam da gente de verdade e não para cumprir tabela.”

  9. Adorei o texto, me identifiquei e fala muito daquilo que penso também. Parabéns e obrigada!
    Como sugestão, envolvendo este tema de dia dos namorados e também organização, sugiro “como organizar a rotina do casal, algumas vezes com mais de um filho, em que ambos trabalham fora o dia todo e que não possuem parente morando na mesa cidade para ajudar”. Para dar conta dos filhos, muitas vezes dividimos as responsabilidade diárias de cada filho. Mas como filho não é algo com um botão liga desliga, como o casal pode se organizar para dar conta de tudo e continuarem namorando?

  10. Oi, Thais!

    A sensação que tenho é que pressupomos que sabemos ser mãe, filha, amiga, namorada, vizinha… E colocamos estas relações no piloto automático, só percebendo-as quando algo extremo (bom ou ruim) acontece.

    Tenho buscado corrigir a “automatização” em minha vida. E será de grande auxílio ler você tratar sobre questões como presença, viver no agora contrabalanceando-as com os planejamentos que buscamos fazer.

    Ahh! E preciso comentar que eu gosto muito quando você cita a filosofia budistas em seus textos. É muito inspirador.

    Um abraço!

  11. Oi Thais… gostaria que você abordasse o tema baseado num post do facebook que você fez com o tema “Era só pedir” como envolver o parceiro a ter esse conceito mental das coisas?

  12. Ótimo texto, Thais!
    Acho que vem daí, de uma forma geral, a dificuldade que passamos a ter de empreender novos relacionamentos ao longo da vida, com a maturidade. Ficamos mais atentos e perceptivos aos detalhes. No entanto, quando a conexão ocorre tudo fica harmonioso. Sempre penso que todas as pessoas que passam por nossa vida, ficando ou não, têm papel importante, ou seja, deixam algo, nos fazem aprender e com isso amadurecemos também. Adorei a reflexão!!! Bjosss

  13. Ei, Thaís; Já ouvi falar que as 5 pessoas que mais convivemos influenciam o nosso modo de ser e estar no mundo. Gostaria que você falasse da influência dos nossos relacionamentos em nossa vida e na organização da nossa vida. Até que ponto os relacionamentos podem ser construtivos ou destrutivos?

  14. Que texto gostosinho de ler.
    Estou tendo dificuldades com ansiedade, o que está me fazendo me voltar mais pra dentro, pra mim. O que tem a ver com este post.
    Ficaria feliz em ver esse tema abordado por aqui.
    Um abraço!

  15. Adorei! Estava precisando ler isso. Mudar, tomar atitudes que dão ouvido àquela voz interior, ousar sair do lugar de conforto, ousar construir seu caminho ao invés de seguir os caminhos já traçados para você, não engolir os padrões impostos, tudo isso, gera ansiedade, insegurança e, às vezes, um sentimento de solidão. Mas esses sentimentos também passam e passam rápido, porque o resultado das escolhas coerentes com quem somos e o desejo de ser quem se é sempre valem a pena. É quase impagável o preço para ser quem somos realmente, mas sempre valerá a pena. Abraço, Thais. Gosto muito do blog. Tenho o acompanhado há uns dois anos e estou sempre indicando a amigos e familiares. 😉

  16. Adorei o tema, Thais!
    A frase do chinelo é perfeita, tem sido muito real essa definição na minha vida atualmente. Inclusive, um dos meus problemas tem sido gente que me é querida, mas que insiste em querer atapetar o mundo e eu acabo saindo como insensível, por querer que a pessoa se fortaleça internamente. Pra mim, o real empoderamento é este, e nada externo pode tirá-lo da gente.
    Tenho 23 anos e namoro há mais de 1, estou ansiosa para receber suas dicas sobre relacionamentos amorosos.

    Beijos

  17. Celina Aparecida Mendes Cardoso

    Thais,
    Adorei o seu texto porque deu palavras e formato ao que sinto sobre os relacionamentos da nossa vida. A qualidade como apresentou a sua reflexão sobre o assunto fez com que meus pensamentos finalmente ficassem organizados.
    Lindo!
    Parabéns!
    Abraço,
    Celina

  18. Muito legal esse texto, essa reflexão! Estou ansiosa para acompanhar os textos desse mês. Sempre temos muito que aprender sobre como viver nossa vida de forma cada vez mais inteira e mais significativa. A organização permite que vivamos;
    simplesmente isso: vivamos verdadeiramente cada momento.
    Um abraço, Thais! Ótimo novo mês!

  19. Excelente reflexão, Thais! Esse aprendizado começou meio tardio pra mim, mas é verdade, quanto mais sabemos sobre nós mesmos, quanto mais nos conhecemos, nos perdoamos pelas falhas, descobrimos o que realmente queremos, e aceitamos a nossa verdade, melhor escolhemos aqueles ao nosso redor, e também exigimos bem menos dos outros (e até de nós mesmos). Já que este é o tema do mês, que tal falar sobre auto-conhecimento, reflexões sobre o que realmente queremos pra vida (e como a organização nos ajuda a chegar lá) e também redes de relacionamentos que formamos pelo caminho? Grande abraço!

  20. Gostei do texto, mas gostaria de fazer só uma correção. O dia dos namorados é comemorado no dia 12 de junho em homenagem a Santo Antônio, tradição que veio trazida de nossos colonizadores portugueses. Ele foi conhecido por ser uma pessoa que lutou contra os casamentos arranjados na época, a favor das uniões por amor. Por isso ele até hoje é considerado um Santo casamenteiro para o qual são feitas diversas orações para conseguir marido e namorado.

  21. Que post maravilhoso! tão digno de Júpiter sob o signo de libra <3 hehe

    risos, astrologia à parte, penso que esse assunto está em pauta e cabe a nós extrairmos o melhor que podemos de toda essa movimentação. Nos últimos meses vivenciamos uma onda de separações e crises em relacionamentos de forma geral, desde casamentos à parcerias profissionais. Com o crescente dos debates sobre problemas derivados da forma como nós relacionamos (vide baleia azul, 13razões, e etc), acho que está mais do que na hora de refletirmos mesmo, sob todas as facetas possíveis como podemos nos relacionar melhor com o mundo e com nós próprios.

    particularmente vou adorar ler mais sobre sua visão, principalmente porque sinto um grande alinhamento com sua visão de mundo. Além disso, trazer isso sob o foco da organização tem tudo a ver, ao contrário do que possa parecer de início.

    obrigada por compartilhar! 😀

  22. Muito bom! Sugestão: Mesmos propósitos! A importância de saber identificá-los para ter uma vida mais leve e, como ter alguém assim é bom e produtivo para os dois.

  23. Mulher, eu amei esse seu texto! Muito, muito mesmo! Vai ao encontro do meu momento atual, de profunda reflexão nos meus relacionamentos e de uma busca mais profunda de auto conhecimento. Vc foi fantástica com essa abordagem e a forma como fez! Sucesso! Um cheiro dessa baiana aqui q muito de admira!

  24. seus textos me trazem paz. hoje eu estava pensando (infelizmente de forma obssessiva) sobre isso. e aí vi sua postagem. muito obrigada pelo seu trabalho, você faz a diferença.

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